segunda-feira, 14 de junho de 2021

Ψ SINTOMA: A palavra que Faz-Sina através da fala enigmática do inconsciente

                                                    Eric Enstrom
"Com a palavra dirige-se o homem às Divindades.
Pede-se, suplica-se, agradece-se; abençoa-se, amaldiçoa-se, satiriza-se e pragueja-se!
 Com a palavra dominam-se forças ocultas ou apoderam-se delas! Com a palavra curam-se as doenças, desfazem-se os malefícios  e as pragas.
Com as palavras sagram-se as coisas e evitam-se as profanas!
Com a palavra respeitam-se, veneram-se, divinizam-se os homens, cidades e coisas.
Com a palavra predizem-se os fatos vindouros.
Com a palavra tem-se o mundo nas mãos!
(GUÉRIOS, R.F.M. - A Magia da Palavra - 1953)

*Na prática psicoterapêutica o sintoma  é visto como receptáculo, depositário  simbólico dos efeitos da palavra.. Será que este corpo que esvanece, contorce, goza, que sofre os efeitos 'gozomórficos' da palavra, não seria ele próprio efeito de uma ética oral? Discursiva?

*Psicoterapeuta e Paciente: Um discurso que se articula. A palavra como transferência... consistência do discurso psicoterapêutico. Lacan refere: "0 sintoma não pode ser interpretado diretamente. Faz-se necessária a transferência, ou seja, a introdução do outro". 

*Assim o  sintoma pode "falar", desmetaforizar-se, possibilitando o desdobramento da cadeia significante onde o sujeito se apresenta... nesses hiatos que a sua verdade aparece.    

 *Amarrado ao inconsciente, o sintoma pede interpretação. 

  


*Desde Freud, o sintoma é considerado como o rechaço do desejo. Contudo, esse rechaço fracassa,  é por isso que o desejo não cessa de retornar, aparecendo na consciência de forma mascarada, desfigurada.

(...) O sujeito que vem para a Psicoterapia se coloca na posição do suposto saber: aquele que ignora. E nesta paixão de ignorar, o sujeito supõe um saber no outro. Saber transferido de modo suposto analista, ANALISTA = SUJEITO SUPOSTO SABER.

*Pode-se dizer: ao paciente se lhe impõe falar até que o silêncio se lhe imponha. Ao analista calar-escutar, até que a palavra se lhe imponha e então ele interpreta. 

*Na perspectiva de Charcot a histeria era um olhar que fechava o conjunto do saber sobre si mesmo. Não eram necessárias interrogações, já que não havia nada além dessa tela que revelasse tudo o que era visível. Quadro sereno, sem mistérios. Nada mais restava concluir a não ser que o olhar do hipnotizador só se encontra a si mesmo e que a histeria era uma hipnose natural e os sintomas histéricos, sugestões naturais.

*Freud ficou fascinado pelo método de Charcot, e as histéricas da Salpêtrière e seus enigmas instalados no corpo, os sintomas. 

*Porém, abandona a sugestão hipnótica e começa a ouvir o discurso da histérica.

*A descoberta freudiana consiste em demonstrar que o inconsciente fala e que por isso mesmo só há que escutá-lo. E Lacan vai construir o seu clássico aforismo: "0 inconsciente é estruturado como uma linguagem". 

*Freud pôde escutar um desejo à ser interpretado... virada decisiva, foi aí que surgiu a 'Cura pela Fala', a  'clinica da escuta'. A palavra, em seu estrito aspecto significante, se impõe em posição predominante, torna-se instrumento essencial para o tratamento psíquico. Esta virada é decisiva. É a descoberta da psicanálise. 

*O grito ligado à dor e a imitação ligada ao som ouvido são os primeiros passos da língua.

*O grito já é língua? Na concepção de Freud, só lhe falta um significante determinado, é o resultado de uma associação entre uma lembrança penosa e um objeto um objeto hostil.

*A distância entre o percebido e a correspondência com este percebido... a imagem vista no espelho pela criança - seis meses e a impossibilidade motora de lhe corresponder.

*A língua existiria para a criança mas, impedida pelo corpo, ela não pode ainda percorrê-la dos seus desejos e deveria contentar-se de gritos ou de sorrisos.


Fonte: BREUER, FREUD, S. Études sur l'histérie - 1973, Paris.

Freud - LacanIANOS2 

Seminário: Gozo- Desejo-Prazer, Lacan

Escola Freudiana de São Paulo - cortez editores

ESTRUTURA E LIMITES DO DISCURSO ANALÍTICO E SUA TRANSMISSÃO (Alduizio Moreira de Souza)

Fatima Vieira - Psicóloga Clínica
http://fatimavieira.psc.br/



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