domingo, 19 de abril de 2015

Ψ O Retrato de Dorian Gray

                                  Diga-me qual o seu segredo,
            - Mas se contar terei que matá-lo.

*O Duplo/ Sombra: A Psicanálise se apropria das artes, da literatura, da mitologia para desvendar os encantos e as estranhezas da psique humana. 

*Na literatura várias obras mencionam esse aspecto: O Duplo de Dostoievsky;  O Homem duplicado de Saramago; Fausto de Goethe: (aqui o personagem Mefisto inteligente e sedutor, se transforma em espelho para o lado obscuro de Fausto e o corrompe por meio do desejo e de poder).  O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde: (que mostra a duplicidade do personagem Gray e denuncia sua imperfeição e farsa).

*Cientistas do comportamento humano concordam que as questões existenciais nos levam a lidar com o nosso narcisismo quando nos deparamos com a finitude e a precariedade da vida.


*Segundo Freud, fica bem guardado tudo que é estranho, os aspectos mais primitivos de nossa mente. 

*Freud, ao falar de narcisismo nos diz que a criança primeiro toma a si mesmo como objeto de amor e centro do mundo, antes de se dirigir aos objetos externos.

*O narcisismo é uma fase inicial do desenvolvimento, que depois pode levar ao ego ideal.

*Algumas pessoas ficam fixadas a esta fase do desenvolvimento, não conseguindo se ligar a outras, o que as impossibilita vivenciar um relacionamento amoroso.

*O duplo surge quando não conseguimos tolerar nossa realidade psíquica interna e dar conta de nós por inteiro, com nossas limitações, imperfeições e até aspectos que não aprovamos muito em nós.

*O “duplo”, que é fruto também de algo reprimido e deslocado para fora, fruto da onipotência para a realização de desejos e também à onipotência de pensamentos. 

***Sobre O Retrato de Dorian Gray: Dorian, herdeiro de uma casa do avô chega a Londres.
*Inicialmente, um rapaz jovem de rara beleza, ingênuo e frágil que se vê encantado com a cidade e o as possibilidades que ela oferece.

*Conhece o Pintor Basil, que se sente atraído pela beleza de Dorian, pinta o seu retrato e se apaixona pelo jovem. 

*O Retrato fica perfeito e deixa as pessoas encantadas.

*Dorian também se apaixona pela sua imagem no retrato, ficando preso à própria imagem.

*Basil o apresenta a Henry, que se torna um grande amigo e “conselheiro” de Dorian.

*Henry apresenta o mundo a Dorian pela ótica do prazer e da intensidade das paixões (...)  “A vida é só um momento. Você perde a vida por bom senso”, ou, “O homem quer ser feliz, mas a sociedade quer que ele seja bom”, e ainda:“Você quer ser bom?” (...) “consciência ou covardia”, “Procure sempre novas sensações”.

(...) E Dorian fica totalmente manipulado por Henry, seguindo os prazeres imediatos e superficialidade dos contatos.

*Henry questiona com Dorian se ele não faria um pacto para não envelhecer, e ele o faz. 

*(...) Enfim, observamos que Dorian vivia a onipotência da imortalidade, que nada poderia abalar sua vida.

*Ele não envelheceria, não sofreria, e para que isso acontecesse, tudo de ruim estaria no quadro. 

*E Dorian conseguiu viver este duplo com o pacto demoníaco.

*Após o pacto a ingenuidade vai desaparecendo dando lugar a arrogância e onipotência.

*Dorian assassina o amigo Basil e esconde o corpo.

*Dorian conhece Sybil: A mulher pela qual se apaixona, ainda assim a trata com cinismo e ela grávida e abandonada se mata.

*(...) Dorian vivencia várias orgias mostrando uma liberação total de prazer em uma Inglaterra aristocrática e hedonista do século XIX.

*No final da história quando Dorian retorna da viagem que fez, após ter cometido o assassinato de Basil, todos os personagens envelhecem, menos ele, e parece que ele não se abala com isso.

*Todos ficam hipnotizados pela sua imagem, e isso parece não perturbá-lo. Aqui fica claro o seu sentimento de superioridade em relação aos demais.

*Já Henry, que de inicio se divertia, no final parece perceber e se assustar com o que criou, aqui a criatura ficou pior do que o que o seu criador.

*Henry fica preocupado quando vê que sua filha se apaixona por Dorian.

*É neste momento que tudo se rompe. O amor quebra o pacto. Dorian teve dois amores, mas no primeiro, ele mostrou que era mais apaixonado por ele e pela sua vida, do que pela mulher amada. 

*Seu narcisismo, sua arrogância e onipotência foram aparecendo a ponto de não o deixar se ligar verdadeiramente à mulher amada.

*Dorian parece estar envolvido amorosamente, mas sofre por não poder ter uma intimidade total, porque uma parte sua estava no quadro e ele não queria que ela descobrisse; ela por sua vez sabia que tinha algo diferente.

*Podemos pensar que com o seu narcisismo, Dorian Gray não acessa suas dores, sua condição humana; ou que seu duplo passa a viver o que ele deixou de viver.

*Ele não envelheceria, não sofreria, e para que isso acontecesse, tudo de ruim estaria no quadro. 

*Para concluir, Dorian conseguiu viver este duplo com o pacto demoníaco.

*Com tudo isso que Dorian vive, é o retrato que sofre as dores e mudanças, começando com os bichos saindo do quadro, dos olhos, penso o que de tão podre ele não podia ver, e terminando com o quadro envelhecendo, ficando horroroso monstruoso.

*Ele esconde o quadro, sugerindo que ele não poderia lidar com estas situações e elas ficariam no retrato.

*Pode-se pensar também que o quadro é um duplo, que vive as questões que Dorian não pode assumir que sente.

*As partes sombrias de Dorian eram colocadas no retrato. Ele olha para dentro do quadro e o quadro para ele. O retrato parece que tem vida própria e o observa.

*Os seus sofrimentos e marcas da vida ficam no quadro, no seu duplo.

*Mas, podemos observar que este lado narcísico, obscuro e sombrio que nós não gostamos de olhar, se encontram em diversos graus em nós mesmos, ou em outras pessoas.

*Como nos percebermos e aceitarmos a nós como somos por inteiro? Para isso, precisamos encontrar uma condição mental que possa nos ajudar a pensarmos pensamentos antes impensáveis e lidarmos com emoções que nos pareçam insuportáveis, mas que fazem parte da nossa condição humana. 

*Fonte: www.sbprp.org.br/cinema/dorian_gray.pdf
www.interseccaopsicanalitica.com.br 
(*Sugiro o filme dirigido por Oliver Parker, (2009), com roteiro de Toby Finlay e estrelando Ben Barnes e Colin Firth. Baseado na obra The Picture of Dorian Gray, do escritor irlandês Oscar Wilde, o filme contra a trajetória do personagem principal, Dorian Gray, um atraente aristocrata inglês cujo retrato envelhece em seu lugar). 
 Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica