quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

a insustentável leveza ...

Engenheiro elétrico turco radicado nos Estados Unidos ele fotografa várias formas de fumaça e, ao sobrepor as imagens, obtém as figuras desejadas.
Mehmet Ozgur adotou a fotografia como hobby e agora se dedica a registrar “esculturas” de fumaça. Ozgur conta que utiliza incensos e nitrogênio líquido para obter a fumaça. 
                                                                                                          (Fatima Vieira)

sábado, 26 de janeiro de 2013

Ψ JUNG - Sincronicidade I Ching


- Sentado no chão do pátio, à sombra de uma pereira centenária, o sábio lança varetas e consulta os oráculos do I Ching.

- Dia após dia, durante horas e horas, sem se cansar.

 - A cena descrita acima não se passa na China antiga, mas em um pequeno castelo na cidadezinha de Bollingen, na Suíça, durante o verão de 1920.

- O sábio é o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, um pioneiro no estudo do inconsciente humano no século 20.


Em 1920 começou a lançar as varetas proféticas. Foi amor à primeira consulta: "Encontrei relações cheias de sentido entre o que diziam os textos dos hexagramas e meus próprios pensamentos - fato que eu não conseguia explicar a mim mesmo", (Jung em Memórias, Sonhos, Reflexões).


 - Jung, acreditava que a mitologia e as religiões da Antiguidade podiam ajudar o homem a conhecer melhor sua própria alma.



- O fascínio do I Ching levou Jung a formular a teoria da "sincronicidade", segundo a qual, em determinadas ocasiões, paralelos emergem entre o mundo da mente e  o mundo real - paralelos que, segundo ele, a civilização ocidental chama de "mera coincidência".
- Para Jung, a coincidência não deve ser desprezada: o acaso, muitas vezes, faz sentido. A indicação de um determinado hexagrama pelo lançamento de varetas ou moedas pode parecer algo aleatório, mas também pode iluminar elementos ocultos no inconsciente de quem faz a consulta.

-  Mesmo quando o sentido das frases é ambíguo, o simples ato de refletir sobre elas pode levar o paciente ao autoconhecimento.


-  [...] "Não sendo um sinólogo, meu prefácio ao LIVRO DAS MUTAÇÕES terá que ser um testemunho da experiência pessoal com esse grande e único livro".

- Se o significado do Livro das Mutações fosse de fácil apreensão, a obra não precisaria de um prefácio.
- ...  há tantos pontos enigmáticos em seu conteúdo que os estudiosos ocidentais tenderam a considerá-lo como um conjunto de “fórmulas mágicas” que, ou seriam abstrusas demais para serem inteligíveis, ou careceriam de todo valor.

- Wilhelm, com auxílio dos seus estudos de filosofia e orientação do sábio  Lao-Nai-hsüan iniciou o estudo do i ching.

-  A apreensão do sentido vivo do texto dá à sua versão do I Ching uma profundidade de perspectiva que um conhecimento exclusivamente acadêmico da filosofia chinesa nunca poderia proporcionar.

- ... Tenho uma enorme dívida para com Wilhelm pelo esclarecimento que trouxe à complicada problemática do I Ching e também pelas intuições relativas à sua aplicação prática
".

- ...  Por mais de 30 anos, interessei-me por essa técnica oracular, ou método de explorar o inconsciente, que pareceu-me de excepcional significado.

- De modo a poder compreender de que trata esse livro, é indispensável deixar de lado certos preconceitos da mente ocidental.

- É curioso que um povo tão dotado e inteligente como o chinês nunca tenha desenvolvido o que chamamos ciência.

- Nossa ciência, entretanto, é baseada no princípio da causalidade, o qual é considerado uma verdade axiomática. Mas uma grande mudança está ocorrendo em nosso ponto de vista. O que a “Crítica da Razão Pura” de Kant não conseguiu, está sendo realizado pela física moderna.

- Os axiomas da causalidade estão sendo abalados em seus fundamentos: sabemos agora que o que denominamos leis naturais são meramente verdades estatísticas que supõem, necessariamente, exceções.

- Ainda não nos apercebemos que necessitamos do laboratório com suas decisivas limitações para demonstrar a validade invariável das leis naturais. Se deixarmos a natureza agir, veremos um quadro muito diferente: o acaso vai interferir total ou parcialmente em todo o processo, tanto assim que, em circunstâncias naturais, uma seqüência de fatos que esteja em absoluta concordância com leis específicas constitui quase uma exceção.


