Goethe disse que jamais ouvira falar de um crime que ele próprio não fosse capaz de cometer.
Um quietismo estético da vida, pelo qual consigamos que os insultos e as humilhações, que a vida e os viventes nos infligem, não cheguem a mais que a uma periferia desprezível da sensibilidade, ao recinto externo da alma consciente.
Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.
JUNG acreditava que Deus, o Deus Vivo!, só poderia ser encontrado ali onde menos queremos olhar, naquele local que mais temos resistência para explorar.
Esse Deus vivo está entremeado com a nossa própria escuridão e sombra, entrelaçado com as nossa feridas e complexos, está ligado às nossas patologias.
Por outro lado, o Deus da Crença - aquele Deus remoto, retirado da criação e da vida cotidiana - liberta-nos da nossa imperfeição, purifica- nos de toda a contaminação terrena e resolve os aspectos mais difíceis do dilema humano.
- A alquimia é um processo para extrair o Deus vivo dos aspectos mais venais, mais corruptos da vida.
- A psicanalista inglesa Molly Tuby sugere seis outras maneiras pelas quais, mesmo sem saber, encontramos a nossa sombra no dia-a-dia: Nos nossos sentimentos exagerados em relação aos outros ("Eu simplesmente não acredito que ele tenha feito isso!", "Não consigo entender como ela é capaz de usar uma roupa dessas!")
. No opinião negativa que recebemos daqueles que nos servem de espelhos ("Já é a terceira vez que você chega tarde sem me avisar.")
. Nas interações em que continuamente exercemos o mesmo efeito perturbador sobre diversas pessoas diferentes ("Eu e o Sam achamos que você não está sendo honesto com a gente.")
. Nos nossos atos impulsivos e não-intencionais ("Puxa, desculpe, eu não quis dizer isso!")
. Nas situações em que somos humilhados ("Estou tão envergonhada com o jeito que ele me trata.")
. Na nossa raiva exagerada em relação aos erros alheios ("Ela simplesmente não
consegue fazer seu trabalho em tempo!", "Cara, mas ele perdeu totalmente o controle do peso!")
. Em momentos como esses, quando somos dominados por fortes sentimentos de vergonha ou de raiva, ou quando descobrimos que nosso comportamento é inaceitável, é a sombra que está irrompendo de um modo inesperado. E em geral ela retrocede com igual velocidade; pois encontrar a sombra pode ser uma experiência assustadora e chocante para a nossa auto-imagem.
A SOMBRA COLETIVA: a maldade humana - nos encara de praticamente todas as partes: Ela salta das manchetes dos jornais; Vagueia pelas nossas ruas e, sem lar, dorme no vão das portas;
- Entoca-se nas chamativas sex-shops das nossas cidades; Desvia o dinheiro do sistema de financiamento habitacional; Corrompe os políticos famintos de poder e Perverte o sistema judiciário; Conduz exércitos invasores através de densas florestas e áridos desertos; Vende armamentos a líderes ensandecidos e repassa os lucros a insurgentes reacionários; Por canos ocultos, despeja a poluição em nossos rios e oceanos; Com invisíveis pesticidas, envenena o nosso alimento.
- Não há como evitar o assustador espectro de sombras satânicas mostrado por políticos coniventes, os colarinhos-brancos criminosos e terroristas fanáticos. Nosso anseio interior por integração - agora tornado manifesto na máquina de comunicação global - força-nos a enfrentar a conflitante hipocrisia que hoje está em toda parte.
- Enquanto a maioria das pessoas e grupos vive o lado socialmente aceitável da vida, outras parecem viver as porções socialmente rejeitadas pela vida. Quando essas últimas tomam-se objeto de projeções grupais negativas, a sombra coletiva toma a forma de racismo, de busca de "bode expiatório" ou de criação do "inimigo".
- O poder hipnótico e a natureza contagiosa dessas fortes emoções ficam evidentes na extensão e universalidade das perseguições raciais, das guerras religiosas e das táticas de busca de bodes expiatórios. E é assim que seres humanos tentam desumanizar outros, num esforço para assegurar que eles são superiores - e que matar o inimigo não significa matar seres humanos iguais a eles.
(Fonte: AO ENCONTRO DA SOMBRA - O potencial oculto do lado escuro da natureza humana - MERLE SCOSS)
Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
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