sábado, 2 de janeiro de 2021

"Vamos voltar ao seu sonho. O que dizia o sonho?" (Jung)

                                Pintura: Sarah Shaw 

Jung diverge da livre associação de Freud ao analisar um sonho, assim refere:
"Eu desejava manter-me o mais próximo possível do sonho, excluindo todas as associações irrelevantes.
(...) É verdade que tais associações podem levar-nos aos complexos do paciente e aos complexos neuróticos. 
(...) Mas para entender a organização psíquica da personalidade global de uma pessoa é importante avaliar quão relevante é a função de seus sonhos e imagens simbólicas."

Exemplo: Um paciente de Jung sonhou com uma mulher desgrenhada, vulgar e alcoolizada.
*No sonho parecia ser sua mulher mas na vida real ela era muito diferente do sonho. Então ele rejeitou o sonho como uma fantasia tola, sem significado.
*Considerando que anima é o elemento feminino no inconsciente masculino, (e animus é o elemento masculino no inconsciente feminino), Jung insistiu em levá-lo a compreender o que queria expressar o seu inconsciente.
*Este aspecto "feminino" a 'anima' fez este paciente entender que seu sonho dava dicas de uma maneira secundária de se relacionar com seu ambiente e com as mulheres, através da sua anima.
*Esse aspecto feminino que ele tentava esconder de si mesmo, aparece no sonho bem evidenciado, como a deplorável condição de sua 'mulher interior'.
*Apesar de aparentemente mostrar uma personalidade normal, o seu lado feminino estava se comportando como uma mulher degenerada.
*Jung deixa bem claro que não se trata de nenhuma sansão moral, ou julgamento para que ele se comportasse melhor.

*A orientação é que ele deveria contrabalançar a natureza mal equilibrada de sua consciência que alimentava a postura exagerada do paciente de se mostrar um perfeito cavalheiro.
*Segundo Jung é compreensível que o sonhador tende a ignorar e até rejeitar a mensagem do seu sonho.
*A consciência resiste naturalmente, a tudo que é inconsciente e desconhecido.
*Jung refere que os antropólogos usam o termo 'misoneísmo', para falar do medo inexplicável e supersticioso do novo, do diferente vivenciado pelo homem primitivo, que tem as mesmas reações do animal selvagem.
*Entretanto, o homem 'civilizado' reage a ideias novas da mesma maneira, erguendo barreiras psicológicas no intuito de se sentir protegido do choque provocado por qualquer inovação.
*Jung refere, que isso é facilmente observado na reação do indivíduo ao seu próprio sonho, quando ele precisa admitir alguma mensagem inesperada.
*Jung observa também que muitos pioneiros da filosofia, ciência, literatura foram vítimas deste conservadorismo inato de seus contemporâneos.
*A psicologia sendo uma das ciências mais recentes e por tratar do funcionamento do inconsciente, encontrou inevitavelmente, o 'misoneísmo' na sua forma mais extrema.

Fonte: O Homem e Seus Símbolos - Carl G. Jung
Fátima Vieira - Psicóloga Clínica 

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