- A mente chinesa, como a vejo trabalhando no I Ching, parece preocupar-se exclusivamente com o aspecto casual dos acontecimentos.

- O que chamamos de coincidência parece ser o interesse primordial desta mente peculiar e o que cultuamos como causalidade passa quase desapercebido.

- Devemos admitir que há muito a dizer a respeito da imensa importância do acaso.

- Uma quantidade incalculável do esforço do homem visa a combater e limitar os incômodos ou perigos representados pelo acaso.

- Considerações teóricas de causa e efeito freqüentemente parecem fracas e pobres em comparação com os resultados práticos do acaso.

- É correto dizer que o cristal de quartzo é um prisma hexagonal. A afirmação é verdadeira quando se considera um cristal ideal; entretanto, na natureza não se encontram dois cristais exatamente iguais, ainda que todos sejam inequivocadamente hexagonais. A forma concreta, no entanto, parece interessar mais ao sábio chinês que a forma ideal.
- O emaranhado de leis naturais que constitui a realidade empírica é mais significativo para ele que uma explicação causal de fatos que, além disso, em geral devem ser separados uns dos outros para que possam ser adequadamente tratados.

- A maneira como o I Ching tende a encarar a realidade parece não favorecer nossa maneira causal de proceder.
-  O momento concretamente observado apresenta-se à antiga visão chinesa, mais como um acontecimento fortuito que o resultado claramente definido de um concordante processo causal em cadeia.

- A questão que interessa parece ser a configuração formada por eventos casuais no momento da observação e de modo nenhum as hipotéticas razões que aparentemente justificam a coincidência.

- Enquanto a mente ocidental cuidadosamente examina, pesa, seleciona, classifica e isola, a visão chinesa do momento inclui tudo até o menor e mais absurdo detalhe, pois tudo compõe o momento observado.

- Assim ocorre quando são jogadas as três moedas, ou quando se contam as 49 varetas; esses detalhes casuais entram no quadro do momento de observação e fazem parte dele – uma parte que para nós é insignificante, porém para a mente chinesa é de suma importância.

- Seria para nós uma afirmação banal e quase sem sentido (pelo menos à primeira vista) dizer que tudo que acontece num determinado momento tem inevitavelmente a qualidade peculiar àquele momento.

- Esse não é um argumento abstrato mas, ao contrário, muito prático.
- Alguns especialistas são capazes de determinar só pelo aspecto, gosto e comportamento de um vinho a sua procedência e o ano de sua origem.


- Existem conhecedores de antigüidades que podem afirmar com extraordinária precisão a data, o lugar de origem e o autor de um “objet d´art” ou de um móvel, simplesmente olhando-os.

- Existem astrólogos que podem dizer a uma pessoa, sem nenhum conhecimento prévio, a data de seu nascimento, qual era a posição do sol e da lua, e qual o signo que se encontrava sobre o horizonte no momento de seu nascimento. Diante de tais fatos é preciso admitir que os momentos podem deixar marcas duradouras.

- Em outras palavras, quem quer que tenha inventado o I Ching estava convencido de que o hexagrama obtido num determinado momento coincidia com esse momento tanto em qualidade quanto em tempo.
- Para ele o hexagrama era o intérprete do momento no qual era tirado – mais que as horas do relógio ou as divisões de um calendário -, uma vez que o hexagrama era compreendido como sendo o indicador da situação essencial que prevalecia no momento de sua origem.

- Essa suposição envolve um certo princípio curioso que denominei sincronicidade, conceito este que formula um ponto de vista diametralmente oposto ao da causalidade. A causalidade enquanto uma verdade meramente estatística não absoluta é uma espécie de hipótese de trabalho sobre como os acontecimentos surgem uns a partir dos outros, enquanto que, para a sincronicidade, a coincidência dos acontecimentos, no espaço e no tempo, significa algo mais que mero acaso, precisamente uma peculiar interdependência de eventos objetivos entre si, assim como dos estados subjetivos (psíquicos) do observador ou observadores.
- O pensamento tradicional chinês apreende o cosmos de um modo semelhante ao do físico moderno, que não pode negar que seu modelo do mundo é uma estrutura decididamente psicofísica. O fato microfísico inclui o observador tanto quanto a realidade subjacente ao I Ching abrange a subjetividade, isto é, as condições psíquicas dentro da totalidade da situação momentânea. Assim como a causalidade descreve a seqüência dos acontecimentos, a sincronicidade, para a mente chinesa, lida com a coincidência de eventos.

