quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ψ EPIGENÉTICA, os hábitos fazem o monge...


*Há mais coisas entre o seu código genético e o seu destino do que sonhavam os cientistas. Antes, eles achavam que um determinaria o outro em matéria de saúde. Mas um ramo recente da biologia, a EPIGENÉTICA, comprova em detalhes por que o vigor ou os problemas que o futuro lhe reserva não devem ser encarados apenas como mérito ou culpa do que está escrito em seu DNA. 

*Pesquisadores desvendam como a ALIMENTAÇÃO, o ESTRESSE, a PRÁTICA DE EXERCÍCIOS ou o TABAGISMO são capazes de influenciar o comportamento dos genes para o bem e para o mal.

*Para ilustrar essas descobertas, basta recorrer a um estudo recém-concluído na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.


 *Os médicos recrutaram 30 pacientes com câncer de próstata em estágio inicial e os submeteram por três meses a um programa que incluía dieta rica em vegetais e pobre em gorduras, exercícios moderados, técnicas de controle do estresse e participação em grupos de apoio.

 *Logo em seguida veio a constatação por meio de moderníssimos exames de DNA: essas medidas diminuíram a atividade de genes ligados ao surgimento de tumores e aumentaram a ação daqueles envolvidos na capacidade do organismo de enfrentá-los. O que ajudou (e muito) a brecar a evolução do problema.
 
*O que a EPIGENÉTICA faz, em resumo, é enxergar ao pé da letra o resultado dos nossos hábitos no interior de cada célula. Ali dentro esteja ela no cérebro ou no pé existe a receita completa de um indivíduo. Essa fórmula única é o seu material genético, o DNA.

*O que pode variar é a leitura dessa receita algumas células lêem os trechos que determinam como devem funcionar os neurônios e atuam como tal; outras decifram a parte necessária para executar as funções de uma célula de pele.  E assim por diante.

*Na receita também existem genes ligados a doenças e genes relacionados à capacidade de resistir aos males. Se são ou se não são lidos direito é o que determina quando as células de um órgão funcionarão bem ou serão um estorvo, dando origem a um câncer.

 *Agora os cientistas notam que existem fenômenos bioquímicos batizados de epigenéticos e intimamente associados aos hábitos.

 *Eles não chegam a alterar a seqüência do DNA, esclarece a biomédica Miriam Jasiulionis, da Universidade Federal de São Paulo. No entanto, o jeito como você vive pode, sim, destacar determinadas linhas, aumentando as chances de que se expressem. Ou fazer o contrário.

 *Os pesquisadores vasculham como a má alimentação ou o tabagismo metem o bedelho nos pedacinhos do DNA, reforçando a ameaça de doenças para as quais já temos tendência. 

*A boa notícia é que, em tese, dá para reparar os prejuízos de uma vida desregrada.

*Os mecanismos epigenéticos são reversíveis, conta a farmacêutica Cláudia Rainho, da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, no interior de São Paulo: Ou seja, se você adotar um estilo de vida mais saudável, será bem possível que alguns trechos nada agradáveis do seu DNA caiam no esquecimento.
 
*MUDANÇAS: Afinal, como uma mudança de hábito é capaz de se intrometer na atividade de um gene? A resposta é pura química. Diversas moléculas, resultantes do próprio trabalho do corpo e do que a gente come, por exemplo, são capazes de grudar em uma porção do código genético. 

*Entre essas figuras, destaca-se de longe o metil. Ele seria comparável a uma espécie de chave que consegue ligar ou desligar um gene, num fenômeno conhecido como metilação do DNA.

*Cerca de 60% dos nossos genes são passíveis de mecanismos assim, isto é, podem ser acionados ou inativados pelo metil, calcula Giseli Klassen, professora de patologia da Universidade Federal do Paraná.

*Para aplacar sua ansiedade: algumas peças-chave da célebre vida saudável, como o reles costume de comer brócolis ou cereais, incrementa a produção do bendito metil.


*A dúvida cruel é por que, se você come a porção de brócolis, por exemplo, as reações podem afetar positivamente um naco do DNA do seu fígado e, ao mesmo tempo, não se envolver com o mesmíssimo pedaço de DNA lá na cabeça.

*Assim como esses mecanismos podem se diferenciar de órgão para órgão, como se tivessem poder de decisão próprio, eles variam de pessoa para pessoa.


 *Até que ponto, então, o aparecimento de uma doença é resultado da receita que a gente carrega de berço ou de fenômenos bioquímicos disparados pelos hábitos? 

*Não sabemos ainda, responde Rafael Linden, professor do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas é certo que ambos entram no jogo. E que as refeições podem ser grandes ou péssimas fornecedoras de chaves para mexer com genes destrambelhados.

*COMO FUNCIONA: Algumas substâncias encontradas nos alimentos transferem os compostos metil para o DNA, controlando a expressão de um gene, afirma a bióloga Lusânia Antunes, da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto.


 *Ao se incorporar num gene que favoreça o surgimento de um tumor, é como se esse metil o rendesse e o mantivesse caladinho.

*Mas há perguntas no ar: será que, da mesma forma que ele silencia um gene do mal, poderia calar um gene benéfico, responsável por uma função interessante à célula?

*Em suma, será que o metil sempre escolhe o alvo certo? Apesar de questionamentos assim, já se presume que alguns nutrientes contribuam de maneira favorável.

*Pesquisadores suspeitam de que a PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS também ajude a deixar os genes em forma, por assim dizer.


 *É como se eles sentissem o resultado de aulas de musculação, corridas ou passeios de bicicleta frequentes.

* Na contramão, surgem provas de que os hábitos nocivos enlouquecem a maquinaria do DNA. 

*O cigarro e o excesso de álcool estão associados a alterações epigenéticas indesejáveis, conta Miriam Jasiulionis.

*Além disso, já se sabe que a fumaceira não só mexe com o comportamento dos genes mas também provoca mutações neles no caso, defeitos que ficam para sempre. Não é por acaso que os tabagistas têm mais câncer.

*A doença mais investigada pela epigenética, claro, é o câncer. As células normais e as tumorais apresentam um padrão de genes ativados e desativados diferente entre si, explica a bióloga Anamaria Camargo, do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer.


 *Os genes que controlam a proliferação celular geralmente ficam desativados nos exemplares doentes, conta a oncologista Mariângela Corrêa, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

 *E, enquanto estão impedidos de trabalhar, outros que fazem exatamente o oposto, ou seja, incentivam a desordem e deveriam ficar inertes os oncogenes estão ativados.


*Nas células saudáveis, vê-se o contrário: os genes supressores, que regulam a multiplicação, estão ativos, e os oncogenes, desligados.


*Para que todas as células continuem assim, firmes e fortes, a melhor estratégia é investir no estilo de vida é o que têm provado os primeiros estudos com seres humanos.

*HÁBITOS: E não pense que as medidas saudáveis, incluindo desde um cardápio balanceado até uma rotina com menos estresse, limitam-se ao seu exclusivo bem-estar. 


*Surgem indícios cada vez mais contundentes de que a maneira como você leva a vida seria transmitida para os genes dos seus filhos.

*Uma questão muito debatida é quanto se transmite dessa herança, conta Lygia Pereira, professora de genética humana da Universidade de São Paulo.

*Mas como isso aconteceria? Bem, nesse aspecto, mistérios ainda pairam. Até porque na fecundação, quando há a união do espermatozóide e do óvulo, uma cópia do DNA da mãe se acopla à do pai e, em meio a esse casamento, quase todo o material genético perde aquelas chaves, as metilações, que ligavam e desligavam os genes. Formam-se novas metilações durante o desenvolvimento do embrião, diz Cláudia Rainho.

*No entanto, uma pequena parcela dos genes herdados não sofre essa queima de arquivo e, assim, carrega totalmente a sua herança. 

*Deduz-se, assim, que quem viveu longe de cigarros e outras drogas, apostou na malhação e não se esqueceu de frutas e verduras no prato, entre outros ingredientes saudáveis, irá presentear seus filhos com uma bagagem genética de primeira, menos predisposta a doenças.

*Já quem não se cuidou pode transmitir não só as alterações epigenéticas indesejáveis como também mutações aqueles defeitos permanentes ao embrião. 


*E estas são indiscutivelmente mais herdadas, diz a biomédica brasileira Mariana Brait, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

*Ou seja, O MODO COMO VOCÊ VIVE HOJE FAZ TODA A DIFERENÇA PARA O FUTURO DO SEU CORPO E PROVAVELMENTE PARA O DE SEUS DESCENDENTES TAMBÉM.
Fonte: Revista Saúde é Vital Edição: Allisson Bacelar 23.09.08
Ψ  Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

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