sábado, 19 de outubro de 2013

Vinicius Poeta de Moraes - Aquarela

                                                                                                   imagem: google
 
Numa folha qualquer 
eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva. 

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,
Vou com ela, viajando,

Havai, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela branco,

navegando, é tanto céu e mar num beijo azul.
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar.
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,
E se a gente quiser ele vai pousar.
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida

Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida.
De uma América a outra consigo passar num segundo,
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo.











Um menino caminha e caminhando chega no muro      

E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar,
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda nossa vida,

depois convida a rir ou chorar. 
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá ...                                 

(Toquinho - Vinicius de Moraes - Aquarela)

*Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes, poeta brasileiro.
Nasceu em 19 de outubro de 1913 e morreu em 9 de julho de 1980.
Foi também compositor, jornalista, teatrólogo. 

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