domingo, 24 de março de 2013

Ψ outros fragmentos sobre o desejo...



 Ψ “Pessoas  sofridas são perigosas porque elas sabem que podem sobreviver.” (filme Perdas e Danos sobre o desejo).
 *no filme: ... quando ele encontra Anna pela primeira vez acende-se nele o inebriamento da sua paixão que o desembaraça das suas inibições e do recalque.

 - Desejo:
 (...) a força que nos põe em movimento, e dá o significado à existência.

- Para Freud, o passado, o presente e o futuro são entrelaçados pelo fio do desejo que os une. 

- No início era apenas fome... saciados ou não, é esta a imagem que ficará registrada.

- Mais tarde isso não bastará, a homeostase é pouco, DESEJA-SE muito além do princípio do prazer... 

- A * 'jouissance' transgride este limiar de homeostase e "coloca-se" para além do princípio de prazer, o prazer que deixou de ser possível quantificar e ficou em excesso. (*Em francês tem ainda uma forte conotação sexual: deleite, gozo, fruição; que se perdeu em inglês, onde é normalmente traduzido por "enjoyment", significando literalmente 'orgasmo') 

 - Se a 'jouissance' ordinária se atinge por 'ejaculação', a jouissance é uma' jaculação', isto é, um arremesso para o infinito e, ao mesmo tempo, um arremesso interminável. 

 - Se o prazer é desejo que obedece a um princípio de constância, a essa tendência do homem para reduzir as suas tensões através da satisfação do desejo, a 'jouissance' é tudo o que não permanece e tudo o que não permanece pré-ocupa-nos de tal forma que o prazer se torna numa proibição para não irmos além de um certo limite de jouissance. 

- Isto conduz a um certa tensão que é aquele sentimento de impotência perante a morte que todos experimentamos e que ameaça tornar-se o centro da vida -  em tudo equivalente ao instinto de morte que Freud identificou como o instinto por excelência por ser o que tende a reduzir completamente todas as tensões por via da autodestruição.

 - Este é o caminho da'jouissance' original: a pulsão de Tanatos (a personificação mitológica da morte a que Freud recorre para ilustrar o instinto de morte, regula a actividade psíquica de todo o sujeito em conflito consigo mesmo).

 - O desejo que ferve dentro de nós, as nossas pulsões explosivas que buscam uma satisfação, uma descarga (a qualquer preço).

 - Inventamos a vida para caber dentro dela e darmos conta da demanda. 

- Nas entrelinhas das nossas experiências, pensamentos e devaneios há muito mais do que a (nossa) ética reconhece.  

 - A vida segue e vamos dando as respostas neste contrato, fazendo arranjos, dando um 'jeitinho' de acordo com os desejos que nos habitam. Quando não respeitamos nosso desejo genuíno, criamos SINTOMA.

 - Freud diz que somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro. 
  Bibliografia: Alberto Eiguer: Des perversions sexuelles aux perversions morales: La jouissance et la domination (2001);
Carlos Ceia: Sexualidade e Literatura (2002); Didier Moulinier: Dictionnaire de la jouissance (1999);
Jacqueline Rose: Feminine Sexuality: Jacques Lacan and the École Freudienne, ed. por Juliet Mitchell e Jacqueline Rose, (1982); Jacques Lacan: Seminário XX (Encore) (1972-3);
Jacques-Alain Miller: Percurso de Lacan - Uma Introdução (2ª ed., Rio de Janeiro, 1988);
Pierre Boudot: La Jouissance de Dieu: ou, Le Roman courtois de Thérèse d'Avila (1979). 

(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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