domingo, 28 de junho de 2009

Fragmentos 4 - Coração, Corpo

CORAÇÃO - Essa palavra vale por todas s espécies de movimentos e de desejos, mas o que é constante, é que o coração se constitui um objeto de dom - seja ignorado, seja rejeitado.O coração é o órgão do desejo (o coração se dilata, falha, etc., como o sexo), tal como é retido, encantado, no campo do Imaginário. O que é que o mundo, o que é que o outro vai fazer do meu desejo? Essa é a inquietude que reúne todos os movimentos, todos os "problemas" do coração. 
 CORPO - Todo pensamento, toda emoção, todo interesse suscitado no sujeito apaixonado pelo corpo amado. "Quando meu dedo sem querer ...", refere-se a todo discurso interior suscitado por um contato furtivo com o corpo (mais precisamente a pele) do ser desejado.

fragmentos 3 - Ciúme

Ciúme: "sentimento que nasce no amor e que é produzido pelo medo de que a pessoa amada prefira um outro." (littré)

Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.
 
"Quando amo sou exclusivista", diz Freud (que aqui tomaremos como normalidade). Ser ciumento é comum. Recusar o ciúme ("ser perfeito") é, portanto trangredir uma lei.

Fragmentos 2 - Angústia





















Angústia: O sujeito apaixonado, do sabor de uma ou outra contingência, se deixa levar pelo medo de um perigo, de uma mágoa, de um abandono - sentimento que ele exprime como "Agony".

O psicótico vive sob o temor do aniquilamento, o temor clínico do aniquilamento já foi experimentado ('primitive agony'), o paciente muitas vezes espera que lhe digam que que o aniquilamento que mina sua vida já ocorreu (winnicott).
O mesmo ocorre, parece com a angústia do amor: ela é o temor de um luto que já ocorreu, desde o momento em que fiquei encantado... seria preciso que alguém falasse: "não fique perturbado você já o perdeu".

Fragmentos de um Discurso Amoroso - Barthes

"Na doce calma dos teus braços"...
o gesto do abraço amoroso parece realizar por um momento, para o sujeito, o sonho da união total com o ser amado. Encontro pela vida mil corpos, desses posso desejar centenas, mas amo apenas um... Foram precisos muitas coincidências surpreendentes e procuras para que eu encontre a Imagem que entre tantas convém ao meu desejo. Eis o grande enigma sem solução: porque desejo Esse? 
 (do livro: "Fragmentos de um Discurso Amoroso" - Roland Barthes)
Sugestão de leitura: "Os sofrimentos do jovem Werther" - Johann Wolfgang Goethe

ROLAND BARTHES - Biografia

Nasce em Cherburgo. Semiólogo francês (12-11-1915/ 26-3-1980). Teórico da ciência dos signos e símbolos elaborada com base em Ferdinand de Saussure, estudioso da estrutura da linguagem. Forma-se em Letras Clássicas (1939), Gramática e Filologia (1943).
De 1952 a 1959 trabalha no Centro Nacional de Pesquisa Científica francês. Em 1953 lança o primeiro livro, "O Grau Zero da Escritura", em que se manifesta contra a crítica literária tradicional e os valores da sociedade burguesa e sobre as arbitrariedades da construção da linguagem.
"O texto não é a expressão da personalidade de um autor, mas um sistema de signos interpretáveis", escreve em "A Torre Eiffel" (1964). Na década de 70, seu trabalho sofre influência de Jacques Lacan, Michel Foucault e Jacques Derrida e é estudado não só na França, mas ainda na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, é apenas com seus dois últimos livros que consegue reconhecimento não só como crítico, mas também como escritor: "Autobiografia Roland Barthes por Roland Barthes" (1975), "Fragmentos de um Discurso Amoroso"(1977), obra popular que vende mais de 60 mil exemplares na França e que comenta as dores de amor.
Morre em Paris, após ter sido ferido num atropelamento. Seus trabalhos póstumos são publicados pela crítica e escritora Susan Sontag em 1982.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Certos Amigos

Quando esse trem de alegria vara a vida da gente
Sempre que a estação mais perto é o nosso coração
Difícil se saber na hora o que a gente sente
Se certos amigos nos mostram que o mundo ainda é bom
Por saber,
Que tendo você do meu lado me sinto mais forte
Quero beijar o teu rosto e pegar tua mão
Se cada estrela no céu é um amigo na terra
A força do acaso do encontro é uma constelação
Lumiar,
De que planeta você é?
Eu faço o que você quiser em troca do teu amor
Posso te dar o que eu sou,
amigo é um cobertor
Bordado de estrelas - de estrelas.
Constelação, nave louca
A vida é pouca e o que vale é se querer
(Expresso Rural)

Pode ser um sonho louco...


Vou fugir desta metrópole à libertação
E seguir algum caminho que me leve ao sul
E nas manhãs do sul do mundo
Pelos campos estradas e rios
Semear meu canto em campos de cereais
Pode ser um sonho louco mas eu vou achar
Em algum lugar desta federação
Alguma substância estranha,
que substitua a dor no coração
E mate essa vontade de voltar... de voltar...
Vou fugir desta metrópole à libertação
E seguir algum caminho que me leve ao sul
E nas manhãs do sul do mundo
Pelos campos estradas e rios
Semear meu canto em campos de cereais
Pode ser um sonho louco mas eu vou achar
Em algum lugar desta federação
Alguma substância estranha,
que substitua a dor no coração
E mate essa vontade de voltar... de voltar...
(Expresso Rural)

escuta o que diz o vento ...

Quantos caminhos se tem que andar
Antes de tornar-se alguém
Quantos dos mares temos que atravessar
Pra poder na areia descansar
Quantas mais balas perdidas voarão
Antes de desaparecerem
Escute o que diz
O vento, my friend
o vento vai responder
Quantas vezes olharemos o céu
Antes de saber enxergar
Quantos ouvidos terá o poder
Para ouvir o povo chorar
Quantas mais mortes o crime fará
Antes de se satifazer
Escute o que diz
O vento, my friend
O vento vai responder
Quantos anos pode uma montanha existir
Antes do mar lhe cobrir
Quantos seres ainda irão torturar
Antes de libertar
Quantas cabeças viraram assim
Fingindo não poderem ver
Escute o que diz
O vento, my friend
O vento vai responder 
(Bob Dylan, versão Zé Ramalho)