domingo, 15 de agosto de 2010

Ψ QUÍRON , o curador ferido

*Na mitologia QUÍRON é um centauro rejeitado e abandonado pela mãe, foi adotado por Apolo, que lhe ensinou música, poesia, ética, filosofia, artes divinatórias e terapias curativas.
*Conhecido por seus atributos tanto animal quanto divino, identificava-se mais com os humanos, era amigo deles e ensinava-lhes música, a arte da guerra e da caça e da cura.
*Entretanto, ainda não tinha consciência do quanto conheceria e compreenderia os humanos.  
*Amigo de Hércules, o centauro foi, inadvertidamente, atingido por uma flecha envenenada disparada por ele.
*O veneno mágico provocara uma ferida na sua metade animal que, embora não matasse, nunca curava.
*UMA FERIDA QUE, QUANDO TOCADA DOÍA MUITO. 
*QUÍRON aprendeu que precisava proteger aquele lugar.
*Proteger significava cuidar da melhor maneira, PRECISAVA CONHECER BEM AQUELE PONTO DE SENSIBILIDADE.
*Exatamente por isso, ele compreendeu profundamente quem eram os humanos.
*O Centauro ferido percebeu que todos possuem um lugar em seu ser de extrema sensibilidade, uma ferida que nunca fecha.
*Percebeu que isto não acontecia apenas no corpo, estava também na alma.
*Percebeu o medo da dor. E reconheceu que a dor era singular e constituía uma sensibilidade que identificava aquela pessoa.
*QUÍRON representa a ferida que precisa ser curada mas a qual paradoxalmente, não abrimos mão;
*Amaldiçoada e protegida acaba sendo a nossa perdição; 
*Sendo o ferido e o curador acaba por negligenciar a própria dor;
*Por ser curador pressupõe poderes absolutos sobre a vida e a morte;
*A surpresa: quando adoece o curador ferido percebe sua vulnerabilidade, a ferida narcísica fica exposta, ele precisará de ajuda ... 
*a mesma medida de sua humildade em contar e confiar no outro, é parte da cura. 
*Há que se quebrar resistências...
*Por outro lado, o mal curador poderá experimentar do próprio veneno, se menosprezava a dor alheia poderá receber na mesma proporção por caminhos que vá se saber... 
*Não minimize a dor alheia e tampouco menospreze a própria, o preço poderá ser alto;
*A ferida narcísica é peculiar a cada um, a dor que te sufoca pode ser a que me liberta; 
*Se a dor secreta ao ser compartilhada torna-se parte da cura, fica a questão: com quem compartilhar minha dor?
*Na alegria parece tudo mais fácil... E se eu não for compreendido? e se me julgarem?
*Serei exposto enfim... A ferida exposta sangra e sem os cuidados necessários degenera.
*Nesta alquimia, o processo é lento, às vezes solitário, não será fácil a um humano, como não foi a um semideus (que QUÍRON preferiu a morte à dor, lembra?)
*RESIGNAÇÃO/ RENDIÇÃO: Chamo à isso o processo de acatar a própria dor sem culpa, sem projeções (sem culpar outros), aceitação incondicional e então sair em busca de soluções.
 *Lembremos que quatro são os estágios alquímicos da alma: 
.CALCINATIO - fogo, queima as emoções egoicas/ domar o lado animal para que a vontade verdadeira se manifeste/ é o sacrifício voluntário de um desejo até que algo novo surja;
.SOLUTIO - água, purificação, morte e transformação, é uma experiência de rendição. O indivíduo experimenta a fluidez dos limites do ego e perde-se no inconsciente coletivo, une-se com o outro e mata o individualismo.
.COAGULATIO
- Processo de encarnação, materialização o que era potencialidade criativa se transforma em algo prático (envolve dinheiro, nutrição, prazeres);
.SUBLIMATIO - Ideia de alçar voo, envolve a transformação de uma experiência em sentido espiritual. A dor da frustração (calcinatio), dá lugar a um impulso artístico criativo. A poesia um processo artístico que tem a ver com sublimação, nasce das lágrimas e do riso do poeta. Internalizar um objeto exterior numa imagem interior é proprio do processo de sublimação. 


*E A FERIDA NARCÍSICA TERÁ FIM? 
*Não importa quão grave seja a doença, a iminência ou não da cura, pois a ferida mais secreta é o medo, o medo da morte, essa é a dor mais lastimável, é dela que fugimos e é com ela que nos defrontaremos enfim... 
*Perde-se o medo da morte após algumas experiências de confronto com a finitude da vida, ao sairmos ilesos ou levemente "chamuscados", uma nova dimensão se anuncia, já não perdemos tempo com trivialidades, cria-se habilidade para lidar com o essencial. 
*Faz-se algumas escolhas e sem o menor constrangimento, conseguimos dar um chega prá lá em situações e pessoas que vibram em padrões baixos que já não nos acrescentam mais nada.
*Então percebemos que a leveza é fundamental que a flor até existe! Se o caminho for o do silêncio é boa escolha, mas se for outro também está bem, desde que seu coração esteja em paz. 
*Nesta perspectiva, apesar das fatalidades, a liberdade é possível é ela que me permite escolhas (livre arbítrio). 
*Dentre as escolhas possíveis posso FORTALECER a VONTADE, fazer pequenas e sábias escolhas que me levarão a uma melhor qualidade de vida, bem como a sociedade a qual faço parte.
*Quíron revela uma área da vida em que fomos feridos em nosso senso de integridade.
*É uma região de extrema vulnerabilidade, a partir da qual desenvolvemos defesas equivocadas que nos impedem o confronto direto com nossa dor.
*Quíron traz em si a ferida e a cura, pois à medida que vivenciamos nosso sofrimento e desamparo, tornamo-nos mais inteiros e curados, porque mais sábios, mais humanos, quase divinos. 
*É por volta de 49/ 55 anos que algo em nosso íntimo se inquieta: estamos nos movendo para a morte ou nos movendo mais profundamente para a vida que é nossa espiritualidade e essência?
*Para aqueles que têm trabalhado na cura de suas feridas e estão abertos para sua espiritualidade pode ser um período verdadeiramente notável, genuíno e criativo em suas vidas que lhes permite encontrar enfim, seu lugar no mundo.
*Por outro lado, pode ser uma mortal experiência.

Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica - (elaborei o txt pensando em todos nós os "curadores", cuidadores, psicoterapeutas, assistentes sociais, médicos, sacerdotes, pastores, xamãs, guias espirituais, e terapeutas, que atuam em benefício do outro).