quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A Moral para os Psicólogos



"NÃO CULTIVAR UMA PSICOLOGIA DE BISBILHOTEIROS! Nunca observar só por observar! Isso provoca uma óptica falsa, uma perspectiva vesga, algo que resulta forçado e que exagera as coisas.
- O ter experiências, quando é um querer-ter-experiências, — não resulta bem. Na experiência não é lícito olhar para si mesmo, todo o olhar se converte então num «mau-olhado».
- Um psicólogo nato guarda-se, por instinto, de ver por ver; o mesmo se pode dizer do pintor nato. Este não trabalha jamais «segundo a natureza», encomenda ao seu instinto, à sua câmara escura o crivar e exprimir o «caso»,a «natureza»,o «vivido»... Até à sua consciência chega só o universal, a conclusão, o resultado: não conhece esse arbitrário abstrair do caso individual.
- Que é que resulta quando se procede de outro modo? Quando se cultiva, por exemplo, uma psicologia de bisbilhoteiro, à maneira dos romanciers parisienses, grandes e pequenos? Essa gente anda, por assim dizê-lo, à espreita da realidade, essa gente leva para casa cada noite um punhado de curiosidades...
- Porém veja-se o que acaba por sair daí — um montão de borrões, um mosaico no melhor dos casos, e de qualquer forma algo que é o resultado da soma de várias coisas, algo turbulento, de cores berrantes.
- ... a natureza, avaliada artisticamente, não é um modelo. Ela exagera, deforma, deixa vazios. O estudo «segundo a natureza» parece-me um mau sinal: denuncia submissão, debilidade, fatalismo, — esse jazer-no-pó ante os petits faits é indigno de um artista inteiro. Ver o que é — isso é próprio de um gênero distinto de espíritos, dos antiartísticos, dos homens de factos. Há que saber quem se é..."
(Friedrich Nietzsche, in Crepúsculo dos Ídolos.)

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