quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

É Preciso Aprender a Amar




- Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, a percebê-lo, e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade, para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionómica, e de caridade, para tolerar a sua estranheza;- chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.
- Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos.
A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.
(Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência" )

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