*Pesquisas de opinião pública no país evidenciam uma força inaudita daquele político junto às massas. Não se trata apenas de um problema prisional ou ligado a eleições.
*Na realidade, os cidadãos que se propõem a apoiar aquele candidato já possuem uma pauta diplomática mais ampla que envolve os direitos humanos, trabalhistas, sociais (por exemplo, a violência da escravidão que grassa nos campos e cidades brasileiras), o desemprego, ausência de serviços públicos e ameaças generalizadas de privatização.
*São itens de uma lista que envolvem políticas de todos os Estados hoje existentes e que disputam o controle econômico, bélico e diplomático da arena mundial. Aqueles problemas não dizem respeito apenas a juízes e burocratas, eles implicam a sobrevivência de milhões e milhões, aqui e no planeta.
*Sob a ordem da ONU temos o ponto essencial da reflexão filosófica e também ética de Spinoza e Hegel: a virtude, agora mais do que nunca, reside na prática da auto-conservação.
*Caso contrário, diríamos com Hegel, o povo comete suicídio, se aceita inerme os esbulhos privatistas que se manifestam no veto à candidatura do político que tem em seu favor a proeza de trazer para a vida social massas inumeráveis de pessoas, as mesmas que hoje revelam seu desejo de que ele retorne à cena pública.
*Assim, o caso Lula/ONU não se restringe à luta entre a máquina do poder brasileiro e uma agência internacional. Ele mostra que os caminhos da diplomacia, praticada não apenas por instrumentos do poder oficial, mas pelos cidadãos, anuncia uma guerra nova no mundo, a que se trava entre os que se pretendem proprietários do planeta para fins de lucro próprio, e os que lutam pela sobrevivência do mesmo e imenso bioma chamado Terra.
*De tal embate não escapa, volto a Hegel, nenhum Estado pigmeu como o brasileiro. Nosso Estado, hegelianamente, não aceita limites morais para sua atividade, em especial a que ele move contra seus cidadãos, de modo covarde e torpe.
*Sem grandeza para se elevar à esfera pública mundial, a micro soberania, aqui, se contenta em abusar da força e do ordenamento legal interno, com frequência emanado de um Legislativo que opera em favor dos representantes e quase nunca dos representados.
*Sob o verniz envelhecido da legalidade oficial, no entanto, lateja o novo trazido pelo povo soberano. Breve o invólucro vetusto das oligarquias será rompido em proveito de uma outra compreensão do Brasil e do mundo. Quem viver, verá.
Fonte: Lula e a Diplomacia - Roberto Romano - Professor titular aposentado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Unicamp.
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