sábado, 4 de outubro de 2008

... ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos tão pequenas


n' algum lugar em que eu nunca estive, alegremente além de qualquer experiência,
 teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, 
n' algum lugar me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente, assim como o coração desta flor imagina a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha  abre; só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.                                                                                                            (E.E Cummings)
                                                                          (Trad. Augusto de Campos)

Nenhum comentário: