domingo, 8 de novembro de 2009

Ψ "O sofrimento é reduzido quando compartilhado com alguém"

Ψ  VIKTOR FRANKL - Psiquiatra Austríaco - 1905/ 1997
Na década de vinte inicia correspondência com Freud e em 1925 estudante de medicina encontra-se pessoalmente com o mestre, não prossegue com a Psicanálise criando a escola de LOGOTERAPIA.


De 1933 à 1936 -  dirige o pavilhão de mulheres suicidas do Hospital Psiquiátrico de Viena. Os nazistas tomam o poder na Áustria. Sabota ordens que recebera de proceder a eutanásia de doentes mentais sob seus cuidados.


1942 - Durante a segunda guerra mundial Frankl e família são deportados para diferentes campos de concentração. No final da guerra ao ser libertado toma conhecimento que sua mulher estava em Bergen-Belsen, onde teria morrido por esgotamento. Ele foi o prisioneiro número 119.104;


1948 - Obtém doutorado em Filosofia com o tema "O Deus Inconsciente".


1955 - Torna-se Professor de Neurologia, Universidade de Viena.


1984 - "Em busca de sentido" escreve: "Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem em prática da melhor forma possível, e então verão que o sucesso vai persegui-los precisamente quando esqueceram de pensar nele."


1970 - Em San Diego/ Califórnia é fundado o primeiro Instituto de Logoterapia do mundo.


Foi nos Estados Unidos onde lecionou em Havard, Dallas e Pittsburgh que atingiu notoriedade mundial a despeito de contrariar as correntes psicanalíticas dominantes.


Como conferencista visitou vários países, passou pelo Brasil em 1984, (Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília).


A obra de Frankl é lida em todas as partes do mundo, "O homem em busca de sentido" é um dos mais procurados. Para melhor compreensão da Logoterapia é indicado "Psicoterapia e humanismo" (1978).


Dr Frankl trouxe para a Psicologia uma proposta revolucionária de compreensão humana ao introduzir uma nova abordagem: o homem que é um ser espiritual, mas de espiritualidade reprimida, deve ser reconhecido como unidade biopsicossocial e espiritual. Supondo a Logoterapia uma dimensão espiritual no homem, a Psicologia toma novos rumos no que se refere à prática clínica, à forma de encarar o homem. Esta mudança de paradigma resulta na humanização da Psicoterapia que antes lidava com "sujeitos", "organismos", "comportamentos", "estímulos e respostas", perdendo de vista a criatura humana que sofre e procura um sentido para a sua vida ou até para o seu sofrimento.


A Logoterapia é a terceira escola Vienense de Psicoterapia o primeiro modelo Analítico - Existencial a propor estratégias clínicas efetivas para a Psicoterapia, sem perder de vista a humanidade do homem.
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

eu sou a deusa menina!

Eu sou a deusa menina
cheiro de flores

Eu sou a deusa menina
do amanhecer

Eu sou a deusa menina
eu sou uma bailarina

Que gira e gira no leste
para crescer

Eu sou a deusa menina
luz da semente




A primavera da vida
e o respirar

Eu estou voando no céu
eu estou brincando em teu eu

E tenho uma espada mágica
para te dar

Oh! deusa! deusa menina
brinca comigo

Dissolve o meu sofrimento
tira a minha dor

Libera minha tristeza
com teus poderes do vento

Revela-me teu mistério
a criação

(iniciação aos mistérios femininos/
as quatro fases da deusa)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"...pois só quem ama tem ouvido capaz de ouvir e entender estrelas"

... Qualquer dia destes os homens vão encontrar Deus... Mas não serão os filósofos, serão os astronautas... 
Os astronautas, esses seres fantásticos, caminhando pelo espaço sideral, fora das cápsulas, como escafandros do céu, em levitação, serão os primeiros habitantes do romântico satélite.
E entre eles, se houver mesmo algum poeta, leremos algum dia o primeiro poema lunático, que a terra há de inspirar... 
Mas a verdade é que, enquanto isto ainda não acontece, a lua continua a musa em atividade. Os poetas sempre foram tidos como homens que vivem "no mundo da lua ".
 E quando alguém tem um ar de abstração e de sonho, é um poeta.
... Quem não se lembra, por exemplo, daqueles versos que acordaram tantas namoradas, enquanto o violão lá fora , pela madrugada, era dedilhado ao luar? "Lua, manda a tua luz prateada despertar a minha amada quero matar meus desejos sufocá-la com meus beijos. . . "
E os grandes poetas não ficaram insensíveis à beleza da rainha da noite, ao seu mistério e aos seus encantos.

 Mesmo com os pés no chão, olham para o alto. E se a lua vai-lhes sendo roubada, restam-lhes as estrelas, aquelas mesmas que Bilac ouvia, recomendando: "Amai, para entendê-las pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas. 
"Eu já a vi simbolizando a própria poesia: "Tudo é trova, a flor, a onda,a nuvem que passa ao léu e a lua, trova redonda, que a noite canta no céu..."
As mais curiosas e lindas imagens ocorreram aos românticos, parnasianos, simbolistas, modernos, líricos de todas as escolas.Para Alberto de Oliveira, o hierático parnasiano, "o luar era um cortinado todo lírios na barra, e em cima estrelas".
Catulo, o nosso Catulo, que enriqueceu a poesia com imagens simples, num típico linguajar sertanejo, diz que: "o céu parecia uma tigela cumo o fundo azu imborcado todo ismartado de novo adonde a lua tão bela ia boiando, amarela cumu uma gema de ovo."
Até o nosso singularíssimo Augusto dos Anjos contribuiria com uma imagem, bem a seu jeito: "Do observatório em que estou situado a lua magra, quando a noite crescevista, através do vidro azul, parece um paralelepípedo quebrado."
Está claro que esta não seria a visão dos românticos ou dos simbolistas. Para Cruz e Souza, ela se transfiguraria: "Ó monja branca dos espaços parece que abre para mim os braços fria, de joelhos, trêmula, rezando."
E Alphonsus de Guimarães, das altas montanhas mineiras, como que completaria a estrofe: "... Parece que se ouve o leve passo da lua pobre morta que passeia nos castelos hieráticos do espaço."
Castro Alves havia de associá-la a lembranças de amor.. E ei-lo declamando: "Entre rendas sutis, surge medrosa a lua plena, qual moreno seio."
Olegário Mariano, outro amoroso, teria impressões semelhantes: "Entre as árvores surge a lua como uma náiade nua mostrando em suaves coleioso torso, os braços os seios."
Seriam infinitas as citações. Antigos ou modernos, os poetas de todas as épocas se enfeitiçaram pela sua beleza.
 Não poucas vezes foi invocada como testemunha de amor. Desde o idílio de Romeu e Julieta, no drama shakespeariano: "Linda! Por esta lua que tem zelos por ti, por este límpido luar, que é menos puro do que teus cabelos que brilha menos do que teu olhar..."
E a réplica, bem feminina de Julieta: "Não jures pela lua que é inconstante!"
Certa vez coloquei como epígrafe de meu livro "A Outra Face", este pensamento: "O poeta em mim, é como aquela face da lua que ninguém vê, voltada sempre para o infinito."
Não faz sentido mais. Hoje os astronautas e os foguetes teleguiados já fotografaram até a " outra face " da lua. Nosso lindo satélite não posa mais de "odalisca", com veuzinho no rosto.
Sinal dos tempos... Aviso de despejo. A lua pertence agora aos seus novos donos. Contentem-se os namorados com o luar, e os poetas, com a saudade.
"Se o cotidiano te parece pobre, não o acuse: acusa-te a ti próprio de não seres bastante poeta para conseguires te apropriar de suas riquezas."
Como quem diz: não desesperes. Colhe o mundo ao teu redor. Aí estão o homem e suas fronteiras. Aí está, portanto, a poesia.
Rejubila-te, enquanto os foguetes sobem. A poesia sobreviverá ao ano 2000 e a todos os tempos. E por isto justamente: porque está dentro de ti e em tudo que te cerca, é que ela é imortal.
A lua dos verdadeiros poetas é a sua poesia, e esta é um satélite onde só eles podem chegar. Mas cujo luar pertence a todos nós...
( J.  G.  de Araujo Jorge - No Mundo da Poesia/ 1969)

dança bela criança!


  imagem: Antônio Manuel Silva
Dança sobre restos de cristais
deste tempo não tão belo
porque sozinha não estás
Dança sobre antigas cinzas
sobre todas as tuas feridas
Dança sobre tua casa,
entre a erva
... o odor do inverno
Dança bela criança,
pequena criança
distorções do tempo
Sózinha não estás
Sobre a fumaça que cobriu
a luz de nossa cidade
e ainda que doa
não a podemos modificar
Dança sobre a dor
que a dança à consumirá
Dança sobre a tua rua que dança
sobre esta casa que dança
se não se pode fazer mais...
Dança sobre a desventura
à luz da lua
sobre o campo e o mar
Dança, é caricia, é pudor
é aprender a voar
Se puderes dançar pelo ar
também as estrelas
poderão abraçar-te
não sigas agarrada as tuas dores
que não sabem dançar
Dança junto a tua vida
que dança...
Dança... Dança... Dança...
(Marilina Ross)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

o que mata um jardim?

                                                       pinturas: van gogh
 "O que mata um jardim não é mesmo alguma ausência nem o abandono... 
   
O que mata um jardim é esse olhar vazio de quem passa indiferente." (Mario Quintana)


CONCERTO PARA CORPO E ALMA

"Compreendi,
então,
que a vida
não é uma sonata
que,
para realizar
a sua beleza,
tem que
ser tocada
até o fim.
Dei-me conta,
ao contrário,
de que a vida
é um álbum de minissonatas.
Cada momento
de beleza
vivido e amado,
por efêmero que seja
é uma experiência
completa que está destinada
à eternidade. Um único
momento de beleza e amor
justifica a vida inteira."
(Rubem Alves)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

obras de arte

ROSALBA NINFA
DELACROIX

MIRO MAINOU
FOGARTY
RUDNITSKAYA

mais obras de arte

RICARDO VIDELA

TARSILA AMARAL

DI CAVALCANTI

TARSILA AMARAL

MARYSIA PORTINARI

obras de arte

"O sonho é a força artística que se projeta em imagens e produz o cenário das formas e figuras."
(Nietzsche)
PABLO PICASSO
TAMARA LEMPICKA SALVADOR DALI
GISELLE GARMASH
EDGAR DEGAS

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

a voz do vento sussurra no meu ouvido...

E então meu amado retorna a mim
Sinto-o vinculado ao meu coração
Eis que devagar se aproxima
Posso até sentir sua vibração
Silencioso, cauteloso
Para em seguida
seguir seu rumo cabelo ao vento
nada poderá detê-lo
Homem,
Posso até afirmar
sem medo de errar
Eu já conheço esses passos...
em algum tempo nossos olhares já dançaram
e por ti já fui tocada,
é uma sensação forte
pois sinto-me vulnerável e atingida
feito um raio de luz
É assim que Deus pensou o amor?
E assim uma experiência divina?
(Fatima Vieira/ 2009)

quer dançar comigo?

"ASSIM É A VIDA TÃO ÓBVIA E SIMPLES
QUE CHEGA A CONFUNDIR
UNS A VIVEM TÃO CONCRETAMENTE FEITO PEDRA
OUTROS FAZEM POEMAS, AMAM, CANTAM E DANÇAM ..."
 (Fatima Vieira - 2001)

 

                                                         

por que eu estarei vivo nos meus filhos...

Aquilo que se acredita, se cumpre o homem é o seu projeto. Ele precisa viver com responsabilidade seus projetos.

Nenhuma escolha é gratuita, na medida em que tomo uma decisão não escolho somente por mim outros dependem de tais escolhas.

No dizer de Sartre, se escolho ser livre outros também o serão,

porém, se escolho ser escravo estarei escravizando a humanidade inteira. O homem está engajado na história e a sua liberdade é a liberdade do outro...

Opta-se sempre e o não optar por nada também é opção.

Enfim, estamos escolhendo sempre até chegarmos a morte que é nossa ferida existencial mais secreta, mas também é preciso morrer... O homem livre em é um ser para a morte.

(Fatima Vieira/ 1985)

o que minha alma ignora, é isso que quero possuir...

"Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?
Não quero a noite senão quando a aurora a faz em ouro e azul se diluir. O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir..."
(Fernando Pessoa)

domingo, 13 de setembro de 2009

hoje não há poemas...

São só letras
Sem significado
sem sentido
sem garra sem emoção
Hoje não há poemas
São só letras soltas
Quebradas
Cansadas
Que não se juntam em palavras
porque nascem já castradas
E estéreis morrem aqui
hoje não há poemas
Só cansaço!
(autor desconhecido)

domingo, 9 de agosto de 2009

Pai

(...) lembrei-me dos meus sentimentos antigos de pai, diante dos meus filhos adormecidos.
Veio-me à mente a imagem de um ninho... 
Bachelard Imaginou que, 'para o pássaro, o ninho é uma cálida e doce morada'. 
É uma casa de vida: continua a envolver o pássaro que sai do ovo.
Para este, o ninho é uma penugem externa antes que a pele nua encontre sua penugem corporal. 
Era isso que eu queria ser. Eu queria ser ninho para os meus filhos pequenos.
Queria que meu corpo fosse um ninho-penugem que os protegesse, um ninho que balança mansamente no galho de uma árvore ao ritmo de uma canção de ninar... 
Que felicidade enche o coração de um pai quando o filho que ele tem no colo se abandona e adormece!
Adormecida, a criança está dizendo: “tudo está bem; não é preciso ter medo“. Deitada adormecida nos braços-ninho do seu pai ela aprende que o universo é um ninho! Não importa que não seja! Não importa que os ninhos estejam todos destinados ao abandono e ao esquecimento! 
A alma não se alimenta de verdades. Ela se alimenta de fantasias. O ninho é uma fantasia eterna.
(...) Aquela cena, a criança adormecida nos braços do pai, nos reconduz à cena de uma criancinha adormecida na estrebaria de Belém! Tudo é paz! 
Desejaríamos que ela, a cena, não terminasse nunca! Que fosse eterna!
E serão os olhos do pai, no espaço que seus braços já não podem conter, que irão marcar os limites do ninho.
A criança se sente segura se, de longe, ela vê que os olhos do seu pai a protegem. Olhos também são colos. Olhos também são ninhos.
O que a criança deseja não é liberdade. O que ela deseja é excursionar, explorar o espaço desconhecido, desde que seja fácil voltar. 
Tela de Van Gogh. É um jardim. No lado direito do jardim, mãe e criança que acabam de chegar. Ao lado esquerdo o pai, jardineiro, agachado com os braços estendidos na direção do filho.
 É preciso que o pai esconda o seu tamanho, que ele esteja agachado para que seus olhos e os olhos do seu filho se contemplem no mesmo nível. A cena é como um acorde suspenso, que pede uma resolução.
A volta ao ninho é o momento que não se deseja.
Porque a vida não está no ninho, está no vôo. Os ninhos se transformam em gaiolas. É certo que o filho largará a mão da mãe e virá correndo para o pai...
 O tempo passa. Os pássaros tímidos aprendem a voar sem medo. Já não necessitam do olhar tranquilizador do pai.
 É a adolescência. Ser pai de um adolescente nada tem a ver com ser pai de uma criança. Pobre do pai que continua a estender os braços para o filho adolescente, como na tela de Van Gogh! Seus braços ficarão vazios.
 Como se envergonharia um adolescente se seu pai fizesse isso, na presença dos seus companheiros! 
É o horror de que os pássaros companheiros de vôo o vejam como um pássaro que gosta de ninho! Adolescente não quer ninho. Adolescente quer asas.
Os ninhos, agora, só servem como pontos de partida para vôos em todas as direções. Liberdade, voar, voar... 
E a fantasia pinta a cena final de felicidade que o pintor não pode pintar: o pai pegando o filho no colo, os dois rindo de felicidade...
Aos pais só resta contemplar, impotentes, o vôo dos filhos, sabendo que eles mesmos não podem ir. Nos espaços por onde seus filhos voam os ninhos são proibidos. Mas eles terão de voltar ao ninho, mesmo contra a vontade.
E o pai se tranquiliza e pode finalmente dormir ao ouvir, de madrugada, o barulho da chave na porta: 'Ele voltou...' Mas não é. 
Quem é pai tem o coração fora de lugar, coração que caminha, para sempre, por caminhos fora do seu próprio corpo. Caminha, clandestino, no corpo do filho.
Dito pela Adélia: 'Pior inferno é ver um filho sofrer sem poder ficar no lugar dele'
Dito pelo Vinícius, escrevendo ao filho: 'Eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua...
É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de uma criança.
 É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de um pai.
 O efêmero e o eterno abraçados num único momento! 
'Conter o infinito na palma da sua mão e a eternidade em uma hora': o pai que tem o seu filho adormecido nos seus braços é um poeta! 
Essas palavras do poeta William Blake bem que poderiam ser suas.
 Um homem que guarda memórias de ninho na sua alma tem de ser um homem bom. Uma criança que guarda memórias de um ninho em sua alma tem de ser calma! 
Mas logo o pequeno pássaro começará a ensaiar seus vôos incertos. 
Agora não serão mais os braços do pai, arredondados num abraço, que irão definir o espaço do ninho.
 Os braços do pai terão de se abrir para que o ninho fique maior. 
Mas chega o momento quando os filhos partem para não mais voltar. 
Através da minha janela vejo um ninho que rolinhas construíram nas folhas de uma palmeira. A pombinha está chocando seus ovos.
Vejo sua cabecinha aparecendo fora do ninho. Mas numa outra folha da mesma palmeira há um outro ninho, abandonado.
 Esse é o destino dos ninhos, de todos os ninhos: o abandono.
 ... esse é o destino dos pais: a solidão. Não é solidão de abandono. E nem a solidão de ficar sozinho.
 É a solidão de ninho que não é mais ninho. E está certo. Os ninhos deixam de ser ninhos porque outros ninhos vão ser construídos. 
Os filhos partem para construir seus próprios ninhos e é a esses ninhos que eles deverão retornar.
 Assim é na natureza. Assim é com os bichos. Deveria ser conosco também.
 Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho.
 Eu mesmo sempre os empurrei para fora. Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas. 
Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira...
Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo..."
(Rubem Alves)

domingo, 26 de julho de 2009

... é a vida real

imagem: Joel de Oliveira
 Não é o que se pode chamar de uma história original
Mas não importa: é a vida real!
Acordar de madrugada vindo de outro planeta
Sentir-se só;
Uma criança num berço de ouro
E a ferrugem ao seu redor
Os muros da cidade falavam alto demais
Coisas que ela não podia mudar nem suportar
Ela quis voltar para casa
Cansou da violência que ninguém mais via
Viu milhões de fotografias e achou todas iguais
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
Nunca mais!!!
Ofereci abrigo, um lugar para ficar
Ela me olhou como se soubesse desde o início
Que eu também não era dali
E quando sorriu ficou ainda mais bonita
Tinha a força de quem sabe que a hora certa vai chegar
Lágrimas no sorriso, mãe e filha, chuva e sol
Segredos que não podia guardar, e não conseguia contar
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!
(...)
Ainda ando pelas mesmas ruas
A cidade cresce e tudo fica cada vez menor
Agora eu sei que a vida

não é um jogo de palavras cruzadas
Onde tudo se encaixa
O que será que ela quis dizer?
cinco letras, começando com a letra 'A'!
Conta pra mim o que te fez chorar
Nunca mais quero te ver chorar!

(...)
Ainda ando pelas mesmas ruas
Acidade cresce e tudo fica cada vez menor
Agora sei que a vida não é um jogo de palavras cruzadas
Onde tudo se encaixa
O que será que ela quis dizer
Cinco letras, começando com a letra'A'!

( Nunca Mais - Engenheiros do Hawwaii)

(Fatima Vieira)
                  

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Fragmentos 6 - O Exílio do Imaginário

EXÍLIO: Ao renunciar ao estado amoroso, o sujeito se vê com tristeza exilado do seu imaginário (a paixão amorosa é um delírio; mas o delírio não é estranho; todo mundo fala dele, ele fica então domesticado. O que é enigmático é a perda de delírio: se entra em que?)
No luto real a 'prova de realidade' que me mostra que o objeto amado não existe mais. No luto amoroso ele não está morto, as vezes nem distante. Sou eu que decido que sua imagem deve morrer. Durante todo tempo de duração desse estranho luto, terei que suportar duas infelicidades contrárias: sofrer da presença do outro (continuando a me ferir à sua revelia) e ficar triste com a sua morte (pelo menos tal qual eu amava). Assim me angustio por causa de um telefone que não toca, mas ao mesmo tempo devo me dizer que esse silêncio é de qualquer jeito inconsequente, porque decidi elaborar o luto dessa preocupação: é a imagem amorosa que deve me telefonar, desaparecida essa imagem, o telefone, toque ou não, retoma a sua existência fútil. (o ponto mais sensível desse luto não será que devo perder uma linguagem - a linguagem amorosa? acabaram os 'EU TE AMO'.) (...) se há alguma semelhança entre a crise amorosa e a cura psicológica: elaboro o luto de quem amo, como o paciente elabora o luto de seu analista: liquido a minha transferência, então a crise e a cura terminam (???)

Fragmentos 5 - Dias Eleitos

DIAS ELEITOS - A FESTA: O sujeito apaixonado vive cada encontro como uma festa. Festa é aquilo que se espera, o que espero da presença prometida é um enorme somatório de prazeres... a festa para o enamorado, o lunático, é um júbilo e não uma explosão: gozo de jantar, da conversa, da ternura, da promessa certeira do prazer: uma arte de viver acima do abismo. 'Então não significa nada para você ser a festa de alguém?'
LEMBRANÇA: Reminiscência feliz e/ou dolorosa de um objeto, de um gesto, de uma cena ligados ao ser amado, e marcada pela inclusão de um perfeito na gramática do discurso amoroso:'as estrelas brilhavam'... nunca mais essa felicidade voltará tal qual.
(...) imperfeito é o tempo da fascinação: parece vivo e no entanto não se mexe: presença imperfeita, morte imperfeita; nem esquecimento nem ressurreição; simplesmente o cansativo engano da memória.

domingo, 28 de junho de 2009

Fragmentos 4 - Coração, Corpo

CORAÇÃO - Essa palavra vale por todas s espécies de movimentos e de desejos, mas o que é constante, é que o coração se constitui um objeto de dom - seja ignorado, seja rejeitado.O coração é o órgão do desejo (o coração se dilata, falha, etc., como o sexo), tal como é retido, encantado, no campo do Imaginário. O que é que o mundo, o que é que o outro vai fazer do meu desejo? Essa é a inquietude que reúne todos os movimentos, todos os "problemas" do coração. 
 CORPO - Todo pensamento, toda emoção, todo interesse suscitado no sujeito apaixonado pelo corpo amado. "Quando meu dedo sem querer ...", refere-se a todo discurso interior suscitado por um contato furtivo com o corpo (mais precisamente a pele) do ser desejado.

fragmentos 3 - Ciúme

Ciúme: "sentimento que nasce no amor e que é produzido pelo medo de que a pessoa amada prefira um outro." (littré)

Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.
 
"Quando amo sou exclusivista", diz Freud (que aqui tomaremos como normalidade). Ser ciumento é comum. Recusar o ciúme ("ser perfeito") é, portanto trangredir uma lei.

Fragmentos 2 - Angústia





















Angústia: O sujeito apaixonado, do sabor de uma ou outra contingência, se deixa levar pelo medo de um perigo, de uma mágoa, de um abandono - sentimento que ele exprime como "Agony".

O psicótico vive sob o temor do aniquilamento, o temor clínico do aniquilamento já foi experimentado ('primitive agony'), o paciente muitas vezes espera que lhe digam que que o aniquilamento que mina sua vida já ocorreu (winnicott).
O mesmo ocorre, parece com a angústia do amor: ela é o temor de um luto que já ocorreu, desde o momento em que fiquei encantado... seria preciso que alguém falasse: "não fique perturbado você já o perdeu".

Fragmentos de um Discurso Amoroso - Barthes

"Na doce calma dos teus braços"...
o gesto do abraço amoroso parece realizar por um momento, para o sujeito, o sonho da união total com o ser amado. Encontro pela vida mil corpos, desses posso desejar centenas, mas amo apenas um... Foram precisos muitas coincidências surpreendentes e procuras para que eu encontre a Imagem que entre tantas convém ao meu desejo. Eis o grande enigma sem solução: porque desejo Esse? 
 (do livro: "Fragmentos de um Discurso Amoroso" - Roland Barthes)
Sugestão de leitura: "Os sofrimentos do jovem Werther" - Johann Wolfgang Goethe

ROLAND BARTHES - Biografia

Nasce em Cherburgo. Semiólogo francês (12-11-1915/ 26-3-1980). Teórico da ciência dos signos e símbolos elaborada com base em Ferdinand de Saussure, estudioso da estrutura da linguagem. Forma-se em Letras Clássicas (1939), Gramática e Filologia (1943).
De 1952 a 1959 trabalha no Centro Nacional de Pesquisa Científica francês. Em 1953 lança o primeiro livro, "O Grau Zero da Escritura", em que se manifesta contra a crítica literária tradicional e os valores da sociedade burguesa e sobre as arbitrariedades da construção da linguagem.
"O texto não é a expressão da personalidade de um autor, mas um sistema de signos interpretáveis", escreve em "A Torre Eiffel" (1964). Na década de 70, seu trabalho sofre influência de Jacques Lacan, Michel Foucault e Jacques Derrida e é estudado não só na França, mas ainda na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, é apenas com seus dois últimos livros que consegue reconhecimento não só como crítico, mas também como escritor: "Autobiografia Roland Barthes por Roland Barthes" (1975), "Fragmentos de um Discurso Amoroso"(1977), obra popular que vende mais de 60 mil exemplares na França e que comenta as dores de amor.
Morre em Paris, após ter sido ferido num atropelamento. Seus trabalhos póstumos são publicados pela crítica e escritora Susan Sontag em 1982.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Certos Amigos

Quando esse trem de alegria vara a vida da gente
Sempre que a estação mais perto é o nosso coração
Difícil se saber na hora o que a gente sente
Se certos amigos nos mostram que o mundo ainda é bom
Por saber,
Que tendo você do meu lado me sinto mais forte
Quero beijar o teu rosto e pegar tua mão
Se cada estrela no céu é um amigo na terra
A força do acaso do encontro é uma constelação
Lumiar,
De que planeta você é?
Eu faço o que você quiser em troca do teu amor
Posso te dar o que eu sou,
amigo é um cobertor
Bordado de estrelas - de estrelas.
Constelação, nave louca
A vida é pouca e o que vale é se querer
(Expresso Rural)

Pode ser um sonho louco...


Vou fugir desta metrópole à libertação
E seguir algum caminho que me leve ao sul
E nas manhãs do sul do mundo
Pelos campos estradas e rios
Semear meu canto em campos de cereais
Pode ser um sonho louco mas eu vou achar
Em algum lugar desta federação
Alguma substância estranha,
que substitua a dor no coração
E mate essa vontade de voltar... de voltar...
Vou fugir desta metrópole à libertação
E seguir algum caminho que me leve ao sul
E nas manhãs do sul do mundo
Pelos campos estradas e rios
Semear meu canto em campos de cereais
Pode ser um sonho louco mas eu vou achar
Em algum lugar desta federação
Alguma substância estranha,
que substitua a dor no coração
E mate essa vontade de voltar... de voltar...
(Expresso Rural)

escuta o que diz o vento ...

Quantos caminhos se tem que andar
Antes de tornar-se alguém
Quantos dos mares temos que atravessar
Pra poder na areia descansar
Quantas mais balas perdidas voarão
Antes de desaparecerem
Escute o que diz
O vento, my friend
o vento vai responder
Quantas vezes olharemos o céu
Antes de saber enxergar
Quantos ouvidos terá o poder
Para ouvir o povo chorar
Quantas mais mortes o crime fará
Antes de se satifazer
Escute o que diz
O vento, my friend
O vento vai responder
Quantos anos pode uma montanha existir
Antes do mar lhe cobrir
Quantos seres ainda irão torturar
Antes de libertar
Quantas cabeças viraram assim
Fingindo não poderem ver
Escute o que diz
O vento, my friend
O vento vai responder 
(Bob Dylan, versão Zé Ramalho)


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Soleil d'Egypte (natacha atlas)

Répands dans mon sang un peu de votre chaleur
Vous cela vit en moi comme l'air que je respire
même quand je recule
Vous posez fin de mon coeur
quand même je pourrais sentir encore en moi
Comme une portion de l'éternité qui court dans mes veines
Qui me rappelle je naissais avant qui le Soleil d'Egypte.

SOL DO EGITO
Espalhe no meu sangue um pouco do teu calor
Você que vive em mim como o ar que respiro.
Mesmo quando me afasto
Você descansa próximo do meu coração
Mesmo assim eu ainda poderia te sentir em mim
como uma parcela da eternidade que corre nas minhas veias
Quem me lembra quem eu era antes de nascer o Sol do Egito.
(dança do ventre  - Coreógrafa: professora Lydia el Charis)