segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Ψ Os Sintomas como Oportunidades de Desenvolvimento


*Sintomas neurológicos: Ao contrário dos sintomas de males nervosos, a origem aqui está em modificações concretas dos nervos.

*Além dos grandes sintomas, a esclerose múltipla e a epilepsia, é possível diferenciar dois subgrupos: as perturbações da chamada via piramidal, responsável pela coordenação dos movimentos subordinados à vontade, e as perturbações das vias extrapiramidais.
*Sendo uma estrutura abrangente, a via piramidal é responsável também pela inibição dos reflexos musculares e pela redução de seu estado de tensão. Dessa maneira ela, mantém sob controle a vida própria dos músculos.

*Caso haja uma interrupção da via piramidal, essa inibição desaparece e surgem paralisias espásticas.

*A maior parte das fibras nervosas da via piramidal cruza para o lado oposto na altura da base do crânio.

*Por essa razão, perturbações circulatórias ou coágulos que ocorrem em seu âmbito, como em um derrame, por exemplo, causam problemas no lado oposto.

*O chamado sistema extrapiramidal é responsável pela regulação da tensão dos músculos, por movimentos involuntários e coordenados, pela regulação do equilíbrio e da postura corporal. 

*Em casos de perturbações, pode-se destacar dois subgrupos: a) As síndromes rígido-hipocinéticas, que levam à diminuição dos movimentos e à rigidez, como por exemplo o mal de Parkinson;

b) As síndromes hipercinéticas, com seus padrões característicos de movimentos incontroláveis. Como a coréia e dois sintomas raros: a atetose, com contorções semelhantes às de um verme, e o balismo, com seus movimentos giratórios.

*MAL DE PARKINSON: A doença de Parkinson é o sintoma neurológico mais frequente da idade avançada. As vias extrapiramidais são afetadas e trabalham independentes da vontade. 

*Segundo foi comprovado pela medicina, trata-se da deficiência de uma substância transmissora entre as conexões nervosas adrenergênicas, o neurotransmissor chamado de dopamina, no centro do cérebro.

*Trata-se portanto, de uma deficiência no polo masculino do sistema nervoso central. 

*A consequência é uma sobrecarga do polo oposto, do chamado sistema colinérgico, que é atribuído ao polo feminino.

*Os sintomas resultantes traçam um quadro nítido em que logo chamam a atenção a máscara inexpressiva do rosto e a rigidez geral.


*Todos os movimentos tomam-se mais lentos, e estão ausentes os movimentos secundários tais como o balanço dos braços quando se caminha. 

*A fala é baixa entrecortada e monótona. O típico tremor, que se manifesta especialmente quando o paciente está imóvel, contrasta com a pobreza de movimentos.

*Assim que o paciente executa um movimento em direção a um objetivo o tremor diminui ou cessa completamente.

*O caminhar se dá, de maneira característica, por meio de passos curtos e arrastados, o tronco parece querer adiantar-se à parte inferior do corpo, o que forma uma tendência de precipitar-se para diante e para o lado.

*A tendência das pernas de falhar inteiramente de maneira abrupta reforça o perigo e, como os outros sintomas, não pode ser influenciado voluntariamente. 

*Toda a postura do paciente é inclinada, como a de alguém curvado, se não abatido, pelo destino. 

*Até mesmo a caligrafia assume essa forma, as linhas caindo para a direita e para baixo, as letras dentro das linhas tornando-se cada vez menores, de tal maneira que a medicina fala de micrografia.

*Somam-se a isso sintomas vegetativos tais como salivação, surtos de suor,  observam-se ainda perturbações da pele e um arrefecimento da atividade sexual. 

*No âmbito anímico, há uma oscilação entre a boa disposição e fases melancólicas.

*O sintoma acomete especialmente homens que viveram suas vidas de maneira muito ativa e sob grandes exigências, é comum entre intelectuais. 

*A medicina diferencia várias formas, sendo que no parkinsonismo primário, também conhecido por 'Paralysis agitans'. 

*Paralisia agitada deixa bem claro qual é o dilema do afetado: através da paralisia, seu compromisso nervoso perde o significado.

*Há ainda a síndrome de Parkinson secundária, que surgem a partir de uma esclerose cerebral, de uma intoxicação, após uma encefalite ou provocada de maneira medicamentosa através de neurolépticos. 

*Uma variante mais rara é a doença dos boxeadores, evidentemente provocada pelas numerosas "comoções cerebrais", tal como a que atingiu o ex-campeão mundial dos pesos pesados Muhammed Ali.

