sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ψ DEPRESSÃO - estava sofrendo de uma grave doença

 
(...) estava sofrendo de uma grave doença depressiva e todos os esforços para me livrar dela eram vãos.
- Uma das manifestações terríveis é a falta completa da autoestima. Quanto mais ela progredia mais mais meu valor diminuia assustadoramente ante meus olhos.
- É um desalento mórbido.
- A depressão é um distúrbio do espírito, tão misteriosa e imprevisivelmente percebida pela pessoa (mente mediadora), que é quase indescritível.
- Permanece incompreensível para os que não experimentam sua forma extrema.
- É assustador verificar que o leigo, vítima de depressão grave, encontra muita coisa sobre a sintomatologia da doença mas quase nenhuma sugestão de possibilidade de cura relativamente rápida.
- Aqueles que prometem uma solução fácil são insensatos e charlatões.
- Existe a combinação farmacológica e psicoterápica, que na depressão mais grave é inócua.
- A depressão como doença, é ainda um grande mistério.
- Seus segredos tem sido revelados à ciência com relutância muito maior do que os segredos das outra doenças que nos afligem.
- Outra característica é a relutância em aceitar a realidade de que a mente encontra-se em estado de dissolução e não se procura o especialista o que contribui para a intensificação dos sintomas.
- Mas cada vez mais o confronto não pode ser adiado.
- Não dá para manter as aparências por tempo indefinido ainda que que a literatura acessível sobre depressão seja levianamente otimista fazendo crer que basta encontrar o psicofármaco certo com promessa de rápida recuperação é mais um engodo.
- Em estágio mais avançado os sintomas são sinistros: a mente acaba sendo dominada por uma anarquia desconexa. Uma bifurcação do estado de espírito,
uma lucidez relativanas primeiras horas do dia, que vai ficando cada vez mais obscura durante a tarde e à noite.
- William James, que lutou contra a depressão desistiu de encontrar uma descrição adequada, sugerindo ser essa uma tarefa quase impossível, no livro 'The varieties of Religious Experience', refere: "É uma angústia positiva e ativa, uma espécie de neuralgia psíquica completamente desconhecida na vida normal." O tempo da depressão não sofre variações, sua luz é sempre marrom escura.
- Falta de apetite, o fracasso no riso forçado e finalmente, o fracasso total da capacidade de falar... a dor feroz produz um intenso alheamento, o discurso se resume num murmúrio confuso.

 Sem expressão, monossilábico, reticente...
- Durante o cerco implacável da doença os pensamentos de morte são comuns invadindo a mente como rajadas de vento gelado... "a dor da depressão não pode ser imaginada por quem não a experimentou e ela mata, porque a angústia torna-se insuportável.

- A prevenção de muitos suicídios continuará a ser falha enquanto não se tomar consciência dessa dor. Por meio do processo de cura chamado tempo, por meio da intervenção médica, psicoterápica e em muitos casos da hospitalização.
- A maioria das pessoas sobrevive à depressão e talvez essa seja sua única bênção. Mas quanto à trágica legião dos que são levados à autodestruição nenhuma censura lhes deve ser feita, da mesma forma que não censuramos a vítima de um câncer terminal."
- Fui vencido pela doença. A tempestade que me levou ao hospital incluia o álcool do qual vinha abusando há quarenta anos. Eu o usei muitas vezes combinando com a música para permitir que a minha mente criasse visões as quais o cérebro sóbrio e inalterado não tinha acesso.

- O álcool era meu sócio mais velho e valioso cuja ajuda eu procurava diariamente, procurava-o para acalmar a ansiedade e o medo incipiente, há tanto tempo escondidos num canto do meu cérebro.
(...) "O problema é que eu fui traído por um ataque repentino, eu não podia mais beber.

- Muitas pessoas que bebem apresentam essa intolerância quando mais velhos.
- O fato é que até um gole de vinho provocava-me náuseas. 
- O amigo tinha me abandonado, não gradual como deve fazer o verdadeiro amigo, mas num tiro, me deixando indefeso, desprotegido a seco. 
- Esta foi a peça perversa, ainda que o álcool seja um forte depressivo, jamais me deprimiu durante toda a minha carreira de bebedor, o contrário aliviava a ansiedade, ele era o grande aliado que mantinha longe meus demônios, agora nada poderia impedir que esses demônios invadissem meu inconsciente. 
- A depressão pairava sobre mim há anos, esperando para dar o salto mortal. Agora eu estava no primeiro estágio da tempestade negra da depressão".
- Sinto uma espécie de anestesia, uma apatia, uma estranha fragilidade... corpo fraco, hipersensível, desajeitado, sem a coordenação normal, sentia espasmos e dores, com presságios de todo tipo de doenças terríveis.

- Uma inquietação que me mantinha sempre em movimento.
- As vítimas da depressão tornam-se perigosas para elas mesmas. É uma tempestade de sombras. - As respostas são retardadas, a quase paralisia, a energia mental quase a zero. Finalmente o corpo é afetado e sente-se esvaziado, roubado de toda a força. O desaparecimento quase total da voz o som é fraco, a libido faz uma retirada precoce como acontece em quase todas as doenças graves.

-  É a necessidade supérflua de um corpo sob o assédio de uma emegência. Perda do apetite. Sono sem sonhos. Exaustão combinada com a falta de sono.
- A depressão tem o hábito da recaída. Mas a maioria sobrevive também a essa recorrência, geralmente suportando melhor porque a experiência passada as prepara psicologicamente para enfrentar para lutar contra o monstro.
- Vale ressaltar que é um insulto dizer "aguente firme", "tenha força de vontade", "reaja", etc
- Mas foi comprovado que se o encorajamento for sincero e compassivo, enfatizando sempre o tratamento especializado, seria parte da cura com menos riscos de suicídios. 


"Perto das Trevas" - William Styron/ tradução: Aulyde Soares Rodrigues / rocco - Rio de janeiro - 1991 (Livro resultado de uma palestra/1989, Baltimore, simpósio sobre distúrbios afetivos - Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina Universidade Johns Hopkins)
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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