Depois de lembrar que vive na Venezuela meio milhão de portugueses ou lusodescendentes, Boaventura conclui: “A história recente também nos diz que nenhuma democracia sai fortalecida de uma intervenção estrangeira.”
Donald Trump não é um grande conhecedor da história. Fosse, não faria diferença: o que importa a morte de meio milhão de crianças, comparada com o domínio de 297 bilhões de barris de petróleo, reserva estimada na Venezuela? Democracia? Não vem ao caso.(Boaventura)
(...) O que acontecerá depois de Trump? É evidentemente um criminoso.A questão é se será considerado responsável ou não por seus crimes. O mundo está cheio de criminosos soltos. E pode ser que ele se junte a esse grupo. A única coisa que me consola é que Trump é um juiz tão ruim dos demais que isso o faz cometer grandes erros. Quando se é tão egocêntrico, é difícil ver o resto. Mas... por enquanto é o homem mais poderoso do mundo. Até mesmo seus eleitores sabem que é um delinquente.
(...) E por que o apoiam? É um enigma. Mas não é um fenômeno unicamente americano. Já o presenciamos com Berlusconi. As pessoas sabiam como era e, ainda assim, o queriam para demonstrar sua irritação, para incomodar. Trump é a expressão da política da ofensa. Nesse país já deixamos para trás a ideia de caçá-lo. Já foi caçado. O que ainda não sabemos é se pagará ou não por isso. Berlusconi foi capaz de destroçar o sistema judicial italiano. E pode ser que Trump consiga fazê-lo aqui. (Sennet, sociólogo Chicago por ANATXU ZABALBEASCOA - El País 19 AGO 2018 - 09:55 BRT)
Enquanto isso no Brasil: A Constituição de 1988, redigida após o fim da ditadura, surgiu justamente com a finalidade de impedir a repetição de seus atos infames. Na letra da lei e no seu espírito, a Constituição ordena aos militares que permaneçam alheios e afastados da política. O intuito da lei maior de era ser uma resposta e funcionar como prevenção dos crimes cometidos pelos militares quando exerceram o poder pelo força das armas, à revelia da vontade da sociedade.
(...) eles retornam, sorrateira e sorridentemente no início, agora de forma cada vez mais aberta e arrogante. Outorgam-se poderes sem para isso receber delegação, autocraticamente. Valem-se de muito encenação e pose, pois é muitas vezes apenas de mau teatro de que se valem as imposturas e os blefes da estratégia militar para proceder a uma inversão das hierarquias de qualquer nação civilizada.
Os militares brasileiros desceram tão baixo a ponto de aderirem com entusiasmo e de maneira publicamente unânime a uma candidatura de um líder de gangue, o presidente Jair Bolsonaro, apesar de ele envergonhar o país dentro e fora das fronteiras. Antes disso, a hierarquia militar pode disfarçar, mas mostra-se essencialmente bolsonarista aderida ao "mito" não apenas por conveniência e antes de tudo por convicção.
(...) amam-no apesar das evidentes ligações dele e de sua família com milicianos criminosos do Rio e com esquemas de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. Amam-no como a um herói vingador. Vibram porque ele tem a coragem de defender de público os assassinatos, as torturas, as perseguições, os sequestros realizados sob a égide da ditadura militar. ... Bolsonaro assume tudo que os militares de fato fizeram em nome do Estado, mas que mantêm em segredo (daí seu ódio aos trabalhos republicanos da Comissão Nacional da Verdade). Ele fala o que os militares sempre quiseram dizer, mas não tiveram a coragem de confessar para não ter que prestar contas.
Como Bolsonaro, os militares consideram *Carlos Brilhante Ustra um herói. Irmanados nesses crimes, preparam-se todos para celebrar com orgulho o aniversário do regime dessas práticas, o da "Revolução" de 64, em 31 de março, com a pompa de um dia muito especial. (Mario Vitor Santos)
*Ustra foi reconhecido pela Justiça como torturador. O único, até agora. Morreu em 2015, aos 83 anos, vítima de uma pneumonia e de falência múltipla de órgãos. Teria entrado para a vala da história, não fosse o agora candidato à presidência, Jair Bolsonaro, resgatá-lo como herói.
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