sábado, 25 de outubro de 2008

Isabel Allende 2 - Ervas Proibidas


" (...) Quando ainda não existiam métodos de conservação de alimentos, as especiarias eram mais valiosas que o ouro. Ainda hoje, quanto mais quente for o clima de um país, mais especiarias são usadas na cozinha popular, porque a decomposição ocorre mais rapidamente. Em busca de especiarias, partiram rumo ao oriente piratas, aventureiros, comerciantes e conquistadores.... mas nos dias de hoje poucas coisas nos surpreende ou excita, exigimos afrodisíacos cada vez mais refinados: artefatos com bateria e espetáculos ao vivo ou em vídeos, mais próximos da pornografia do que da arte do erotismo. PORNOGRAFIA É MÉTODO SEM IMAGINAÇÃO; EROTISMO É INSPIRAÇÃO SEM MÉTODO; ( erótico é usar uma pena; pornográfico é usar a galinha) ... as plantas são afrodisíacos sutis e, como o amor, agem sem alarde, discretamente e a longo prazo. Como não confiar nelas se quase toda a farmacopéia moderna está baseada nas plantas? E assim como acontece no amor as mais comuns e modestas também são as mais preciosas.
... veja nossas listas de ervas e especiarias domésticas e tente fazer com que não faltem em sua cozinha, junto com o azeite puro de oliva virgem (um dos poucos casos em que a virgindade serve para alguma coisa), o vinagre balsâmico, a melhor mostarda, o mel mais puro e outros ingredientes fundamentais para realçar seus pratos e sua vida amorosa."
EIS AS ERVAS PROIBIDAS:
- AÇAFRÃO (crocus sativa) - Especiaria vermelho-alaranjada, em em pó que pinta todo de amarelo, inclusive o cozinheiro, se ele se descuidar. No Tibete é sagrada. É muito caro e amargo. Indipensável na Paella e mariscos. Estimulante.
- ALCAPARRA (capparis spinosa) - frutos redondos e pequenos, de sabor muito forte, para acompanhamento com peixes.
- Anis (pimpinella anisium) - planta de flores brancas, sementes pequenas e aromáticas. Em muitos dos países do Oriente Médio se usa para incitar o amor dos recém-casados e curar a impotência.
- BAUNILHA (vainilla) - indispensável para doces, bolos, sorvetes, cremes, cafés e chocolate. Evite a sintética, de sabor grosseiro e às vezes tóxica.
- CANELA (cinnamomum) - extraída da árvore da canela, usada não só em doces, mas em carnes; tempero clássico das receitas de natal.
- CARDAMOMO (elettaria cardamomum) - encontrada em sementes ou em pó, perde o aroma rapidamente. Nos países árabes, é colocado no café para enriquecer o sabor e estimular a benevolência entre os amigos. As sementes são mastigadas para purificar o hálito, no erotismo é muito importante o bom hálito.
- COMINHO (cuminum cyminum) - sementes minúsculas que dão sabor característico ao alimento em geral, lentilha e feijão. A essência do óleo é utilizada para loções balsâmicas e filtros do amor.
- CRAVO (caryophyllus cyminum) - é tão aromático e picante que deve ser usado com precaução e retirado da comida antes de servi-la, o pó é mais suave.
- CURRY - não é uma especiaria, mas uma mistura de coentro, cardamomo, pimenta caiena, gengibre, canela, mostarda, açafrão-da-índia.
- ERVA-CIDREIRA (melissa oficinallis) - tem sabor de limão e serve para maionese, receitas com queijo fresco, creme, molhos e saladas. No Chile bebida como chá para emagrecer.
- GENGIBRE (zengiber officinalis) - a raíz seca é mais saborosa, mas pode ser adquirida em pó. De sabor picante, realça doces, sobremesas e comidas exóticas. Os cozinheiros de Madame du Berry preparavam uma mistura de gema de ovo e gengibre que induzia os amantes e o próprio Luís XV à luxúria desenfreada.
- HORTELÃ (mentha veridis) - de sabor fresco, popular em doces e bebidas. Para os britânicos companheiro inseparável do cordeiro. Shakespeare refere que junto ao alecrim e lavanda, é estimulante para cavalheiros da meia idade. Cresce como mato é fácil cultivá-lo em seu jardim.
- LAVANDA (lavandula vera) - as sementes aromatizam perfumes e sabonetes, antibamente se usava como afrodisíacos. Amargas e picantes podem arruinar sua comida. Se não quiser correr riscos, coloque-as em sachês embaixo do travesseiro.
- LOURO ( laurus nobilis) - símbolo da virilidade. Usar com cuidado tem sabor amargo.
- MANJERICÃO (ocinum bacilicum) - suas folhas aromáticas são indispensáveis em todas a cozinha que se preze. Em culto no Haiti é associado à fecundidade e à paixão.
- NOZ-MOSCADA (myristica fragans) - aromatiza doces e sobremesas, mas realça sabor de alguns vegetais, como espinafres.
- ORÉGANO (origanum vulgare) - não deve faltar em sua cozinha. De sabor e aromas fortes, no banho tem efeitos eróticos."
OBS. Recomendo o livro: "Afrodite contos, receitas e outros afrodisíacos" e os filmes: "O tempero da Vida" de Tassos Boulmetis e "Chocolate" com Johnny Deep/Lena Olin
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

"NE ME QUITTE PAS" - Edith Piaf

"(...)
Eu vou te oferecer Pérolas de chuva 
Que vêm dos países
Onde não chove
Revolver a terra muito além da morte
Para cobrir teu corpo
De ouro e luzes
Eu farei uma terra
Onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde tu serás rainha ...
Dizem que é comum
Renascer o fogo
De um velho vulcão
Que não arde mais
Também já se viu
Em terras destruidas renascer mais trigo
Que no melhor abril
E pra se inflamar
Uma tarde no ar, o vermelho e o negro
Não se casam jamais
Não me deixes mais, não me deixes."




















" ...
Moi je t'offrirai
Des perles et des pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
(...) On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir 
Ne s'épousent-ils pas."

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Isabel Allende - Afrodite, contos, receitas e outros...







"Os cinquenta anos são como a última hora da tarde, quando o sol já se pôs e tendemos naturalmenteà reflexão. No meu caso, porém, o crepúsculo me induz a pecar e, talvez por isso, no meu cinquentenário reflito sobre minha relação com a comida e o erotismo, as fraquezas da carne que mais me tentam, embora, elas não tenham sido as que mais pratiquei."

(...) arrependo-me das dietas, dos pratos deliciosos rejeitados por vaidade, tanto como lamento as oportunidades de amar para me dedicar as tarefas pendentes.

(...) o cheiro penetrante do iodo não me traz imagens de cortes ou cirurgias, mas de ouriços-do-mar, essas estranhas criaturas marítimas inevitavelmente relacionadas à minha iniciação nos mistérios dos sentidos.

(...) quando vou ao Chile, procuro ir ao litoral para experimentar de novo ouriços-do-mar e toda vez me sinto tomada de horror e fascínio.(...) não consigo separar o erotismo da comida e não vejo razão para fazê-lo (ao contrário, pretendo continuar desfrutando de ambos enquanto tiver força e bom humor).

(...) Robert Shekter, ilustrador do meu livro, foi piloto na segunda guerra mundial, seus piores pesadelos não são com os bombardeios, mas com um pato distraído que acabou derrubando com sua espingarda de caça. Ao se aproximar viu que ainda se debatia, teve que lhe torcer o pescoço para acabar com sua agonia. Virou vegetariano. Mas ao cair o pato amassou uma alface, também não come esse vegetal. É muito difícil preparar um jantar erótico para um homem com essas limitações. Robert jamais contribuiria para o meu livro se o projeto inclísse aves torturadas... bem como barbatanas de tubarão, testículos de mandril e outos ingredientes que não aparecem aqui por que não foi fácil encontrar nos supermercados das redondezas.

(...) aqui nos referimos sómente à arte sensual da comida e seus efeitos sobre a realização amorosa. Brócolis está descartado. Falamos de ostras, mel, amêndoas moídas e outras especiarias proibidas...

(...) a gula é um dos caminhos diretos para a luxúria, e se avançarmos mais um pouco, para a perdição da alma. Por isso luteranos, calvinistas e outros aspirantes à perfeição cristã comem tão mal. Os católicos, em compensação, que nascem resignados ao pecado original e às fraquezas humanas, e que são purificados pelo sacramento da confissão, prontos para tornar a pecar, são mais flexíveis com relação á boa mesa... Ainda bem que nasci entre os segundos e posso devorar todas as guloseimas que desejar sem pensar no inferno, só nos meus quadris... "

