sábado, 26 de novembro de 2011

Florianópolis te abraça Cruz e Souza!

VIDA OBSCURA
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro.
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
(do livro Últimos Sonetos/ 1905)
(Homenagem de Florianópolis nos 150 anos de nascimento do poeta do simbolismo)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Ser Quântico: uma visão revolucionária da natureza humana...


"O ruído externo já não lhe provoca nenhuma classe de alteração emocional e agora você desfruta de uma felicidade merecida!"
(Zahar, Danah. O ser quântico: uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência, baseada na nova física)

A cientista Danah Zohar nos apresenta nesta obra, um conjunto expressivo de pontos para reflexão. Certamente sua formação em Filosofia e Física, muito contribuiu para o aprofundamento e a criatividade que empresta às suas reflexões em torno dessa temática, tão atual quanto necessária: o momento em que sofremos de crise de paradigma. Ao colocar o homem como co-autor do universo que ao mesmo tempo o integra e se desenvolve com ele, aponta a Física como o instrumento que permite vislumbrar a possibilidade de compreender o mistério da Vida e do Universo.
Fundamentada na pesquisa científica, a autora propõe uma resposta vigorosa para a antiga discussão sobre as origens e os caminhos da existência humana, percorrendo questões que vão da filosofia à física quântica e da sociologia às teorias comportamentais. Suas reflexões a cerca das diversas teorias existentes sobre o tema da Vida e do Universo, traz para a atualidade a discussão em torna do paradigma que ainda influencia o modo de fazer ciência – o newtoniano-cartesiano – e que se encontra esgotado em suas possibilidades de explicar as novas miradas ou incursões da nossa percepção sobre a complexidade dos seres e a sua dimensão de espiritualidade. A nova descoberta sobre a inteligência espiritual tem levado pesquisadores, como a autora, a cursionarem de forma científica, nesse campo de investigação, trazendo mais compreensão sobre a natureza do homem em sua concepção holística. Tal dimensão, a espiritual, está ligada à natureza humana de ter objetivo e propósito na vida e é, sem dúvida, responsável pelo significado de nossa existência. Somente com o desenvolvimento dessa dimensão podemos sonhar com um mundo melhor, onde o respeito pela outridade, presente um sentimento natural de todos. O Ser Quântico, escrito em colaboração com o psiquiatra e terapeuta Ian Marshall, esposo da autora e que muito contribuiu com suas pesquisas sobre os condensados de Bose-Einstein nos mostra caminhos bastante atraentes para percorrermos, visando uma compreensão cada vez maior, dos complexos mistérios da Vida, da Consciência e do Universo. Danah propõe um novo modelo, baseado nas idéias, na linguagem e nas imagens das novas ciências - a física quântica, as teorias do caos, da complexidade.
... ultrapassando o Narcisismo
: vivemos numa cultura narcisista, uma cultura centrada no “eu”, no “meu”, no “agora”, a autora apresenta o narcisismo como uma doença do relacionamento, uma doença resultante da incapacidade de se formar relacionamentos importantes consigo mesmo e com os outros. “Todos os sistemas quânticos do Universo, inclusive nós mesmos, estão entrelaçados (correlacionados e enredados) em alguma medida. Mesmo o vácuo quântico está repleto de correlações. Tal entrelaçamento básico é a essência da realidade quântica. (p. 118). Se faz necessário então, uma psicologia da pessoa, fundamentada na natureza quântica do ser e que enfatize todos esses relacionamentos.
... a Pessoa que Eu Sou: a autora discute as dificuldades encontradas para solucionar tal questão. Se a minha constituição material mais ínfima, as partículas subatômicas circulam constantemente em mim e para além de mim. Aqui estou, com o meu corpo feito de elementos que algum dia formou a poeira das estrelas nos quatro cantos do Universo para se tornar, por algum tempo o corpo que sou - o padrão que é unicamente a minha alma. Mas quem ou o que é este “eu” que penso que sou? O ser quântico, então, o "eu" que consideramos aquilo que somos, é
bastante real, mas ao longo do tempo revela-se mutável a cada momento, com contornos indefinidos e flutuantes. [...] Posso dizer com alguma certeza que eu sou, mas, se isso fosse tudo o que pode ser dito sobre o ser, ficaria difícil dizer quem e o que eu sou. "Uma existência flutuando de momento a momento" é só o que se tem a dizer sobre a identidade individual das partículas elementares.
... a Consciência e o Gato: a autora apresenta a experiência do gato mecânico-quântico de Schrödinger onde aquele pesquisador demonstrou que a vida ou a morte do gato é uma questão de probabilidade que preenche o espaço do experimento. As conseqüências desse experimento são as seguintes: a) A realidade acontece quando a vemos - Fenômenos quânticos não observados são radicalmente diferentes dos observados, o observador interfere diretamente no fenômeno; b) Como a realidade acontece depende de como a vemos – Na física quântica este fenômeno é chamado de “contextualismo” e este conceito é fundamental para sua proposta de uma nova visão de mundo, com suas próprias e distintas dimensões epistemológicas, morais e espirituais. c) Serão os Elétrons Conscientes? - será que a consciência está presente apenas no homem ou todos os demais seres a possuem também e nesse caso mudaria apenas o nível de consciência, a porção dela possível naquele estado de ser? “E, se [a consciência] for contínua, até que ponto se estende esta continuidade? A cães e gatos? Às amebas? Às pedras? Ou até elétrons? Já ao começar a pensar desta forma estamos experimentando uma boa mudança de paradigma.” (p. 33); d) Os outros seres vivos – Esse modelo nos permite afirmar que todos os seres vivos possuem consciência; e) Pampsiquismo - pleno e limitado – sobre esse conceito a autora é cautelosa afirmando que o estágio atual da física quântica ainda não permite afirmar com certeza categórica sobre a origem da consciência na realidade quântica.
... Consciência e Cérebro: Dois Modelos Clássicos e Um Modelo Mecânico-Quântico da Consciência a autora apresenta os três modelos mais conhecidos para a explicação da consciência e a posição e o papel que o cérebro ocupa em cada um deles. O cérebro como um computador que comanda todo o nosso corpo, a nossa psique, é certamente uma explicação bastante atraente pelas analogias que podemos fazer. “De fato, o cérebro humano é
uma complexa matriz de sistemas sobrepostos e interligados, correspondentes às
várias etapas da evolução, e o ser que dele brota é parecido com uma cidade construída ao longo das eras. [...]” (p. 42). Já o modelo holístico (o cérebro como holograma) segundo a autora também não parece dar todas as respostas. [...] Se "o cérebro é um holograma que percebe e participa de um
universo holográfico", quem está olhando para este holograma? O holograma em si não passa de uma fotografia diferente, que por si só não é sujeito do ato de perceber.[...] (p. 49).
O modelo Mecânico-Quântico da Consciência é apresentado pela autora como um fascinante instrumento de compreensão dos mistérios da vida. Autores como Penrose, Marshall e Orlov dele se servem, mas há muito ainda que esclarecer quanto a esse modelo. Questões ainda não resolvidas como: De que modo seria esse processo quântico? Quais propriedades do cérebro poderiam sustentar tal modelo? Somente respondendo a essas questões centrais é que se poderia afirmar com segurança a aplicabilidade real desse modelo. Para responder a essas
questões ela levanta outra pergunta: Que tipo de mecanismo neurobiológico seria necessário para
"alinhar" neurônios (ou algum de seus componentes) da mesma forma que as agulhas das bússolas de nosso exemplo se alinharam, por força de seus próprios campos magnéticos internos? E será viável um mecanismo desse tipo? (p.56). Para ela os condensados de Bose-Einstein com suas características singulares onde “... as inúmeras partes constitutivas de um sistema ordenado não só se comportam como um todo, mas se torna um todo — suas identidades se fundem
ou se sobrepõem de tal forma que perdem completamente a própria individualidade.” (p.56, grifo do autor). E acrescenta: “[...] Penso que essa condensação de Bose-Einstein nos componentes dos neurônios é o que distingue o consciente do não consciente. Acho que essa é a base física da consciência.” (p. 60). Finaliza afirmando que os dois sistemas, do computador e os condensados de Bose-Einstein se complementam possibilitando explicar a questão da formação da consciência ao
nível quântico. (...)
(Fonte:Revista Pesquisa Psicológica/ Online - Coordenação Pedagógica do Curso de Psicologia do CESMAC - Alagoas, Brasil/ ww.pesquisapsicologica.pro.br )

Ψ Novo Amor

imagem: Veronese

Ψ A psicanálise, dizia Lacan, não foi capaz de inventar um novo pecado, uma nova perversão; talvez, fica a pergunta, seja capaz de inventar um novo amor que não seja voltado ao pai em última instância, mas que, sabendo dele se servir, possa ir além do chamado, em psicanálise, gozo fálico e captar algo do real feminino. Tanto a globalização, quanto a psicanálise de hoje, revelam que entramos em um novo momento, mais propício à essência feminina. Muito da epidemia depressiva de nossos dias fica esclarecida pela desorientação ocasionada pela perda da orientação masculina. Lacan previu estes acontecimentos e deixou os instrumentos para tratá-los: um analista do futuro
(Publicado em O Estado de São Paulo e em Opção Lacaniana: revista brasileira internacional de psicanálise. n.32, de dez.2001, p.5253 São Paulo).

domingo, 13 de novembro de 2011

ou para quem desacreditado do amor queira voltar a amar...

imagem: Sérgio Surkamp

Barthes, combinando citações e suprimindo aspas parece confirmar que "não se copiam obras, copiam-se linguagens". Na linguagem dos enamorados como seres solitários e incompletos, o discurso do amor surge como sentimento incompreensível. "O apaixonado é, portanto, artista e o seu mundo é bem um mundo às avessas, pois toda a imagem é o seu próprio fim (nada para lá da imagem)". Em cada verbete, o sujeito do discurso amoroso registra as angústias mais veementes de um coração apaixonado e nos faz refletir acerca de ações banais, como a espera de um telefonema (ou a dúvida quanto a ligar ou não), o ciúme inexplicável que sentimos a ver um terceiro falando do nosso ser amado ou simplesmente o delírio da paixão amorosa.
Ciúmes, posses, discursos, signos, o desejo amoroso - trata-se de um livro para quem ama poder amar ainda mais (FDA). Para quem amou, sentir saudades e querer amar novamente. Ou para quem ainda desacreditado no amor, queira um dia voltar a amar, mas que não se contente com qualquer amor, e sim procure um amor ao menos parecido com aquele descrito por Barthes. "Os signos do amor alimentam uma imensa literatura: o amor é representado, reposto numa ética das aparências".
Gozo da palavra romanesca, gozo por articular significantes - ao lado da leitura barthesiana que desvenda sentidos, gozo de criar, de reinventar o objeto do prazer, o prazer do texto, o prazer de ler, o prazer de amar puro e simplesmente!

BARTHES, Roland. Fragmentos de Um Discurso Amoroso. Editora Martins Fontes, 2003.
BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. Maria Margarida Barahona. São Paulo: Perspectiva, 1977.
BARTHES, Roland. Escrever...Para que?...Para quem? Trad. Raquel Silva. Lisboa: 1974

sábado, 12 de novembro de 2011

Se tagarelar é um insulto, poetizar é uma bênção!

Um poema é capaz de dissolver a dor, levar prá longe aquele soluço que engasgou... Pode ser até que a poesia faça você sonhar novamente!
Em "Asas do Desejo" (Wenders), o desejo do anjo é ser humano, por amor a uma mulher.
Diz: " ... eu sei agora, o que nenhum anjo sabe". O que o anjo descobriu é que sendo mortal é no desejo que se busca a imortalidade.

... e o desejo humano é insaciável Estar totalmente completo é impossível! O desejo é definido pelo vazio, pela falta...
Um desejo aponta sempre para outro desejo... e agimos insanamente quando perseguimos esta crença de que existe um ou vários objetos que a vida feito um mercado acabará por suprir... Ilusão que tenta responder pelo nome de felicidade! Segundo Lacan, o Inconsciente é da ordem do não realizado e é estruturado como uma linguagem simbólica. Os símbolos são criados devido a ausência da coisa. E falta sempre algo, só mais um drink, mais um pouco de ar, eu só queria dizer mais uma coisinha... E a vida é sofrimento, quanto mais se goza, mais dor. Mas o poeta, o artista, lida com o impossível, tentando revelar o real. Insiste, insiste no desejo, ou nele o desejo insiste, de fazer uma nova poesia. Quem sabe desta vez eu consigo expressar o que verdadeiramente sinto!