domingo, 30 de junho de 2019

Ψ O "Acidente" o mal encontro na estrada como pré-texto?

                     (...) cada um descerá ao seu inferno no seu ritmo.
"Quase diria que o mal encontro na estrada foi o pre-texto para o motorista inventar (não descobrir) o texto que reescreve sua história..."
Tal invenção é possível porque a transferência - o laço libidinal atual do paciente com seu analista - forneceu ao evento contingente o contexto em que pôde ser lido como necessário. (...) Pouco importa saber o que acontece na 'realidade', lidamos apenas com a leitura feita pelo paciente, da qual o analista é o destinatário preferencial. 
Conforme o modelo clássico determinista de Freud pensaríamos que o inconsciente de tal paciente foi o responsável pelo desastre de carro em que se viu envolvido.
O motorista não teria saído para passear senão, possuído pelo seu demônio interior, para bater. 
Prefiro pensar que o acidente permanece acidental, até o motorista conjecturar durante uma sessão que destruir o carro que ganhara do pai era (podia ser) uma mensagem dirigida a este último. 
A batida tornara-se um significante depois da ocorrência - da ocorrência discursiva, não rodoviária -, um significante do desejo paterno. 
A psicanálise é o trabalho de discurso que transforma o azar em acontecimento. Quase diria que o mal encontro na estrada foi o pre-texto para o motorista inventar (não descobrir) o texto que reescreve sua história. Tal invenção é possível porque a transferência - o laço libidinal atual do paciente com seu analista - forneceu ao evento contingente o contexto em que pôde ser lido como necessário. (...) Pouco importa saber o que acontece na 'realidade', lidamos apenas com a leitura feita pelo paciente, da qual o analista é o destinatário preferencial.
 (Desler Lacan - Ricardo Goldenberg)

Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
 Consultório: Av. Osmar Cunha, 183 - Ceisa Center - bloco A - Sala 901 - Florianópolis- SC

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Ψ Psicoterapia - O Encontro Definitivo Com A Sombra

"Amar a si mesmo não é fácil, pois significa amar todas as partes de si mesmo - incluindo a sombra, na qual somos tão inferiores e tão inaceitáveis socialmente."
"(...) a cura da sombra é uma questão de amor. Até onde poderia o nosso amor estender-se às partes quebradas e arruinadas de nós mesmos, às nossas partes repulsivas e perversas? Quanta gentileza e compaixão sentimos pelas nossas próprias fraquezas e doenças? Como poderíamos construir uma sociedade interior baseada no princípio do amor, reservando um lugar para todos?  

(...) uso a expressão "cura da sombra" para enfatizar a importância do amor. Se nos aproximamos de nós mesmos para nos curar e colocamos o "eu" no centro, isso com muita frequência degenera no objetivo de curar o ego - ficar mais forte, tornar-se melhor e crescer de acordo com os objetivos do ego, que em geral são cópias mecânicas dos objetivos da sociedade.

Mas quando nos aproximamos de nós mesmos para curar essas intratáveis fraquezas congênitas de obstinação, cegueira, mesquinhez, crueldade, impostura e ostentação, defrontamo-nos com a necessidade de todo um novo modo de ser; nele, o ego precisa servir, ouvir e cooperar com um exército de desagradáveis figuras da sombra e descobrir a capacidade de amar até mesmo o mais insignificante desses traços.


Amar a si mesmo não é fácil, pois significa amar todas as partes de si mesmo - incluindo a sombra, na qual somos tão inferiores e tão inaceitáveis socialmente." 
(Ao Encontro da Sombra - A cura da sombra - JAMES HILLMAN)


Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
Consultório: Av. Osmar Cunha, 183 - Ceisa Center - bloco A - Sala 901 - Florianópolis- SC

quarta-feira, 19 de junho de 2019

as flores que florescem no abraço macio do sono ...

                                                   Sonhos ... Outros Fragmentos
(...) andando por caminhos difíceis... obstáculos... ela parece nunca chegar ao seu destino ... as mesmas estradas se repetem no sonho ela carrega bolsas pesadas ... e reclama de cansaço... 
(...) um caminho inóspito terra seca ... 
nascem florzinhas delicadas ... ela apanha uma lilás e coloca na lapela ... e caminha levemente feliz   
     
Metamorfose da planta
 a planta não está acomodada ela está sempre em movimento para se capacitar na sua adaptabilidade às condições mais adversas da natureza... e ela força o mundo a se adaptar também às suas necessidades. 

Goethe: fala da planta em processo de desenvolvimento e refinamento da forma expansão e contração... folha se expande... cálices e brácteas  se contraem... esplêndida expansão que leva à pétala... Nova contração resulta o ponto de encontro entre estame e estigma... uma última expansão e explode em fruto... e segue com a contração da semente... ciclo completa... a nova planta está  pronta em sua essência,  para começar tudo de novo ... 

Lehrs: princípio da renúncia - quando a folha verde é elevada a status de flor  nesta progressão da folha para a flor, a planta sofre um declínio decisivo em sua vitalidade. Comparada à  Folha, a flor é um órgão agonizante.

 "Agonia em estado de Ser"
 Em sua mera forma vegetativa, a vida aqui é vista recuando a fim de permitir que ocorra uma manifestação superior do seu espírito/ essência: a explosão da flor.

*Mesmo princípio no Reino dos insetos quando a vitalidade da lagarta se depura na beleza efêmera da borboleta.
*No ser humano, é ainda ele próprio o responsável por essa metamorfose ou processo orgânico que ocorre na passagem do metabolismo para o sistema nervoso e que passa reconhecer como a condição prévia para o aparecimento da consciência no interior do organismo.

 *Recolher belas flores é uma indicação de prosperidade. Você será muito feliz em todos os seus empreendimentos. 

Ver flores desabrochando em solo árido 
refere que você terá ou está passando por uma experiência dolorosa, 
mas sua energia e alegria permitirão que você suba 
através delas até a proeminência e a felicidade. 

Jung via as flores como símbolos do Self arquetípico
Símbolos de criatividade no mundo desperto, as flores servem não apenas como maravilhas da criação, mas como milagres da própria criatividade. 
Com um ponto central que se irradia para fora em desenhos suaves e intrincados. 

Podemos também comparar o processo de confrontar as trevas na psique com a esperança de individuação para plantar sementes com a esperança de flores futuras. 

O solo deve ser cultivado e o solo deve ser tratado. Devemos cavar o solo e confiar a ele sementes que cobrimos e deixamos para trás, esperando pelo que não podemos ver nem controlar para fazer o trabalho do vir a ser da planta.

Se estamos envolvidos em terapia ou alguma disciplina espiritual trabalhando a alma, então sonhos de flores poderiam anunciar um grau de 
autointegração e individuação.

A autointegração não é a dissolução da personalidade.

A autointegração é uma expansão do ser. É a aceitação da verdade que, embora possamos estar vivendo em estado decaído, fomos originalmente criados como seres inteiros, suficientes e únicos. 

A autointegração significa que agora estamos cientes deste fato e estamos a caminho de nos tornarmos a flor contida na semente plantada no solo. 

"Quanto à suculenta flor de cactus, é grande e cheirosa e de cor brilhante. É a vingança sumarenta que faz a planta desértica. É o explendor nascendo da esterilidade despótica".
(Clarice Lispector)


Fonte: "A Dimensão Mítica: Ensaios Selecionados, 1959-1987" 
por Joseph Campbell.
            "O Segredo da Flor Dourada: Um Livro Chinês da Vida",
 de Richard Wilhelm 
Psicologia e Alquimia - C.G. Jung

Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica