sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Ψ Retrospectiva 2014 - Prêmio Nobel
*Nenhuma desigualdade entre as pessoas faz parte da natureza humana.
*Infelizmente, entre homens e mulheres ainda é possível constatar profunda discrepância de direitos, mesmo com alguns avanços consideráveis nos últimos anos.
*Há uma parte importante de avanço que é o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho. Isso é relevante do ponto de vista da autonomia econômica das mulheres.
*Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2011, as mulheres são 45,4% da população ocupada e 46,1% da população economicamente ativa.
*Por outro lado, persistem muitas desigualdades: as mulheres continuam ganhando menos, cerca de 70% do que os homens ganham, mesmo considerando que as mulheres hoje são mais escolarizadas do que os homens;
*ainda são exceção em cargos importantes e de decisão, embora seja crescente o número de mulheres em algumas ocupações;
*e a mulher continua em setores considerados femininos que são mais desvalorizados.
*No Brasil, o emprego doméstico é o principal mercado de trabalho principalmente para as mulheres negras. Apenas 28% têm carteira assinada e, destas, 72% ganham menos que o salário mínimo.
*Temos visto também que, em relação às mulheres negras, persiste a desigualdade de menores salários e ocupações mais desvalorizadas em relação às mulheres brancas.
*Em relação à proteção da mulher, hoje já existem leis que a amparam, como é o caso da Lei Maria da Penha, na questão da violência.
*A respeito da Lei Maria da Penha, um avanço é o aumento das denúncias, mas o Brasil continua como um dos países considerados muito violentos, segundo o Mapa da Violência/2012.
*O Brasil, entre os 84 países do mundo pesquisados, consta como o sétimo em homicídios.
*Inclusive está em curso uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da violência contra a mulher, que o Senado propôs para investigar o descaso em relação a este tipo de violência que ocorre no Brasil.
*Segundo pesquisa nacional da Fundação Perseu Abramo, a cada dois minutos, cinco mulheres sofrem violência.
*As mulheres estão ocupando cada vez mais o mercado de trabalho, mas a sociedade ainda funciona como se todas as mulheres fossem donas de casa simplesmente, com tempo integral em casa.
(...) Temos o grande desafio de romper essa divisão sexual do trabalho.
*Hoje mais de um terço das famílias são sustentadas pelas mulheres. Os homens não são os únicos provedores.
*O trabalho doméstico e de cuidado precisa ser assumido na sociedade através das políticas públicas e pelos homens.
*Nós vivemos a cultura patriarcal, da desigualdade, com a ideia de mercantilização do corpo da mulher.
(...) A prostituição é entendida por alguns como um trabalho, mas para nós é uma extrema exploração do corpo das mulheres, a banalização do corpo e da vida.
*Por outro lado, o que define as desigualdades entre homens e mulheres não são somente os aspectos culturais, mas também a base material, que é a desigualdade econômica, a sobrecarga de trabalho sobre a mulher, falta de acesso a espaços de decisão.
*Ou seja, as mulheres continuam sendo minoria ocupando postos de decisão do ponto de vista da participação política, ainda que tenhamos uma mulher na presidência.
*As mulheres continuam bem abaixo da posição que deveriam ocupar na representação perante a sociedade.
(...) A gente continua acreditando que as mudanças vêm através da organização das mulheres. Porque a desigualdade entre homens e mulheres não é só um efeito desse modelo que vivenciamos.
*Ela é parte desse próprio modelo de sociedade que se nutre da opressão das mulheres.
*E acreditamos que nós, mulheres, temos um papel de nos mantermos organizadas, de nos mantermos na luta, exigindo mudanças, construindo consciência.
*Pois, apesar dos avanços, não podemos nos acomodar pensando que as coisas se resolvem por si mesmas.
(...) As mulheres têm lutado e se organizado como sujeito político em todos os setores: no campo, na cidade, contribuindo para mudanças.
*E há pouco houve, uma conquista importante para as empregadas domésticas, que foi a aprovação da lei que torna iguais seus direitos aos direitos das outras classes trabalhadoras. Era uma luta de muito tempo e a vitória chegou: produto da luta das mulheres organizadas.
*(...) Precisamos introduzir essas questões das desigualdades, não só de gênero, mas também de raça e orientação sexual, nos currículos escolares.
*Da mesma forma, deve ser feita a análise da violência, a construção das mulheres como seres inferiores e homens superiores reproduzida na sociedade através dos meios de comunicação na família, inclusive na escola, que é um importante espaço socializador.
*Infelizmente, às vezes, ela ainda reproduz a desigualdade entre meninos e meninas, entre brancos e negros, ou não tem uma visão crítica sobre a questão da violência, da orientação sexual.
*É possível observar manifestações machistas e racistas por parte não somente dos alunos, mas também por parte do corpo docente.
*Os meninos são educados como se a violência fosse constitutiva da sua identidade masculina.
*Isso, muitas vezes, é tratado como se fosse natural, o que só reforça esse comportamento inadequado na sociedade.
*Nesse sentido, a educação é muito importante para fazer mudanças e educar pessoas livres de preconceitos.
*Para transformar a sociedade, precisamos transformar também a escola.
*(...) A questão da terra e dos grandes projetos é também reivindicação feminina por uma mudança de modelo.
*Que se pense um novo modelo a partir da reprodução da vida, que venha proporcionar qualidade de vida às pessoas.
*Buscamos combater um modelo de sociedade que explora, que deteriora o ambiente.
*Estamos na luta geral contra este modelo econômico, um modelo de desenvolvimento que pensa grandes obras sem priorizar estruturas voltadas à vida das pessoas.
*A Marcha Mundial das Mulheres tem também um campo vasto de atuação.
*Atua na questão do trabalho, na autonomia econômica, na luta contra a violência, pela paz e pela desmilitarização.
*Se você pegar a região da Europa, a Marcha está muito focada contra as políticas de austeridade, contra o desemprego que afeta diretamente as mulheres.
*Na África, a Marcha está voltada para a questão da solidariedade com as mulheres e contra a violência.
*Fomos parte organizadora do Fórum Social Palestina Livre, para trabalhar a solidariedade com as mulheres da Palestina.
*Nesta região do mundo, o imperialismo se impõe através de Israel para destruir as pessoas e ocupar o território.
*A gente vê cada vez mais o uso de armas, o aumento dos orçamentos para segurança, para guerra, em detrimento a outras políticas, e isso também tem sido uma bandeira de luta internacional.
*A nossa visão do feminismo é que temos que fazer uma luta contra todo o sistema, porque todos os aspectos do modelo se articulam para a opressão das mulheres.
Fonte: Uma desigualdade marcante entre homens e mulheres por Sônia Coelho, integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das Mulheres, SP. (sonia@sof.org.br)
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
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