quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

cada um de nós é por enquanto a vida, isso nos baste!

foto: Sebastião Salgado

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.

Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.

Cada um de nós é por enquanto a vida
Isso nos baste.
(
Na Ilha por Vezes Habitada - José Saramago)

JOSÉ SARAMAGO (16/11/1922 - 18/06/2010)

fotografia: Sebastião Salgado

A Racionalidade Irracional: Eu digo muitas vezes que o instinto serve melhor os animais do que a razão a nossa espécie.

- E o instinto serve melhor os animais porque é conservador, defende a vida.

- Se um animal come outro, come-o porque tem de comer, porque tem de viver; mas quando assistimos a cenas de lutas terríveis entre animais, o leão que persegue a gazela e que a morde e que a mata e que a devora, parece que o nosso coração sensível dirá «que coisa tão cruel».

- Não: quem se comporta com crueldade é o homem, não é o animal, aquilo não é crueldade; o animal não tortura, é o homem que tortura.

- Então o que eu critico é o comportamento do ser humano, um ser dotado de razão disciplinadora, organizadora, mantenedora da vida, que deveria sê-lo e que não o é; o que eu critico é a facilidade com que o ser humano se corrompe, com que se torna maligno.
(...)
- Aquela ideia que temos da esperança nas crianças, nos meninos e nas meninas pequenas, a ideia de que são seres aparentemente maravilhosos, de olhares puros, relativamente a essa ideia eu digo: pois sim, é tudo muito bonito, são de facto muito simpáticos, são adoráveis, mas deixemos que cresçam para sabermos quem realmente são. E quando crescem, sabemos que infelizmente muitas dessas inocentes crianças vão modificar-se. E por culpa de quê? É a sociedade a única responsável? Há questões de ordem hereditária? O que é que se passa dentro da cabeça das pessoas para serem uma coisa e passarem a ser outra?
- Uma sociedade que instituiu, como valores a perseguir, o lucro, o êxito, o triunfo sobre o outro e todas estas coisas, essa sociedade coloca as pessoas numa situação em que acabam por pensar (se é que o dizem e não se limitam a agir) que todos os meios são bons para se alcançar aquilo que se quer.
- Falamos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo.
"E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias."

( in 'Diálogos com José Saramago')

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Homem Livre transcende a morte



O homem livre
Nada teme
Tudo enfrenta
altivo e imponente
porém,
o homem livre é só
Ele até ama
mas posto que tudo é passageiro
o homem livre
livra-se rápido de tudo
Só não se livra da sua solidão
Como tudo tem um preço
alto é o seu,
Ah! o tempo
sempre o tempo
levando tudo que vê pela frente
com seu ponteiro pontual
Até o homem livre
se vai com o tempo...
Deixando seus amores e dissabores,
Porém, ele não parte só
a liberdadade transcende a morte
e sua alma é livre!
( FatimaVieira/ florianópolis - 2000)/
imagem: João Azevedo

tão breve é a vida...


Vivo Só
Ou So (bre) Vivo
Penso que vivo
Vivo Só
Ou
So (bre) Vivo?
o que me encanta
é a BreV (idade) da Vida
Brev (Idade)
Vida
tão breve é a vida
A Idade da vida é a sua brevidade
ou a Eterna Idade
posto que sou I (mortal) ???

 (FatimaVieira/ florianópolis/ 2000)
fotografia: Eurico Sampaio

rápido como os sonhos passam os dias...

    (...)  Um verão intenso cheio de vida  recomeça,
   rápido como os sonhos passam os dias cintilantes...
   Estou levemente feliz, na ilha da magia.
  (FatimaVieira)
  imagem: E. Horta



segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

poesia só para quem dela precisa (O Carteiro e o Poeta)

imagem: Antonio Ramos
Uma Flor no asfalto
Que aflição!
parece dolorido
florir neste ambiente íngreme
vem o medo
a flor se encolhe
mas segue seu destino,
precisa desabrochar

Ela não tem escolha
É aqui neste local que deve florir...
Sabe lá o que é
não querer e ter que ficar,

Ela tem esperança na chuva
Será que a chuva a levará para o mar?
Mas não chove
Parece que aí é o seu lugar
Então coragem e deixe de reclamar...

Você já foi mais ousada,
Fina Flor do asfalto!

(Fatima Vieira)

... e o mundo sobrevive sem mim




Na multidão
não me sinto acolhida
O mundo está cheio
e sobrevive sem mim
O outro é tanto
que o eu torna-se
desnecessário
não me requisitam
se solicito não me ouvem
Histeria mundana
onde todos se esbarram e não se olham
invoco proteção como um colo de mãe
e recebo um empurrão
Se desabafo
mal me escutam
"é coisa da tua cabeça"
você está alienado,
pode ser loucura...
Eles continuam indiferentes
pregando as suas "verdades"
Instalo-me só num canto do mundo

Fico à espreita
Assim vou percebendo que a indiferença deles
é o abandono de todos,
é só angústia disfarçada
Estamos todos sós!
(FatimaVieira/ 2010)

sábado, 11 de dezembro de 2010

a caixa de pandora


O mundo foi crescendo... as pessoas se distanciando cada vez mais, a cada um a sua solidão, sonhos secretos, sorrisos esquecidos, lágrimas ocultas... Os melhores sentimentos confinados numa caixa escura. Falta coragem para revelar o conteúdo da alma. E esse mundo interior cada vez mais sufocado não cabe mais no mundo exterior. Ninguém tem mais tempo para ouvir ninguém... os compromissos são tantos... agenda lotada, sobra o supérfluo, mal se ouve o outro e o olhar não olha. Ao olhar no olho do outro me comprometo. Logo evito...
 - E Deus que tudo vê, pensou: "Neste mundo enorme que Eu criei, vejo que ainda existem pessoas corajosas, que querem abrir sua caixa escura, e pessoas generosas que demonstram interesse no conteúdo e que querem compartilhar seus SONHOS e ESPERANÇAS... mas fiz um universo imenso, eles são humanos e tem suas limitações."
- Então Deus concedeu ao homem a magia (como Ele, mas não tanto assim) de estar em qualquer lugar do planeta em segundos, estabelecendo assim contato imediato com todos aqueles dispostos a abrirem suas caixas... e fez-se a NET...
A LENDA: Segundo o mito, a história de Pandora surge na sequência de alguns logros perpetrados por Prometeu, que viriam a privilegiar a humanidade em detrimento dos deuses do Olimpo.
- Para se vingar, Zeus criou Pandora, a primeira mulher, e enviou-a a Epimeteu, que a deveria tomar como esposa.
Contrariamente ao que o irmão, Prometeu, lhe tinha aconselhado, Epimeteu aceitaria este presente vindo do Olimpo.
- Infelizmente, Pandora viria também com um objecto, no qual estavam contidos todos os males. Vítima da sua curiosidade, esta primeira mulher abriria o tal recipiente, libertando todos os males e deixando, curiosamente, um simples dom por libertar - a esperança.
- Vamos nos deter no que considero como sendo um dos pormenores mais importantes deste mito - a presença da "ESPERANÇA" no interior de um objecto que, alegadamente, só continha males.- Sobre a ESPERANÇA Nietzche refere em "HUMANO DEMASIADO HUMANO" que a mesma é um grande mal, que os deuses apenas permitiram que ela ficasse entre os humanos para os atormentar... engana o ser no seu futuro incerto, com expectativas que nunca irão se concretizar... segundo o filósofo alemão "Atinge-se a verdade através da descrença e do ceticismo, e não do desejo infantil de que algo aconteça de certa forma."
- Ainda que demasiadamente humana quando sem a justa medida, a magia desta lenda está no papel desempenhado pela ESPERANÇA, que parece necessária à sobrevivência da espécie, a última bondade não destruída por nosso egoísmo e ambição.
- Hoje os meios de comunicação em tempo recorde nos informam dos confrontos de nossa espécie na luta desenfreada pelo poder com suas escolhas políticas duvidosas e incertas, priviligiando grupos minoritários em detrimento dos interesses mais nobres da humanidade. Escondem em seus cofres mentiras, arrogâncias, corrupções, injustiças sociais, o descuido com o ambiente.
- A esperança reside na possibilidade de que simultaneamente outras caixas se abram e pessoas comprometidas com o bem estar da humanidade se manifestem, através de sua arte, seu trabalho, da denúncia, do seu cotidiano, da informação crítica.
- Para que brote esperança o egoísmo precisa ser desprezado... Enquanto eu estiver na minha caixa, cuidando da minha propriedade, da minha empregada, do meu funcionário, do meu latifúndio, do meu bichinho de estimação, do meu... O planeta e milhares de seres vivos estão sendo depredados por um grupinho sem escrúpulos, que torcem para que a maioria cuide de sua caixinha, de sua propriedade...
- Pois é, é desta esperança que falo... verdadeiramente humana e passível de ser vivida e cultivada.
 


update: mais sobre o tema mitologia pandora acessem
 https://www.mitologia.pt/49535.html

Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"... é que narciso acha feio tudo que não é espelho." (Caetano Veloso)


A LENDA: Há milhares de anos atrás, na antigüidade mais remota do povo grego, nasceu Narciso, filho de Céfiso, com a ninfa Liríope. No dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a sua própria imagem. Narciso cresceu com os traços e as formas de um deus. Assediado pelas ninfas permanecia indiferente as paixões que despertava. Eco a ninfa mais linda apaixonou-se pelo belo Narciso que a desprezou... Não suportando a dor da rejeição, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais, seu corpo foi definhando, seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamam, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra. Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer. Um dia, ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou a contemplá-la até consumir-se. Apaixonado por si próprio, Narciso mergulhou os braços na água para abraçar aquela imagem que não parava de se esquivar. Torturado por esse desejo impossível, chorou e acabou por entender que era ele mesmo o objecto do seu amor. Ficou a contemplar a sua imagem até morrer. Ali permaneceu, paralisado de amor pela imagem aprisionada no espelho d'água. Não comia, não bebia para não se afastar por nem um segundo da imagem no lago. Nestas circunstâncias o jovem definhou e morreu. No local desabrochou uma flor roxa, que as ninfas batizaram de Narciso. Nas palavras de Ovídio, assim reagiu o jovem extasiado: "... o rosto fixo, absorvido com esse espetáculo, ele parece uma estátua de mármore de Paros. Deitado no solo, contempla dois astros, seus próprios olhos, e seus cabelos, dignos de Baco, dignos também de Apolo, suas faces imberbes, seu pescoço de marfim, sua boca encantadora e o rubor que colore a nívea brancura de sua pele. Admira tudo aquilo que suscita a própria admiração. Deseja a si mesmo. A si mesmo dedica seus próprios louvores. Ele mesmo inspira os ardores que sente. Ele é o elemento do fogo que ele próprio acende. E quantas vezes dirigiu beijos vãos à onda enganadora! Quantas vezes, para segurar seu pescoço ali refletido, inutilmente mergulhou os braços no meio das águas. Não sabe o que está vendo, mas o que vê excita-o e o mesmo erro que lhe engana os olhos acende-lhe a cobiça. Crédula criança, de que servem estes vãos esforços para possuir uma aparência fugitiva ? O objeto de teu desejo não existe. O objeto de teu amor, vira-te e o farás desaparecer. Esta sombra que vês é um reflexo de tua imagem. Não é nada em si mesma; foi contigo que ela apareceu, e persiste, e tua partida a dissiparia, se tivesses coragem de partir."
O Narcisismo: Na tradição grega, o termo narcisismo designa o amor de um individuo por si mesmo. Esta lenda, surgida provavelmente da superstição grega segundo a qual contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, e esta personagem foram tornadas celebres por Ovídeo, na terceira parte das Metamorfoses. Transmitiu-se à cultura ocidental por intermédio dos autores renascentistas. Narcisismo, como termo, foi empregado pela primeira vez em 1887, pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911), Binet queria descrever um certo tipo de fetichismo, que poderia designar uma atitude de vida sexual normal, quando privilegia uma parte do corpo do parceiro, ou uma perversão sexual, se a sua atenção se centra numa parte do corpo do parceiro ou objectos relacionados com o corpo, os quais assumem carácter exclusivo de excitação sexual ou mesmo de acto sexual. Em 1898 a expressão 'narcissus like' foi usada por Havelock Ellis, para descrever um comportamento perverso relacionado com o mito de Narciso, e que se caracterizava por uma vertente patológica de uma forma de amor voltada para a própria pessoa. No ano de 1899, num comentário sobre um artigo de Ellis, o criminologista Paul Nacke (1851-1913) introduzia o termo em alemão: 'Narzissmus', para significar, uma verdadeira perversão sexual.
Narcisismo e Psicanálise: Em Freud, este conceito surge pela primeira vez nas Notas psicanalíticas sobre um caso de paranóia (1911), precisamente no ano em que Binet faleceu. Aqui o narcisismo aparece como um ponto de fixação das psicoses, denominadas “neuroses narcísicas”. Freud em 1914 permitiu explicar a psicose como um retorno da libido sobre o sujeito, mas também um conceito clínico que descreve um conjunto de atitudes humanas dominadas por dois traços principais: o desinteresse pelo mundo exterior e uma imagem de si grandiosa.
No fenômeno libidinal, o narcisismo passou então a ocupar um lugar essencial na teoria do desenvolvimento sexual do ser humano. Freud teorizou que o narcisismo incluía o amor pelo próprio ego e autoengrandecimento, como tentativas de satisfazer necessidades infantis. Ele acreditava que todas as pessoas atravessavam uma fase normal de narcisismo infantil, e que o estudo do narcisismo patológico poderia ajudar a compreender a psicodinâmica do narcisismo em indivíduos normais. Originalmente, na criança, a libido não está exclusivamente virada para outros seres, como o pai ou a mãe. A criança toma também o seu próprio eu como objeto de amor. A esta tendência Freud designou narcisismo. O ego primitivo é considerado fraco, impotente em relação aos seus próprios instintos, bem como em relação ao mundo exterior. Ferenczi falou de uma primeira onipotência ilimitada que persiste enquanto não existe concepção dos objetos e limitada depois pela experiência da excitação sem controle e com movimentos incoordenados. Quando esses movimentos são percebidos como sendo sinal que exige mudança da situação, a criança pode experimentar esta série de eventos como uma "onipotência de movimentos." Quando certas experiências a obrigam à renúncia da crença em sua onipotência, a criança considera onipotente o adulto que já é considerado independente, e tenta através da introjeção, partilhar desta onipotência. O êxtase religioso, o patriotismo caracterizam-se pela participação do ego em algo inatingivelmente alto. São muitos os fenômenos sociais que se enraízam na promessa feita pelos "onipotentes" de que os impotentes terão participação terão participação passiva, desde que cumpram certas regras. Quando, por um processo regressivo, o narcisismo reaparece no adulto e este substitui o objecto sexual exterior pelo próprio corpo, trata-se de uma perversão, por outras palavras, é um comportamento pelo qual um individuo trata o próprio corpo da mesma maneira como se trata habitualmente o corpo de uma pessoa amada. Ser apaixonado por si mesmo, define-se assim o narcisismo, segundo o mito grego do jovem Narciso. O narcisismo não desaparece nunca, é recalcado, no homem normal. Corresponderia, no percurso do desenvolvimento individual, a um estádio intermediário entre o autoerotismo e a escolha de objecto. O investimento ulterior do objecto pela pulsão sexual, resultaria num deslocamento do Eu como objecto, dirigindo-se este a um objecto externo. Dado isto, Freud postula a existência simultânea e incisiva de uma oposição entre a libido do ego e a libido do objeto, o que o levou a considerar a hipótese de um movimento pendular entre as duas forças, de tal modo que se uma perde a outra ganha. Este equilíbrio desejado, se desequilibrado, leva, segundo a visão psicanalítica, a uma canalização excessiva de energia para um dos lados, ou seja, um investimento no Eu ou no Objecto, propiciando patologias futuras, pois nada aparece nas distorções patológicas que não repita um estado psíquico anterior, geralmente necessário ao desenvolvimento do individuo. O deslocamento do Eu para o objecto externo é entendido como um investimento aos objectos, porém a libido pode-se separar do objecto e retornar ao Eu. A própria libido normal pode regressar ao Eu! O sono representa esse estádio, em que a libido se desliga dos objetos e regressa ao Eu, e reproduz o estado perfeitamente feliz de narcisismo absoluto, que era o nosso estado na vida intrauterina. O estudo de Freud sobre o narcisismo, foi um grande passo no desenvolvimento da segunda tópica, ou seja, do modelo estrutural (ego, super-ego e id) da mente. Foi então retomada a questão da localização do narcisismo primário, que até aqui era contemporâneo da constituição do Ego, e que foi situado como o primeiro estado da vida – anterior, portanto, à constituição do Ego. Narcisismo e o Homossexualismo: A maior parte dos homossexuais não só apresenta amor edipiano pela mãe, tal qual os neuróticos, mas também, a intensidade da fixação materna é ainda mais acentuada. Há casos em que a afeição pela mãe é inconsciente, mas exposta com toda franqueza. Em grande número de homossexuais masculinos a identificação decisiva com a mãe fez-se com o aspecto de 'identificação com o agressor', isso ocorre nos meninos que temeram muito as mães. Mulheres homossexuais ativas que depois de se terem identificado com o pai, escolhem para objetos amorosos moças que representam, idealmente, a sua própria pessoa; comportam-se, então, com elas como desejariam ter sido tratadas pelo pai.
BIBLIOGRAFIA: BLEICHMAR, H. (1987) - O Narcisismo. Estudo sobre a enunciação e a gramática do inconsciente, Porto Alegre, Artes Médicas.
BLEICHMAR, C.; BLEICHMAR, N. (1992) – A psicanálise depois de Freud – Teoria e Clínica, Porto Alegre, Artmed Editora.
FREUD, S. – Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914), Rio de Janeiro, Imago, 1969.
FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

domingo, 31 de outubro de 2010

Las piedras, como el alma, nunca mueren



A pedra é criatura
perfeita
igual a si mesma
vigia das suas fronteiras
exatamente repleta
do seu senso de pedra
com aroma que nada recorda
não assusta nada nem desperta o desejo
sua ardência e frieza
são justas e dignas
me acabrunha o remorso
quando a tomo nas mãos
e um falso calor
atravessa o seu corpo sublime
- não se domam as Pedras
até o fim elas nos fitam
com um olho sereno e muito claro.

(... Não se domam as pedras - Zbigniew Herbert)

"La eternidad” de las piedras – desde el punto de vista humano- parece ser uno de los orígenes de la costumbre judía de poner pequeñas piedras sobre las tumbas de los muertos. Por una parte, estas pequeñas piedras testifican la presencia del deudo. Por otra, simbolizan la memoria permanente del linaje y, no menos importante, la eternidad del alma –a través de ese linaje e incluso más allá. En este sentido, la duración de las piedras se contrapone a la brevedad de las flores, utilizadas en los ritos funerarios de otras culturas: el cuerpo se corrompe rápidamente, como se marchitan las flores, pero las piedras, como el alma, nunca mueren."(Gerardo Beltrán - Profesor de la Universidad de Varsovia)

Ψ JOSÉ ANGELO GAIARSA - 1920/ 2010


Ψ CONTATO MESMO? SÓ PELE COM PELE!
 
(...) como já disse, com palavras apenas o contato é mínimo. Com o olhar, ele aumenta bastante. Mas o contato real se faz pele com pele (penso cá comigo: com-tato só pode ser feito pelo tato)


(...) então me dê um abraço de despedida e sinta seu coração bater junto ao meu... só isso, e silêncio. 

- Morreu aos 90 anos com uma longa e produtiva vida. Foi um ícone do pensamento libertário dos anos 60 e 70. Era muito presente na televisão e tornou-se figura conhecida por suas ideias ousadas, abertas em relação à família, ao amor e ao sexo.
- Foi pioneiro na introdução das ideias de Willhen Reich no Brasil. Como se sabe, esse dissidente da psicanálise levou ao limite a reflexão sobre o corpo, o orgasmo, o ser humano como ser sexuado. Não é exagero dizer que morreu jovem. Alguns privilegiados enfrentam o inevitável declínio biológico com frescor de alma. Gaiarsa era desses.
 
- Formado pela Faculdade de Medicina da USP (1946). Em 2006, quando fez 50 anos de atividade profissional, lançou a obra comemorativa Meio século de psicoterapia verbal e corporal, (ágora); publicou ainda: Amores perfeitos; A cartilha da nova mãe; Couraça muscular do caráter; Educação familiar e escolar para o terceiro milênio; O espelho mágico; A família de que se fala e a família de que se sofre; Meio século de psicoterapia verbal e corporal; Minha querida mamãe; Organização das posições e movimentos corporais; Poder e prazer; Sexo, Reich e eu; Sexo: tudo que ninguém fala sobre o tema; Sobre uma escola para o novo homem; Tratado geral sobre a fofoca; As vozes da consciência; O olhar; Formando agentes de transformação social; e Lições de amor.

... Nasci em 1920 e tive a sorte – e o azar! - de viver quase todo o século XX, com sua centena de conflitos armados, suas duas guerras quase mundiais, a maior crise econômica já acontecida (1924-30), suas quatro ditaduras maiores (Hitler, Mussolini, Stalin, Mao-Tsé), três revoluções maiores (nazi-fascismo e os dois comunismos - o russo e o chinês), a explosão populacional, o nascimento do rádio, de Hollywood, da aviação, do automóvel, da teoria (e da bomba) atômica, do motor a jato, do Radar, da Penicilina, da guerra fria, da “janela para o Mundo” (a TV), dos primeiros passos – digo, foguetes – em direção ao espaço sideral, do terrorismo mundial.
- A Psicologia ignora esta verdade central: o que eu menos sei de mim (minha aparência, minhas caras e gestos…) é tudo o que os outros vêm de mim. A imagem que faço de mim em meu íntimo, tem pouco e nada a ver com minhas expressões faciais, corporais, vocais (que o outro está percebendo o tempo todo).
... porque o que eu via nas pessoas não casava bem com o que elas diziam e a convenção universal era que as palavras eram as verdades sinceras e realista (imaginem!) – e que as caras e modos eram impressão minha, impressão falsa, moldadas pelos meu desejos e temores secretos. Isto é, a mentira não estava nas expressões corporais dos outros, mas nos meus enigmáticos desejos e temores inconscientes!

- Cada vez eu compreendia melhor meu medo (minha angústia, minha ansiedade crônica). Eu não conseguia me iludir tão bem quanto a maioria das pessoas (meu olhar não deixava!) e aos poucos ia descobrindo todas as falsidades do mundo próximo e todos os perigos e ameaças reais do grande mundo que era meu ecossistema. Meu medo neurótico era muito mais verdadeiro do que minha sabedoria de pessoa normal, de cidadão bem adaptado - até bem sucedido!

- Na verdade, minha ansiedade neurótica era o medo mais do que justificado sentido pelo meu animal saudável. Ele sentia, bem melhor do que eu, o quanto vivíamos (eu e ele!) em um mundo perigoso, agressivo, explorador e implacável. Sobretudo, um mundo falso...

Fonte: Doutor Gaiarsa
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

Ψ no suicídio as esperanças tornaram-se ilusórias...


  DEPRESSÃO E MANIA 
*As experiências que precipitam as depressões representam ou perda de autoestima, ou perda de provisões que, na expectativa do paciente, lhe aumentariam a autoestima.
*Pessoas normais que sofrem experiências como fracassos, perda de prestígio, perda de dinheiro, estado de remorso, decepção amorosa, morte de ente querido, também experimentam a  perda da autoestima.
*Os pacientes que reagem a decepções amorosas com depressões severas são sempre pessoas para as quais a experiência do amor terá significado tanto de gratificação sexual quanto gratificação narcísica; com o amor perdem a própria existência. Temem esta perda e em geral, são muito ciumentas.
*Observa-se que a intensidade do ciúme não corresponde em absoluto à intensidade do amor. Os ciumentos não conseguem amar, mas precisam sentirem-se amados.
*Ao perder encontram sem demora substituto do parceiro perdido, bebendo, por exemplo, ou procurando outro parceiro imediatamente, esta atitude podendo-lhe aumentar-lhes o ciúme projetivamente; o desejo de achar outro parceiro é projetado e o paciente crê que os parceiros é que estão procurando novo objeto.
*Os pacientes tentam fazer com que as pessoas circundantes lhes restituam a autoestima perdida, é frequente tentarem cativar os seus objetos pela forma característica dos masoquistas, exibindo a sua miséria e acusando outros de serem os causadores da desgraça, exigem e até lhes extorquem afeições.
*A atitude propiciatória do neurótico se dirige mais para objetos externos. O paciente deprimido que na aparência, é submisso, na realidade consegue dominar todo o seu ambiente.
*Em uma de suas peças, refere NESTROY (dramaturgo austríaco/ 1801- 1862): "Se não conseguisse aborrecer os outros com a minha melancolia, não a desfrutaria em absoluto".
*Não é nítida a fronteira que separa as depressões neuróticas, com lutas ambivalentes, ligadas às provisões narcísicas, entre os pacientes e os seus objetos, das depressões psicóticas, nas quais o conflito se internalizou.
*Já que as depressões começam com aumento das necessidades narcísicas, com sentimento de que "ninguém me ama", seria de esperar que o paciente sinta que todos o odeiam.
*Embora de fato, ocorram delírios desta ordem, o sentimento de ser universalmente detestado vê-se com mais frequência nos casos de transição para os delírios persecutórios.
*O paciente deprimido não pode amar a si mesmo, como não pode amar o objeto externo, é tão ambivalente para consigo mesmo quanto para os objetos. Relativamente ao seu próprio ego, é o ódio que fala mais alto, tendem a sentir que não são tão odiados quanto deveriam ser enquanto a supervalorização narcísica primária do ego permanece oculta.
*É na análise que se revela o paciente deprimido, muitas vezes, com arrogância considerável, mostrando sua hostilidade em relação aos objetos que o frustram.
 *A auto agressão mostra-se sob forma de sentimento de culpa, de discórdia entre o EGO e o SUPEREGO.
*Foi pelo estudo da depressão que se reconheceu pela primeira vez a existência da instância psíquica que se conhece pelo nome de SUPEREGO.
*A efetividade destes só se faz evidente quando conflita com o EGO, isso ocorre em grau extremo nas depressões.
*É característica da depressão (em especial, da depressão psicótica) a circunstância de que falham as tentativas de restabelecer o equilíbrio narcísico perdido mediante a introjeção dos objetos.
*A introjeção, pela sua índole sádica, é percebida como perigo ou culpa, e as lutas originalmente travadas com o objeto externo prosseguem dentro do "estômago" do paciente, com o objeto introjetado.
*O fato de já estar presente no superego outro objeto introjetado, envolvendo-se na luta, vem complicar o quadro. A pessoa deprimida, após a introjeção do objeto, não experimenta raiva alguma do tipo "Quero matá-lo" (matar-me), e sim, o sentimento "Mereço ser morto".
*Em regra, é o SUPEREGO que se volta contra o EGO com a mesma fúria que este EGO já terá usado em sua luta com o objeto. O EGO, por sua vez, enfrenta este SUPEREGO tal qual já enfrentou o objeto. Daí resulta que a luta SUJEITO versus INTROJETO se complica de dois modos: no primeiro plano, está a luta SUPEREGO versus EGO mais INTROJETO; mas o EGO, na sua ambivalência relativamente ao SUPEREGO, transforma-a em luta de EGO versus SUPEREGO mais INTROJETO.

LUTO E DEPRESSÃO
*FREUD comparou a depressão ao fenômeno de luto, que é normal e afim . 

*Quando uma criança perde um objeto, os desejos libidinais, já não mais ligados àquele, inundam-na e são capazes de criar pânico.
*Na saudade dos mortos, o adulto aprendeu a controlar esta inundação pelo retardamento do processo afrouxador necessário.
*O vínculo com o objeto perdido é representado por centenas de recordações separadas; a dissolução do vínculo para cada uma delas realiza-se separadamente, isso levando tempo. 
*FREUD chamou este processo "trabalho do luto" cuja execução constitui encargo difícil e desagradável, que muita gente tenta retardar apegando-se à ilusão de que o ente perdido ainda vive, prolongando o trabalho necessário. A falta aparente de emoção na pessoa em luto pode resultar de identificação com o morto.
*É frequente observar numa ou noutra particularidade, a semelhança com o objeto perdido. O luto complica-se ainda mais, faz-se até patológico, quando a relação de quem sobrevive é ambivalente, caso em que a introjeção adquire significado sádico; a incorporação nesta ocorrência, representa tentativa tanto de conservar o objeto amado quanto de destruir o objeto odiado.
*Um caso de morte quase sempre mobiliza a ambivalência. A morte desejada de alguém, será percebida como realização destes desejos. A morte de outros pode gerar sentimentos de alegria pelo fato de não nos ter atingido.
*Pessoas narcisicamente orientadas, durante o penoso estado do luto tendem, inconscientemente, a recriminar o morto por lhe ter causado esta situação dolorosa. São reações sentimentos de culpa e remorso, mesmo nos rituais mortuários normais, nunca faltam sintomas de remorso.
*A pessoa muito triste precisa de consolo , ela retira-se dos objetos e faz-se narcisista pela incorporação do objeto que não satisfaz, e depois que o introjeta, continua no nível intrapsíquico a luta pelo restabelecimento da autoestima.
*Em determinadas condições, a necessidade narcísica e os conflitos que giram em volta da introjeção, na pessoa enlutada ou triste, serão mais intensos do que de costume.
*Se o objeto perdido não houver sido amado em nível amadurecido, mas usado como doador de provisões narcísicas (aumento das necessidades narcísicas); ou quando a relação tiver sido ambivalente (acréscimo da ambivalência);
*Portanto, pode-se afirmar que a depressão é uma perda da autoestima; ou colapso completo de toda autoestima, ou colapso parcial, como advertência do colapso total.
*O paciente deprimido queixa-se de que não vale nada e procede como se houvesse perdido o seu ego; concretamente, perdeu um objeto, de modo que ego e objeto são de alguma forma equiparados. O sadismo que, no passado, se referia ao objeto, só terá, voltado contra o ego.

SUICÍDIO
*A forte tendência para o suicídio que se vê no paciente deprimido reflete a intensidade da luta na tentativa de apaziguar o SUPEREGO pela submissão, o EGO calculou errado: O perdão pretendido não se pode obter porque a parte adulada da personalidade se fez, mediante a regressão, desatinadamente cruel, perdeu a capacidade de perdoar.

*Examinando do ponto de vista do superego, o suicídio do paciente deprimido é uma virada do sadismo contra a própria pessoa;
*O suicídio depressivo comprova a tese de que ninguém se mata sem ter pretendido matar outrem, é frequente exprimir a ideia passiva de renúncia a todo combate ativo; a perda da autoestima é tão completa que se abandona qualquer esperança de recuperá-la. "O EGO vê-se abandonado pelo SUPEREGO e deixa-se morrer".
*Desejar viver significa, sentir certa autoestima, sentir-se sustentado pelas forças do protetoras do superego.
*Há outros atos suicidas de caráter muito mais ativo, dando a impressão de tentativas desesperadas no sentido de conseguir, a todo custo, a cassação da pressão do superego.
*São os atos mais extremos de submissão facilitadora ao castigo e à crueldade do superego; ao mesmo tempo, também constituem os atos mais extremos de rebeldia, isto é, o assassinato - o assassinato dos objetos originais, cuja incorporação terá criado o superego.
*Os atos autodestrutivos que ocorrem durante os estados melancólicos e que se praticam como autopunição, como expressão de certos delírios ou sem racionalização alguma, tem sido considerados "suicídios parciais", a expressão é de todo correta na medida em que os mecanismos inconscientes subjacentes sejam idênticos ao do suicídio.
*Há vezes em que, por motivos ignorados, as esperanças do ego parecem não haver sido inteiramente vãs. Uma simples modificação de catexia liberta ao ego das forças terríveis que existem dentro dele mesmo. As esperanças que são ilusórias, no caso do suicídio.

MANIA
*Agora veremos o lado MANÍACO dos fenômenos MANÍACO-DEPRESSIVOS. 

*Pode-se dizer que um acréscimo enorme da autoestima constitui o centro de todos os fenômenos maníacos.
*Há um acréscimo de autoestima e decréscimo da consciência. O paciente está ávido de objetos novos, bloqueios ruíram, os impulsos liberados fluem servindo-se de qualquer descarga disponível.
*A vida, torna-se amável, a onipotência narcísica primária é recuperada e a vida é sentida como incrivelmente intensificada.
*Segundo FREUD, no estado maníaco, cessa a diferença entre o EGO e o SUPEREGO.
*Na melancolia o ego está de todo impotente, onipotente está o superego.
*Na mania, o ânimo folgazão, é visto como sinal de uma poupança do dispêndio psíquico. O ego conseguiu liberar-se da pressão do superego, encerrou o seu conflito com a "sombra" do objeto perdido e "comemora" o acontecimento.
*O paciente maníaco-depressivo é ambivalente em relação ao seu próprio ego. A mania traz à tona o seu extremo autoamor e o triunfo "agora sou novamente poderoso".
*É certo que a pressão depressiva chegou ao final e aparece o caráter triunfante da mania libertando toda a energia até aqui contida.
* Os impulsos são de índole oral visando a incorporação de toda a gente. Aumenta o "metabolismo mental" (Abrahan), o paciente tem fome de objetos novos, mas também os abandona sem remorso algum.
*Todas as sociedades tem seus "festejos", ocasiões em que, se anulam as proibições do superego, onde as tendências represadas à rebeldia sejam "canalizadas", acontece uma descarga dos desejos hostis sem prejuízo ás instituições vigentes. A tragédia é seguida pela sátira ao culto divino sério, (a feira alegre em frente à igreja).
*O exagero das expressões maníacas não dá a impressão de liberdade autêntica e o paciente sofre na mania pelos mesmos complexos por que sofria na depressão.
*Aplica o mecanismo de defesa da negação pela supercompensação. A índole espasmódica que se vê nas manifestações da mania deve-se ao fato de estas serem do tipo da formação reativa, de servirem a fim de negar atitudes opostas.
*Ocorre, que a liberação é fictícia: repetem-se simulações que a criança faz na sua luta contra choques narcísicos, utilizando os mecanismos primitivos de defesa da negação. Utilizam da projeção quando acham que são amados por toda a gente.
*Em uma espécie espasmódica de protesto, descarregam-se impulsos estressantes, sensuais, ternos  "não preciso mais de controle algum", a razão vem abaixo com o superego. Um ego razoável volta a ser esmagado, desta vez, não por um superego que pune, e sim pelo abandono completo da razão que limita;
*Na mania, o que ocorre é o que teme os neuróticos, a sua própria excitação (o colapso da organização do ego), resultando da descarga descontrolada dos impulsos instintivos.
*Os pacientes deprimidos não conseguem amar porque sempre odeiam quando amam.

*A ambivalência é a característica fundamental da vida psíquica dos deprimidos, muito maior do que na neurose obsessiva.
*O sadismo com que o deprimido se ataca nasce do fato de se haver voltado para dentro um sadismo originalmente dirigido para fora. As quantidades de amor e ódio coexistem e se aproximam muito.

*Abraham relatou o fundamento pré-genital desta ambivalência e disse que o paciente é tão ambivalente para consigo quanto para com os outros e o erotismo oral está muito aumentado.
*Freud refere em LUTO e MELANCOLIA que os deprimidos, perdido o objeto amado, procedem como se tivessem perdido o seu ego; os estados depressivos provam a existência de um superego e que lutas entre o superego e o ego, depois da introjeção, substituem as lutas que se travam, originalmente, entre o ego e o seu objeto ambivalente amado.

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA NOS TRANSTORNOS MANÍACOS-DEPRESSIVOS

*Difere muito dos casos de depressões neuróticas para os de psicose maníaco-depressiva a perspectiva terapêutica da psicanálise.

 *Quanto à depressão neurótica, os casos mais brandos não necessitam tratamento especial; solucionado os conflitos infantis básicos, no decurso da análise da neurose principal, solucionam-se os sentimentos neuróticos da inferioridade, produzindo-se harmonia relativa com o superego.
*Casos mais severos, em que a depressão domina o quadro clínico, apresentam as mesmas dificuldades que as neuroses obsessivas, visto que se baseiam em fixação pré-genital semelhante.
*Quanto mais "internalizados" sejam os processos patogênicos, mais difícil será estabelecer o contato transferencial necessário à análise.

*Nos estados narcísicos, não tem o analista outro recurso senão utilizar os restos não narcísicos da personalidade, tentando (tanto quanto baste, para iniciar o trabalho analítico) aumentar as relações objetais do paciente.
Bibliografia: FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses - Livraria Atheneu - RJ/ SP - 1981

Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

domingo, 17 de outubro de 2010

Ψ Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo - Jung

(pintura rupestre, Kogul, Museu Arqueológico, Madri)

DEFINIÇÃO DE INCONSCIENTE COLETIVO: Refere Jung: "Certamente nenhum dos meus conceitos encontrou tanta incompreensão como a ideia de INCONSCIENTE COLETIVO".

- Salienta ainda que o mérito da observação de que os arquétipos existem não pertence a ele e sim a outros pensadores como PLATÃO, que fala de uma "ideia preexistente e supraordenada" aos fenômenos em geral. Outros como BASTIAN, evidenciam a ocorrência de certas ideias "primordiais e arcaicas"

... DÜKHEIM, HUBERT e MAUSS falam de "categorias próprias da fantasia" e ainda HERMAN USENER que reconhecem "a pré-formação inconsciente na figura de um pensamento inconsciente".

- O INCONSCIENTE COLETIVO é uma parte da PSIQUE que pode distinguir-se de um INCONSCIENTE PESSOAL por não dever sua existência à experiência pessoal, não sendo assim, uma aquisição pessoal.

 O INCONSCIENTE COLETIVO nunca esteve na CONSCIÊNCIA, não foi adquirido individualmente, e devem sua existência apenas à sua hereditariedade.

- Consiste de formas preexistentes, arquétipos, que só secundariamente podem tornar-se conscientes, conferindo uma forma definida aos conteúdos da consciência, é a parte do inconsciente individual que resulta da experiência ancestral da espécie, ou seja, ele contém material psíquico que não provém de experiência pessoal.

- INCONSCIENTE PESSOAL: Consiste de COMPLEXOS.

- INCONSCIENTE COLETIVO: Constituído de ARQUÉTIPOS.

- CONCEITO DE ARQUÉTIPO: O conteúdo psíquico do Inconsciente Coletivo são os Arquétipos, que são uma forma de pensamento universal com carga afetiva, que é herdada;
 
Portanto, pode-se afirmar que é a parte herdada da PSIQUE; que são padrões de estruturação do desempenho psicológico ligados ao INSTINTO;

- Arquétipo, significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. Eles são as tendências estruturais invisíveis dos símbolos.

- Os arquétipos são percebidos em comportamentos externos, especialmente aqueles que se aglomeram em torno de experiências básicas e universais da vida, tais como nascimento, casamento, maternidade, morte e separação.

- Também se aderem à estrutura da própria psique humana e são observáveis na relação com a vida interior ou psíquica, revelando-se por meio de figuras tais como, PERSONA, SOMBRA, ANIMA.

- Jung deduz que as "imagens primordiais", um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações.

SIGNIFICADO PSICOLÓGICO DO INCONSCIENTE COLETIVO - "Nossa Psicologia Médica que se desenvolveu através da prática profissional insiste na natureza pessoal da psique".

 - Jung referia-se principalmente à FREUD e ADLER que falam de uma psicologia da pessoa e seus fatores etiológicos que são considerados quase sempre como pessoais por sua natureza.

 - No entanto, esta psicologia se baseia em certos fatores biológicos universais, por exemplo, o INSTINTO SEXUAL ou a exigência de auto-afirmação e de modo algum apenas em qualidades pessoais.

- A Psicologia da Pessoa é forçada a isso, uma vez que pretende ser uma ciência explicativa. Nenhuma dessas concepções nega os instintos, que são comuns aos animais e aos homens, nem a influência que exercem sobre a psicologia pessoal.

- Os instintos são, fatores impessoais, universalmente infundidos e hereditários, de caráter mobilizador, que muitas vezes se encontram tão afastados do limiar da consciência dos mesmos.

- Por isso segundo Jung, eles são analogias rigorosas dos arquétipos, tão rigorosas que há boas razões para supormos que os arquétipos sejam imagens inconscientes dos próprios instintos (modelo básico do comportamento instintivo).

- A hipótese do inconsciente coletivo é algo tão ousado como a suposição de que existem instintos.

- Os arquétipos são percebidos em comportamentos externos, especialmente aqueles que se aglomeram em torno de experiências básicas e universais da vida, tais como nascimento, casamento, maternidade, morte e separação.

- Também se aderem à estrutura da própria psique humana e são observáveis na relação com a vida interior ou psíquica, revelando-se por meio de figuras tais como ANIMA, PERSONA, SOMBRA.

 - Os arquétipos da Morte, do Herói, Grande Mãe, do Velho Sábio, são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais existentes no inconsciente coletivo.

- O núcleo de um COMPLEXO é um arquétipo que atrai experiências relacionadas ao seu tema. Ele poderá, então, tornar-se consciente por meio destas experiências associadas.

 - Os arquétipos da Morte, do Herói, Grande Mãe, do Velho Sábio, são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais existentes no inconsciente coletivo.

- Mas, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e se revelar apenas através de imagens simbólicas.

- A sua origem não é conhecida, eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo, mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por "fecundações cruzadas" resultantes da migração.

- Os arquétipos são a principal origem da ligação entre a Física e a Psicologia, pois é por meio deles que os fenômenos psíquicos estudados pela PSICOLOGIA ANALÍTICA se manifestam, frequentemente violando as leis físicas da ordem temporal e espacial.

- O estudo interdisciplinar destas estruturas imateriais e seus fenômenos teve origem com Jung e *Pauli, na primeira metade do século XX. (*Wolfgang Ernst Pauli - (1900 / 1958),  Físico Austríaco, um dos pioneiros da física quântica. Em 1945, nomeado por EINSTEIN, recebeu o PRÊMIO NOBEL DE FÍSICA por sua descoberta de uma nova lei da natureza, o princípio de exclusão ou "PRINCÍPIO DE PAULI ".

Referência Bibliográfica: JUNG, Carl Gustav - "Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo"
(FatimaVieira - Psicóloga Clínica)

Ψ Nós os Neuróticos e os Nossos Mecanismos de Defesa

CLASSIFICAÇÃO DAS DEFESAS DO EGO -  *DEFESAS BEM SUCEDIDAS geram cessação daquilo que se rejeita;  e *DEFESAS INEFICAZES que exigem repetição do processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção dos impulsos rejeitados.

*SUBLIMAÇÃO: É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os impulsos libidinais para uma postura socialmente útil e aceitável.

*As defesas bem sucedidas podem colocar-se sob o título de sublimação, vários mecanismos podem usar-se nas defesas bem sucedidas; exemplo: a transformação da passividade em atividade; o rodeio em volta do assunto, a inversão de certo objetivo no objetivo oposto. 


*Caracteriza-se a sublimação por inibição do objetivo; dessexualização; absorção completa de um instinto nas respectivas sequelas; alteração dentro do ego. É possível ver precursores das sublimações em certas brincadeiras infantis, nas quais os desejos sexuais se satisfazem por uma forma “dessexualizada” em seguida a certa distorção da finalidade ou do objeto; e as identificações também são decisivas neste tipo de brincadeiras.

*Varia muito a extensão da divisão do objetivo na sublimação. Há casos em que a diversão se limita a inibição do objetivo; a pessoa que haja feito a sublimação faz, precisamente, aquilo que o seu instinto exige que faça, mas isso depois que o instinto se dessexualize e se subordine à organização do ego.
 

*DEFESAS PATOLÓGICAS: NEGAÇÃO - A tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio sentimento de dor.

*Nas crianças, é muito comum a negação de realidades desagradáveis, negação que realiza desejos e que simplesmente exprime a efetividade do princípio do prazer.

*A capacidade de negar pares desagradáveis da realidade é a contrapartida da “realização alucinatória dos desejos”. 


*Anna Freud chamou este tipo de recusa do reconhecimento do desprazer em geral “pré-estádios da defesa”. 

*FREUD explicou que a negação talvez represente compromisso entre a conscientização dos dados que a percepção fornece e a tendência a negar. Quem diz "felizmente, faz tempo que não tenho dor de cabeça", antes que ela comece, está querendo dizer, "sinto que a dor de cabeça está vindo, mas por enquanto ainda posso negá-la".

 *As experiências dolorosas e as recordações delas, obrigam o organismo a abandonar os processos de realização alucinatória de desejos e a simples negação. Alguma coisa desta "negação na fantasia" subsiste no adulto normal, que, conhecendo uma verdade desagradável é capaz de desfrutar as fantasias ou "sonhos acordados" que negam esta verdade. 

*PROJEÇÃO: Termo utilizado em neurofisiologia e em psicologia para designar a operação pela qual um fato neurológico ou psicológico é deslocado e localizado no exterior, quer passando do centro para a periferia, quer do sujeito para o objeto.

 *No sentido psicanalítico, operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro qualidades, sentimentos, desejos que ele desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma defesa de origem muito arcaica, que vamos encontrar na paranoia, mas também em modos de pensar “normais”, como a superstição.

*O primeiro juízo que o ego faz distingue entre objetos comíveis e não comíveis. A primeira aceitação é engolir, a primeira rejeição é cuspir.


 *A projeção é essencial naquele estádio precoce do desenvolvimento do ego que FREUD denominou o ego prazeroso purificado e em que tudo quanto é prazeroso se experimenta como pertencente ao ego ("uma coisa a engolir-se"), ao passo que tudo que é doloroso se experimenta como sendo não-ego ("uma coisa a cuspir-se").

*As projeções, não se realizam ao acaso, mas se dirigem para algum ponto que lhes corresponde. O paranóico está sensibilizado, para perceber o inconsciente dos outros em todos os casos nos quais esta percepção se pode utilizar na racionalização da sua própria tendência à projeção. Ele sente agudamente o inconsciente de outras pessoas quando por esta forma consegue esquecer o seu próprio inconsciente.


 *Os doentes paranoicos cuja função de ajuizar a realidade se acha severamente transtornada são os que produzem a falsa interpretação projetiva da realidade mais extrema. O mesmo fazem os neuróticos em grau mais atenuado, quando falsificam a compreensão da realidade para atende às suas necessidades inconscientes.

 *INTROJEÇÃO: Originalmente, a ideia de engolir um objeto exprime afirmação e como tal é o protótipo de satisfação instintiva, e não de defesa contra os instintos. No estádio do ego prazeroso purificado, tudo quanto agrada é introjetado. Em última análise, todos os objetivos sexuais derivam de objetos de incorporação.A incorporação é o objetivo mais arcaico dentre os que se dirigem para um objeto. A identificação realizada através da introjeção, é o tipo mais primitivo de relação com os objetos. 

*REPRESSÃO: É uma operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno: idéia, afeto... o recalque seria uma modalidade especial de repressão.

*O melhor exemplo de padrão repressivo é o caso do simples esquecimento de um nome ou de uma intenção. A análise revela que estes se esquecem quando um motivo reprimido lhes resistiu, em geral, pelo fato de associar-se a certa exigência instintiva censurável ou importuna. O esquecimento tendencioso o indivíduo sabe o que foi esquecido, "está na ponta da língua", embora na verdade não o saiba. Há vezes em que certos fatos são lembrados como tais, mas as conexões respectivas, o significado, o valor emocional, são reprimidos.
 

*FORMAÇÃO REATIVA: Muitas atitudes neuróticas são tentativas evidentes de negar ou reprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um perigo instintivo. São atitudes tolhidas e rígidas, que obstam a expressão de impulsos contrários, os quais,de vez em quando, irrompem por diversos modos. O indivíduo que haja construído formações reativas não desenvolve certos mecanismos de defesa de que se sirva ante a ameaça de perigo instintivo; modificou a estrutura de sua personalidade, como se este perigo estivesse sem cessar presente, de maneira que esteja pronto sempre que ocorra.

*Exemplos: o asseio ou o sentimento de ordem do obsessivo compulsivo, que luta, através destes traços caracterológicos, contra as suas exigências instintivas de sujeira e desleixo. A rigidez de tal asseio e o sentimento de ordem, e as irrupções ocasionais de desasseio e desleixo revelam a qualidade reativa destes traços caracterológicos. 


*Há mecanismos de defesa que representam formas intermediárias entre a simples repressão e a formação reativa: A mãe histérica que inconscientemente odeia o filho é capaz de desenvolver afeição aparentemente extrema por ele, a fim de assegurar a repressão de seu ódio.

*As formações reativas são capazes de usar impulsos cujos objetivos se opõem aos objetivos do impulso original. Podem aumentar a força dos impulsos desta ordem tanto melhor quanto serve para manter o impulso original. Exemplo: um indivíduo reativamente heterossexual para rejeitar a homossexualidade, ou vice-versa; reativamente passivo-receptivo para rejeitar a agressividade.


*Nem sempre se reconhece com clareza, na literatura psicanalítica, a diferença fundamental que separa a formação reativa, capaz de conter um impulso original, e a sublimação, na qual o impulso original encontra descarga. O fato resulta, em parte, da contradição na terminologia.

*É o processo psíquico, por meio do qual um impulso indesejável é mantido inconsciente, por uma forte adesão ao seu contrário. Muitas atitudes neuróticas são tentativas de negar ou reprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um perigo instintivo. São atitudes tolhidas rígidas, que obstam a expressão de impulsos contrários, os quais, de vez em quando, irrompem por diversos modos.


*Nas peculiaridades desta ordem, a psicanálise, psicologia “desmascaradora” que é, consegue provar que a atitude oposta original ainda está presente no inconsciente.

*ANULAÇÃO: A formação reativa relaciona-se com a repressão e a anulação com a formação reativa. A anulação é mecanismo que se pode ver, em certos sintomas obsessivos, os quais se compõem de duas ações, sendo a segunda inversão direta da primeira.

 *Assim por exemplo, certo paciente precisa primeiro abrir o registro do gás e depois fechá-lo outra vez. Todos os sintomas que representam expiação incluem-se nesta categoria, visto que ela pela sua índole, anula atos anteriores. A própria ideia de expiação nada mais é do que expressão da crença na possibilidade de anulação mágica. 

*Paradoxalmente, há vezes em que a anulação não consiste em compulsão na fazer o contrário do que se fez antes, mas em compulsão em repetir o mesmíssimo ato.

*O objetivo de repetir (que tem a compulsão) consiste em praticar o mesmo ato, liberto do seu significado inconsciente, ou com o significado inconsciente contrário. Se ocorre por força da efetividade contínua do material reprimido, uma parte do impulso original se insinua outra vez na repetição, a qual visa à expiação, várias repetições talvez sejam necessárias. 

*Um paciente que não tinha religião, que obsessivamente tinha de rezar pela mãe doente veio a criar a compulsão que consistia em bater de leve na boca depois de rezar: era a anulação do sintoma rejeitador, regresso, do desejo rejeitado de que a mãe morresse, significando - "estou tornando a por na boca as palavras da oração"; 

*É frequente falhar a intenção de "anular" porque aquilo que foi rejeitado em certa medida volta nesta mesma medida; "anular" transforma-se em "fazer de novo".

* As falhas do mecanismo de anulação, resultante da invasão da defesa pelos impulsos rejeitados, explica uns tantos fenômenos que são frequentes na neurose obsessiva: o aumento do número de repetições necessárias, porque repetição alguma tranquiliza completamente; algumas formas da compulsão de contar, cuja significação é contar o número de repetições necessárias; a amplitude crescente das seguranças rituais; as dúvidas obsessivas, que por vezes significam dúvida quanto ao êxito da anulação e, por fim, em certos casos a futilidade de todas essas medidas. 

*ISOLAMENTO: Neste caso , o paciente não esqueceu os seus traumas patogênicos, mas perdeu o rastro das respectivas conexões e significado emocional. Há pacientes obsessivos que se distanciam das experiências atemorizadoras de impulsos emocionais para refugiar-se no mundo "isolado"das palavras e conceitos.

* No remoer obsessivo, o material reprimido retorna: ideias filosóficas complicadas, que visam proteger contra impulsos instintivos, passam a ter a mesma considerável importância, sob o ponto de vista emocional, que os impulsos instintivos tem para a pessoa normal. Isolamento que ocorre com muita frequência em nossa cultura é aquele dos componentes sensuais e amorosos da sexualidade. 

*Muitos homens e mulheres não conseguem obter satisfação sexual plena por que só são capazes de gozar e a sensualidade com pessoas pelas quais não sentem amor e até desprezam, "não conseguem desejar quando amam e não conseguem amar quando desejam".
 
*Entre os processos de isolamento, citemos as pausas no decurso do pensamento, fórmulas, rituais, e,de um modo geral, todas as medidas que permitem estabelecer um hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos atos.


*Freud reduz, a tendência para o isolamento a um modo arcaico de defesa contra a pulsão, a interdição de tocar. Nesta perspectiva, o isolamento surge como "… uma supressão da possibilidade de contato, um meio de subtrair uma coisa ao contato; do mesmo modo, quando o neurótico isola uma impressão ou uma atividade por pausa, dá nos simbolicamente a entender que não permitirá que os pensamentos que lhes dizem respeito entrem em contato associativo com outros”.

Referência Bibliográfica: FENICHEL,O., Teoria Psicanalítica das Neuroses.Atheneu.2000
GREENSON,R.R., A Técnica e a Prática da Psicanálise. Imago.RJ. 1981
LAPLANCHE & PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise (2000), Martins Fontes S.P.
CARVALHO, UYRATAN . Psicanálise I . Isbn.RJ.2000
HENRY EY. Manual de Psiquiatria.5º Edição. Masson/Atheneu

Ψ  Fatima Vieira- Psicóloga Clínica

Ψ a histeria é capaz de imitar qualquer doença...

 arch of Hysteria/ Arco da Histeria”, 1993, escultora francesa Louise Bourgeois

O QUE É CONVERSÃO? Todo sintoma neurótico é substituto de uma satisfação instintiva; como a excitação e a satisfação são fenômenos que se exprimem de maneira física, o salto para a esfera física, característico da conversão, não se afigura tão estranho.

 "Os sintomas de conversão não são contudo, meras expressões somáticas de afetos, e, sim, representações muito específicas de pensamentos, que é possível reproduzir da respectiva 'linguagem somática' para a linguagem verbal original".(Ajuriaguerra)

*O problema dos sintomas de conversão pode ser abordado pela comparação com os ataques emocionais, ou ataques de afetos. Estes, ocorrem quando estímulo intenso temporariamente subverte o controle do ego sobre a motilidade e uma síndrome arcaica de descarga substitui atos intencionais (síndromes desta ordem podendo, mais tarde, ser amansadas e usadas pelo ego restabelecido).

*
Os sintomas de conversão também se caracterizam pelo rompimento repentino do controle do ego sobre a motilidade e pelas síndromes de descarga física involuntária.

*Nas síndromes de conversão, a análise mostra onde se originam: são historicamente determinadas por experiências reprimidas do passado individual; representam expressão distorcida de exigências instintivas que foram reprimidas; e o tipo específico da distorção é determinado pelos acontecimentos históricos que criaram a repressão.

*ATAQUES HISTÉRICOS: É nos grandes ataques histéricos, que melhor se demonstra a possibilidade, de retraduzir da sua linguagem somática para a linguagem verbal original os sintomas de conversão; ataques que são expressões pantomímicas de histórias fantásticas que, por vezes, se mostram realmente complicadas. Podemos analisá-los em todos os pormenores, do mesmo modo que analisamos os sonhos; e vemos que usam os mesmos mecanismos de distorção que estes últimos.

*Se forem analisados os "pensamentos latentes do ataque", tal qual se analisam "os pensamentos latentes dos sonhos" a partir de um sonho manifesto, vê-se que eles representam mistura de elementos de fatos esquecidos e de histórias oníricas fantásticas, as quais se terão construídas em torno dos fatos.

*Estes pensamentos são expressões distorcidas do Complexo de Édipo e dos respectivos derivados. Há vezes em que os ataques mostram com toda a clareza que estão substituindo uma gratificação sexual podendo terminar em estados semelhantes ao orgasmo. Freud comparou a perda da consciência que ocorre no auge do ataque à perda momentânea da consciência que se constata no auge do orgasmo.

 *Por outro lado, muitas vezes não estão diretamente ligadas ao contato sexual ou à sedução; pelo contrário, os devaneios giram mais em torno de algum aspecto relacionado com a gravidez e o parto.

*O exemplo clássico nos casos muito bem conhecidos de gravidez histérica e vômitos histéricos, são desta natureza.

 
*Há vezes em que as manifestações dos ataques são muito menos específicas, ocorrendo com aspectos de convulsões (transtornos motores) ou de emoções, disposições de ânimo exagerados ou inteiramente imotivados, na aparência;

*O grito histérico, pode exprimir emoções muito diferentes; há vezes em que o tipo de grito por si só indica a sua natureza: pode ser grito infantil que pede socorro; pode exprimir o desamparo de uma mulher sexualmente atacada.

*O riso que se vê em ataques exprime o triunfo pela realização fantástica de desejos hostis.


*Relacionados com os ataques são aqueles sintomas de conversão que consistem no aparecimento ou desaparecimento patológico das necessidades fisiológicas normais: ataques de fome ou sede, necessidade de defecar ou urinar; falta repentina de apetite ou sede; constipação ou oligúria; e ainda dificuldades respiratórias.


*A fome, a sede, as necessidades excretórias substituem, às vezes, os desejos sexuais. A anorexia , é a negação do desejo sexual. A constipação exprime em certos casos, desejos de gravidez.
 

*CONVERSÕES MONOSSINTOMÁTICAS: A base histórica de todos os sintomas de conversão é, muitas vezes, evidente nas conversões monossintomáticas. Em lugar de uma recordação, uma inervação ocorre que, na realidade, se passara na situação esquecida.
 *A primeira paciente de BREUER, Anna O., ficava com o braço paralítico sempre que inconscientemente, era lembrada dos seus sentimentos para com o pai. A hora em que este morreu, estava à sua cabeceira, com o braço apertado contra a cadeira, junto à cama.

 *É errado chamar os transtornos psicofisiológicos de histerias monossintomáticas, o que com frequência se faz. Assim as neuroses cardíacas são de fato, em muitos casos, histerias monossintomáticas de conversão, ligadas a devaneios inconscientes específicos. Vemos as histerias monossintomáticas demonstrarem muitas vezes, os conceitos ferenczianos de "materialização" e "genitalização" histéricas.

*DORES HISTÉRICAS e IDENTIFICAÇÃO HISTÉRICA:
Os sintomas de conversão são processos contínuos de descarga, que se apresentam em lugar de impulsos inibidos da sexualidade infantil, a que se ligam mediante associações inconscientes.
Um primeiro tipo de dor histérica , diz FREUD, "estava de fato presente na situação em que se deu a repressão". 


*Naqueles casos em que a dor original foi experimentada pelo próprio paciente, a repetição da algia no sintoma de conversão substitui a excitação agradável, que de algum modo se associou; a dor, já agora, é ao mesmo tempo sinal de advertência a que não se ceda àquelas sensações prazerosas.

 *As doenças da infância são frequentemente episódios que impressionam muito no desenvolvimento de conflitos instintivos presentes em certa criança: por vezes, com a índole de satisfação (ganhar mais amor dos pais ou experimentar o corpo de maneira nova); mais comumente, com a índole de ameaças (a doença será percebida como castração ou como punição à masturbação).

 *De um modo geral mantém-se a seguinte formulação: Sempre que um transtorno funcional se haja associado a conflito emocional da infância e sempre que este último tenha sido reprimido, toda alusão posterior quer ao transtorno funcional, quer ao conflito emocional, será capaz de mobilizar ambos os componentes da síndrome inteira; O conflito emocional se transforma na força inconsciente impulsora dos sintomas de conversão. 

 *Num segundo grupo de dor histérica, os sentimentos originais que se imitam nos sintomas de conversão podem, haver sido experimentados não pelo paciente, e, sim, por outra pessoa que ele imita com a produção do seu sintoma. 

*Conforme sabemos, A HISTERIA É CAPAZ DE IMITAR TODA E QUALQUER DOENÇA.

*A IDENTIFICAÇÃO
exprime o desejo de estar no lugar de outra pessoa, o caso mais simples é a identificação histérica é com o "rival afortunado", aquela pessoa que o paciente inveja e cujo lugar gostaria de estar.

- O mecanismo de punição de MIDAS observa-se com frequência em todos os tipos de neuroses; nas neuroses obsessivas ainda maior que nas histerias.

 
*A OBSESSÃO pode exprimir a seguinte ideia: "Terás o que desejaste, mas de um modo, em um grau ou em num momento em que te destruirá."

 *Outro exemplo: certa mulher cuja histeria resulta de seu COMPLEXO DE ÉDIPO, faz identificação não com a rival a mãe, e sim com o pai.

*Quando assume a doença do pai, a histérica mostra que está tentando, em vão, libertar-se dele. A sua histeria imitava a tuberculose que na mocidade, afetara o pai. Ela adotara a mesma profissão do pai e aproximava-se muito do homossexualismo manifesto.
 


*Também existem as "identificações múltiplas", sobretudo nos ataques convulsivos. Uma paciente é capaz de, simultânea ou sequencialmente, representar o papel de várias pessoas com quem se tenha identificado, segundo qualquer dos tipos que descrevemos, as convulsões destes tipos de pacientes constituem, muito comumente, a representação de todo um drama. Clímax de identificações múltiplas mostra-se no caso famoso de "personalidade múltiplas"

*TRANSTORNOS MOTORES HISTÉRICOS: "A paralisia motora é defesa contra a ação", contra atos sexuais infantis que são censuráveis. A paralisia histérica acompanha-se de aumento de tônus, o que representa tanto garantia contra o ato sexual censurável quanto substituto distorcido deste último. É frequente ver "equivalentes masturbatórios" assumirem esta aparência.

*As condições históricas e a facilitação somática, determinam qual é a parte específica da musculatura que será afetada pela paralisia.
 
*O mutismo histérico é caso de paralisia histérica, podendo exprimir hostilidade ou angústia, em relação às pessoas em cuja presença se desenvolve o sintoma; ou podendo exprimir desinteresse geral pelas pessoas com quem haveria possibilidade de conversar.
*FACILITAÇÃO SOMÁTICA: Em todos os sintomas descritos, a catexia total dos impulsos censuráveis parece condensar-se em certa função física definida.
 
 *A escolha da região acometida é assim determinada: Pelas fantasias sexuais inconscientes e erogeneidade correspondente, as fixações dependem de fatores constitucionais e de experiências passadas.

 
*E também são determinadas por fatos puramente físicos, acomete o órgão que já tenha uma fraqueza constitucional ou por uma doença adquirida.

*Quem tiver fixações orais desenvolverá sintomas bucais; O que melhor exprime tendências incorporativas são a boca, o aparelho respiratório, a pele; as fixações anais sintomas anais... as tendências eliminatórias são melhor expressas pelo trato intestinal e também pelo aparelho respiratório.

 
*Há uma "FACILITAÇÃO SOMÁTICA" que opera, em casos denominados "SUPERESTRUTURA HISTÉRICA DE DOENÇAS ORGÂNICAS".

*F44 - TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS: Os transtornos dissociativos ou de conversão se caracterizam por uma perda parcial ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corporais. 

 
*Os diferentes tipos de transtornos dissociativos tendem a desaparecer após algu
mas semanas ou meses, quando sua ocorrência se associou a um acontecimento traumático. A evolução pode igualmente se fazer para transtornos mais crônicos, em particular paralisias e anestesias, quando a ocorrência do transtorno está ligada a dificuldades interpessoais insolúveis. No passado, estes transtornos eram classificados entre diversos tipos de "histeria de conversão".

  *Admite-se que sejam psicogênicos, dado que ocorrem em relação temporal estreita com eventos traumáticos, problemas insolúveis e insuportáveis, ou relações interpessoais difíceis.


 *Os sintomas traduzem a ideia que o sujeito se faz de uma doença física. O exame médico e os exames complementares não permitem colocar em evidência um transtorno físico (em particular neurológico) conhecido. Por outro lado, dispõe-se de argumentos para pensar que a perda de uma função é, neste transtorno, a expressão de um conflito ou de uma necessidade psíquica.

*Os sintomas podem ocorrer em relação temporal estreita com um "stress" psicológico e ocorrer frequentemente de modo brusco. Os transtornos que implicam manifestações dolorosas ou sensações físicas complexas que fazem intervir o sistema nervoso autônomo, são classificados entre os transtornos somatoformes (F45.0).

*INCLUI-SE NESTA CLASSIFICAÇÃO:
histeria, histeria de conversão, reação histérica, psicose histérica; Exclui: simulador [simulação consciente] (Z76.5);
F44.0 - Amnésia dissociativa
F44.1 - Fuga dissociativa
F44.2 - Estupor dissociativo
F44.3 - Estados de transe e de possessão
F44.4 - Transtornos dissociativos do movimento
F44.5 - Convulsões dissociativas
 

F44.6 - Anestesia e perda sensorial dissociativas
F45 - Transtornos Somatoformes

F45.0 - Transtorno de somatização

Referência Bibliográfica: FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses
Psiqweb
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica