domingo, 19 de setembro de 2010

foi culpa das rosas...

A IMITAÇÃO DA ROSA
- Antes que Armando voltasse do trabalho a casa deveria estar arrumada e ela própria já no vestido marrom para que pudesse atender o marido enquanto ele se vestia, e então sairiam com calma, de braço dado como antigamente. Há quanto tempo não faziam isso?
... e depois jantariam com Carlota e João, recostados na cadeira com intimidade.
Há quanto tempo não via Ar­mando enfim se recostar com intimidade e conversar com um homem? A paz de um homem era, esquecido de sua mulher, conversar com outro homem sobre o que saía nos jornais.
... enquanto isso ela falaria com Carlota sobre coisas de mulheres, submissa à bondade autoritária e prática de Carlota, recebendo enfim de novo a desatenção e o vago desprezo da amiga, a sua rudeza natural.
E ela mesma, enfim, voltando à insignificância com reconhecimento. Como um gato que passou a noite fora e, como se nada tivesse acontecido, encontrasse sem uma palavra um pires de leite esperando...
- Interrompendo a arrumação da penteadeira, Laura olhou-se ao espelho: é ela mesma, há quanto tempo? Seu rosto tinha uma graça doméstica, os cabelos eram presos com grampos atrás das orelhas grandes e pálidas. Os olhos marrons, os cabelos marrons, a pele morena e suave, tudo dava a seu rosto já não muito moço um ar modesto de mulher. Por acaso alguém veria, naquela mínima ponta de surpresa que havia no fundo de seus olhos, nesse mínimo ponto ofendido a falta dos filhos que ela nunca tivera?
... planejava arrumar a casa antes que a empregada saísse de folga para que, uma vez Maria na rua, ela não precisasse fazer mais nada, senão 1º) calma­mente vestir-se; 2º) esperar Armando já pronta; 3º) o ter­ceiro o que era? Pois é. Era isso mesmo o que faria;

... Quando lhe haviam dado para ler a "Imitação de Cristo", com um ardor de burra ela lera sem entender mas, que Deus a perdoasse, ela sentira que quem imitasse Cristo estaria perdido — perdido na luz, mas perigosamente perdido. Cristo era a pior tentação. E Carlota nem ao menos quisera ler, mentira para a freira dizendo que tinha lido. Pois é.
... Sentou-se no sofá como se fosse uma visita na sua pró­pria casa que, tão recentemente recuperada, arrumada e fria, lembrava a tranqüilidade de uma casa alheia. O que era tão satisfatório: ao contrário de Carlota, que fizera de seu lar algo parecido com ela própria, Laura tinha tal prazer em fazer de sua casa uma coisa impessoal; de certo modo per­feita por ser impessoal.
Oh como era bom estar de volta, realmente de volta, sorriu ela satisfeita. Segurando o copo quase vazio, fechou os olhos com um suspiro de cansaço bom. - Passara a ferro as camisas de Armando, fizera listas metódicas para o dia seguinte, não parara na verdade um instante sequer.
Se uma pessoa perfeita do planeta Marte descesse e soubesse que as pessoas da Terra se cansavam e envelheciam, teria pena e espanto. Sem entender jamais o que havia de bom em ser gente, em sentir-se cansada, em diariamente falir; só os iniciados compreenderiam essa nuance de vício e esse refinamento de vida.
... O marido cansado e perplexo, o que dava a ela uma piedade pun­gente, sim, mesmo dentro de sua perfeição acordada, a pie­dade e o amor, ela super-humana e tranqüila no seu isola­mento brilhante, e ele, quando tímido, vinha visitá-la levan­do maçãs e uvas que a enfermeira com um levantar de ombros comia...
ele fazendo visita de cerimônia como um namorado, com o hálito infeliz e um sorriso fixo, esforçan­do-se no seu heroísmo por compreender, ele que a recebera de um pai e de um padre, e que não sabia o que fazer com essa moça da Tijuca que inesperadamente, como um barco tranqüilo se empluma nas águas, se tornara
super-humana, não tinha tempo de dormir agora, nem sequer de tirar um cochilo pensou vaidosa e com falsa modéstia, era uma pessoa tão ocupada! sempre invejara as pessoas que diziam "não tive tempo"...
... iam jantar com Carlota e tudo tinha que estar ordeiramente pronto, era o pri­meiro jantar fora desde que voltara e ela não queria chegar atrasada, tinha que estar pronta quando... bem, eu já disse isso mil vezes, pensou encabulada. Bastaria dizer uma só vez: "não queria chegar atrasada" ... O que devia fazer era 1º) esperar que a empregada estivesse pronta; 2º) dar-lhe o dinheiro para ela já trazer a carne de manhã; 3º) começar minuciosamente a se lavar e a se vestir, entregando-se sem reserva ao prazer de fazer o tempo render. .. ela iria de braço dado com Armando, andando devagar para o ponto do ônibus, com aquelas coxas baixas e grossas que a cinta empacotava numa só fazendo dela uma "senhora dis­tinta"; mas quando, sem jeito, ela dizia a Armando que isso vinha de insuficiência ovariana, ele, que se sentia lisonjeado com as coxas de sua mulher, respondia com muita audá­cia: "De que me adiantava casar com uma bailarina?", era isso o que ele respondia. Ninguém diria, mas Armando po­dia ser às vezes muito malicioso, ninguém diria. Àsvezes ele era muito sem-vergonha, ninguém diria.
Car­lota ficaria espantada se soubesse que eles também tinham vida íntima e coisas a não contar, mas ela não contaria, era uma pena não poder contar, Carlota na certa pensava que ela era apenas ordeira e comum e um pouco chata, e se ela era obrigada a tomar cuidado para não importunar os outros com detalhes, com Armando ela às vezes relaxava e era cha­tinha, o que não tinha importância porque ele fingia que ouvia mas não ouvia tudo o que ela lhe contava, o que não a magoava, ela compreendia perfeitamente bem que suas conversas cansavam um pouquinho uma pessoa...
- O devaneio enchia-a com o mesmo gosto que tinha em arrumar gavetas, chegava a desarrumá-las para poder arrumá-las de novo.
- Abriu os olhos, e como se fosse a sala que tivesse tira­do um cochilo e não ela, a sala parecia renovada e repousada com suas poltronas escovadas ... Oh como era bom rever tudo arrumado e sem poeira, tudo limpo pelas suas próprias mãos destras, e tão silencioso, e com um jarro de flores, como uma sala de espera. Como era rica a vida comum, ela que enfim voltara da extravagância. Até um jarro de flores. Olhou-o.
- Ah como são lindas, exclamou seu coração de repen­te um pouco infantil. Eram miúdas rosas silvestres que ela comprara de manhã na feira, em parte porque o homem insistira tanto, em parte por ousadia.
Mas à luz desta sala as rosas estavam em toda a sua completa e tranqüila beleza. Nunca vi rosas tão bonitas, pensou com curiosidade... Olhou-as com atenção. Mas a atenção não podia se manter muito tempo como simples atenção, transformava-se logo em suave prazer, e ela não conseguia mais analisar as rosas, era obri­gada a interromper-se com a mesma exclamação de curio­sidade submissa: como são lindas...
Eram algumas rosas perfeitas na sua miudez, não de todo desabrochadas, e o tom rosa era quase branco. Parecem até artificiais!
- Mas, sem saber por quê, estava um pouco constrangida, um pouco perturbada. nada demais, apenas acontecia que a beleza extrema incomodava.
- Então Laura teve uma idéia de certo modo muito original: por que não pedir a Maria para passar por Carlota e deixar-lhe as rosas de presente? E também porque aquela beleza extrema incomodava. Era um risco.
Maria daria as rosas a Carlota. - D. Laura mandou, diria Maria.
... Essas coisas não são necessárias entre nós, Laura! diria a outra com aquela franqueza um pouco bruta, e Laura diria num abafado grito de arrebatamento:
- Oh não! não! não é por causa do convite para jantar! é que as rosas eram tão lindas que tive o impulso de dar a você!
... E Carlota se surpreen­deria com a delicadeza de sentimentos de Laura, ninguém imaginaria que Laura tivesse também suas ideiazinhas...
- E dar as rosas era quase tão bonito como as próprias rosas.
E mesmo ela ficaria livre delas... E ela teria esquecido as rosas e a sua beleza.
- Não, pensou de súbito vagamente avisada. Era preciso tomar cuidado com o olhar de espanto dos outros. Era pre­ciso nunca mais dar motivo para espanto, ainda mais com tudo ainda tão recente, nunca mais essa coisa horrível de todos olharem-na mudos, e ela em frente a todos...
- Maria, disse então ao ouvir de novo os passos da em­pregada. E quando esta se aproximou, disse-lhe temerária e desafiadora: você poderia passar pela casa de D. Carlota e deixar estas rosas para ela? Você diz assim: "D. Carlota, D. Laura mandou". Você diz assim: "D. Carlota..."- Sei, sei, disse a empregada paciente.
Queria fazer um ramo bem artístico. E ao mesmo tempo se livraria delas...
- E quando olhou-as, viu as rosas.
- E então, incoercível, suave, ela insinuou em si mesma: não dê as rosas, elas são lindas. Um segundo depois, muito suave ainda, o pensamen­to ficou levemente mais intenso, quase tentador: não dê, elas são suas. Laura espantou-se um pouco: porque as coisas nunca eram dela...
E mesmo podia ficar com elas pois já passara aquele primeiro desconforto que fizera com que vagamente ela tivesse evitado olhar demais as rosas. Por que dá-las, então? Não iam durar muito, por que então dá-las enquanto estavam vivas? O prazer de tê-las não significava grande risco...
E mesmo argumentou numa última e vitoriosa rejeição de culpa — não fora de modo algum ela quem quisera com­prar, o vendedor insistira muito e ela se tornava sempre tão tímida quando a constrangiam, não fora ela quem quisera comprar, ela não tinha culpa nenhuma. Olhou-as com en­levo, pensativa, profunda.
E, sinceramente, nunca vi na minha vida coisa mais perfeita.
Bem, mas agora ela já falara com Maria e não teria jeito de voltar atrás... Se quisesse, não seria tarde demais... Poderia dizer : "ô Maria, resolvi que eu mesma levo as rosas quando for jantar!" Não as levaria... E Maria nunca precisaria saber. Era isso mesmo o que faria.
Mas com as rosas desembrulhadas na mão ela esperava. Não as depunha no jarro, não chamava Maria. Ela sabia por quê. Porque devia dá-las. Oh ela sabia por quê.
E também porque uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter...
- Nunca se devia ficar com uma coisa bonita, assim, como que guardada dentro do silêncio perfeito do coração.
Então? e então? indagou-se vagamente inquieta.
Então, não. O que devia fazer era embrulhá-las e man­dá-las, decep­cionada, mandá-las; e espantada ficar livre delas...
Mas qualquer pessoa pode se arrepender! revoltou-se de súbito... E mesmo o próprio mé­dico lhe dera a palmada nas costas e dissera: "não se esforce por fingir que a senhora está bem, porque a senhora está bem"... Assim, pois, ela não era obrigada a ter coerência, não tinha que provar nada a ninguém e ficaria com as rosas.
- Estão prontas? perguntou Maria.
- Estão, disse Laura surpreendida.
Olhou-as, tão mudas na sua mão. Impessoais na sua extrema beleza. Na sua extrema tranqüilidade perfeita de rosas. Aquela última instância: a flor. Aquele último aper­feiçoamento: a luminosa tranqüilidade...
Até que, devagar, austera, enrolou os talos e espinhos no papel de seda. Tão absorta estivera que só ao estender o ramo pronto notou que Maria não estava mais na sala — e ficou sozinha com seu heróico sacrifício.
Quando Maria voltou e pegou o ramo, por um míni­mo instante de avareza Laura encolheu a mão retendo as rosas um segundo mais consigo - elas são lindas e são minhas, é a primeira coisa linda e minha! e foi o homem que insistiu, não fui eu que procurei! foi o destino quem quis! oh só dessa vez! só essa vez e juro que nunca mais! (ela poderia pelo menos tirar para si uma rosa, nada mais que isso: uma rosa para si. E só ela saberia, e depois nunca mais se deixaria tentar pela perfeição, nunca mais!).
- E no segundo seguinte, sem nenhum obstáculo,as rosas estavam na mão da empre­gada, não eram mais suas, como uma carta que já se pôs no correio! Ficou com as mãos vazias mas seu coração obstinado e rancoroso ainda dizia: "você pode pegar Maria nas escadas, você bem sabe que pode, e tirar as rosas de sua mão e roubá-las". Roubar o que era seu? Pois era assim que uma pessoa que não tivesse nenhuma pena dos outros faria: roubaria o que era seu por direito! Oh, tem piedade, meu Deus. Você pode recuperar tudo, insistia com cólera. E então a porta da rua bateu.
- Então devagar ela se sentou calma no sofá. Sem apoiar as costas. Só para descansar. Não, não estava zangada, oh nem um pouco. Mas o ponto ofendido no fundo dos olhos estava maior e pensativo. Olhou o jarro. "Cadê minhas rosas", disse então muito sossegada.
- E as rosas faziam-lhe falta... Uma ausência que entrava nela como uma claridade. O centro da fadiga se abria em círculo que se alargava. Como se ela não tivesse passado nenhuma camisa de Armando. E na clareira as rosas faziam falta. "Cadê minhas rosas", queixou-se sem dor alisando as preguinhas da saia...
- Já que não estava mais cansada, ia então se levantar e se vestir. Estava na hora de começar.
Mas, com os lábios secos, procurou um instante imi­tar por dentro de si as rosas. Não era sequer difícil. Até bom que não estava cansada. Assim iria até mais fresca para o jantar. Quando estivesse pronta ouviria o barulho da chave de Armando na porta. Precisa­va se vestir. Mas ainda era cedo. Com a dificuldade de con­dução ele demorava. Ainda era de tarde. Uma tarde muito bonita. Aliás já não era mais de tarde. Era de noite. Da rua subiam os primeiros ruídos da escuridão e as primeiras luzes.
- Armando abriria a porta. Apertaria o botão de luz. E de súbito no enquadramento da porta se desnudaria aquele rosto expectante que ele procurava disfarçar mas não podia conter. Depois sua respiração suspensa se transformaria enfim num sorriso de grande desopressão. Aquele sorriso embaraçado de alívio que ele nunca suspeitara que ela per­cebia. Aquele alívio que provavelmente, com uma palmada nas costas, tinham aconselhado seu pobre marido a ocul­tar. Mas que, para o coração tão cheio de culpa da mulher, tinha sido cada dia a recompensa por ter enfim dado de novo àquele homem a alegria possível e a paz, sagradas pela mão de um padre austero que permitia aos seres apenas a alegria humilde e não a imitação de Cristo.
- A chave virou na fechadura, o vulto escuro e precipi­tado entrou, a luz inundou violenta a sala.
- E na porta mesmo ele estacou com aquele ar ofegante e de súbito paralisado como se tivesse corrido léguas para não chegar tarde demais.
- Ela ia sorrir. Para que ele enfim desmanchasse a ansiosa expectativa do rosto, que sempre vinha misturada com a infantil vitória de ter chegado a tem­po de encontrá-la chatinha, boa e diligente, e mulher sua. Ela ia sorrir para que de novo ele soubesse que nunca mais haveria o perigo dele chegar tarde demais. Ia sorrir para ensinar-lhe docemente a confiar nela.
Fora inútil recomen­darem-lhes que nunca falassem no assunto: ELES NÃO FALAVAM MAS TINHAM ENCONTRADO UMA LINGUAGEM DE ROSTO ONDE MEDO E CONFIANÇA SE COMUNICAVAM. Ela ia sorrir. Estava demorando um pouco porém, ia sorrir. Calma e suave, ela disse: - Voltou, Armando. Voltou.
- Como se nunca fosse entender, ele enviesou um rosto sorridente, desconfiado. Seu principal trabalho no momento era procurar reter o fôlego ofegante da corrida pelas esca­das, já que triunfantemente não chegara atrasado, já que ela estava ali a sorrir-lhe. Como se nunca fosse entender. Voltou o quê, perguntou afinal num tom inex­pressivo.
- Mas, enquanto procurava não entender jamais, o ros­to cada vez mais suspenso do homem já entendera, sem que um traço se tivesse alterado. Seu trabalho principal era ganhar tempo e se concentrar em reter a respiração. O que de repente já não era mais difícil. Pois inesperadamente ele percebia com horror que a sala e a mulher estavam cal­mas e sem pressa.
- Mais desconfiado ainda, como quem fosse terminar enfim por dar uma gargalhada ao constatar o absurdo, ele no entanto teimava em manter o rosto envie­sado, de onde a olhava em guarda, quase seu inimigo. E de onde começava a não poder se impedir de vê-la sentada com mãos cruzadas no colo, com a serenidade do vaga-lume que tem luz. No olhar castanho e inocente o embaraço vaidoso de não ter podido resistir. Voltou o quê, disse ele de repente com dureza. - Não pude impedir, disse ela, e a derradeira piedade pelo homem estava na sua voz, o último pedido de perdão que já vinha misturado à altivez de uma solidão já quase perfeita. Não pude impedir, repetiu entregando-lhe com alívio a piedade que ela com esforço conseguira guardar até que ele chegasse.
FOI POR CAUSA DAS ROSAS, disse ela com modéstia.
- Como se fosse para tirar o retrato daquele instante, ele manteve ainda o mesmo rosto isento, como se o fotógrafo lhe pedisse apenas um rosto e não a alma... No instante seguinte, desviou os olhos com vergonha pelo despudor de sua mulher que, desabrochada e serena, ali estava.
- Mas de súbito a tensão caiu. Seus ombros se abaixa­ram, os traços do rosto cederam e uma grande pesadez rela­xou-o. Ele a olhou envelhecido, curioso.
- Ela estava sentada com o seu vestidinho de casa. Ele sabia que ela fizera o possível para não se tornar luminosa e inalcançável. Com timidez e respeito, ele a olhava. Enve­lhecido, cansado, curioso. Mas não tinha uma palavra sequer a dizer. Da porta aberta via sua mulher que estava sentada no sofá sem apoiar as costas, de novo alerta e tranquila como num trem. Que já partira.

imagem:
Olhares

domingo, 12 de setembro de 2010

Ψ ESQUIZÓIDE


- Caracteriza-se aquele indivíduo que sem ter PSICOSE verdadeira, apresenta traços singulares do tipo esquizofrênico. São os casos conhecidos como "ESQUIZOFRENIA BRANDA" ou AMBULATORIAL. Pertencem a este grupo os PSICOPATAS EXTRAVAGANTES, os PARANÓIDES ABORTIVOS, os muitos indivíduos "apáticos" que chamamos PERSONALIDADE HEBEFRENÓIDES. 
 
As emoções nos ESQUIZÓIDES, afiguram-se inadequadas. É frequente falharem absolutamente em situações nas quais seriam de esperar. Uma falta de emoção que não se deve a simples repressão, mas à perda real de contato com o mundo objetivo, dá a quem observa uma imprressão de "esquisitice".

É comum a falta de afetos romper-se com ataques emocionais súbitos e incompreensíveis. Noutros casos, as emoções parecem relativamente normais, desde que se realizem certas condições, por exemplo desde que o paciente consiga sentir que "as coisas não são inteiramente sérias".

Comportam "como se" tivessem relações sentimentais com os outros. Podem estar cercados de muita gente e ocuparem-se com muitas atividades, mas não tem amigos de verdade.

 - É frequente AS PERSONALIDADES ESQUIZÓIDES permanecerem relativamente normais enquanto se encontram em condições de segurança, colapsando, porém, assim que essas condições deixem de vigorar.

 As personalidades paranóides consistem em ter "seguidores", enquanto as pessoas acreditam neles e na sua missão, os pacientes ainda se apegam à realidade, quando os seguidores começam a dizer "o homem está maluco", colapsam.

- Os tipos esquizóides podem apresentar grande variedade de quadros clínicos: num extremo estão as "crianças prodígios", possuidoras de talentos (autísticos) unilaterais, cujo comportamento ocasionalmente estranho é perdoado porque sabem comunicar sua proximidade ao inconsciente, mostrando-se capazes de fascinar uma plateia, embora os próprios pacientes não tenham por ela interesse emocional algum; o outro extremo assinala-se por pessoas hebefrenóides, que dão a impressão, de obtusidade e que vivem, de forma vazia e obscura, uma existência realmente vegetativa, de todo pobre quanto à vivacidade emocional. - A característica essencial do Transtorno da Personalidade Esquizóide é um padrão invasivo de distanciamento de relacionamentos sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais.
Este padrão começa no início da idade adulta e se apresenta em variados contextos. Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Esquizóide parecem não possuir um desejo de intimidade, mostram-se indiferentes às oportunidades de desenvolver relacionamentos íntimos, e parecem não obter muita satisfação do fato de fazerem parte de uma família ou de outro grupo social.
- Eles preferem passar seu tempo sozinhos a estarem com outras pessoas, com frequência, parecem ser socialmente isolados ou "solitários", quase sempre escolhendo atividades ou passatempos que não envolvam a interação com outras pessoas.
- Eles preferem tarefas mecânicas ou abstratas, tais como jogos matemáticos ou de computador. Podem ter pouco interesse em experiências sexuais;
- Existe, geralmente, uma experiência reduzida de prazer em experiências sensoriais, corporais ou interpessoais, tais como caminhar na praia ao pôr-do-sol ou fazer sexo. Esses indivíduos não têm amigos íntimos ou confidentes, exceto, possivelmente, algum parente em primeiro grau.

- Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Esquizóide frequentemente se mostram indiferentes à aprovação ou crítica e parecem não se importar com o que os outros possam pensar deles. Eles podem ignorar as sutilezas normais da interação social e com frequência não respondem adequadamente aos indicadores sociais, de modo que parecem socialmente ineptos ou superficiais e absortos consigo mesmos.
 - Eles geralmente exibem um exterior "insosso", sem reatividade emocional visível, e raramente retribuem gestos ou expressões faciais, tais como sorrisos ou acenos.
Afirmam que raramente experimentam fortes emoções, tais como raiva e alegria, frequentemente exibem um afeto restrito e parecem frios e indiferentes.
Entretanto, em circunstâncias muito incomuns nas quais estes indivíduos, pelo menos temporariamente, sentem-se mais à vontade para se revelarem, podem reconhecer sentimentos dolorosos, particularmente relacionados a interações sociais.
- O Transtorno da Personalidade Esquizóide não deve ser diagnosticado se o padrão de comportamento ocorre exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia, Transtorno do Humor Com Aspectos Psicóticos, outro Transtorno Psicótico ou um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, ou se é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição neurológica (ex., epilepsia do lobo temporal).
- Um padrão invasivo de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:

 - não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família; quase sempre opta por atividades solitárias;
- tem prazer em poucas atividades, se alguma; - não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau; - mostra-se indiferente a elogios ou críticas de outros;
Demonstra frieza emocional, distanciamento ou afetividade embotada.

A QUESTÃO DO PROGNÓSTICO NA ESQUIZOFRENIA - O prognóstico é extremamente complicado pela dificuldade de entender com exatidão a economia das forças que são responsáveis pelo curso da psicose. Se o esquizofrênico consegue restabelecer relações, pode ainda acontecer que torne a colapsar, se ocorrerem novos acontecimentos precipitantes.
É fácil perceber que todos os fatores ambientais que sejam prazerosos e sedutores irão influenciar favoravelmente, no sentido da saúde e aqueles que sejam frustrados ou levem o paciente à tentação irão favorecer a doença.
 Daí ser importante para a avaliação prognóstica, estabelecer um diagnóstico dinâmico que diga respeito à profundidade da perda de objetos e à intensidade da predisposição orgânica para a doença.  A história do paciente dar-se-á a informação necessária.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br/,
Fenichel, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses;
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

Ψ O HOMEM é esperto, mas LOUCURA é mais...

BORDERLINE - São diferentes dos mecanismos NEURÓTICOS os mecanismos ESQUIZOFRÊNICOS.
- Há neuróticos, que sem desenvolver PSICOSE completa, possuem tendências psicóticas, ou usam esses mecanismos sempre que ocorrem frustrações.
- Pode-se falar que são pessoas esquizofrênicas em potencial, quer dizer que "ainda não romperam com a realidade", ainda que apresentam certos sinais de que estão iniciando esta ruptura e em condições desfavoráveis de vida podem evoluir para a PSICOSE.
- Pode-se falar ainda de pessoas que "canalizaram" a sua disposição esquizofrênica: Os excêntricos que são loucos em certa área mais ou menos circunscrita, e no geral conservam o contato com a realidade.
- Ideias de REFERÊNCIA ABORTIVA, quando começam a desenvolver-se, ou, em personalidades esquizóides, de maneira contínua, permanecem às vezes, sujeitas à crítica do paciente. "Sinto como se todo o mundo estivesse olhando para mim, como se todos soubessem o que eu estou pensando; claro que não é verdade. Tive uma ideia maluca de que alguém pode por um microfone na sala, a fim de descobrir o que estou pensando."
- Há NEURÓTICOS OBSESSIVOS que sofrem da ideia obsessiva de haver perpetrado um assassinato e são obrigados, apesar de lhe perceberem a extrema irrealidade, a provar a si mesmos a falsidade da obsessão, isso sendo muito diferente da idéia de ter matado um homem. 

- Há porém, "NEURÓTICOS COMPULSIVOS ESQUIZÓIDES" nos quais a fantasia se apresenta, às vezes, como o aspecto da obsessão; outras vezes, de delírio; em geral com o aspecto de obsessão; mas de delírio, quando existe certa tensão mental.
- Um paciente que estava mais próximo da ESQUIZOFRENIA que da NEUROSE OBSESSIVA, certa vez saiu de casa muito agitado, após brigar com a mãe. Pôs-se a cismar que a surrara até matá-la, o que era de suas frequentes idéias obsessivas. Desta vez, repentinamente sentiu que, de fato, praticara o ato. Foi à polícia e declarou que havia assassinado a mãe. Depois que os policiais que haviam sido mandados a sua casa retornaram e lhe disseram que não era verdade, o paciente "lembrou-se" de que, realmente, não cometera o assassinato declarado.

 - Carlos Paz realiza uma experiência psicanalítica no tratamento do transtorno borderline e encontra: 
- Transtornos na relação com a realidade, na qual ha alterações grosseiras ainda que transitórias, sem perda do juízo da realidade.
 - Transtornos do pensamento sob a forma de idéias de referência e paranóia; - Transtornos no controle dos impulsos com explosões de raiva, violência e agressão;
- Transtornos da sexualidade com fantasias sexuais sadomasoquistas, atividade masturbatórias com fantasias eróticas perversas, promiscuidade e, eventualmente, impotência.
- Presença de ansiedades confusionais;
- Vínculo com o terapeuta característico, com viscosidade, aderência e manipulação.
- Nos casos mais graves esses fenômenos de transferência problemática são bastante primitivos e intensos, chamados por alguns autores de “transferência delirante”, ou ainda de “transferência psicótica.
- Há pessoas, simpáticas e agradáveis aos outros, que se comportam de maneira totalmente diferente com as pessoas de sua intimidade. São explosivas, agressivas, intolerantes, irritáveis, com tendência a manipular pessoas.

- Outros conseguem ser desarmônicos dentro e fora do lar; podem ser os Sociopatas.
- A patologia borderline é, sem dúvida, uma problemática psicossocial importante, já que frequentemente se associam a quadros de drogadicção, alcoolismo e violência.
- Certos autores comparam ao paciente borderline atual com os histéricos do final do século XIX e princípios do século XX. Consideram as patologias equivalentes e não sem uma boa dose de razão, considerando a histeria dita de caráter.
- Segundo o Código Internacional de Doenças, os critérios diagnósticos para F60.31 - TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE, caracterizaria por um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado.

- Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização;
- Relações interpessoais: não suportam a solidão e o abandono, necessitam do outro em tempo integral, a todo o momento, são francamente dependentes, masoquistas e manipuladores.
- Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self; Afetividade: depressão, raiva, ansiedade e desespero;
Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, comer compulsivamente).
- Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante; Impulsos e ações: atitudes impulsivas, drogadição, álcool, auto-agressão, promiscuidade, bulimia; Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor
(ex., episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias).
- Sentimentos crônicos de vazio; Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (ex., demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes), eventuais surtos psicóticos: normalmente breves, reativos e pouco severos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: Ballone GJ- Personalidade Borderline- in. PsiqWeb, disponível em www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005.
- Grinker RR Sr.- Diagnosis of borderlines: a discussion, Schizophr Bull. 1979;5(1):47-52

- Gunderson JG, Kolb JE, Austin V - The diagnostic interview for borderline patients, Am J Psychiatry 1981; 138:896-903 - Mahler MS - Significance of the separation and individuation process for the evaluation of borderline phenomena, Psyche (Stuttg). (Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

Ψ ESQUIZO = CISÃO FRENIA = MENTE = MENTE DIVIDIDA

*Mais do que em quaisquer outros tipos de transtornos mentais, a diversidade dos fenômenos esquizofrênicos dificultam uma orientação abrangente.

 *Já se tem duvidado de que esta seja sequer possível e de que os vários fenômenos esquizofrênicos tenham o que quer que seja em comum. 

*A tantas coisas diferentes aplica-se o rótulo "esquizofrenia" que este nem mesmo serve para fins de prognóstico.

*Há "Episódios Esquizofrênicos" passageiros em pessoas que na aparência estão bem quer antes quer depois dos mesmos, e há psicoses severas que terminam em demência permanente.


*Há que se diferenciar "Episódios Esquizofrênicos" e "Psicoses Processuais Malignas";

*O bebê parte de um estado de "narcisismo primário", aparelho psíquico ainda indiferenciado, ainda não existe objeto, com a descoberta destes coincide a diferenciação do ego.


*Um ego existe na medida em que está diferenciado dos objetos que não são ego.


*O ESQUIZOFRÊNICO regrediu ao narcisismo. Ele separou-se da realidade. O ego do ESQUIZOFRÊNICO colapsou, rompeu-se.


*A ESQUIZOFRENIA e a NEUROSE tem traços em comum mas a etiologia em absoluto diversa, seguem leis patológicas diferentes.


*A irracionalidade do comportamento esquizofrênico impossibilita às vezes a empatia com os pacientes. 


*E ainda que se provasse SER ESSENCIALMENTE SOMÁTICA a etiologia da esquizofrenia, ainda seria importante estudar os ASPECTOS PSICOLÓGICOS desta desintegração mental que por forma heterogênea se produz.

*SINTOMAS DE REGRESSÃO NA ESQUIZOFRENIA (fantasias de destruição do mundo): Segundo Freud, a percepção interna da perda de relações objetais produz nos estados iniciais da ESQUIZOFRENIA a fantasia de que o mundo está para acabar.


*Os pacientes que experimentaram sentimentos desta ordem estão corretos, o mundo objetivo de fato, rompeu. Há vezes em que só uma parte do mundo é sentida como tendo perdido a existência.


*Ao se queixar de que o mundo parece "vazio", "sem sentido" ou "monótono", o ESQUIZOFRÊNICO refere de que sua libido se retirou dos objetos. 


*Ele sente como se as pessoas fossem imagens fluídas quando afirma que se sente perplexo e abandonado neste novo mundo.

*Expressa-se também de maneira mais localizada pela despersonalização e com mais intensidade no estupor catatônico.

*Muitas ESQUIZOFRENIAS começam com despersonalização e sensações corporais hipocondríacas, aumento do tônus libidinal do corpo.


*Os sintomas corporais na ESQUIZOFRENIA incipiente não tem necessariamente o caráter de sensações intensas.


*É frequente referirem sentimentos de falta de sensações. Certos órgãos, áreas corporais ou o corpo inteiro são percebidos como se não pertencessem à pessoa.

*Tanto o acréscimo quanto o decréscimo dos sentimentos corporais alteram necessariamente a imagem corporal do paciente e fazem-no sentir-se estranho.


*Na despersonalização, o paciente enquanto se observa percebe a ausência de plenitude dos seus sentimentos, tal qual uma criança que percebe a ausência de um nome esquecido tendo-o na "ponta da língua".


*PENSAMENTO ESQUIZOFRÊNICO: Conceitos e palavras obedecem uma lógica própria, não à nossa lógica "normal", a lógica ESQUIZOFRÊNICA é idêntica ao pensamento primitivo mágico, a mesma lógica do inconsciente neurótico, da criança pequena, do homem primitivo e das "pessoas normais" fadigadas. Trata-se do modo arcaico de pensar.

*O que se vê na neurose obsessiva em grau leve encontra-se marcadamente desenvolvido na ESQUIZOFRENIA. O pensamento do esquizofrênico retrocede do nível lógico ao pré-lógico.


*As interpretações dos símbolos que os NEURÓTICOS acham tão difícil aceitar na análise, os ESQUIZOFRÊNICOS fazem-na espontaneamente, como coisa natural.


*Para o ESQUIZOFRÊNICO o pensamento simbólico não é mero processo de distorção é de fato, o tipo arcaico de pensamento que lhes é próprio.

*Nos indivíduos não psicóticos, esta modalidade de pensamento ainda atua no inconsciente, daí a impressão de que, na esquizofrenia, o "inconsciente se tornou consciente".


*IDEIAS DE GRANDEZA: A crença que o indivíduo tem na sua própria onipotência não é mais do que um dos aspectos do mundo animístico-mágico que torna a predominar nas regressões narcísicas.

*O NARCISISTA acredita de fato, nos seus devaneios, que se transformam em delírios, sente-se presidente, Deus... isso resultando da perda do juízo da realidade. 


*O conteúdo dos delírios pode analisar-se tal qual se analisam os devaneios dos neuróticos e das pessoas normais.

*Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam em geral por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção, e por afetos inapropriados ou embotados. 


*Usualmente mantém-se clara a consciência e a capacidade intelectual, embora certos déficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo.

 *Os fenômenos psicopatológicos mais importantes incluem o eco do pensamento, a imposição ou o roubo do pensamento, a divulgação do pensamento, a percepção delirante, ideias delirantes de controle, de influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou discutem com o paciente na terceira pessoa, transtornos do pensamento e sintomas negativos.

*A evolução dos transtornos esquizofrênicos pode ser contínua, episódica com ocorrência de um déficit progressivo ou estável, ou comportar um ou vários episódios seguidos de uma remissão completa ou incompleta.


*Segundo o Código Internacional de Doenças: 

 F20.6 - ESQUIZOFRENIA SIMPLES: Transtorno caracterizado pela ocorrência insidiosa e progressiva de excentricidade de comportamento, incapacidade de responder às exigências da sociedade, e um declínio global do desempenho.

*Transtorno caracterizado por um comportamento excêntrico e por anomalias do pensamento e do afeto que se assemelham àquelas da esquizofrenia, mas não há em nenhum momento da evolução qualquer anomalia esquizofrênica manifesta ou característica. 


*A sintomatologia pode comportar um afeto frio ou inapropriado, anedonia; um comportamento estranho ou excêntrico; uma tendência ao retraimento social; ideias paranóides ou bizarras sem que se apresentem ideias delirantes autênticas; ruminações obsessivas; transtornos do curso do pensamento e perturbações das percepções; períodos transitórios ocasionais quase psicóticos com ilusões intensas, alucinações auditivas ou outras e idéias pseudodelirantes, ocorrendo em geral sem fator desencadeante exterior. O início do transtorno é difícil de determinar, e sua evolução corresponde em geral àquela de um transtorno da personalidade.

F20.1 - ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA: Na HEBEFRENIA, a perda do mundo objetivo, ou de todo interesse nele é de observar-se sem quaisquer outras complicações. 

O EGO não realiza atividade alguma a fim de defender-se, mas dominado pelos conflitos "abandona-se". Se o presente é desagradável o EGO recai no passado, se falham novos tipos de adaptação o EGO refugia-se nos tipos infantis de receptividade passiva talvez até nos intra-uterinos.

*Campbell chamou a HEBEFRENIA de "RENDIÇÃO ESQUIZOFRÊNICA", no caso de ser por demais difícil um tipo mais diferenciado de vida, a esta se renuncia em troca de existência mais ou menos vegetativa.


*Forma de esquizofrenia caracterizada pela presença proeminente de uma perturbação dos afetos; as idéias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias, o comportamento é irresponsável e imprevisível; existem frequentemente maneirismos. O afeto é superficial e inapropriado. O pensamento é desorganizado e o discurso incoerente. Há uma tendência ao isolamento social. Geralmente o prognóstico é desfavorável devido ao rápido desenvolvimento de sintomas “negativos”, particularmente um embotamento do afeto e perda da volição. A hebefrenia deveria normalmente ser somente diagnosticada em adolescentes e em adultos jovens.


*F20.0 - ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE
:
A esquizofrenia paranóide se caracteriza essencialmente pela presença de idéias delirantes relativamente estáveis, freqüentemente de perseguição, em geral acompanhadas de alucinações, particularmente auditivas e de perturbações das percepções. 


*As perturbações do afeto, da vontade, da linguagem e os sintomas catatônicos, estão ausentes, ou são relativamente discretos. Os DELÍRIOS, que são falsos juízos da realidade, baseados na projeção, tem a mesma estrutura da ALUCINAÇÕES limitam-se a sensações perceptuais, ao passo que os delírios se constróem com idéias mais complicadas e sistematizadas. 

*Os pacientes que tem ideias persecutórias são sensíveis à crítica e servem-se de percepções de críticas insignificantes reais, como base real do seu delírio que tendem a exagerar e distorcer para servir a este fim.

*Tal qual os "monstros" do sonho podem representar uma "ameaça" da vida cotidiana, assim o monstro do delírio paranóide pode ser um micróbio verdadeiro, falsamente apreendido. O indivíduo paranóico tem sensibilidade particular para perceber o inconsciente dos outros, sente claramente o inconsciente alheio, quando isso o capacita a deixar de ouvir o seu próprio inconsciente.

F20.2 - ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA: A esquizofrenia catatônica é dominada por distúrbios psicomotores proeminentes que podem alternar entre extremos tais como hipercinesia e estupor, ou entre a obediência automática e o negativismo. Atitudes e posturas a que os pacientes foram compelidos a tomar podem ser mantidas por longos períodos. Um padrão marcante da afecção pode ser constituído por episódios de excitação violenta.


*Tausk mostrou que inúmeros sintomas esquizofrênicos revivem experiências do período em que o ego, no seu desdobramento, se descobriu a si mesmo e o seu ambiente.


 *O modo passivo pelo qual os pacientes experimentam os seus próprios atos, como se de forma alguma atuassem mas fossem obrigados a realizar certos movimentos ou a pensar certas ideias, que sentem "introduzidas" na sua mente, relacionam-se com um estádio primitivo do desenvolvimento do ego.

 *Há sintomas , por exemplo, as posturas e movimentos catatônicos que sugerem a possibilidade de ter havido até recorrência de impulsos, originados do período de vida intra-uterina.

*Os movimentos catatônicos estereotipados e certas atitudes esquisitas, ainda se reconhece a intenção proposital original, que falhando, se automatizou pela desintegração da personalidade e pela profunda regressão motora.


*Nos indivíduos 'normais' e nos neuróticos, a expressão facial é maneira decisiva de manifestar sentimentos relativos aos objetos. Que se percam, no entanto, as relações objetais, também a expressão facial perde a sua finalidade e o seu caráter pleno, tornando-se "vazia", enigmática, apenas representando tênue remanescente.


*Jung, em seu trabalho sobre ESQUIZOFRENIA, viu nas estereotipias e nos maneirismos, tentativas mórbidas de recuperar ou manter relações objetais que estão escapando. Muitas estereotipias, maneirismos, atos esquisitos são menos simples sintomas da perda das relações objetais que tentativas ativas de recuperá-las. O "riso desmotivado", caracteriza uma tentativa malograda de recuperar contato.


*F23 - TRANSTORNOS PSICÓTICOS AGUDOS E TRANSITÓRIOS
: Grupo heterogêneo de transtornos caracterizados pela ocorrência aguda de sintomas psicóticos tais como ideias delirantes, alucinações, perturbações das percepções e por uma desorganização maciça do comportamento normal.


*O termo “agudo” é aqui utilizado para caracterizar o desenvolvimento crescente de um quadro clínico manifestamente patológico em duas semanas no máximo. 

*Para estes transtornos não há evidência de uma etiologia orgânica. Em geral estes transtornos se curam completamente em menos de poucos meses, frequentemente em algumas semanas ou mesmo dias.

*Quando o transtorno persiste o diagnóstico deve ser modificado. O transtorno pode estar associado a um “stress” agudo (os acontecimentos geralmente geradores de “stress” precedem de uma a duas semanas o aparecimento do transtorno).

F25.0 - TRANSTORNO ESQUIZO AFETIVO DO TIPO MANÍACO
: Transtorno em que tanto sintomas esquizofrênicos quanto maníacos são proeminentes de tal modo que o episódio da doença não justifica um diagnóstico quer de esquizofrenia quer de episódio maníaco. Esta categoria deveria ser usada tanto para um único episódio, quer para classificar um transtorno recorrente no qual a maioria dos episódios são esquizo afetivos do tipo maníaco.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:  PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br/
Fenichel, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses

Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica