sábado, 14 de novembro de 2015

Ψ “Temos que ter coragem de ouvir o que tem a nos dizer a loucura e a morte” (Kierkegaard)

O Que a Psicanálise Tem à Dizer Sobre a Intolerância e o Ódio?

*Em Totem e Tabu (1913), Freud refere que o ser humano ingressa na cultura através da lei do pai.

*Fala do mito do pai primitivo, que impedia o gozo de todos os seus filhos (e é morto por eles) ao reservar para si o direito de possuir todas as mulheres (mães, irmãs) da horda.

*São esses mesmos membros da horda que irão restaurar a interdição da endogamia ao erigir um totem que simboliza o pai morto.

*Assim, o tabu ao incesto consolida-se como a primeira lei estabelecida entre os homens, demarcando uma passagem para a vida em civilização e o pacto do laço social.

*Na teoria freudiana a Lei é simbólica e rege os homens na condição de seres que habitam a linguagem.

*E as leis que os homens fazem para regular as relações entre si, tornam-no civilizado?

*Freud (1930) a humanidade e sua cultura é uma patologia; sua teoria está fundada na compreensão do sujeito perante suas defesas e estratégias para interagir com o mundo externo.

*Em O Mal Estar da Civilização (1930), Freud diz que a civilização se impõe ao homem e acaba por restringir aquilo que é considerado o propósito da vida: a felicidade.

*Assim refere: "Grande parte das lutas da humanidade centralizam-se em torno da tarefa única de encontrar uma acomodação conveniente – isto é, uma acomodação que traga felicidade - entre essa reivindicação do indivíduo e as reivindicações culturais do grupo, e um dos problemas que incide sobre o destino da humanidade é o de saber se tal acomodação pode ser alcançada por meio de alguma forma específica de civilização ou se este conflito é irreconciliável".

*Para Freud (1930) as relações sociais são reguladas tendo como base a restrição as liberdades humanas individuais.

*Estas restrições, se por um lado viabilizam a vida em sociedade, trazem sérias implicações à organização psíquica do ser humano.

*Que por conta desta liberdade perdida, estará permanentemente em conflito com a civilização.

*Freud (1930) apresenta, ainda, a libido como a força que visa unir a todos os homens em comunidades através dos laços libidinais.

*Freud (1939), traz à tona a agressividade como parte fundamental da natureza humana: "Que poderoso obstáculo à civilização a agressividade deve ser, se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade quanto a própria agressividade! A ética ‘natural’, tal como é chamada, nada tem a oferecer aqui, exceto a satisfação narcísica de se poder pensar que se é melhor do que os outros. Nesse ponto, a ética baseada na religião introduz suas promessas de uma vida melhor depois da morte".

 *Freud (1930) afirma que o amor reinante em algumas comunidades só é possível se o grupo identificar algum grupo externo sobre o qual possa descarregar esta agressividade.

*Em Psicologia das massas e análise do eu (1921), baseado na obra de Le Bon, formula a teoria das identificações, mostrando os efeitos do grupo no indivíduo e a transformação de um agregado de indivíduos em um grupo.

*Freud (1921), conclui que a sugestionabilidade é um contágio; e que o grupo é “impulsivo, instável e irritável” , comparando-o entre a vida mental dos primitivos e de crianças.

*Freud diz: “a identificação é a expressão mais primitiva de uma ligação emocional com outra pessoa".

*O grupo está sujeito ao poder de sedução das palavras de um líder, e este influencia por meio de ideias que eles próprios acreditam fanaticamente, como é o caso dos terroristas e de todos os governos totalitários.

*Adorno (1951), em seu artigo Teoria Freudiana e o Padrão da Propaganda Fascista, refere que o movimento fascista tem o poder de “ideologicamente racionalizar o irracional”.

 "Já que seria impossível ganhar as massas por argumentos racionais, os fascistas utilizam suas propagandas defletida do pensamento discursivo e orientada psicologicamente de forma a mobilizar processos, segundo ele, “irracionais, inconscientes e regressivos” .

*Em sua obra Psicologia das Massas e Análise do Eu, Freud faz uma análise de como se dá a relação de um indivíduo, seus impulsos instintivos, os motivos e até as suas relações com aqueles que lhe são mais próximos, formando um grupo.

*Afirma que tais indivíduos sob certas condições passam a agir de forma inconsciente, completamente diferente daquela que seria esperada “o indivíduo adquire a característica de um grupo psicológico”.

 *Assim, “os fenômenos inconscientes desempenhariam papel inteiramente preponderante no grupo, subjugando o consciente e a inteligência".

(...) O inconsciente seria sugestionável, descuidado nas deliberações, apressado nos julgamentos, desprovido de autoconsciência, de autorrespeito e de responsabilidade, condicionando aquele por ele dominado a apresentar um comportamento assemelhado ao de uma criança ou um animal selvagem”.

*Para o grupo ter essa característica, faz-se indispensável a presença de uma liderança forte, arbitrária e fascinante.

*Freud continua “em um grupo, todo sentimento e todo o ato são contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Algo totalmente contrário a sua natureza a não ser quando submetido a tal situação. Isso pode ocorrer a qualquer homem civilizado, pacato, mas envolvido pelo grupo”.

*Esse rebanho obediente necessita de um senhor, que pode ser qualquer um do grupo que se indique a si próprio o chefe.

*Esse deve ser fascinado por uma intensa fé, uma ideia, a fim de despertar a fé do grupo. Precisa ter vontade forte e imponente, que o grupo não tem vontade própria.

*Não há espaço para diálogo, nem divergências. Freud considera a falta de liberdade o principal fenômeno da psicologia do grupo.

*O psiquiatra muçulmano dr. Eyad Sarraj afirma que os terroristas islâmicos são “geralmente pessoas tímidas, introvertidas e não violentas, de uma forma geral”.

*E o renomado Psicólogo da Universidade de Tel-Aviv, dr. Ariel Merari, que estudou terroristas suicidas no Oriente Médio por um período de 18 anos, afirma que não conheceu nenhum caso de terrorista suicida que fosse realmente psicótico.

*Em última análise, tem-se a religião como motivação por parte de alguns grupos ao ato terrorista.

*Freud (1933) chega a dizer que “a religião é um poder imenso que tem a seu serviço as mais fortes emoções dos seres humanos” .

*Pode-se destacar grupos religiosos que acreditam na destruição como forma de propagar aquilo que acreditam e acabar com outras linhas religiosas contrárias às ações dos mesmos. Cada grupo religioso possui seu motivo particular.

 *Freud faz um contraponto da religião à psicanálise: "Enquanto as diferentes religiões alternam entre si pela posse da verdade, nossa opinião reside em que a questão da verdade das crenças religiosas pode ser totalmente colocada à parte. A religião é uma tentativa de obter domínio do mundo perceptível no qual nos situamos, através do mundo dos desejos que desenvolvemos dentro de nós em consequência de necessidades biológicas e psicológicas".

*Freud (1933) chega a afirmar que a religião é uma ilusão e que é movida em ajustar-se aos nossos impulsos de instintos e desejos.

*Contudo, este autor deixa alguma esperança quanto ao futuro da humanidade, ao fazer analogia entre o processo civilizatório e o caminho do desenvolvimento individual.

*É possível afirmar que o social desenvolve um superego sob cuja influência se produz a evolução cultural.

*Se o desenvolvimento da civilização possui uma semelhança tão grande com o desenvolvimento do indivíduo, e se emprega os mesmos métodos, é possível concluir que, sob a influência de premências culturais, algumas civilizações se tornaram neuróticas.

*O terrorismo poderia ser encarado, portanto, como produto das neuroses da civilização.

REFERÊNCIAS:  
SANTOS, Renato,  Filosofia e Psicanálise - O Conhecimento se faz com a Propagação das Oportunidades de Informação.
ADORNO, Theodor W. Teoria Freudiana e o Padrão da Propaganda Fascista. 1951.
Totem e Tabu. Em Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vols. XIII . Rio de Janeiro: Imago, 1997. ______. (1921). 
Psicologia das Massas e Análise do Eu. Em Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1997. ______. (1930). 
O Mal Estar da Civilização. Em Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol.XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1997. ______. (1933).
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

domingo, 8 de novembro de 2015

Flor Da Lua ... Eterna, Enquanto Dura.

“Ao permanecer imóvel, com o escuro contorno na floresta ao redor, me senti enfeitiçada ... a primeira pétala começou a se mover e, outra, enquanto a flor rompia para a vida.” 
 
*A inglesa Margareth Mee, 79 anos, em sua última viagem pela selva amazônica, entusiasmou-se ao ver cordões de cactos enlaçados ao redor de uma grande árvore, com botões de flor.
 *Ela retornou ao local no dia seguinte e esperou até o anoitecer para, pois a flor só desabrocha de madrugada.
 *A flor exalou um perfume bastante doce e, em uma hora, estava totalmente aberta.
 *Encontrar a surpreendente "flor da lua" e desenhá-la era uma das metas da expedição da artista botânica.



Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica