A boca serve tanto para o beijo quanto para comer e para comunicar a fala; Os olhos não percebem somente as modificações do mundo externo importantes para conservação da vida, mas também aquelas propriedades dos objetos que os alçam à categoria de objetos de escolha amorosa, isto é, seus atrativos. (Freud, 1915).
“Eu sei o que você deseja e eu tenho o que você deseja” promete
o sedutor com seu jogo de esconder e desvelar. O desejo, por desconhecer seu objeto, é facilmente mobilizado pelo artifício que vela, no corpo, o que de fato não está lá. Nem lá, nem em lugar nenhum." (Maria Rita Kehl)
*"O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão mais inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão". (Clarice Lispector)
*"Todo amor se baseia numa certa relação entre dois saberes inconscientes." (Lacan)
*Alegoria da Loucura: "Os dois se tornaram uma só carne" (Coríntios, 6:15-16).
*"Para existir, um par precisa inventar e compartilhar uma longa aventura". (Calligaris)
*Seres humanos se torturam em nome do desejo.
*Escraviza-se o corpo nas academias na tentativa de transformar-se em monumento vivo do prazer; o objeto incontestável e unânime do desejo.
*Ao acreditar no poder da imagem, pensamos ter finalmente enquadrado o desejo (inconsciente) sob o domínio do ego: desejar e fazer-se desejar.
*É uma armadilha o que parece uma afirmação triunfante do direito a desejar na verdade é um recuo ante o desejo.
*É claro que toda sedução, a serviço do desejo sexual, comporta um artifício.
*Os adornos corporais, os olhares e frases insinuantes, a sensualidade sugerida em gestos e posturas, são recursos mobilizados pela sedução.
*O intuito é produzir no outro a esperança de que ele, o sedutor detém o objeto do desejo que o seduzido desconhece, já que o desejo é, por definição, inconsciente.
*Com qual objeto o ser humano se relaciona?
*A noção de objeto a talvez tenha sido a contribuição mais relevante de Jacques Lacan para a teoria psicanalítica.
*Segundo Lacan, "não há relação sexual!"
*Os animais tem relação sexual. A sexualidade de um leão, de uma tartaruga, não conta com tamanha plasticidade. Leão só sente tesão por leoa, touro por vaca, peixe por peixe...
(... ) O ser humano tem relações. Ele não possui um objeto fixo com o qual saciar seu desejo sexual.
*Apenas o homem sente encanto por sapatos, cores de cabelo, brilhos nos olhos (...) A variação dos objetos que provocam a imaginação humana é quase infinita.
*É por isso que Lacan dirá no Seminário 11: “Amo em ti, mais do que tu”.
*Sim, porque cada um está interessado não no outro em si, mas naquilo que no outro lhe provoca seu desejo! Essa foi a grande descoberta de Freud.
*Freud aprendeu com as crianças e com os perversos que a pulsão sexual não tem objeto.
*É isso o que os psicanalistas querem dizer quando afirmam que o ser humano é marcado por uma falta.*Que falta é essa? É a falta de um objeto que esteja de acordo com o nosso desejo.
*Pelo fato de, no caso da espécie humana, esse objeto não existir, toda vez que nossa pulsão, essa fome de viver fundamental, se depara em algum objeto nós temos a ilusão de que ele nos satisfará plenamente.
*É cilada, logo vem a decepção e nós vamos buscar outra coisa.
*É como se nosso desejo nunca pudesse ser satisfeito, mas apenas aguçado, ele nunca será saciado plenamente.
*Mas se a pulsão não possui um objeto adequado o que provoca o desejo no ser humano? No animal é a imagem do parceiro, ou seja, do objeto.
*Lacan refere: No ser humano é justamente essa falta de objeto que provoca o desejo.
*Na medida em que não temos um objeto adequado, os objetos que nos são oferecidos para ocupar esse lugar não vêm de uma estruturação pré-ordenada da natureza, mas sim da cultura.
*A cultura nos diz o que devemos desejar. O Outro, vai "sugerir" o que devemos desejar (pai e a mãe, ou um programa de televisão). A mídia sabe muito bem como atingir esse hiato, a falta, estimulando a aquisição compulsiva de objetos.
*No entanto, esse Outro nunca consegue realizar essa tarefa completamente porque nenhum objeto que ele nos oferece para desejar vai ser capaz de saciar completamente nosso desejo.
*E não há um objeto único que nos satisfaça plenamente, de modo que sempre haverá um resquício de desejo insatisfeito que nos moverá na busca por outro objeto.
*Frequentemente mascaramos com imagens quando não conseguimos descarregar esse restinho de desejo. E esse resquício é um dos aspectos que Lacan chama de objeto a, o objeto que causa o desejo.
*Sendo assim, só conseguiremos sentir desejo sexual em condições específicas, o que é mais explícito na experiência do perverso.
*O que é um neurótico? Para Freud e Lacan é o que a maioria de nós somos, isto é, seres que vivem imersos na fantasia de que é possível um gozo completo, uma felicidade plena.
*Por isso, no fundo, é esse pedaço perdido de satisfação que buscamos nas relações ou no consultório da analista, na esperança de que esse objeto volte a nos saciar completamente.
*Na década de 50 analistas falavam da teoria de Freud sobre a sexualidade da seguinte forma: no início da vida o bebê se relaciona com pedaços de um objeto, nunca com um objeto inteiro.
*De fato, para Freud os objetos com os quais a criança lida são objetos parciais (seio, fezes, pênis, clitóris).
*No entanto, e é nesse ponto que esses especialistas se afastavam de Freud, pois admitiam que a criança vai amadurecendo ao longo do tempo, e que após o período de latência ela não mais se relaciona com objetos parciais, mas com um objeto inteiro e harmônico, capaz de satisfazer plenamente ao seu desejo.
*O neurótico seria aquele ser insatisfeito que ainda permanece agarrado aos objetos parciais, imaturo para lidar com um objeto total.
*Nesta perspectiva, o objetivo da análise seria levar o sujeito ao amadurecimento.
*Para Freud, nós os neuróticos, não somos imaturos. E a ideia de “amadurecimento” não faz qualquer sentido para o pai da Psicanálise.
*Através da Análise o sujeito a se dá conta justamente de que o objeto pleno não existe, de que essa falta de objeto é estrutural na existência humana e de que é justamente ela que permite o exercício da criatividade e da plasticidade do desejo.
*"Não há sintoma senão na medida em que o sujeito se defende de seu desejo." (Melman).
*Lacan ao criar o conceito de objeto a, tem em vista justamente dar ênfase a essa falta de um objeto natural, adequado e harmônico para o ser humano.
*Para Lacan e como também para Freud nós nunca deixamos de nos relacionar com objetos parciais, com pedaços de pessoas.
*Em nossa fantasia fundamental, a qual regula a nossa relação com o mundo, continuamos a ser ávidos bebês que desejam o seio e o aconchego da mãe.
*E é justamente essa parte perdida de nós mesmos, irremediavelmente perdida, que nós buscamos ao longo da vida. É essa parte perdida, para Lacan, o objeto com o qual nos relacionamos: um objeto que, por sua ausência, se faz presente, o objeto a.
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
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