Psicossomática: O Pescoço
A região do pescoço faz a ligação entre a cabeça e o tronco. Área de grande sensibilidade e relevância desde o ar que se respira até a nutrição e a fala. Toda dinâmica corresponde à três vias de comunicação fundamentais: a traqueia, o esôfago e a medula espinhal. A laringe também está relacionada à transmissão e à comunicação. Devido à estreiteza dominante, o pescoço tem uma especial ligação com a angústia (do latim angustus = estreito) e especialmente com a angústia da morte. No nascimento o bebê é confrontado com essa estreiteza e angústia. Otto Rank refere que o trauma do nascimento é responsável pela primeira experiência de angústia na vida de um indivíduo e permanecerá presente ao longo de toda a sua existência (Rank, 1924). Diz-se de forma figurativa:'sinto um aperto na garganta', quando estamos perdidos; ou 'estou endividado até o pescoço'; ou 'ele pulou no pescoço' ou 'levou uma gravata' diante de uma briga; 'engolir sapo' quando a pessoa não consegue se expressar adequadamente e de forma submissa leva 'desaforos para casa'. Diz-se que determinada pessoa é corajosa quando anda de 'cabeça erguida'. Já a pessoa constantemente 'cabisbaixa' oculta a região da garganta, e com ela o âmbito da incorporação e da posse. Não espera nada da vida que valha a pena ser incorporado. Ela comprime no espaço mais estreito aquilo que têm, e o esconde do mundo. Trata-se de um círculo vicioso típico, pois vivencia o todo na projeção. Ela deixa a cabeça cair um pouco mais a cada golpe. Não é somente em sentido figurado que ela abaixa a cabeça. O pescoço tem então de suportar a carga da cabeça pendente, o que a longo prazo força em demasia os músculos da nuca, causando estresse e dores musculares. A postura inversa é o 'nariz empinado', em que a cabeça é atirada sobre a nuca e o queixo empurrado para a frente. Dessa maneira, o queixo é ressaltado como símbolo da vontade. Tudo deve seguir o nariz de quem tem o 'nariz empinado'. Ela observa de cima para baixo o mundo que tem a seus pés. Ao mesmo tempo, o pescoço é forçado para a frente, esticado e tendenciosamente inchado, o que evoca a temática da insaciabilidade. A lição dessa má postura está em conquistar o olhar desde cima em sentido figurado e desenvolver a genuína coragem que repousa na força interna em substituição da soberba. Ou seja, quem se coloca aos pés do mundo com verdadeira humildade, terá finalmente o mundo a seus pés, e o mundo deixará de golpeá-lo. Por outro lado, pode-se permitir que alguém coloque os braços ao redor do pescoço como prova de confiança.
Sobre a voz: Ao externar o conteúdo a voz também expressa o estado de ânimo da pessoa (anima=alma). A voz torna-se sintoma quando não corresponde à forma do corpo. Uma voz semelhante aos pios de um pássaro que nos importuna saindo de um corpo imponente fala por um proprietário que não confia em si mesmo para estar à altura de suas possibilidades. Ele não permite que a voz vibre em conjunto com o corpo. É de supor tanto o medo da própria força e da impressão que se causa quanto a distância da corporalidade. O ânimo interno, ao contrário da aparência interna, é medroso e sem autoconfiança.
A voz trêmula: deixa igualmente que o medo vibre em conjunto, mas em determinados momentos pode vibrar também com o movimento interno e a comoção.
A voz baixa: pertence a pessoas desanimadas, que precisaram humilhar-se frequentemente e não chegaram a desenvolver a própria força nem obtiveram para si uma expressão mais forte.
A voz pouco nítida: de quem se acha mal compreendido. Ali onde os outros não o entendem surge a pergunta, se ele de fato quer ser compreendido e se sustenta aquilo que diz. Será que são claros para ele os pensamentos que expressa com tão pouca clareza? A linguagem pouco nítida, que permite que as palavras se confundam umas com as outras, permite supor pensamentos igualmente indiferenciados. A pessoa que fala enrola e tem medo de chegar, vá que aquilo que foi dito se revele menos linguagem que tolice. Ela não gostaria de comprometer-se, seus pontos de vista não são suficientemente firmes, claros e seguros para que ela os exponha com voz mais firme, mais clara e mais segura.
A voz soprada, tolhida: A cada sopro aquele que sopra diz, juntamente com o conteúdo soprado: "Por favor, não faça nada comigo que eu também não faço nada com você".
A voz demasiadamente suave: a suavidade quando excessivamente acentuada levanta rapidamente a questão de sua autenticidade e a suspeita de que ela deve ocultar um 'lobo em pele de cordeiro'. Quem fala sem ênfase e expressão e por medo da energia e da força da expressão se refugia na suavidade tem, de fato, a suavidade por lição a ser aprendida. Dado o caso, ele precisa reconhecer sua suavidade como falsa ou pouco sincera, pois até mesmo um pisa-mansinho pisa. Ele continua sendo 'um lobo em pele de cordeiro'. Mas caso ele se exercite em assumir inteiramente o caráter de cordeiro, notará que tem algo mais, muito diferente, metido dentro de si. Enquanto ele continuar se fazendo de cordeiro, existe o perigo de que em algum momento ele se torne um e a autêntica suavidade permaneça oculta para sempre. Caso ele, ao contrário, descubra e aceite sua porção de natureza de 'lobo', a suavidade forçada se transformará em sonoridade liberada que também pode expressar-se de maneira correspondente terna e suave como um sussurro ou enfaticamente vociferada.
A voz chorosa: vozes chorosas ou gementes, por trás das quais praticamente não há ênfase alguma. Mas caso haja pressão por trás das palavras e o medo impeça sua expressão sonora, isso é sentido no timbre forçado do hálito, queixoso do gemido.
A voz rouca: A voz rouca deve-se a cordas vocais irritadas e não a um estado de ânimo reconhecidamente irritado. Ela pode indicar, que a pessoa permanece constantemente nas proximidades do grito sem realmente berrar do fundo do coração. A voz soa extremamente fatigada, seja porque gritou de maneira apenas parcial, ou então porque o brado tem de ser constantemente reprimido. Não se coloca inteira naquilo que exterioriza. Juntamente com o impulso de falar, percebe-se simultaneamente no atrito a resistência ao ato de falar. Quem não abre mão de falar apesar de estar resfriado, fica rouco rapidamente. O fato é que ele está cheio até o nariz e gostaria mesmo é de não ouvir, ver ou cheirar, fechando-se totalmente. A voz rouca deixa entrever a situação ultrairritada. Uma voz que falou demais em relação às circunstâncias. Sem a superfície de ressonância do corpo, é duvidoso que a voz encontre ressonância entre os ouvintes. Quanto mais rouca e grasnante ela é, menos digna de crédito ela soa. A rouquidão pode chegar à perda da voz (afonia), um sintoma da maioria das doenças que ataca a laringe.
A voz sufocada: está tingida daquilo que a sufoca. Lágrimas reprimidas podem soar, assim como a raiva ou a ira. A voz abafada sempre é em última instância a reprodução de uma aflição anímica.
A voz sibilante: revela um ser serpentino, com o profundo simbolismo que se aderiu a esse réptil desde os tempos bíblicos. Nisso está incluída não apenas a falsidade da língua bifurcada mas também o sedutor. Sibilar algo para alguém, assim como a própria voz sibilante, tem algo de perigo e de conspiração. O pólo oposto é constituído por palavras abertamente articuladas e nítidas que não temem a exposição pública.
Uma voz áspera: mostra que as coisas não deslizam para fora dos lábios com facilidade, mas que a pessoa responde a uma certa resistência. Caso a voz seja áspera como um ralador, o esforço ao falar toma-se audível. A solução está em admitir realmente as resistências internas.
A voz molhada: é menos um problema vocal que um problema de expressão. Embora reconhecidamente inofensivo, o sintoma é extremamente malvisto em razão de seu óbvio simbolismo. Aqui alguém cospe sua agressão. Assim ele sempre passa para seus ouvintes aquilo que não conseguiria tão facilmente de outra maneira. Por trás, oculta-se a tentativa de esforçar-se especialmente e de articular declaradamente bem. Em vez de fazê-lo dessa maneira infantilmente babada, será que os afetados poderiam ousar expressar a necessária agudeza e concisão por meio do conteúdo? Para harmonizar-se com sua voz, é inevitável admitir-se nos planos de sentimentos que vibram em conjunto a cada momento, vivê-los e deixar que falem a partir de si mesmos. Somente assim surge a chance de estar (vocalmente) livre e aberto para todos.
A voz estridente: Uma voz que sempre soa alta e troante torna-se igualmente sintoma. Muitas vezes ela sobrecarrega todas as emoções mais ternas ou até mesmo as atropela. quem é sempre um canhão e permite que as paredes retumbem com o troar dos canhões não somente desgosta o ambiente com o tempo mas está ele mesmo desgostado. O estado de animo é algo mutável e sensível; para expressá-lo de maneira condizente é necessária a consonância do momento em questão. A solução para os espíritos de canhão
notórios também está em seu jeito alto e até indiscreto, engraçado e alegre. Se eles se permitissem por uma vez mergulhar inteiramente na alegria e na jovialidade, até sentir o mais íntimo de si mesmos, poderiam então voltar a relaxar e estariam abertos para novos estados de ânimo em novas situações. Com uma voz estridente busca-se forçar para si a atenção e a consideração dos outros que provavelmente não seriam tão fáceis de obter com os conteúdos exteriorizados.
O pigarro como sintoma: Naturalmente, o pigarro somente adquire valor de doença quando surge frequentemente e começa a se tornar importuno para a própria pessoa e evidente para os outros. É a tentativa de limpar as vias aéreas para ao final dizer algo. Assim, ele naturalizou-se como o sinal com o qual se anuncia um
discurso. Quando alguém pigarreia constantemente, anuncia o tempo todo uma alocução que então não vem. Trata-se de uma pessoa que também gostaria de dizer algo alguma vez, mas que empaca logo no princípio. Ela não encontra as palavras no sentido mais verdadeiro do termo, permanecendo nas preliminares com seus sons guturais de limpeza. Muitas vezes o pigarro quer também chamar a atenção sobre si e anunciar a própria critica sem formulá-la. A lição consiste em obter audição, consideração e atenção para as próprias palavras.
Perguntas pertinentes:
1. Minha voz está adaptada? À minha aparência? Minha posição profissional? Social? Minha determinação.
2. Minha voz assume o primeiro plano ou se esconde? Isso corresponde aos meus reais anseios da vida?
3. Posso confiar em minha voz e falar livremente? Eu chego com ela àqueles a quem falo?
4. Consigo expressar-me livremente quando há resistências?
5. Que sentimento básico minha voz expressa? Ele corresponde à tonalidade de minha alma?
6. Eu permaneço vocalmente em determinados estados de ânimo ou fico aberto para cada momento?
7. Que mensagens minha voz transporta além do conteúdo?
Fonte:
DAHLKE, Rüdger - A Doença como Linguagem da Alma - Os sintomas como oportunidade de desenvolvimento. Trad. Dante Pignarari. Ed. Cultrix. São Paulo - 1992