*Seguindo o lema "a doença mostra sombras", pode-se concluir que os afetados não veem a rigidez em sua expressão e em seus movimentos por muito tempo, até que o corpo faz com que não possam deixar de ser vistos.

*Eles vivem como se estivessem paralisados de susto, sem admiti-lo para si mesmos.

*Eles não movem um só músculo da face. A medicina fala de "amimia", a ausência total da expressão natural do rosto. 

*O paciente evidentemente aprendeu a não permitir que se note qualquer reação sensível. Seu rosto congelou-se em uma máscara.

*Além da voz que vai pouco a pouco falhando, outras funções do corpo deixam claro que se trata de um declínio, que as forças estão sumindo.

*Pode-se mencionar aqui a tendência de precipitar-se para a frente, que se reflete também na escrita. 

*Juntamente com a paralisia que tem por objetivo a morte, expressa-se ainda no sintoma um medo profundo, que domina o paciente assim que ele se congela na imobilidade. 

*Eles não tremem de uma maneira sensível, como folhas ao vento, são movimentos violentos.

*Esse tremor grosseiro, como foi dito, somente diminui quando eles empreendem alguma atividade. 

*Totalmente rígido e inexpressivo na cabeça e no corpo, os movimentos trêmulos mostram como a inatividade é angustiante e problematicamente sem sentido. 

*Aqui está a raiz para o nome “paralisia trêmula”. Realmente paralisado e imóvel, é o medo que ainda busca o movimento. É notável tratar-se em sua maioria de pessoas que se impõe a exigência de mover algo no mundo.

 *O sintoma mostra a elas quão pouco elas se põem em movimento em sua realidade interna, em comparação com suas exigências, e sobretudo quão pouco movimentada é sua vida anímica, cuja rigidez e paralisia estão agora encarnadas. 

*Além do medo, manifesta-se no tremor uma certa comoção, em que os pacientes podem ser também totalmente tomados pelo medo. 

*Coloca-se a questão: por que essa pessoa é sacudida, ou por que ela se sacode?

*Treme-se de medo e dessa maneira, tenta-se sacudir para longe de si a morte ... ou outros perseguidores.

* ... Os afetados querem, evidente e inconscientemente, sacudir de si e livrar-se de algo que eles transformam em angústia e medo.  A princípio tremem, no final eles se veem paralisados.

*Estudando a história da vida dos pacientes de Parkinson, tem-se a impressão de que eles querem livrar-se é da experiência de sua própria realidade. 

*Seus corpos inertes e seu entorno igualmente inerte parecem-lhes absolutamente
importunos. Impõe-se novamente a imagem do "Presidente Mao", que uma e outra vez viu naufragar seus grandes e ousados pensamentos nas inertes massas da China.

*A paralisia como o oposto de ser sacudido é somente aparente. 

*Ela faz com que o paciente se torne consciente de quão imóveis e inflexíveis eles são
no fundo de suas almas, apesar de todas as coisas impressionantes que eles sempre se esforçaram por colocar em movimento. 

*O corpo os força ao conhecimento de que são incapazes de adaptar-se às transformações mais necessárias para a vida.

*Quando atinge a respiração, a paralisia torna-se a causa da morte. 

*A respiração paralisada encarna a comunicação paralisada em um duplo sentido já que, depois da pele, os pulmões são nosso segundo órgão de comunicação.

*Eles são responsáveis pela admissão de energia.

*Tenhamos em vista o oxigênio responsável pelos processos de oxidação necessários para a vida ou, segundo a concepção oriental, o prana, a energia vital: em ambos os casos a provisão de energia paralisa-se com a paralisia da respiração.

*O sintoma deixa claro que não há mais nenhuma energia vital entrando no corpo.

*A linguagem está estreitamente ligada aos pulmões como órgãos de comunicação, já que ela se baseia na modulação do fluxo de ar expirado. 

*Os problemas de linguagem que vão aumentando com a evolução da doença refletem igualmente a perturbação da comunicação. 

*A voz não somente se toma mais fraca, mas também entrecortada. Quando as palavras não estão mais ligadas, desconectam-se de seu conteúdo e a comunicação já não estabelece mais nenhum tipo de comunidade.
 
*Por outro lado, poderia representar também o esforço que eles, com o suor de seus rostos, fizeram para conseguir alguma coisa neste mundo.

*Finalmente, este rosto tem ainda algo de ungido e poderia indicar uma relação com o sagrado. Christos quer dizer o ungido, e antigamente os reis eram ungidos em sinal de respeito.

*Aqui também mostram-se pretensões que mergulharam nas sombras. 


*Os afetados dão uma impressão brilhante, muito embora no plano corporal.

*O brilho mergulhou nas sombras e obtém consideração para si no corpo.

*Na história da vida dos pacientes encontra-se frequentemente um alto nível de exigência por realizações logradas como suor do próprio rosto, mas junto a isso o medo de fracassar, de não conseguir nada substancial.

*Muitas vezes, de brilhantes feitos memoráveis resta somente o suado esforço. 

*Na maioria das vezes o objetivo próprio mais profundo (anímico) e ao mesmo tempo mais elevado (social) não é alcançável, e mesmo quando obtém o brilho e a glória, no mais intimo de seus seres os afetados permanecem insatisfeitos.

*O resultado de seus grandes esforços no exterior está escrito em suas caras, e aqui também está a chave de sua situação. 

*Eles não mostram seu verdadeiro rosto, mas uma máscara "bem lubrificada".

*De fato, justamente as pessoas que alcançam posições cobiçadas, tal como almejam e muitas vezes logram os pacientes de Parkinson, raramente estão em condições de mostrar seu verdadeiro rosto. 

*O médico, por exemplo, deve estar sempre saudável e em boa forma, já que justamente faz parte de seu ideal estar sempre movendo-se como um raio em prol da humanidade sofredora.

 *As próprias necessidades podem não ser suficientes para isso, ou seja, as imagens profissionais da sociedade podem ser utilizadas para não mostrar o próprio rosto e para não cumprir com a tarefa interna.

*Esta temática está igualmente disseminada entre advogados, políticos, e outros que estão expostos ao público.

(... ) As particularidades do andar corroboram as interpretações apresentadas até agora: como foi dito, os afetados, em comparação com suas exigências, somente avançam com passos minúsculos.

*Eles, têm a tendência de cair para diante, pois avançam mais rapidamente com a parte superior do que conseguem seguir a realidade abaixo. 

*O corpo demonstra a cada passo a discrepância entre o querer e o poder.

*Ainda que se trate de pessoas ativas, bem-sucedidas segundo critérios externos, pessoas que fizeram tudo para demonstrar a si mesmas e ao seu ambiente o quanto tiveram de se esforçar, permanece a suspeita de que eles não conseguiram resgatar suas elevadas exigências de progresso no plano anímico espiritual.

*O andar, a postura curvada e aflita são outros testemunhos, assim como a escrita, comprovando como palavra a palavra bem como passo a passo se desce a ladeira.

*A voz cada vez mais fraca mostra que as forças de expressão também estão diminuindo.

*Em sua monotonia, ela sublinha a estereotipia da expressão, e em seu caráter
escondido, sua falta de compromisso.

*Como barômetro do estado de espírito, ela, no fundo, deixa entrever algo da resignação crescente.

*A imagem de desgaste e esgotamento confere com as descobertas seguras feitas até agora pela medicina.

*É como se a dopamina, aquela substância transportadora adrenergênica, se esgotasse devido à hiperatividade.

*No âmbito da 'substância nigra', uma área negra no cérebro, constata-se uma nítida degeneração com descoramento.

*A consequência é uma preponderância relativa do polo feminino da atividade cerebral.

*O masculino, após ter sido exagerado por um longo tempo, se esgota. 

*Os afetados são forçados ao polo oposto, não lhes resta outra coisa a fazer além de descansar graças à paralisia e à rigidez, ainda que elas provoquem medo e tremores. 

*O paciente somente se sente realmente bem em atividade, quando o tremor também diminui de forma imediata.

*Muitas das tendências forçadas pelo sintoma têm por objetivo a regeneração, inclusive o aumento do fluxo de saliva, que indica fome e atividade digestiva. 

*Ainda que o afetado fique com água na boca à menor oportunidade, é preciso antes digerir a vida passada, cheia de hiperatividade.

*Neste contexto, a experiência do neuropsicólogo norte-americano Oliver Sachs é interessante: "O paciente de Parkinson capaz de mover-se pode cantar e dançar, e quando o faz, fica totalmente livre dos impedimentos causados por sua doença...”. 

*As capacidades do polo feminino, portanto, são em grande medida poupadas e permanecem abertas ao paciente.

*A decrescente potência sexual é testemunho da falta da possibilidade de admitir o outro sexo e, com isso, a polaridade.

*A consequência natural é a esterilidade no âmbito concreto como expressão da deficiência correspondente no sentido figurado. 

*É justamente neste sentido que o paciente queria demonstrar fertilidade, muitas vezes com esforços exagerados. 

*Seu corpo lhe mostra que essa etapa se acabou. Nos casos de Parkinson evidencia-se um problema de coordenação e de comunicação, o que é típico em um mal nervoso. 

*A ligação entre o interno e o externo se vê tão afetada como a ligação entre o que está acima e o que está abaixo. 

*O andar problemático trai as dificuldades de coordenação entre os planos superior e inferior, entre a realidade anímico espiritual e a realidade física.

*A ligação entre o mundo dos pensamentos e a realidade é substancialmente mais problemática do que os afetados admitem para si mesmos. 

*A fala e a escrita, possibilidades clássicas de comunicação, mostram tendências ao colapso igualmente típicas.

*O precipitar-se para diante da parte superior do corpo é uma caricatura de sua vida. 

*A cabeça cheia de sonhos de alto voo precipita-se para a frente e perde o contato com a realidade material simbolizada pelo corpo.

*Assim como acontece com outros sintomas, a síndrome de Parkinson, de maneira terrível, também permite que aflore o verdadeiro rosto, ou seja, o padrão que está por trás dos sintomas e que francamente se transforma em caricatura. 

*A rígida máscara oleosa em lugar da vivacidade espiritual demonstrada para o exterior é um símbolo disso.

*A tarefa consiste na realização libertadora do padrão expresso nos sintomas. Nesse sentido, trata-se de dar pequenos passos, não erguer muito a voz e prestar atenção aos detalhes que são exigidos.

*Antes da quantidade, deve-se estar atento para a qualidade, as sutilezas são de central importância, afinal trata-se sobretudo de uma perturbação dos movimentos sutis. 

*A postura curvada e a tendência de cair sobre o próprio nariz desviam a atenção da frente para o chão. 

*Trata-se de manter os olhos cuidadosamente na realidade física e sempre retomar a ela, ou seja, ao chão dos fatos. 

*A escrita que vai se tornando cada vez menor desvia a atenção para o fato de que todo ímpeto inicial arrefece no curso da ação. 

*A micrografia coloca diretamente a exigência de expressar as coisas de maneira menor e mais realista. O que no início do caminho começou tão grande termina bastante modesto.

*É preciso aceitar internamente esse conhecimento, expresso em cada linha escrita.

*A enorme rigidez no corpo poderia ser vivenciada de forma anímica na busca correspondente da estrita do essencial. As resistências que surgem no âmbito físico devem ser incluídas no alto voo dos pensamentos.

*De acordo com seu diagnóstico de tremores e paralisia, os pacientes devem
aprender o movimento e o repouso. 

*Em vez de rigidez e paralisia, o repouso deveria introduzir-se em seus constantes esforços para diante, e se mostraria movimento anímico em vez de movimentos trêmulos no corpo. 

*Além do medo, vibra também no tremor o deixar-se tocar, comover, que falta no âmbito anímico.

*O medo e a falta de espaço expressos no rosto oleoso e no tremor podem ser realizados com mais consistência no âmbito das ideias.

*O elemento de amplidão de altos voos deveria ser apanhado do chão e as fronteiras da própria realidade anímica deveriam ser ultrapassadas. 

*A pretensão de fama e honra, derrotada no rosto oleoso do paciente, seria justiçada por meio de brilhantes passos no caminho do desenvolvimento interno. 

*Christos, o ungido, é propriamente um título honorífico que o Jesus histórico conquistou ao longo de seu caminho.

*Ele representa um desenvolvimento que, além do corpo, inclui também a alma e o espírito, que une superior com o inferior e o interior com o exterior. 

*Ele foi destinado àqueles seres cuja vida tornou-se sinônimo da unidade do homem e do mundo. Isso, entretanto, é a pretensão e a tarefa secretas dos pacientes de Parkinson.

***O que preciso saber?


1. Que sentimentos ocultos por trás de minha cara de pôquer?
2. Que susto penetrou em meus membros? O que me faz perder a fala?
3. O medo da morte me deixa mortalmente rígido?
4. Que medo, que ambição me remove por dentro e impede a paz interior?
5. Que objetivo elevado me deixa tão inquieto e insatisfeito?


6. Como é que minha comunicação é tão descompromissada a ponto de impedir a verdadeira comunhão ao invés de criá-la?
7. De que maneira gasto minhas energias e qual objetivo me resta?
8. Onde eu exagero o polo ativo masculino? O que devo ao passivo feminino? Como anda a criança que há em mim?
9. O que sobrou de não digerido em minha vida?
10. Onde eu fui mais pela quantidade no exterior que pela qualidade no interior?
11. Como é minha relação com a parte de cima, como ela é com a parte de baixo, com meu próprio submundo, como é a relação entre o mundo interno e o externo?

Fonte: Rüdger Dahlke -  A Doença como sintoma - OS SINTOMAS COMO OPORTUNIDADES DE DESENVOLVIMENTO.
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica