terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Ψ O Processo de Individuação - C. G. Jung

"A Psique pode ser comparada a uma esfera, com uma zona brilhante em sua superfície que representa a consciência. O ego é o centro dessa zona - um objeto só é consciente quando eu o conheço. O Self é, ao mesmo tempo, o núcleo e a esfera inteira; seus processos reguladores internos produzem os sonhos." (Jung)

 *No desenvolvimento da teoria de Jung surge a questão: qual o propósito dos sonhos na nossa vida? 

*Qual papel representam os sonhos não apenas na nossa vida psíquica imediata mas na nossa vida como um todo?
                                                                 Valkenburg
*Jung refere que se acompanharmos nossos sonhos eles parecem obedecer uma determinada configuração ou esquema, a esse 
esquema denominou "processo de Individuação". 
*Considerando que os sonhos produzem a cada noite, diferentes cenas e imagens, as pessoas pouco observadoras não se darão conta dessas configurações.
*Porém, se acompanharmos nossos sonhos por algum tempo, verificaremos que alguns conteúdos emergem, desaparecem e voltam a aparecer.
*Mesmo que alguns sonhos sigam um padrão, mesma paisagem, figuras ou situações se observarmos a série total perceberemos que os sonhos sofrem mudanças lentas, mas perceptíveis.
*E essas mudanças podem acelerar se a atitude consciente do sonhador for influenciada pela interpretação apropriada dos seus sonhos e conteúdos simbólicos.
*Nesse esquema sinuoso, percebe-se a ação de uma espécie de tendência reguladora oculta, gerando um processo lento, quase imperceptível de crescimento psíquico - 'o processo de individuação'.
*Surgirá assim, uma personalidade mais ampla e amadurecida que, aos poucos, vai se tornando mais consistente e perceptivel mesmo para outras pessoas.
*Como o crescimento psíquico não pode acontecer por esforço  ou vontade conscientes, e sim por um fenômeno involuntário e natural, ele é frequentemente simbolizado nos sonhos por uma árvore, cujo desenvolvimento lento cumpre um esquema bem definido.
*O centro organizador de onde emana essa ação reguladora parece ser uma espécie de 'núcleo atômico' do nosso sistema psíquico.
*Jung chamou a esse centro o Self e o denominou como 'a totalidade absoluta da psique', para diferenciá-lo do Ego, que constitui apenas uma pequena parte dela.
*Homens primitivos por intuição, eram conscientes desse centro que era concebido de forma pura.
*Por exemplo, os índios 'naskapi', que ainda habitam as florestas da península do Labrador, vivem da caça em grupos familiares isolados, não conseguiram desenvolver costumes tribais, nem crenças religiosas coletivas. Mas no seu universo elementar sua alma é apenas 'um companheiro interior', que eles chamam 'mista-peo' ou ''Grande Homem, que segundo eles habita seu coração e é imortal. No momento da morte, deixa o indivíduo e mais tarde reencarna em outro ser. 
*O povo naskapi através dos sonhos, tentam manter um relacionamento mais íntimo com o 'Grande Homem', e solicitam os sonhos para previsão do tempo inclusive direcionando-os para as melhores caças. 
*Mentiras e desonestidades afastam o 'Grande Homem', enquanto a generosidade, amor ao próximo e aos animais o atraem presenteando-os com bons sonhos, saúde e longevidade.
*Assim como o naskapi percebe que se estiver receptivo às sugestões do Grande Homem tem sonhos úteis, o nosso Grande Homem inato (Self) torna-se mais real aos que estão atentos do que aos que o desprezam. Ouvindo-o, tornamo-nos seres humanos mais completos. 
*O processo acontece pois o ego não foi criado pela natureza para seguir ilimitadamente os seus próprios impulsos arbitrários, e sim para auxiliar a realizar verdadeiramente, a totalidade da psique. 
*É o Ego que ilumina o sistema inteiro, permitindo a tomada de consciência para que algo se realize. 
*Exemplo: para um talento artístico se concretizar o Ego precisa saber de sua existência e trazê-lo à tona, assim a totalidade inata ainda oculta, latente se tornará realidade.
*Voltando à  metáfora da árvore: A semente contém em forma latente, a futura árvore. A sua totalidade potencial reage as mais adversas circunstâncias que irão modelar lentamente a nova forma,  sem a árvore real, a imagem é apenas uma abstração.
*Sob essa perspectiva, esse processo ocorre no ser humano de maneira espontânea e inconsciente; é um processo no qual subsiste a sua natureza humana inata. 
*No entanto, o processo de Individuação só é real se o indivíduo tiver consciência dele, e consequentemente, mantendo uma ligação viva com ele.
*Se a árvore tem consciência ou não de seu processo não sabemos, mas certamente, o ser humano é capaz de participar de maneira consciente do seu desenvolvimento.
*Chega mesmo a sentir que, de tempos em tempos, pode cooperar ativamente com ele, tomando livremente várias decisões. E essa cooperação pertence ao processo de Individuação, no seu sentido mais preciso.
*O ser humano no processo de Individuação experimenta algo além do que um simples acordo entre a semente inata da totalidade as circunstâncias externas que constituem o seu destino, sua experiência subjetiva sugere a intervenção ativa e criadora de alguma força suprapessoal.
*Por vezes, sentimos que o inconsciente nos está guiando de acordo com um desígnio secreto. É como se algo que não vemos nos vê - talvez o Grande Homem? que vive em nosso coração e que, através dos sonhos, nos vem dizer o que pensa a nosso respeito.
*Entretanto, esse aspecto ativo e criador do núcleo psíquico só pode entrar em ação quando o Ego se desembaraça de todos os projetos superficiais, ambiciosos em benefício de uma forma de existência mais profunda e fundamental.
*O Ego deve ser capaz de ouvir atentamente e de entregar-se, sem qualquer outro propósito ou objetivo, ao impulso interior de crescimento.
*O verdadeiro processo de Individuação, que é a harmonização do Consciente com o Inconsciente com o nosso próprio centro interior (o núcleo psíquico) ou Self, em geral começa infligindo uma lesão à personalidade, acompanhada do consequente sofrimento.
*Esse choque inicial é uma espécie de 'apelo', apesar de nem sempre ser reconhecido como tal.
*Ao contrário, o Ego sente-se tolhido nas suas vontades ou desejos e geralmente projeta essa frustração e tédio mortal  em Deus, na economia, chefes, relacionamentos.
*Muitos contos de fadas e mitológicos descrevem simbolicamente esse estágio inicial de Individuação: o rei que envelheceu, adoeceu, perdeu seu domínio; o rei e a rainha estéreis; o demônios que impedem o exército do rei de seguir sua rota rumo à vitória; escuridão que cobre a terra; ou o talismã capaz de curar a desgraça... 
*Acontece exatamente o mesmo na crise inicial que marca a vida de uma pessoa rumo ao crescimento psicológico. 
*Em tais momentos parece que nenhum conselho ainda que bem intencionado resolve alguma coisa. 
*Só há uma atitude com algum resultado: voltar-se para as trevas que se aproximam, sem nenhum preconceito e com toda simplicidade tentar descobrir qual o seu objetivo secreto e o que ele vem solicitar.
*O propósito secreto dessas trevas que nos atinge por vezes é tão invulgar, tão inesperado e assustador que, via de regra, só conseguimos acessá-lo através de sonhos e das fantasias que brotam do inconsciente.
*Ao focalizarmos nossa atenção sobre o Inconsciente sem julgamentos ou rejeições emocionais, o propósito irá surgir num fluxo de imagens simbólicas de grande proveito.  
*Isso pode ser trabalhado através da   Imaginação Ativa.  
*Muitas vezes, é claro, surgirão uma série de situações dolorosas de nossas atitudes conscientes... temos então que dar início a esse processo engolindo todo o tipo de verdades amargas, mas vai valer à pena.
*A psicoterapia por vezes se faz necessária. 

Fonte: Carl G. Jung - O Homem e Seus Símbolos
Marie Louise Von-Franz - O Processo de Individuação 
Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica 

http://fatimavieira.psc.br/

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