(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

domingo, 19 de outubro de 2008

Quem Sou Eu

FATIMA VIEIRA,  formada em PSICOLOGIA pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. Com Especialização em PSICOLOGIA CLÍNICA, atua com trabalhos que visam a expansão da consciência humana, optando pela PSICOTERAPIA de Carl Gustav Jung (1875/1961), por entender ser uma das mais completas abordagens da Psicologia. Foi denominada por Jung como PSICOLOGIA PROFUNDA, com análise de sonhos e arquétipos inerentes ao inconsciente individual e coletivo. Trata-se de uma abordagem EXISTENCIAL HOLÍSTICA, que visa o ser humano no aspecto BIOPSICOSSOCIAL e ESPIRITUAL.
"COMO PSICÓLOGO, EU ME COMPROMETO A COLOCAR MINHA PROFISSÃO A SERVIÇO DA SOCIEDADE BRASILEIRA, PAUTANDO MEU TRABALHO NOS PRINCÍPIOS DA QUALIDADE TÉCNICA E DO RIGOR ÉTICO. POR MEIO DO MEU EXERCÍCIO PROFISSIONAL,CONTRIBUIREI PARA O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA E PROFISSÃO NA DIREÇÃO DAS DEMANDAS DA SOCIEDADE, PROMOVENDO SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DE CADA SUJEITO E DE TODOS OS CIDADÃOS e INSTITUIÇÕES."(Resolução do Conselho Federal de Psicologia - 02/2006; art.3)

E o silêncio vai se tornando a música do meu coração



"FIZ UM ACORDO COM O MUNDO, EM TROCA DO SEU BARULHO, DOU-LHE O MEU SILÊNCIO." (Nassar)





Mário Quintana

"... e um dia os homens descobrirão que os discos voadores estavam apenas estudando os insetos!  (Mario Quintana)


Sobrevivemos



Parabéns a todos os meninos e meninas que sobreviveram aos anos 1930, 40, 50 , 60 E 70! Primeiro, sobrevivemos sendo filhos de mães que fumavam, bebiam, enquanto 'nos esperavam chegar'... Elas tomavam aspirina, e não faziam teste do pezinho ou de diabetes.
E depois do “traumático” parto NORMAL, nossos berços eram pintados com tintas à base de chumbo em cores brilhantes ‘lead-based’ e divertidas.
Não tínhamos tampinhas protetoras para chupetas ou mamadeiras, nem nos frascos de remédios, portas ou tomadas, e quando andávamos nas nossas bicicletas, não usávamos capacetes, isto sem falar dos perigos que corríamos quando pedíamos caronas.
Sendo crianças, andávamos nos carros sem cintos de segurança, 'air-bags' e não ficávamos só nos bancos de trás... E andar no bagageiro ou na carroceria de uma 'pick-up' num dia ensolarado de verão era uma diversão premiada.
Bebíamos água no jardim da mangueira e não de uma garrafa plástica. E era água pura. Compartilhávamos um refrigerante com outros quatro amigos, todos bebendo da mesma garrafa, e ninguém que eu me lembre ficou sequer doente por isso. Comíamos bolos, pão com manteiga e tomávamos refrigerantes açucarados, mas não ficávamos gordos de ficar lesos, simplesmente porque ESTÁVAMOS SEMPRE BRINCANDO NA RUA, NA CALÇADA, NO QUINTAL, NO JARDIM, OU NA PRAÇA.
Saíamos de manhã e brincávamos o dia inteiro, desde que voltássemos antes das luzes da rua se acenderem. Ninguém conseguia falar com a gente o dia todo. E estávamos sempre bem tanto que sobrevivemos...
Passávamos horas construindo carrinhos de caixote para deslizarmos morro abaixo e só quando enfiávamos o nariz em alguma arvore é que nos lembrávamos que precisava ter freios. Depois de alguns arranhões, aprendemos a resolver isto também, por nossa conta...
Não tínhamos 'Playstation', 'Nintendo', 'Arquivos X' , nenhum vídeo game, nem 99 canais de seriados violentos ou novelas peçonhentas, nenhum filme em DVD ou VT ou VHS, nem sistemas de som 'surround sound', muito menos telefones celulares, ou computadores de bolso, ou Internet ou salas de Chat...
A m i g o s... Tínhamos amigos... Íamos lá pra fora e os encontrávamos ou conhecíamos de novo! Caíamos de árvores, nos cortávamos, quebrávamos uma canela, um dente, e ninguém processava ninguém por isso. Eram acidentes.
Inventávamos jogos com paus e bolas de tênis e até minhocas e sapos eram dissecados por nós.
Íamos de bicicleta ou a pé para a casa de algum amigo e batíamos na porta ou tocávamos a campainha ou simplesmente abríamos a porta e entrávamos e ficávamos conversando com eles ou brincando.
As categorias “Dente de Leite” de futebol tinham jogos de teste, mas nem todo mundo passava nem ficava desesperado. Nem os papais interferiam com suas carteiras ou com suas vozes de poder. Tínhamos que aprender a ficarmos decepcionados. Imagine só!
Quebrarmos uma lei ou outra não resultava em castigo nem bronca homérica? Eles até estavam sempre ao lado da lei e da ordem... E agora? Foi essa geração que produziu alguns dos mais aventureiros solucionadores de problemas, inventores e autores de todos os tempos!
Nos últimos 50 anos nós testemunhamos uma explosão de novidades e novas idéias. Tínhamos liberdade, podíamos errar, fracassar, ter sucesso e responsabilidade, e aprendemos que não há nada melhor que ter NASCIDO LIVRES, POIS SÓ ASSIM APRENDEMOS A VIVER E SOBREVIVER!

O Rio e o Oceano - Osho
















 



















Diz-se que, antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Avance firme e torne-se Oceano!"
 
"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer,mas pela pupila, TEM QUE TER BRILHO QUESTIONADOR E TONALIDADE INQUIETANTE.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim um louco e santo. Deles não quero respostas, quero avesso.Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também a sua maior alegria.
AMIGO QUE NÃO SABE RIR JUNTO NÃO SABE SOFRER JUNTO. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Queros-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem sou.
Pois os vendo loucos ou santos, bobos ou sérios, crianças ou velhos,
nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril."
(Oscar Wilde - AMIGOS)

"Prá onde tenha sol é prá lá que vou..."


Traiçoeiro sol, brilha prá todos, menos prá mim!
"Ei dor... eu não te escuto mais,
Você, não me leva a nada.
Ei medo... eu não te escuto mais,
Você, não me leva a nada.
E se quiser saber pra onde eu vou,
Pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou..."
(Pra Onde Tenha Sol - Composição: Betto e Freddo)

Aos políticos que atravancam nosso caminho...


"... AGORA JÁ NÃO É NORMAL
O QUE DÁ DE MALANDRO REGULAR, PROFISSIONAL
MALANDRO COM APARATO DE MALANDRO OFICIAL! 
MALANDRO CANDIDATO A MALANDRO FEDERAL!
MALANDRO COM RETRATO NA COLUNA SOCIAL
MALANDRO COM CONTRATO, COM GRAVATA E CAPITAL
QUE NUNCA SE DÁ MAL ..."
 (Homenagem ao malandro Chico Buarque/ 1977-1978) 



sábado, 18 de outubro de 2008

o que há em mim é sobretudo cansaço - Alvaro de Campos




O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo,
ele mesmo, Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas
-Essas e o que faz falta nelas eternamente -
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
-Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser... E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

sábado, 4 de outubro de 2008

... é assim então teu segredo

imagem: Portinari
"Flores envenenadas na jarra...
Roxas azuis, encarnadas, atapetam o ar

Nunca vi mais belas e mais perigosas.
 
(...) é assim então o teu segredo,
Teu segredo é tão parecido contigo
Que nada me revela além do que já sei.
E sei tão pouco,como se o teu enigma fosse eu."
                                         (Clarice Lispector)




Leve Como Leve Pluma...


"Leve, como leve pluma muito leve,
leve pousa 
muito leve, leve pousa,
Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Suave coisa nenhuma
Sombra, silêncio ou espuma
nuvem azul que arrefece
Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
que em mim amadurece." 
(composição: Apolinário/ Peninha)

... ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos tão pequenas


n' algum lugar em que eu nunca estive, alegremente além de qualquer experiência,
 teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, 
n' algum lugar me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente, assim como o coração desta flor imagina a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha  abre; só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.                                                                                                            (E.E Cummings)
                                                                          (Trad. Augusto de Campos)

... tu és a taça que só esperava os dons da minha vida



"Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo, em cima como ramos que um mesmo vento move, embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro me procurava como antes, quando nem existias, quando sem te enxergar naveguei a teu lado e teus olhos buscavam o que agora - pão, vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos, porque tu és a taça que só esperava os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira, enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos, de repente desperto e no meio da sombra meu braço rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra, de água-marinha, de algas, de tua íntima vida, e recebi teu beijo molhado pela aurora como se me chegasse do mar que nos rodeia."(Pablo Neruda)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Festival de Dança de Joinville/2005 - Composição para Vivaldi



"A DANÇA É UMA MANIFESTAÇÃO CULTURAL MUITO FORTE, É UMA ATITUDE POLÍTICA ACIMA DE TUDO, PORQUE VOCÊ DANÇA A SUA EXPRESSÃO DE VIDA." (Eugênio Lima)
"Meu corpo é o templo da minha arte. Eu o exponho como um altar para adoração da beleza." (Isadora Duncan)