sexta-feira, 23 de abril de 2021

Ψ O Tempo na Psicoterapia


                                                         Salvador Dalí 

*Quanto tempo dura uma sessão?
*Quanto tempo dura o tratamento?

*Cada sessão trás um 'flash' da terapia inteira. O final da análise deve estar inscrito em cada sessão.

*Para Freud, a questão relativa à duração do tratamento "é quase sempre irrespondivel" ... ainda que não se possa prever nem planejar o tempo, a análise é finita (na sua vertente do real) e infinita (na sua vertente simbólica).

*Assim afirma Freud: "os processos do sistema inconsciente são intemporais; isto é, não são ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem do tempo, não têm absolutamente qualquer referência ao tempo, as referências ao tempo vinculam-se mais uma vez, ao trabalho do sistema consciente".

*Ainda que cada paciente tenha seu tempo, a partir da escuta atenta, o psicoterapeuta faz os cortes, a cada sessão... para que o tratamento tenha seu desfecho. 

*Para Freud, há um tempo primeiro de constituição do sujeito, definido como "um mau encontro, um trauma, que traz a marca de um desprazer, a marca de algo que rompe o equilíbrio homeostático do sujeito...". Isso faz o paciente procurar o tratamento.

*Freud incentiva em suas obras aos psicoterapeutas a irem além da proposta psicoterapêutica que visa o simples bem-estar e a reparação dos danos.

*O sofrimento do paciente e todo o seu movimento defensivo terá que ser elaborado no encontro com o analista.

*Ao longo de uma psicoterapia, o paciente vai abrindo mão do seu ideal do eu, são perdas necessárias para seu processo de crescimento.

*Lacan no sofisma dos  'três prisioneiros', fala do tempo lógico dentro de um tempo curto, já que a pressa traz consigo a certeza antecipada do ato, que finaliza. Ele menciona: Instante do olhar; tempo de certeza antecipada pela pressa e momento de concluir. (Nesse sofisma, introduz a função da pressa que ele transporta para a sessão analítica). 

*Lacan assim refere: "Não se deve levar uma análise longe demais". Deve ser curta e deve-se ter pressa. Não se deve deixar o paciente deslizar eternamente isso levaria a análise a um tempo infinito, pois sempre teria algo mais a dizer. No dizer de Quinet: "na decifração do inconsciente jamais se poderá saber tudo, devido ao recalque primário."

*O neurótico pode facilmente alterar o passo, e às vezes apenas com progresso muito lento.
Apesar de questões profundas do paciente tomarem um certo tempo, o que não se pode é prolongar o tratamento desnecessariamente.

*O que está em jogo é a ética do desejo.
Do lado do analista, não existem regras, mas uma ética regida pelo preceito da atenção flutuante e do desejo do analista. 

*Freud diz: "Evidentemente, não podemos exigir que o analista seja um ser perfeito, ou que somente pessoas de alta e rara perfeição ingressem na profissão. Mas onde e como pode o pobre infeliz adquirir as qualificações ideais de qúe necessitará em sua profissão? A resposta é: na análise de si mesmo, com a qual começa sua preparação para a futura atividade." 

*Ao final de uma análise e, portanto, ao fim da conexão de transferência estabelecida entre o paciente e o analista, considera-se a seguinte proposição: o tempo da sessão deve incluir em si e em cada sessão a finitude da análise

*O conceito de fim do processo de análise proposto por Lacan, está vinculado ao tempo da sessão; é uma função da análise na medida em que pode ser encerrada.

*Há um final clínico, ainda que o paciente continue indo para a psicoterapia, para ir se desligando do psicoterapeuta.

*Esse ato final ressignifica para o paciente a sua entrada na Psicoterapia, que foi marcada por um ato (procura), não só seu mas também do psicoterapeuta que o aceitou para o tratamento, através de um con-trato/ (compromisso).

Fonte: Freud, S. (1969). Obras Completas . Edição Standard Brasileira, Rio de Janeiro: Imago.       
Sobre o Início do Tratamento (Novas Recomendações Sobrea Técnica da Psicanálise I) - vol. XII (Originalmente publicado em 1913)        
Análise Términável lnterminável-vol. XXIII (Originalmente publicado em 1937)        
Lacan, J. (1983). O Seminário- Livro1: Os Escritos Técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 3ª edição. 
Textos Reunidos Pela Associação Mundial de Psicanálise A.M.P. (1995). Como Terminam as Análises. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.      
A Pressa de Concluir de Freud, em "Os Anos Vinte: O Nascimento da Questão"      
 

Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
http://fatimavieira.psc.br/



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