Calligaris fala sobre a Normalidade: 'Somos mais loucos do que nos imaginamos'.
*Então a 'normalidade' é um transtorno como outro qualquer? - Não, é mais grave.*(...) Somos todos neuróticos, em tese. Graças a Deus, realmente normais são muito poucos.
*Somos todos neuróticos. Mais loucos do que nos imaginamos – loucos, digo psicóticos –, e em certo número, somos todos, enquanto neuróticos, capazes de ser perversos de vez em quando.
*E o que é ser “normal”?
Pois é… Será que as pessoas querem ser normais? Normais ou não julgadas?
Eu acho que o neurótico médio – que somos todos nós – sonha, idealiza o louco.
Ele acha que o louco é “o cara”. E sonha em ser perverso. Ou seja, em ser alguém que realmente não teria todos os impedimentos que a neurose nos coloca, os registros de culpa, as inibições.
(...) Uma pessoa realmente normal é alguém tem um registro de experiência miserável, extremamente pobre.
*Pode ser que seja relativamente pouco sofrido, mas é também dramaticamente desinteressante.
*Às vezes, 'normais' são pessoas que têm ou tiveram uma insuficiência cultural-afetiva muito grande.
*Não é elaborar a experiência no sentido de falar as suas experiências, mas sabe aquela coisa que você atravessa a vida, vê as coisas e isso não lhe evoca nada?
*Tudo acontece como está acontecendo e isso não me evoca nenhuma lembrança.
(...) Porque você, sem dúvida, tem um nível de tormento individual, de angústia, muito menor do que o neurótico médio. Mas, esse tipo de normalidade é construída de maneira extremamente sólida e eficiente em cima de um vulcão adormecido.
*Não garanto que os meus pacientes venham, sei lá, a sofrer menos ou a ter uma vida mais tranquila. Aliás, o que eu espero é que tenham uma vida mais interessante.
*Sobre Cura e Alta em Psicoterapia?
*Existe, mas é uma transformação.
*Porque na medicina, em tese, curar significa trazer você ou levar você a uma espécie de volta à situação anterior.
*Quer dizer, você está com gripe, você quer ficar como antes da gripe.
*No campo “psi”, isso não existe.
*Você tem uma depressão, você não vai poder voltar ao que era antes da depressão.
*Pode se tornar outra coisa, que não é nem a depressão que você tem agora, nem o que você era antes.
*O processo é transformador. Então, “curar” é sempre um pouco problemático.
*E, além do mais, a apreciação é subjetiva, porque, afinal, é o paciente quem vai dizer que está melhor ou que está suficientemente bem para poder, por exemplo, parar um tratamento. A apreciação é dele.
Fonte: http://www.revistadacultura.com.br/entrevistas/conversa/14-02-28/Mais_loucos_e_perversos_do_que_nos_imaginamos.aspx
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
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