segunda-feira, 30 de março de 2009

ELES ESTÃO JOGANDO O JOGO DELES...


"Eles estão jogando o jogo deles.

Eles estão jogando de não jogar um jogo.

Se eu lhes mostrar que os vejo tal qual eles estão,

quebrarei as regras do seu jogo

e receberei a sua punição.

O que eu devo, pois,

é jogar o jogo deles,

o jogo de não ver o jogo que eles jogam.
Eles não estão se divertindo.

E se eles não se divertem eu também não me divirto.

Somente se eu puder levá-los a se divertir

poderei divertir-me juntamente com eles.

Mas não é nada divertido levá-los a divertir-se;

pelo contrário, é trabalho muito árduo.

Quem sabe, eu talvez me divertisse

se descobrisse por que não se divertem.

Mas não fica nada bem que me divirta procurando

saber o porquê não se divertem.

Ainda assim é um pouco divertido o ato de fingir

que não encontro diversão em descobrir

o motivo por que não se divertem.
Vamos nos divertir?

- convida a garotinha

que surge de repente não sei donde.

E contudo divertir-me é perder tempo,

já que me divertir

não contribui para mostrar

o motivo porque não se divertem.
Como podes tu te divertir

se Jesus na cruz morreu por ti?

Achas acaso que na cruz

Jesus se divertia?"




"Lúcio sofre

por achar

que Lúcia acha que ele a faz sofrer

porque (ele) sofre

por achar

que ela acha que ele a faz sofrer

por fazê-la achar que é culpa

dela fazê-lo sofrer

porque (ela) acha

que ele a faz sofrer

porque (ele) sofre

por achar que ela acha que ele a faz sofrer

pelo fato de que...

da capo sine fine."

NOTA BIOGRÁFICA: Ronald David Laing, renomado e controvertido psiquiatra, conferencista e autor de vários livros, rebelou-se contra a psiquiatria ortodoxa e buscou um novo método de tratamento da loucura. Nasceu em Glasgow, Escócia, em 7 de outubro de 1927, e faleceu em 1989. Teve uma infância de sofrimento, por apanhar surras de seu pai, tormentos que superava refugiando-se em "um ponto no espaço sem qualquer dimensão"; então leu intensamente desde a Bíblia até os filósofos e cientistas de renome.

Após formar-se em medicina na Universidade de Glasgow em 1951, Laing serviu um período no exército e na sua prática convenceu-se de que um comportamento "maluco" pode ter um efeito salutar se for permitido o seu curso sem supressão por meio de drogas e choque elétrico, o que caracterizaria a linha existencialista trazida à psiquiatria.
Após um período como psiquiatra no exército britânico, Laing trabalhou no Royal Medical Hospital de Glasgow e lecionou no Deparatmento de Psicologia Médica da Universidade até 1956, quando submeteu-se a treinamento de psicanálise no Tavistock Institute of Human Relations, em Londres.
Seu primeiro livro, The Divided Self ("O Eu dividido") foi completado em Tavistock em 1957 e publicado em 1960; o livro despertou as respostas contraditórias com que todos os seus livros foram depois recebidos nos meios científicos.
De 1962 a 1965 Laing empreendeu inúmeras experiências com uma nova abordagem da doença mental: a do EXISTENCIALISMO.

Em Reason & Violence: A Decade of Sartre's Philosophy (1950-1960) ("Razão e violência, uma década da filosofia de Sartre"), de 1964, Laing analisa aspectos da filosofia de Jean-Paul Sarte contidos em Critique de la Raison Dialectique (1960) daquele filósofo. Nestes anos dirigiu a Langham Clinic, em Londres e começou também experimentos com drogas estimulantes do pensamento como meio de acelerar viagens transcendentais ao Eu interior. Ele e outros fundaram uma comunidade terapêutica em Kingsley Hall em Londres em 1965; a utópica clínica faliu cinco anos depois, mas centros semelhantes apareceram em vários pontos dentro e fora de Londres. No início da década de 70 estudou com mestres budistas e hindus em Ceilão, Índia e Japão, e fez conferências nos Estados Unidos.

