(...) o Ano-novo, dada sua extensão universal, têm uma força simbólica real, que não permite indiferença.
- Até aquele mal-humorado que prefere ir sozinho à última sessão de cinema do dia 31 de dezembro, e que antes da meia-noite já está dormindo, não escapa ao Ano-novo.
- Não querer ver a entrada do ano é uma reação negativa, mas é uma reação.
- E todos os anos se renovam as promessas, mesmo que sejam as mesmas das últimas décadas - sempre anunciadas, nunca cumpridas - sem nenhuma vergonha do pecado.
- O Ano-novo lava a alma do passado e estabelece um “daqui para a frente”.
- E a psicanálise, tem algo a dizer sobre as boas intenções do Ano-novo?
- Sim, tem. Ao menos em dois aspectos. “Você quer o que você deseja?“, seria o primeiro; o inexorável da surpresa, o segundo.
- Muitas das promessas ficam só nas promessas, porque é bastante comum não se querer o que se deseja.
- Esse aspecto até auxilia os analistas no diagnóstico.
- Obsessivos seriam os que só querem o que não desejam, pois assim não arriscam perder o que lhes é mais precioso, mantendo-o escondido a sete chaves;
e histéricas, eternamente insatisfeitas com o que obtêm, desejam sempre outra coisa.
- Querer o que se deseja implica o risco da aposta - toda decisão é arriscada - e a coragem de expor sua preferência, mesmo sabendo que toda carta de amor tende ao ridículo, como lembra Fernando Pessoa.
- Então, no Ano-novo, uma promessa analítica, se existisse, seria suportar querer o que se deseja e não temer a surpresa do próprio Ano-novo.
- O momento mesmo do réveillon é o melhor exemplo do imprevisível: embora todo mundo saiba quando ele vai nascer, embora (tal qual obstetras do futuro), acompanhemos a contagem regressiva do nascimento em voz alta, não conseguimos evitar a curiosidade entusiasmada de ver sua cara em meio à sinfonia dos fogos de artifício e das bolhas de champanhe.
- E todo Ano-novo é multifacetado, tem uma cara para cada um, é o que o difere do Ano-velho, com suas conhecidas rugas e rusgas.
- Tanto melhor, amigo, se o Ano-novo o encontrar feliz.
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)
Nenhum comentário:
Postar um comentário