terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Ψ SINTOMA × SINTHOMA segundo Lacan

*SINTOMA - o Inconsciente, o que pode ser analisado. Expressão disfarçada de um desejo que corresponde a uma fantasia do inconsciente.
                                                            Simone Grecco
*No Seminário XXIII Lacan descreve o SINTHOMA como o que há de mais singular em cada indivíduo.

*SINTHOMA - é o resto irredutível; inanalisável real do SINTOMA ... Inclui em si um gozo, razão pela qual persiste mesmo sendo a origem do sofrimento ... aqui o sujeito encontrou algo impossível de ser dito, algo inefável ... vai ser necessário "tagarelar" para poder dizê-lo, para poder tocar o real (Freud - "associação livre").

*SINTHOMA - é um outro nome para esse inconsciente irredutível, na sua etimologia, ele é PURO SIGNO, o Signo tomado aqui como congruente ao Real (Lacan, 1977 in: L'insu que sait de L'une- bévue s'aile à mourre).

*Não desaparece nem quando é interpretado. Lacan ainda afirma que o final da Análise é o sujeito sair de braços dados com o seu SINTHOMA.

*Há que se viver com ele, sem padecer tanto. Ao querermos comprender bem demais, isso provoca desespero. Termino uma leitura sem desespero? Apenas com uma certa tensão? Será que compreendi em demasia? Lerei novamente para desesperar-me.

Oswaldo Guayasamin
*Nesta perspectiva, SINTHOMA é o que se pode apreender pelo que se revela de gozo, de um gozo distinto da linguagem.

*Segundo Lacan, o SINTOMA enquanto SINTHOMA é Real; "é mesmo a única coisa verdadeiramente real". (...) "eu reduzi o Sinthoma em um grau em que se encontra Enodado ao Inconsciente".

*O SINTHOMA ficou ficou entendido como algo que não corresponde à elocubração do Inconsciente.

*SINTHOMA não como uma formação do Inconsciente, no resíduo "mas a própria realidade do Inconsciente", que é sexual.

*SINTOMA Lacan define pela maneira onde cada um goza do Inconsciente, enquanto que o inconsciente o determina.

*SINTHOMA como a letra  não é para ser lido não se pode atribuir o estatuto da letra: não interpretável, separado da cadeia significante "godet" onde se condensa o gozo?

*SINTHOMA, como a letra, não é  marca, rasura onde o sujeito tem que reconhecer o pouco de ser o qual ele pode se complementar?

*O gozo opaco do SINTOMA  não se reduz ao gozo fálico aparelhado à cadeia significante onde o saber inconsciente;

(...) esse gozo do SINTHOMA liga-se ao que resta, ao objeto e como tal, constitui um resíduo a-sexuado. Mas se o SINTHOMA visa a preeminência do gozo fálico, se ele não é todo gozo fálico, ele não abre, assim como a letra que feminiza em direção a um OUTRO Gozo?

*(...) não é do lado do SINTHOMA que há a esperança do despertar? Diz Lacan: "não é a certeza que se está acordado que o que se apresenta e representa é sem nenhuma espécie de sentido"; (...) "não é  o caso do INCONSCIENTE: a doença mental que é  o inconsciente não desperto".

*Restam então o REAL DO SINTHOMA ao que o serde cadaum de reduz, o ideal da interpretação como poética,  EFEITO DO SENTIDO,  mas também efeito de buraco, e o sonho de um significante novo, sem nenhuma espécie de sentido.

*O SINTOMA no discurso científico  é considerado uma FALHA a ser ser consertada na clínica... quando o médico não dá conta diz que sai do campo da ciência... e entra no campo da PSICOLOGIA.

*Para transformar-se num Sintoma Analítico será preciso que o SINTOMA enquanto queixa seja formulado no campo do OUTRO,  seja completado pelo ANALISTA.

*O SUJEITO transfere um saber sobre sua questão a um OUTRO.

*O SINTOMA Analítico será então a queixa do sujeito completada pelo Analista na Transferência. Na Psicanálise o SINTOMA toca o sujeito.

Fonte: Perspectivas do Seminário XXIII de Lacan - JacquesAlain Miller
JAKOBSON, F. Essais de Linguistique générale, Paris, Minuit, 1963.
Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
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sábado, 22 de fevereiro de 2020

Ψ O ADOECER E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

A doença causa um mal-estar ... e este mal-estar significa que não se está onde se deveria estar... a doença pode ser um pedido de cura do indivíduo, quer tirá-lo de onde ele está, quer libertá-lo, curá-lo.
*O processo de individuação, por ser arquetípico, ocorre do universal para o particular, acontece com a colaboração do Ego que, na maioria das vezes, traz mecanismos de defesa contrários a este processo.

*É o religar do Ego (centro da consciência) ao Self (Centro da Totalidade: Consciente e Inconsciente) e, nesta trajetória, o Ego precisa servir a algo maior, ao Self.

*Quando isto não acontece, significa que não estamos no caminho de nosso Chamado, então, como forma de reparar o amor próprio, de voltarmos ao nosso processo de individuação, podemos adoecer ou mesmo morrer.

*O cerne da Psicologia Junguiana é a individuação e este é o processo de criar e ampliar a consciência.

*A tomada de consciência vem acompanhada de imensa dor, uma vez que não é fácil ter consciência, porque isto implica em fazer escolhas, tomar decisões e assumir a responsabilidade pelas escolhas feitas.

*Escolher implica em abrir mão de alguma coisa em prol de outra, implica em dor e sofrimento.

*A proposta de Jung, de uma visão integral do ser humano, teve importante contribuição no campo da psicossomática.

*Tendo por base seus estudos empíricos, mais especificamente a associação de palavras utilizada em pacientes histéricos, foi-lhe possível observar que estes pacientes desenvolviam uma semelhante personalidade mórbida, demonstrando um querer ser/estar doente (JUNG, 2011), o que lhe permitiu concluir que os sintomas tinham origem nos complexos, levando as pessoas ao adoecimento, sendo, portanto, psique e corpo necessários de serem compreendidos em sua integridade.

*Neste contexto, tornou-se possível dizer que toda doença é psicossomática, formada por psique e soma, mente e corpo.

*Ramos (2006) observou que a expressões do fenômeno psique-corpo e suas alterações fisiológicas sincrônicas, se davam por meio de um complexo que se manifesta, ajudando a uma compreensão mais ampla da doença.

*O corpo é a visibilidade da alma, da psique, e a alma é a experiência psicológica do corpo.
          David Ohmer 
*Os sintomas físicos são retratos simbólicos do complexo patológico.
(JUNG, 2011).

*Todo sintoma ou fenômeno de crise que mobiliza um indivíduo, vem como possibilidade de tomada de consciência.

*O sintoma atua como uma proteção do Self, do Sagrado, para com o indivíduo.

*Como tentativa de se entender e se ressignificar a doença, há de se perguntar: "o que este sintoma está me impedindo de fazer e o que ele está me levando a fazer? ".

*É preciso entender qual o sentido deste sintoma, naquele determinado momento, na vida da pessoa.

*A doença causa um mal-estar no doente e este mal-estar significa que não se está onde se deveria estar.

*Novamente é preciso se fazer mais perguntas: "onde eu queria/deveria estar que não estou? ".

*Se não estamos bem onde estamos, se não estamos onde deveríamos/ gostaríamos de estar, sentimo-nos mal e temos mal-estar.

*Se trabalhamos, por exemplo, em um lugar onde não conseguimos mais engolir as coisas que nos dizem e nos fazem, temos vômitos, pois, para reverter o engolido é necessário vomitar o que não conseguimos engolir.

*O estômago é o lugar de recepção das coisas, por isso, comumente tão acometido quando não conseguimos digerir as coisas. Não vomitamos comidas, vomitamos palavras. Vomitamos símbolos. Precisamos refletir sobre o que nos intoxicou de verdade, o que está por nós sendo rejeitado.

*Muitas vezes a doença é um pedido de cura do indivíduo, quer tirá-lo de onde ele está, quer libertá-lo, curá-lo.

*Toda crise nos desperta para o Sagrado, nos chama para uma retomada de consciência, pois, cada escolha que fazemos, nos faz.

*Não podemos simplesmente servir aos outros, sermos apenas servos, temos que ser servos felizes ao que nos submetemos, do contrário, seremos infelizes e ineficientes e adoeceremos.

*Não diferente do que era na antiguidade, o corpo continua sendo o lugar do mal, só que não mais acoitado com chicotes e, sim, martirizado de outras formas, sendo, por exemplo, a doença advinda como consequência do pecado e merecimento, como forma de autopunição.

*A doença é muitas vezes uma penitência, como no mito do herói, onde a pessoa se vê como um herói decadente e se pune.

*A dor pode ser vista como um castigo, como um demônio, é a sombra atuando.

*Para Platão a dor era proveniente dos maus espíritos e dos Deuses.

*O corpo é um templo, um território Sagrado, com atributo psíquico e espiritual, e lança sintomas para que possa ser ouvido.

*A subjetividade e os aspectos psicológicos estão presentes em todas as doenças.

*A psique cria a partir da interpretação e são os complexos que interpretam, logo, para se encontrar a cura, é preciso ressignificar o complexo.

*Para que se tenha o sintoma, é necessário que haja um estilo dominante na consciência, que haja uma cisão.

*A cisão ocorre quando se começa a desagregar (ou é isto ou é aquilo, quero ou não quero) e o estilo que ganhar é o que vai para consciência, sendo assombrado pelo que ficou na inconsciente.

*O ideal é que estes estilos troquem de posição, estejam equiparados e não polarizados, podendo ora ser um e ora o outro a prevalecer, a escolher, sem necessariamente se ter uma rigidez, um determinado padrão a se seguir, pois, de outra forma, virará sintoma.

*É a intensidade que promove a cisão e faz o sintoma e, se isto acontece, para reestabelecer a saúde, o padrão dominante tem que descer aos infernos, recuperar o que aparentemente não tinha valor e subir de volta a consciência, sendo outro padrão agora, não mais o que estava na consciência e tão pouco o que estava na inconsciência, mas outro.

*Somos compostos por pares de opostos como luz e sombra, amor e poder, bem e mal e, quando ocorre a unilateralização de um dos polos, vem a doença como tentativa de reestabelecer a saúde.

*O literalismo é suicida, mata os outros sentidos. A literalidade implica em perda da capacidade simbólica, o que significa regressão da consciência. A literalidade gera a paranoia.

*O que determina o padrão de saúde, é o re-ligare, o estar ligado a Deus, ao Sagrado, ao Self.

*Saúde e doença podem ser vistas como imagens simbólicas, sendo a doença uma evidente disfunção no eixo Ego-Self.

*Compreender e tornar consciente estes símbolos, ajudará na ampliação da consciência e na integração dos conteúdos inconscientes, religando o Ego ao seu eixo com o Self, tendo sido a doença um caminho para restaurar a saúde, atuando diretamente no processo de individuação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JUNG, Carl Gustav. A Natureza da Psique. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
_____________. A Prática da psicoterapia. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
_____________. Arquétipos do Inconsciente Coletivo, 11 ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
_____________. Estudos Experimentais. 2a. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
_____________. Psicologia do Inconsciente. 24 ed. Petrópolis, Vozes 2014.  RAMOS, Denise Gimenez. A Psique do Corpo: A Dimensão Simbólica da Doença. 3ª. Ed. São Paulo, Summus, 2006.

Texto: Andreia Araujo - Psicóloga Clínica, Analista Junguiana em Formação e Especialista em Psicologia Junguiana e Psicossomática pelo IJEP - Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa.

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sábado, 15 de fevereiro de 2020

Ψ Nise da Silveira

Segundo o Google, o esboço do Doodle de 15 de fevereiro foi feito pelo artista Kevin Smilelin

Nise da Silveira nasceu em (1905 - 1999) na cidade de Maceió, no nordeste do BrasilNise da Silveira se formou em medicina em 1926 aos 21 anos e era a única mulher na classe. 

O Google Doodle comemora seu 115º aniversário, Nise da Silveira.  Foto: Google.
O Google Doodle comemora seu 115º aniversário, Nise da Silveira. Foto: Google.

Quando começou a trabalhar em 1933 no centro nacional de psiquiatria, ficou desencorajada pelos rigorosos procedimentos médicos que seguiam na época para tratar pacientes mentais, incluindo esquizofrenia.
Nise da Silveira era uma das poucas médicas de sua época. Ela corajosamente quebrou os procedimentos de saúde mental, foi pioneira em uma abordagem mais humana.
Começou a desenvolver oficinas de arte para dar aos pacientes a oportunidade de se expressar através da pintura e escultura.
Ela também se tornou uma das primeiras profissionais a introduzir animais no processo de cura como uma "co-terapeuta".
O Museu de Imagens criado pelo Inconsciente (Museu Nise da Silveira) mantém um acervo de mais de 350.000 obras de arte criadas pelos pacientes.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Ψ Jung Explica Como, Ele Próprio, Enfrentaria a Depressão

“Nunca despreze as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana.” (Augusto Cury)

“Quanto maior é a ferida, mais privada é a dor. (...) e um dia, quando já não puder dar mais um passo de tanto cansaço, entenderá que não pode fugir da dor, é preciso domesticá-la." (Isabel Allende)
"Küsnacht-Zurique, 09.03.1959
Prezada N. (destinatária não identificada),
Sinto muito que esteja tão atormentada. "Depressão" significa em geral "pressão ou coação para baixo". Isto pode acontecer mesmo que não se tenha o sentimento de estar "em cima". Por isso não gostaria de abandonar esta hipótese sem mais. Se eu tivesse de viver num país estrangeiro, procuraria algumas pessoas, que me parecessem amáveis, e me tornaria de certa maneira útil a elas, para receber libido de fora, ainda que de uma forma algo primitiva como o fez, por exemplo, o cachorro, sacudindo o rabo. (...) Criaria animais e plantas, que me dessem alegria com o seu desenvolvimento. Eu me cercaria de coisas belas – não importa se primitivas ou simplórias – objetos, cores, sons. Comeria e beberia coisas gostosas. Quando a escuridão viesse, não descansaria até penetrar em seu cerne e chão e até que aparecesse uma luz no meio do sofrimento, porque a própria natureza se inverte in excessu affectus. Eu me voltaria contra mim mesmo com raiva, para que no calor dela derretesse meu chumbo. Renunciaria a tudo e me dedicaria à atividade mais humilde, caso minha depressão me forçasse à violência. (...) Lutaria com o Deus sinistro até que me descolasse o quadril, pois ele também é a luz e o céu azul que retém diante de mim. Seria isto o que eu faria. O que outras pessoas fariam é uma questão que não sei responder. Mas também para a senhora existe um instinto: arrancar-se para fora disso, ou entrar até as profundezas. Mas nada de meias-medidas ou meio entusiasmo. [...] Com votos cordiais, Sinceramente seu (C.G.)"
(Carl Gustav Jung, Cartas, Vol. 3: 1956-1961)
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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Documentário Democracia Em Vertigem Indicado ao Oscar 2020

Como Morrem As Democracias...
"Numa época em que a extrema-direita está se espalhando como uma epidemia, esperamos que este filme possa nos ajudar a entender como é crucial proteger nossas democracias". 
"Está se tornando cada vez mais evidente o quanto o pessoal é político para tantos ao redor do mundo e acredito que é através de histórias, linguagem e documentários que as civilizações começam a se curar...  Viva o cinema brasileiro".
“O filme fala sobre o fenômeno global de como as democracias morrem hoje. Não com tanques, não com os militares assumindo, mas com a erosão das instituições, a disseminação de fake news, e campanhas de mídia social", (entrevista à CNN)
(Petra Costa)
Melhor filme
* Ford vs Ferrari
* O Irlandês
* Jojo Rabbit
* Coringa
* Adoráveis Mulheres
* História de um Casamento
* 1917
* Era uma vez em… Hollywood
* Parasita
Melhor Ator
* Joaquin Phoenix, por Coringa
* Leonardo DiCaprio, por Era Uma Vez em… Hollywood
* Adam Driver, por História de um Casamento
* Antonio Banderas, por Dor e Glória
* Jonathan Pryce, por Dois Papas
Melhor Atriz
* Renée Zellweger, por Judy: Muito Além do Arco-Íris
* Scarlett Johansson, por História de um Casamento
* Charlize Theron, por O Escândalo
* Cynthia Erivo, por Harriet
* Saoirse Ronan, por Adoráveis Mulheres
Melhor Direção
* Martin Scorsese, por O Irlandês
* Todd Phillips, por Coringa
* Sam Mendes, por 1917
* Quentin Tarantino, por Era uma vez em… Hollywood
* Bong Joon Ho, por Parasita
Melhor atriz coadjuvante
* Laura Dern, por História de um Casamento
* Kathy Bates, por O Caso Richard Jewell
* Florence Pugh, por Adoráveis Mulheres
* Scarlett Johansson, por Jojo Rabbit
* Margot Robbie, por O Escândalo
Melhor ator coadjuvante
* Brad Pitt, por Era Uma Vez em… Hollywood
* Joe Pesci, por O Irlandês
* Al Pacino, por O Irlandês
* Tom Hanks, por Um Lindo Dia na Vizinhança
* Anthony Hopkins, por Dois Papas
Melhor documentário
* Democracia em Vertigem
* For Sama
* American Factory
* Honeyland
* The Cave
Melhor filme estrangeiro
* Corpus Christi
* Honeyland
* Dor e Glória
* Parasita
* Os Miseráveis
Melhor roteiro original
* Entre Facas e Segredos
* História de Um Casamento
* 1917
* Era Uma Vez Em Hollywood
* Parasita
Melhor roteiro adaptado
* O Irlandês
* Jojo Rabbit
* Coringa
* Adoráveis Mulheres
* Dois Papas
Melhor animação
* Toy Story 4
* Link Perdido
* Como Treinar o Seu Dragão 3
* I Lost My Body
* Klaus