- O ponto de vista causal nos relata uma dramática história sobre como D chegou à existência: originou-se de C que existia antes de D, e C, por sua vez, teve um pai, B, etc. Por outro lado, a visão da sincronicidade tenta produzir uma representação igualmente significativa da coincidência. Como é que A, B, C, D, etc. aparecem todos no mesmo momento e no mesmo lugar? Isso acontece, em primeiro lugar, porque os eventos físicos A e B são da mesma qualidade dos eventos psíquicos C e D, e ainda porque todos são intérpretes de uma única e mesma situação momentânea. Assume-se que a situação representa um quadro legível ou compreensível.

- Os 64 hexagramas do I Ching são o instrumento pelo qual se pode determinar o significado de 64 situações diferentes, porém típicas. Essas interpretações são equivalentes a explicações causais.

- A conexão causal é estatisticamente necessária e pode, portanto, ser submetida à experiência. Uma vez que as situações são únicas e não podem ser repetidas,
não parece ser possível, em condições normais, realizar experiências com a sincronicidade.
- No I Ching, o único critério de validade da sincronicidade é a opinião do observador de que o texto do hexagrama eqüivale a uma interpretação fiel de sua condição psíquica.

- Supõe-se que a queda das moedas ou o resultado da divisão do conjunto de varetas de caule de milefólio é o que necessariamente deve ser uma “situação” dada, já que qualquer coisa que aconteça naquele momento pertence a ele como parte indispensável do quadro.
- Se um punhado de fósforos é jogado no chão, eles formam o padrão característico daquele momento. Porém, uma verdade tão óbvia como essa só revela seu caráter significativo se for possível ler o padrão e verificar sua interpretação, em parte pelo conhecimento, do observador, da situação objetiva e da subjetiva e, em parte, pelo caráter dos fatos subsequentes.


 - Obviamente esse não é um procedimento que atraia uma mente crítica, acostumada à verificação experimental de fatos ou à evidência factual. Mas para alguém que goste de olhar o mundo segundo a perspectiva da antiga China, o I Ching pode exercer alguma atração.  


  O  I Ching operando:
- (...)  Com esse propósito realizei uma experiência rigorosamente de acordo com a concepção chinesa: personifiquei, de certo modo, o livro, perguntando seu julgamento sobre sua situação atual, isto é, sobre minha intenção de apresentá-lo à mente ocidental.  

   - Utilizei o método de moedas e a resposta obtida foi o hexagrama 50 - Ting, O CALDEIRÃO.

- De acordo com a maneira como foi formulada minha pergunta, deve-se entender o texto do hexagrama como se o próprio I Ching fosse a pessoa que fala.

- Assim, ele descreve a si próprio como um caldeirão, isto é, como um recipiente de ritual contendo comida preparada. Deve-se entender comida, aqui, como alimento espiritual.


- Wilhelm diz a respeito: “O Ting, enquanto um utensílio pertencente a uma civilização refinada, sugere o cuidado e a alimentação dos homens capazes, o que resulta em benefício da nação…"
- Aqui a cultura atinge sua culminância na religião. O Ting serve para a oferenda de sacrifícios a Deus. Os mais elevados valores terrenos devem ser oferecidos em sacrifício a Deus…

- A suprema revelação de Deus encontra-se nos profetas e nos santos. Venerá-los é, na verdade, venerar a Deus. Os desígnios de Deus, manifestados através deles, devem ser aceitos com humildade”.


- Em meu hexagrama os “agentes espirituais” enfatizaram com um nove as linhas na segunda e terceira posições. Diz o texto:
Nove na segunda posição significa:
Há alimento no Ting.
Meus companheiros têm inveja,
mas nada podem contra mim.
Boa fortuna.


Assim, o I Ching diz de si mesmo: “Eu contenho alimento (espiritual)”. Como a participação em algo grande sempre desperta inveja, o coro dos invejosos é parte da cena. Os invejosos querem despojar o I Ching daquilo que ele possui de grandioso, isto é, procuram roubar ou destruir o seu significado. Mas essa hostilidade é em vão. Sua riqueza de significado está assegurada, isto é, o I Ching está seguro de suas positivas conquistas, as quais ninguém lhe pode tirar.  


O texto continua:
Nove na terceira posição significa:
A alça do Ting está alterada.
Ele é impedido em suas atitudes.
A gordura do faisão não é comida.
Quando a chuva cair, o remorso desaparecerá.
A boa fortuna virá ao final.

A alça (em alemão Griff) é a parte pela qual o Ting pode ser segurado (gegriffen). Portanto, significa o conceito (Begriff) que se tem do I Ching (o Ting). No decorrer do tempo, esse conceito aparentemente mudou, de modo que hoje já não podemos apreender (begreifen) o I Ching. 

Assim, “ele é impedido em suas atitudes”. Já não somos mais amparados pelo sábio conselho e pela profunda visão intuitiva do oráculo; por isso, não mais encontramos nosso caminho através das complexidades do destino e da escuridão de nossa própria natureza. Já não mais se come a gordura do faisão, isto é, a melhor e mais rica parte de um bom prato.

- Mas quando, finalmente, a terra sequiosa novamente receber a chuva, isto é, quando esse estado de carência for superado, o “remorso”, isto é, a tristeza pela perda da sabedoria tiver cessado, virá a tão esperada oportunidade. Wilhelm comenta: “Isso descreve alguém que, em meio a uma cultura muito desenvolvida, encontra-se numa posição em que não é notado nem reconhecido. Isso é um grande obstáculo à sua atuação”. O I Ching parece estar lamentando que suas excelentes qualidades não sejam reconhecidas e portanto permanecem inexploradas. Conforta-se com a esperança de recuperar, em breve, o reconhecimento.

- A resposta dada, nessas duas linhas de destaque, à pergunta que formulei ao I Ching não requer nenhuma sutileza especial de interpretação, nenhum artifício, nenhum conhecimento incomum. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso pode compreender o significado da resposta; é a resposta de alguém que tem uma boa opinião sobre si próprio, mas cujo valor não é pela maioria reconhecido, nem sequer amplamente conhecido. 


- Quem responde tem uma noção interessante sobre si mesmo: se vê como um recipiente no qual as oferendas ao sacrifício são trazidas aos deuses, a comida do ritual destinada à sua alimentação. Concebe a si próprio como um utensílio de culto destinado a prover o alimento espiritual para os elementos ou forças inconscientes (“agentes espirituais”) que foram projetados como deuses – em outras palavras, para dar a essas forças a atenção que elas necessitam para desempenhar seu papel na vida do indivíduo. Na realidade, esse é o significado original da palavra “religio” – uma cuidadosa observação e consideração (de ”relegere”) do numinoso.

- O método do I Ching leva realmente em consideração a oculta qualidade individual existente nas coisas e nos homens e também no nosso próprio inconsciente.


"... aqueles a quem a ele não agradar não têm por que usá-lo, e quem se opuser a ele não é obrigado a achá-lo verdadeiro. Deixem-no ir pelo mundo para benefício dos que forem capazes de discernir sua significação." (Jung)

Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dumitru Brodetsky

Brodetsky nasceu na URSS/ Moldávia em 1976. 
 "A pintura e as artes em geral são na verdade, os únicos canais de comunicação que ainda estão disponíveis para mim hoje. Isso é porque eu não sou um ser social, no sentido de tomar a realidade como ela é e simplesmente cumprir com as regras vigentes. Eu estou em constante negação de tudo o que é feio e mal no mundo, e meu protesto se manifesta nas pinturas que eu crio".





sábado, 5 de janeiro de 2013

Ψ JUNG e os sonhos premonitórios

                           imagem: Igor Zharkov

Os sonhos são um aspecto ainda pouco conhecido pela ciência.

O conhecimento de sonhos premonitórios ou significativos a poucas horas da morte é comum serem relatados em muitas religiões e culturas, da China e Índia à Grécia Antiga.

O último sonho que o psicólogo suíço Carl Gustav Jung comunicou a seus seguidores, alguns dias antes de morrer, foi o de uma grande pedra sobre a qual estava escrito: "Para você, este é o sinal de integridade e unidade". 

