- Que espécie de presente seria aquele que não nos lamentamos no momento de dá-lo?
- Essa é uma pergunta que Sigmund Freud se fez em um artigo escrito em 1935, As sutilezas de um Ato Falho.
- Freud deixa entender a existência de ao menos dois presentes: aquele que se dá sem dó, e aquele que nos custa uma tristeza disfarçada no sorriso, no momento da entrega.
- Curiosamente, a maioria das pessoas não concordaria com Freud, pois pensa, no enorme prazer de presentear altruisticamente as pessoas próximas.
- De como é bom dar, pois é dando que se recebe, blá, blá, blá.
- Analisemos a diferença entre as duas atitudes. Dar um presente a alguém com pena, mesmo quando disfarçada, quer dizer que você está dando o que lhe falta; enquanto que dar um presente que você imagina faltar ao outro, indica que é ao outro que algo faltava, e que, agora, após o seu presente, vocês dois podem festejar o fato de que a ninguém falta mais nada, além de algum dinheiro na sua carteira.
- É o que se acredita baseado no pensamento fraterno difundido na expressão, tão valorizada moralmente, de amar ao próximo como a si mesmo, exemplificada em mensagens do gênero: “Tinha comprado isso para mim, imaginei que você também iria adorar”.
- Estranho é pensar na proposta de Freud que a base de um presente maior é o egoísmo, em vez do seu contrário.
- Egoísmo de saber que se está dando o que lhe falta, e não os seus dotes.
- Seria assim o amor, dar o que lhe falta a alguém que não lhe pediu isso?
- Amar seria dar o que não se tem, como escreveu Platão em seu Banquete, e foi retomado, insistentemente, por Lacan?
- Pode ser estranho, mas é por demais humano.
- Os dois tipos de presentes: afetivo ou sensual
- No afetivo, repartimos a mesma identificação, o mesmo bem; é o presente harmônico, tranqüilo.
- No sensual, repartimos nossas diferenças, o que nos falta; é o presente inquieto e insinuante.
- Um e outro não são comprados com a mesma moeda, e nem se trocam na mesma loja.
- Enfim, a cada um desembrulhar o seu presente favorito. Um novo amor está no ar.
Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
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