Principais obras: The divided self, 1960; The politics of experience and the bird of paradise, 1967; Self and others, 1969; Knots, 1970; The Politics of Family, 1971; Reason & Violence: A Decade of Sartre's Philosophy (with D.G.Cooper), 1964; Do You Love Me?: An Entertainment in Conversation and Verse, 1976; Intervista sul folle e il saggio, 1979; The Voice of Experience, 1982; Wisdom, Madness and Folly: The Making of a Psychiatrist, 1985.

domingo, 22 de março de 2009

Queria Dizer-te!

imagem: Irene Sheri
  



Queria dizer-te  aquilo que
Não conseguia dizer nunca
Tenho mantido fechado em mim
Há muito tempo já
Mas tem uma amor que não sei
Mais esconder porque
Agora ele precisa também de ti
Queria dizer-te que
És sempre tu a minha alegria
Que quando falas junto a ele
Nasce um louco ciúmes...
Isto eu queria dizer a ti
De quando tu não estás
Eu me perco sempre um pouco
E depois compreendo que não sei
mais divertir-me sem ti
Ao contrário quando estás comigo
A cor cinza ao nosso redor
Se pinta da vida que dás
Como é difícil
Dizer tudo isto a ti
Que de amor nunca falas...
mas tem um amor que não sabes
mais esconder porque
agora ele precisa também de ti.
(LETTERA - Renato Russo/ Valsiglio/ Salvatori)

sexta-feira, 20 de março de 2009

As Quatro Fases da Alquimia

- A alquimia representa a projeção de um drama ao mesmo tempo cósmico e espiritual em termos de laboratório.
- A "opus magnum" tinha duas finalidades: o resgate da alma e a salvação do cosmos...
- Esse trabalho é difícil e repleto de obstáculos; a opus alquímica é perigosa. Logo no começo, encontramos o "dragão", o espírito ctônico, o "diabo" ou, na linguagem dos alquimistas: o "negrume", a "NIGREDO", e esse encontro produz sofrimento... a matéria sofre até a nigredo desaparecer, quando a aurora será anunciada pela "cauda pavonis" e um novo dia nascerá, "ALBEDO".
 - Mas neste estado de "brancura", não se vive, seria uma espécie de estado ideal, abstrato. Para insuflar-lhe vida, deve ter "sangue", deve possuir aquilo a que os alquimistas denominam a "RUBEDO".
- Só a experiência total da vida pode transformar esse estado ideal de albedo num modo de existência plenamente humano. Só o sangue pode reanimar o glorioso estado de consciência em que o derradeiro vestígio de negrume é dissolvido, em que o diabo deixa de ter existência autônoma e se junta à profunda unidade da psique.
- Então, a "opus magnum" está concluída: a alma humana está completamente integrada. (JUNG resume a 'Opus Alquímica'.)
Há vinte anos atrás ainda estudante de FILOSOFIA, me encantei com a OBRA de JUNG, MITOLOGIA, ALQUIMIA, SONHOS... As quatro fases da ALQUIMIA CLÁSSICA me guiaram na ALQUIMIA INTERNA, para só então me sentir apta como PSICOTERAPEUTA.
1. NIGREDO - Cor negra, chumbo, saturno, denso, sofrimento intenso; sombra, depressão, enfrentamento da raiva, ódio, cobiça, inveja. Nesta fase os conteúdos do INCONSCIENTE aparecem em forma de sonhos. Na alquimia clássica essa emersão no INCONSCIENTE era causada por gases tóxicos (chumbo), onde os alquimistas chegavam à loucura. Nenhum trabalho TERAPÊUTICO acontece sem este processo de isolamento e enfrentamento. Um bom ANJO se faz necessário, se não for o TERAPEUTA, um amigo, um MESTRE... A fase sombra, nos torna mais humanos, com ela podemos chegar à ILUMINAÇÃO.
2. ALBEDO, ÁGUA, PURIFICAÇÃO, PRATA - É a fase mais RACIONAL, há uma cisão entre o problema e os sentimentos ("SEPARATIO"). Na ALQUIMIA CLÁSSICA, é a LIMPEZA, DESTILAÇÃO, ORDEM. Tudo flui com mais facilidade e a dor é menor. O INDIVIDUALISMO, que precisa se esgotar para a próxima fase.3. CITRININAS - FASE CURTA, na alquimia POUCO SE FALA, mas em PSICOTERAPIA significa que o amarelo envelheceu. Na ALQUIMIA algo cheira mal, ENXOFRE a alma quer ir além de si mesma, se volta para as questões do mundo, experimenta a COMPAIXÃO, COMPARTILHA, DIVIDE. Então o AMARELO torna-se DOURADO, RADIANTE, ILUMINADO. Dando início à próxima etapa4. RUBEDO, VERMELHO, MERCÚRIO, OURO - Síntese interna, a união do MASCULINO e FEMININO da ALMA. Na ALQUIMIA é o casamento do SOL com a LUA, do CÉU com a TERRA ("CONJUNCTIO"). É o nascimento do NOVO, a RESSURREIÇÃO. Para JUNG é como estar no alto da montanha e ver a TEMPESTADE passar, não é o fim dos problemas porque a VIDA é DIALÉTICA, mas algo em nós já é capaz de dizer: Esse caminho é meu meu velho conhecido, "NESTA ARMADILHA NÃO CAIO MAIS." (Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Soneto do Amor Total - Vinicius de Moraes



Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.