domingo, 4 de dezembro de 2011

Ψ E todos nós somos meio dementes! (Gilles Deleuze)

"O verdadeiro charme das pessoas reside em quando elas perdem as estribeiras, quando não sabem muito bem em que ponto estão. Não são pessoas que desmoronam, pelo contrário, nunca desmoronam. Mas se não captar a pequena marca de loucura de alguém, não pode gostar desse alguém. É exatamente este lado que interessa. E todos nós somos meio dementes. Se não captar o ponto de demência da pessoa, eu temo que... aliás, fico feliz em constatar que o ponto de demência de alguém seja a fonte do seu charme. Portanto, vamos ao G! "(*G significa gauche, esquerda em francês).
 "Jamais interprete, experimente…” 
 "São organismos que morrem, não a vida."

"A arte é o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à infâmia, à vergonha... A arte é o destino inconsciente do artista."

"Os pontos fracos de um livro são com frequência a contrapartida de intenções vazias que não se soube realizar."

“Nossa vida moderna é tal que, quando nos encontramos diante das repetições mais mecânicas, mais estereotipadas, fora de nós e em nós, não cessamos de extrair delas pequenas diferenças, variantes e modificações.”

“O eterno retorno diz: o que quiseres, queira-o de tal maneira que também queiras seu eterno retorno.”

“Os conceitos com compreensão finita são os conceitos nominais: os conceitos com compreensão indefinida, mas sem memória, são os conceitos da Natureza.”

“[...] repete-se tanto mais o passado quanto menos ele é recordado..."

“Nada aprendemos com aquele que nos diz: faça como eu. Nossos únicos mestres são aqueles que nos dizem “faça comigo” e que, em vez de nos propor gestos a serem reproduzidos, sabem emitir signos a serem desenvolvidos no heterogêneo.”

“A roda do eterno retorno é, ao mesmo tempo, produção da repetição a partir da diferença e seleção da diferença a partir da repetição.”

“[...] Deus não criou Adão pecador, mas, primeiramente, o mundo em que Adão pecou.”

“O paradoxo da repetição não estará no fato de que não se pode falar em repetição a não ser pela diferença ou mudança que ela introduz no espírito que a contempla?


“Sob o eu que age há pequenos eus que contemplam e que tornam possíveis a ação e o sujeito ativo.”

“Só o presente existe.”

“O fundamento do tempo é a Memória.”

“O passado não é o antigo presente, mas o elemento no qual este é visado.”

“Cada um escolhe sua altura ou seu tom, talvez suas palavras, mas a melodia é a mesma e há um mesmo trá-lá-lá sob todas as palavras, em todos os tons possíveis e em todas as alturas.”

“Eis que o presente e o passado, nesta última síntese do tempo, são apenas dimensões do futuro: o passado, como condição, e o presente como agente.”

“[...] atrás das máscaras há ainda máscaras, e o mais oculto é ainda um esconderijo e assim indefinidamente. Desmascarar alguma coisa ou alguém é uma ilusão.”

“[...] o inconsciente deseja e só faz desejar.”

“Não é o que eles dizem ou o que eles pensam, mas sua vida é que é exemplar e os ultrapassa.”

“Nenhuma decisão é final, todas se ramificam.”

“O catecismo, tão inspirado nos Padres platônicos, nos familiarizou com a ideia de uma imagem sem semelhança: o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, mas, pelo pecado, perdemos a semelhança, guardando a imagem…”

“[...] há alguém, mesmo que seja apenas um, com a modéstia necessária, que não chega a saber o que todo mundo sabe e que nega modestamente o que presume que todo mundo reconhece.”

“[...] o pensamento conceitual filosófico tem como pressuposto implícito uma Imagem do pensamento, pré-filosófica e natural, tirada do elemento puro do senso comum.”

“Não contemos com o pensamento para fundar a necessidade relativa do que ele pensa; contemos, ao contrário, com a contingência de um encontro com aquilo que força a pensar, a fim de erguer e estabelecer a necessidade absoluta de um ato de pensar, de uma paixão de pensar. As condições de uma verdadeira crítica e de uma verdadeira criação são as mesmas: destruição da imagem de um pensamento que pressupõe a si próprio, gênese do ato de pensar no próprio pensamento.”

“Alguém nunca é superior ou exterior àquilo de que ele se aproveita: o tirano institucionaliza a besteira, mas é o primeiro serviçal de seu sistema, e o primeiro instituído é sempre um escravo que comanda escravos.”

“[...] o sentido só funda a verdade tornando o erro possível. Uma proposição falsa, portanto, não deixa de continuar sendo uma proposição dotada de sentido. Quanto ao não-sentido, ele seria o caráter daquilo que não pode ser nem verdadeiro nem digital.”

“Aprender é tão-somente o intermediário entre não-saber e saber, a passagem viva de um ao outro. Pode-se dizer que aprender, afinal de contas, é uma tarefa infinita ..." 


“Rigorosamente, não há problemas sociais que não sejam econômicos, se bem que suas soluções sejam jurídicas, políticas, ideológicas, e que os problemas se exprimam também nesses campos de resolubilidade.”

“O problema do pensamento não está ligado à essência, mas à avaliação do que tem importância e do que não tem ..." 


“[...] a revolução é a potência social da diferença, o paradoxo de uma sociedade, a cólera da própria Ideia social.”

“O mundo é um ovo, mas ovo é, ele próprio, um teatro: teatro de encenação, onde os papéis levam vantagem sobre os atores, os espaços sobre os papéis, as Ideias sobre os espaços.”

“[...] um conceito é totalmente incapaz de especificar-se ou dividir-se; o que age sob ele, como arte oculta, como agente de diferenciação, são os dinamismos espaço-temporais.”

“[...] não somos fixados a um estado ou a um momento, mas sempre fixados por uma Ideia como pelo brilho de um olhar..." 


“[...] é verdade que Deus faz o mundo calculando, mas seus cálculos nunca estão corretos, e é mesmo esta injustiça no resultado, esta irredutível desigualdade, que forma a condição do mundo.”“Não há amor que não comece pela revelação de um mundo possível como tal, enrolado em outrem que o exprime.”

“A teoria do pensamento é como a pintura: tem necessidade dessa revolução que faz com ela passe da representação à arte abstrata; é este o objeto de uma teoria do pensamento sem imagem.”

“É provável que as noções de singular e de regular, de notável e de ordinário tenham, para a própria filosofia, uma importância ontológica e epistemológica muito maior que as de verdadeiro e de falso, relativas à representação, pois o que se chama sentido depende da distinção e da distribuição desses pontos brilhantes na estrutura da Ideia.”

“Isso porque não há outro problema estético a não ser o da inserção da arte na vida cotidiana. Quanto mais nossa vida cotidiana aparece estandardizada, estereotipada, submetida a uma reprodução acelerada de objetos de consumo, mais deve a arte ligar-se a ela e dela arrancar esta pequena diferença que, por outro lado e simultaneamente, atua entre outros níveis de repetição, como também fazer os dois extremos das séries habituais de consumo ressoarem com as séries dos instintos de destruição e de morte; juntando, assim, o quadro da crueldade ao da besteira, descobrindo sob o consumo um crispar de maxilares hebefrênico e, sob as mais ignóbeis destruições da guerra, ainda processos de consumo, reproduzir esteticamente as ilusões e mistificações que constituem a essência real desta civilização, para que, finalmente, a Diferença se expresse com uma força repetitiva de cólera, capaz de introduzir a mais estranha seleção, mesmo que seja uma contração aqui e ali, isto é, liberdade para um fim de mundo. Cada arte tem suas técnicas de repetições imbricadas, cujo poder crítico e revolucionário pode atingir o mais elevado ponto para nos conduzir das mornas repetições do hábito às profundas repetições da memória e, depois, às repetições últimas da morte, onde se decide nossa liberdade.” 

Gilles Deleuze (1925-1995), filósofo francês que participou ativamente do movimento de 68 na França.
 É considerado um dos maiores nomes do movimento que ficou conhecido na filosofia e ciências sociais como pós-estruturalismo, ao lado de pensadores como Michel Foucault, Jaques Derrida, Felix Guattari, entre outros. 
O livro “Conversações” é uma compilação de várias entrevistas que Deleuze deu ao longo de sua vida.
 Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

2 comentários:

Unknown disse...

obrigado por fazer esta ponte à comoção; que o fragmentário seja próprio ao que comove sem pedir nem redimir, e próprio à comoção enquanto invasão sobre os hiatos em que nos respiramos a nós próprios como mistura que não se dissolve e também não decanta...faz dessa ponte não aquilo que liga uma margem à outra, mas aquilo que faz partir o solo e as margens, que as estilhaça, que escancara a impossibilidade da fronteira e do território serem conservados....ponte que atrai os pedaços do que ela destrói a um mesmo lugar desde sempre heterogêneo e proliferante. turbilhão descentrado, sem olho. Contração nervosa sob os poros, que a faz subir à superfície da pele, que transborda o corpo.

psique disse...

Arthur Albuquerque, gratidão pela visita e comentário... Abraço Fatima Vieira