- Na FOBIA, a angústia liga-se, especificamente, a uma situação especial, esta representando o conflito neurótico.
- Se o EGO avalia o perigo - "Este ato ou situação instintiva é capaz de acarretar a castração ou a perda do amor" - visa a "advertir" no mesmo sentido em que o EGO normal adverte de um perigo verdadeiro, o que se vê é completamente esta intenção na NEUROSE FÓBICA.
- O que visava a impedir um estado traumático na realidade o induz; situação esta que mencionamos quando falamos na estratificação tríplice da angústia, isto é, a angústia de advertência regride à angústia do pânico.
- Esta falha da função de advertência do EGO explica-se pelo fato de que o aumento da tensão interna (o estado de represamento) já criara disposição geral para a angústia: barril de pólvora em que o sinal de perigo atua como se fosse um fósforo.
- As pessoas tensas reagem às situações de perigo por forma diferente das pessoas normais. As pessoas tensas desenvolvem disposição latente para a explosão, disposição que, por influxo acrescido do temor consequente à percepção do perigo, as faz ficar paralisadas.
- Do mesmo modo que reagem a perigos reais com pânico, em lugar de sentir medo e reagir de acordo, as pessoas "nervosas" também reagem a perigos imaginários com pânico.
- Quase sempre certa disposição difusa para o desenvolvimento de uma angústia que tem a ´índole de neurose terá existido durante algum tempo. Alguma coisa ocorre que, inconscientemente, mobiliza o conflito patogênico básico. O Ego quer advertir, falha a advertência e produz o primeiro ataque de neurose fóbica.
- Daí em diante, a disposição para o desenvolvimento de angústia liga-se à situação específica, que produziu este primeiro ataque.
- A limitação e a especificação da situação temida pode descrever-se como sendo uma espécie de ligação secundária da ansiedade difusa primária ao conteúdo específico, momento este a que a disposição explosiva contínua da neurose fóbica está controlada, desde que não se acendam fósforos de alusão às situações específicas; mas se nestas se toca, manifesta-se a angústia e secundariamente, o Ego desenvolve medidas que tentam combatê-la.
- Na neurose fóbica o temor que motivou a defesa ainda está manifesto, é o tipo mais simples de neurose, de modo que as primeiras reações neuróticas das crianças tem, em regra, o caráter da neurose fóbica. Todas as demais neuroses elaboram de maneira mais extensa a angústia.
O DESLOCAMENTO DA NEUROSE FÓBICA - O que determina a escolha do conteúdo específico? Que situações ou pessoas se acredita sejam perigosas?
- Existem casos em que não há muito deslocamento; a angústia é sentida em situações nas quais uma pessoa desinibida experimentaria ou excitação sexual ou raiva. A inibição, às vezes, se manifesta em certo temor, o qual se desenvolve sempre que se toca no terreno inibido.
- Na impotência e na frigidez há uma fobia do sexo, o indivíduo se amedronta diante de tentações sexuais e tenta evitá-las.
- Há fobias gerais da comida, os quais se terão ligado a conflitos inconscientes; ou através de associações históricas, ou pela sua significação simbólica - Noutras fobias, ainda simples, a situação que se teme não constitui tentação temida; é a ameaça que causa a tentação a temer-se; castração ou perda de amor.
- Há fobias de facas e tesouras, nas quais se implica que sequer a vista destes instrumentos desperta a ideia temida de castração possível (hostilidade reprimida).
- Nos casos de histeria em que as forças defensivas mais realizaram do que simples desenvolvimento de angústia e atitudes fóbicas ulteriores; ficou mais oculta a conexão entre a situação temida e o conflito instintivo original. Não são as situações sexuais que se temem, mas, as situações sexualizadas.
- Em geral, a situação ou a pessoa que se teme possui significação especial para o paciente. Alguns impulsos rejeitados buscam oportunidade de satisfação, mas a reativação respectiva também mobiliza as angústias antigas; as repetições neuróticas consistem em falsas interpretações da realidade no sentido ou de tentações inconscientes; ou num sentido e noutro.
- EXEMPLOS de situações de ansiedade que representam tentações inconscientes: A ideia de ruas, nas AGORAFOBIAS, é concebida, inconscientemente, como oportunidades de aventuras sexuais.
- Pensa-se na rua como um lugar que se poderia ser visto e capturado; estar só significa estar desprotegido do inimigo.
- Há muitos temores hipocondríacos que significam ou "posso ser castrado", ou "pode vir a verificar-se que eu já esteja castrado".
- FOBIAS de doenças (nosofobia) em pessoas que na infância o medo de castração se deslocou para a ideia de adoecer. "Estar doente" significa "estar com febre"; e as sensações do estado febril representam a temida excitação sexual infantil.
- MEDO DE CAIR DE LOCAL ALTO E MORRER: Quase sempre significa punição de desejos homicidas.; mas a própria sensação da queda representa, simultaneamente, as sensações da excitação sexual, que bloqueada no seu curso natural, adquire caráter doloroso e atemorizador.
- CLAUSTROFOBIA: O medo de ser confinado em espaços apertados, ou o medo de ruas estreitas são as próprias sensações de angústia que se experimentam como constrição e aumentam com as sensações vegetativas dolorosas que substituem a excitação sexual bloqueada.
- O "MEDO DE FICAR DOIDO" - Este temor pode ser justificado. Não é exata a regra segundo a qual quem tem medo de enlouquecer não enlouquece. Há muitos esquizofrênicos incipientes que percebem o seu alienamento crescente.
- É frequente este não constituir juízo fundado, mas sim fobia (e mesmo como fobia, o medo tem base objetiva); o que o paciente sente, em seu medo de enlouquecer, é a interação dos seus desejos inconscientes (pricipalmente os impulsos instintivos - sexuais ou agressivos - que dentro dele atuam).
- Neste sentido, o medo de enlouquecer o medo de sua própria excitação. Pois a excitação temida da sexualidade infantil quase sempre se experimenta em conexão com a masturbação, é fácil que as crianças aceitem como substitutos da ideia de castração as advertências dos adultos no sentido de que "a masturbação fazem as pessoas ficarem malucas".
- Os temores de ser feio ou de estar sujo podem significar o mesmo que os temores de ser doente ou louco; a feiúra, a aparênciarepulsiva significam estar sexualmente excitado (ou estar enraivecido), ou ser castrado. Acontece às vezes certas fobias desta ordem constituem estados de transição para delírios.
FERENCZI cita outro exemplo de da simultaneidade de tentação e castigo nas NEUROSES DE DOMINGO: Há pessoas que nos domingos sofrem fconstantemente de angústia (ou depressão). Os domingos são, em geral dias em que, supostamente, mais do que os outros dias ocorrem atividades sexuais; mas são os dias em que as crianças estão mais sob supervisão dos pais.
- Por força da REPRESSÃO é frequente as fobias terem conteúdo indefinido, nebuloso, que se compara pela falta de clareza, ao conteúdo dos sonhos.; é comum ver grande parte do trabalho analítico ocupada com a determinação precisa do que é que mete medo ao paciente. Às vezes parece que o conteúdo do temor foi claro e definido para depois se tornar no curso da neurose vago e impreciso.
- A vantagem que tem o deslocamento está em que a ideia ofensiva original não se torna consciente. Tem-se o caso analisado por FREUD do pequeno HANS que teme cavalos. Aquelas pessoas que ameaçam são odiadas, o menino deixa de ser ameaçado pelo pai para ser ameçado pelo cavalo mau, assim consegue evitar o ódio ao pai. Com o pai ele precisa conviver todos os dias, enquanto a ameaça do cavalo é fácil evitar ficando em casa.
- QUEM TENHA FICADO COM MEDO DE SAIR DE CASA PODE EVITAR ESTA SITUAÇÃO TEMIDA, MAS NINGUÉM CONSEGUE EVITAR O PRÓPRIO CORPO E AS SUAS SENSAÇÕES, acaba por produzir projeção vantajosa de certo perigo instintivo interno para um perigo perceptivo externo.
- Logo, nas FOBIAS a projeção desta ordem é a tentativa de fugir de certo impulso perigoso interno pelo evitar de uma contigência externa específica, que representa este impulso, é o tipo de deslocamento que com mais freqência se vê nas fobias.
- Sabe-se que o perigo original, tem sido também perigo externo, visto não ser a expressão instintiva que se teme, e sim, as suas consequências externas (castração, perda de amor).
- Embora, o indivíduo fuja de pais ameaçadores, o indivíduo fóbico foge, primordialmente dos seus próprios impulsos, porque o perigo externo da castração é determinado pelo seu comportamento.
BIBLIOGRAFIA:
FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses. Livraria Atheneu, Rio de Janeiro/ S.Paulo, 1981.
(Fatima Vieira - Psicóloga)
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