Na interpretação de Jung, isso apontava que o trabalho de sua vida tinha chegado ao fim.

 Sócrates e Confúcio também se referiram a sonhos significativos ocorridos pouco antes de suas respectivas mortes.
   Culturas indígenas e outras referem que os sonhos permitem contatos com as divindades. É uma viagem da alma e podem preconizar o futuro.

 Há relatos de que os índios já utilizavam-se dos sonhos para saberem onde estava a presa na hora da caça.

Entretanto, essas culturas salientam que somente indivíduos que governam suas vidas com retidão, purificação e sabedoria terão acesso ao privilegiado mundo dos sonhos premonitórios.

Para os índios, nos sonhos estamos no puro estado de espírito, que tudo vê por todos os ângulos.

Numa perspectiva mística, o espírito é o princípio inteligente, sede do saber e dos processos psicológicos conscientes e inconscientes. O ego onírico é o próprio espírito consciente de sua individualidade.

Podemos desenvolver nossa espiritualidade pelos sonhos. Os sonhos espirituais vão refletir a cultura religiosa do sonhador.

O Psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), desenvolveu um método alternativo para compreender a natureza da mente humana e dos sonhos. No fim da sua longa vida, já tinha recolhido e estudado mais de 80.000 sonhos.

Ao contrário de Freud, Jung dizia que os sonhos procuram se comunicar, não ocultar o que está no inconsciente.

Segundo Jung, o que não estaria claro para nós é a linguagem dos sonhos, mas afirmava que deveríamos aprender esse idioma para tirar dele os benefícios e as mensagens que os sonhos trazem. 

Os sonhos podem ser classificados em grandes ou pequenos. Sonhos grandes são sonhos mais arquetípicos, míticos, muitas vezes indecifráveis do ponto de vista individual, porém carregados de uma energia capaz de "sacudir" a psique e modificar o curso da vida do indivíduo.

Os pequenos sonhos dizem respeito à vida cotidiana do sonhador.

Os sonhos premonitórios ocorrem quando há uma grande carga de emoção, esse tipo de sonho acontece mais na terceira parte da noite quando estamos mais descansados e com menos lembranças da véspera.

Muitas vezes são simbólicos, para que a pessoa que recebe a mensagem não sofra um impacto emocional muito grande.

O sonho é uma manifestação dinâmica do inconsciente, em que ele faz energicamente algo por sua própria vontade, movimenta-se e cria por sua própria conta, e foi isso o que Jung definiu como espírito. 

O inconsciente sabe coisas; conhece o passado e o futuro, sabe coisas a respeito de outras pessoas. De tempos em tempos, todos nós temos sonhos que nos informam sobre algo que acontece a uma outra pessoa. 

Psicólogos sabem que os sonhos premonitórios e telepáticos ocorrem com muita freqüência a praticamente todas as pessoas. Jung refere a esse conhecimento inconsciente, como "o conhecimento absoluto". 

Jung citava muito o Talmude, escritos sagrados dos judeus, que diz que o sonho é sua própria interpretação. 

Jung dizia que se desse a uma pessoa ocidental uma página para ler, que continham apenas palavras do idioma chinês, a pessoa iria devolver a folha e dizer que ali não havia nada escrito, portanto ao havia nenhum significado. 

Poderia até mesmo chegar ao absurdo de dizer que o idioma chinês não serve para nada, e teria de descartar um idioma que mais de um bilhão utilizam todos os dias para se comunicar. 

Para Jung os sonhos possuem a mesma intensidade de um idioma desconhecido. Requer treino e conhecimento para conseguir decifrá-los, mas empenhar esforço nessa prática será altamente recompensadora.

O sonho é uma porta aberta para os mais recônditos e secretos recessos da alma, sendo um auto-retrato espontâneo, em forma simbólica, da situação presente no inconsciente.

O sonho, portanto, contribui com o material que estava faltando para a melhora e eventual cura do paciente, daí sua especial importância na terapia. 

Então, para Jung os sonhos possuíam essencialmente a função de equilibrar e compensar, afim de manter a harmonia e equilíbrio interior do homem. 

Jung estava consciente de que os sonhos podem ser criados por influências do ambiente, por indisposições físicas, e sonhos que são meras repetições de nossas ansiedades cotidianas

Porém, fazia uma distinção entre cérebro e mente, para ele as imagens contidas nos sonhos não podiam ser reduzidas somente às condições físicas do homem, mas essencialmente envolvem a espiritualidade humana. 

No inconsciente coletivo existe algo que chamamos de memória ancestral, que habita o indivíduo, e essa memória opera através do inconsciente coletivo. 

O inconsciente coletivo é um nível do ser que pertence ao próprio indivíduo. Entretanto, esse nível da mente contém as experiências ancestrais, universais que são fornecidos pelas mitologias dos povos.

Sonhos arquétipos são aqueles sonhos que possuem conteúdo importante e empregam símbolos arquétipicos em suas comunicações.

Existem símbolos universais do inconsciente coletivo que podem aparecer em um sonho e estar carregado de significado como: nascimento, morte, mar, escada, construções em ruínas, serpentes, aranhas, o velho sábio, frutas, nudez ...

Esses sonhos narram sobre vida e morte, valores morais, sobre a beleza, a justiça, a bondade, o amor e o destino. Transcendem ao que é pessoal, bem como a mente consciente, e vão às profundezas do inconsciente coletivo. 

*Benefícios constatados entre funções psíquicas dos sonhos e funções na vida cotidiana:
 1. Aprofundar o relacionamento consigo mesmo: ao entrar em contato com os sonhos, o sonhador percebe muitas de suas características psíquicas e emocionais, criando maiores vínculos com sua intuição, modificando atitudes e comportamentos.
 2. Entender melhor os universos externo e interno: ao sonhar, percebemos que existem dois mundos, um que observamos, vivenciamos empiricamente, onde passamos a maior parte de nosso tempo acordados. O outro onde e existimos de uma maneira diferente, pois o inconsciente não está atrelado às questões morais e éticas. Sua lógica de funcionamento é própria, mas ainda assim capaz de nos mostrar o que não vemos acordados.
 3. Relatar o processo de individuação: quando acompanhamos os sonhos, vamos traçando uma história conectada com nosso propósito de vida, amadurecemos e tecemos um caminho que é só nosso, que nos pertence.
 4. Oferecer recursos para uma boa terapia: a aplicação clínica da análise dos sonhos é uma ferramenta importante que dá ao terapeuta a localização do sonhador dentro do processo, seu progresso ou as modificações psíquicas que estão ocorrendo.
 5. Compensar e equilibrar a psique: a principal função ressaltada por Jung é a função compensadora do sonho, por exemplo um evento que gerou muita raiva no sonhador sem que ele pudesse demonstrá-la, gera um desequilíbrio psíquico que pode ser vivido no sonho, como uma situação de briga em que o sonhador diz e age de forma bastante agressiva. Dessa forma, o sonho "alivia" a tensão psíquica gerada pela discordância entre o externo e o interno, ainda que temporariamente. 
 6. Demonstrar o que fazer: muitas vezes o sonho trata de resumir tarefas para o preenchimento de uma condição, etapas pelas quais o sonhador deverá passar para angariar um nível mais elevado de consciência.
 7. Desgastar acontecimentos traumáticos: sonhos reativos são os sonhos que se repetem, evocando situações traumáticas vivenciadas, como traumas de guerra, acidentes graves, catástrofes. Eles ocorrem com o intuito de desgastar a energia que se acumulou em torno do trauma, até que se esgote ou que esta situação possa ser ressignificada pela via consciente. 
 8 . Comunicar-se: sonhos telepáticos caracterizam-se por pessoas que sonham o mesmo sonho ou que conversam no sonho em tempos muito próximos, sem que um necessariamente saiba do outro. Em geral, pode ocorrer entre pessoas distantes ou mesmo entre pessoas próximas que vivenciam o mesmo sonho, na mesma noite e que, conversando, podem descobrir que se comunicaram via inconsciente. São mais raros e muitas vezes podem passar despercebidos, caso falar sobre sonhos não seja um hábito. 
9. Prever acontecimentos: sonhos prospectivos ou premonitórios são sonhos difíceis de identificar, já que somente podem ser percebidos depois que o evento ocorre, de fato.
Até mesmo para aqueles que acompanham seus sonhos e seu mundo interno de perto, os sonhos premonitórios são difíceis de serem identificados.
Podem tratar de grandes eventos, como morte, gravidez ou acidente, mas também podem falar de prospecções ligadas a fatos cotidianos.
São também raros, porém possíveis. De qualquer maneira, mais do que entendê-los como profecias, eles devem ser entendidos como um rascunho, uma possibilidade preliminar. O sonho premonitório simula para depois vivermos a realidade 
10. Aguçar e promover 'insights' criativos: quantos inventores, cientistas, operadores de bolsa, teóricos e escritores já tiveram suas obras ou trabalhos criados e desenvolvidos a partir de 'insights' obtidos em sonhos? 

O Sonho Profético existe e é considerado de origem paranormal, quer devido ao fenômeno de telepatia ou como vidência ou precognição, mas considerado muito raro. "Os sonhos algumas vezes podem revelar certas situações muito antes de elas realmente acontecerem". (C.G. Jung, Entrevistas e Encontros).

 "Os sonhos fornecem informações extremamente interessantes a quem se empenhar em compreender o seu simbolismo. O resultado, pouco tem a ver com preocupações mundanas como comprar e vender. Mas o sentido da vida não é explicado pelos negócios que se fez, assim como os desejos profundos do coração não são satisfeitos por uma conta bancária." ( C. G. Jung; citado em "O caminho dos sonhos", Marie-Louise von Franz)

Para os que menosprezam o valor dos sonhos, a prática está cheia de exemplos de pessoas que foram salvas de desastres (sonhos premonitórios), que ganharam algum prêmio, foram curadas de doenças ou presentiram a morte de alguém. 

 Sonhos Premonitórios e Telepáticos Diferente do pressentimento, o evento premonitório é mais específico, podendo se dar em estado de vigília ou durante o sono, por sonhos, como o que vem a seguir: 
"Alguns meses antes da morte de minha mãe, em setembro de 1922, tive um sonho que me anunciava isso. Este sonho dizia respeito a meu pai e me causou grande impressão: desde sua morte (1896),  jamais sonhara com ele e eis que me aparece num sonho, como se tivesse voltado de uma longa viagem. Parecia rejuvenescido e não manifestava qualquer autoridade paterna. Estava ao meu lado, em minha biblioteca e eu me alegrava por saber que ele chegara. Sentia-me particularmente feliz por lhe apresentar minha esposa, meus filhos e contar-lhe tudo o que tinha feito, mostrando-lhe o homem que me tornara. 
Queria também falar de meu livro 'Os Tipos Psicológicos', recentemente publicado, mas imediatamente notei que esses assuntos o importunavam porque parecia preocupado. Tinha o ar de quem esperava qualquer coisa. Eu percebi e por isso me mantive reservado. Disse-me então que por ser eu psicólogo gostaria de consultar-me sobre a psicologia do casamento. Dispunha-me a dissertar longamente a respeito das complicações da união conjugal, mas nesse momento acordei. Não pude compreender o sonho como deveria, pois não tive a idéia de que era preciso ligá-lo a morte da minha mãe. Só o compreendi quando ela morreu subitamente em janeiro de 1923." (Jung)
 Referências bibliográficas:
JUNG, C. G. Memórias, sonhos, reflexões. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro.
JUNG, C. G. O homem e seus símbolos.. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro
 PERROT, Etienne O caminho da transformação segundo Jung e a alquimia. Editora Paulus. São Paulo 1998
 KAPLAN-WILLIAMS, Strefon Elementos da sonhoterapia. Ediouro. Rio de Janeiro, 1998. 
TANNER, Wilda - O mundo místico, mágico e maravilhoso dos sonhos. Editora Pensamento. São Paulo 97/00. 
Jung e a Mediunidade - Djalma Argollo 1ª Edição - Copyright 2004 - Palestra proferida na Escola de Filosofia à Maneira Clássica Nova Acrópole que fica no bairro de Manaíra, na cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, Brasil.
CHAMPLIN; Darrel. O portal dos sonhos. Editora: Publisher Brasil. São Paulo. 2002 
FADIMAN; James. Teorias da Personalidade. Editora: Harbra. São Paulo. 2003
Italo Jorge Furletti - Psicólogo clínico
Fatima Vieira - Psicóloga Clínica