domingo, 26 de julho de 2009

... é a vida real

imagem: Joel de Oliveira
 Não é o que se pode chamar de uma história original
Mas não importa: é a vida real!
Acordar de madrugada vindo de outro planeta
Sentir-se só;
Uma criança num berço de ouro
E a ferrugem ao seu redor
Os muros da cidade falavam alto demais
Coisas que ela não podia mudar nem suportar
Ela quis voltar para casa
Cansou da violência que ninguém mais via
Viu milhões de fotografias e achou todas iguais
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Nunca mais!!!
Ofereci abrigo, um lugar para ficar
Ela me olhou como se soubesse desde o início
Que eu também não era dali
E quando sorriu ficou ainda mais bonita
Tinha a força de quem sabe que a hora certa vai chegar
Lágrimas no sorriso, mãe e filha, chuva e sol
Segredos que não podia guardar, e não conseguia contar
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
(...)
Ainda ando pelas mesmas ruas
A cidade cresce e tudo fica cada vez menor
Agora eu sei que a vida

não é um jogo de palavras cruzadas
Onde tudo se encaixa
O que será que ela quis dizer?
cinco letras, começando com a letra 'A'!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!

(...)
Ainda ando pelas mesmas ruas
Acidade cresce e tudo fica cada vez menor
Agora sei que a vida não é um jogo de palavras cruzadas
Onde tudo se encaixa
O que será que ela quis dizer
Cinco letras, começando com a letra'A'!

( Nunca Mais - Engenheiros do Hawwaii)

(Fatima Vieira)
                  

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Fragmentos 6 - O Exílio do Imaginário

EXÍLIO: Ao renunciar ao estado amoroso, o sujeito se vê com tristeza exilado do seu imaginário (a paixão amorosa é um delírio; mas o delírio não é estranho; todo mundo fala dele, ele fica então domesticado. O que é enigmático é a perda de delírio: se entra em que?)
No luto real a 'prova de realidade' que me mostra que o objeto amado não existe mais. No luto amoroso ele não está morto, as vezes nem distante. Sou eu que decido que sua imagem deve morrer. Durante todo tempo de duração desse estranho luto, terei que suportar duas infelicidades contrárias: sofrer da presença do outro (continuando a me ferir à sua revelia) e ficar triste com a sua morte (pelo menos tal qual eu amava). Assim me angustio por causa de um telefone que não toca, mas ao mesmo tempo devo me dizer que esse silêncio é de qualquer jeito inconsequente, porque decidi elaborar o luto dessa preocupação: é a imagem amorosa que deve me telefonar, desaparecida essa imagem, o telefone, toque ou não, retoma a sua existência fútil. (o ponto mais sensível desse luto não será que devo perder uma linguagem - a linguagem amorosa? acabaram os 'EU TE AMO'.) (...) se há alguma semelhança entre a crise amorosa e a cura psicológica: elaboro o luto de quem amo, como o paciente elabora o luto de seu analista: liquido a minha transferência, então a crise e a cura terminam (???)

Fragmentos 5 - Dias Eleitos

DIAS ELEITOS - A FESTA: O sujeito apaixonado vive cada encontro como uma festa. Festa é aquilo que se espera, o que espero da presença prometida é um enorme somatório de prazeres... a festa para o enamorado, o lunático, é um júbilo e não uma explosão: gozo de jantar, da conversa, da ternura, da promessa certeira do prazer: uma arte de viver acima do abismo. 'Então não significa nada para você ser a festa de alguém?'
LEMBRANÇA: Reminiscência feliz e/ou dolorosa de um objeto, de um gesto, de uma cena ligados ao ser amado, e marcada pela inclusão de um perfeito na gramática do discurso amoroso:'as estrelas brilhavam'... nunca mais essa felicidade voltará tal qual.
(...) imperfeito é o tempo da fascinação: parece vivo e no entanto não se mexe: presença imperfeita, morte imperfeita; nem esquecimento nem ressurreição; simplesmente o cansativo engano da memória.