domingo, 16 de novembro de 2008

Ψ TOC... TOC... TOC... Desculpe o Transtorno!!!

- Segundo AJURIAGUERRA, "o conceito de OBSESSÃO nos remete a idéia de perseguição, enquanto o conceito de COMPULSÃO traz a idéia de constrangimento. Um e outro não podem ser compreendidos, a não ser em relação a um EGO que se sente limitado na livre utilização da expressão do seu pensamento e de suas representações ou de seus atos. Perda da capacidade de escolha, parasitismo parcial, automatização limitada ou contradição permanente, uma estranha limitação que só se resolve na e pela atividade doentia em si mesma, LUTA QUE NÃO ENCONTRA SOLUÇÃO, a não ser no seu próprio desenvolvimento, alívio transitório mas inútil, porque seu destino é a REPETIÇÃO".   (Manual de Psiquiatria Infantil, pag. 624).


- Há casos em que se pode observar diretamente a transição de uma FOBIA para uma OBSESSÃO. De início evitam-se certas situações, depois, exerce-se atenção constante de forma a garantir o necessário impedimento, mais tarde esta atenção assume caráter obsessivo. As situações são as mais variadas: compulsões a lavar-se, medo de sujar-se, rituais sociais, cerimoniais ligados ao sono, medo de adormecer, rituais concernentes à maneira de andar, inibições da marcha...
- Certo paciente tinha que arrumar a todo momento os objetos em cima de uma estante para impedir que caíssem na cabeça de alguém, entretanto, distribuía-lhes de modo a oportunizar a queda. Para proteger os entes queridos contra os seus impulsos hostis, há muitos neuróticos obsessivos, que os defendem contra riscos imaginários de modo tão abnegado que chegam a atormentá-los, de fato, exprimindo a sua hostilidade "sem querer".

- Na verdade, uma ritualização compulsiva é inerente ao desenvolvimento normal da criança. Durante as atividades lúdicas, a criança, vive ao mesmo tempo em prazer e desprazer; prazer pelo que se repete e desprazer pelo desaparecimento do objeto. É o jogo do esconde esconde, no mundo mágico da primeira fase do desenvolvimento, que se transforma mais tarde , num jogo sem fim de construção e destruição, onde não se sabe se o maior prazer está em construir o castelo ou dar um soco e destruir tudo.

- A criança cria seus próprios rituais, seja para adormecer, seja na arrumação da sua roupa, higiene, alimentação, na imposição de certa atitude aos pais, ou na escolha do animal que vai lhe servir de companhia durante o sono. Pequenas manias saudáveis, não fosse a necessidade da mãe de não negar nada ao filho, aí corre-se o risco de torná-las permanentes.
- É no decorrer da puberdade que a síndrome obsessiva apresenta as características do comportamento adulto. Aqui vemos as OBSESSÕES IDEATIVAS, a "loucura da dúvida" que se caracteriza pelas ruminações com temas metafísicos (vida e morte, bem e mal, existência ou não de Deus, o tempo que passa); as OBSESSÕES FÓBICAS, fobia à objetos, lugares, claustrofobia, ideações sobre a morte, doenças.

- E as OBSESSÕES IMPULSIVAS, como o medo de cometer um desatino, de pronunciar palavras profanas, roubo ou agressões. Tudo isto acompanhado de uma luta ansiosa para evitar que o ato se concretize. Exemplo típico é a doença de Gilles de la Turette ou "doença dos tiques", que se acompanha de uma atividade verbal compulsiva.

- CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA O TOC: De acordo com o Código Internacional de Doenças o Transtorno é caracterizado essencialmente por idéias obsessivas ou por comportamentos compulsivos recorrentes.
 - As idéias obsessivas são pensamentos, representações ou impulsos, que se intrometem na consciência do sujeito de modo repetitivo e estereotipado. O sujeito reconhece, que se trata de seus próprios pensamentos, mas estranhos à sua vontade e em geral desprazeirosos e faz esforços frustrados na tentativa de controlá-los. Os comportamentos e os rituais compulsivos são atividades estereotipadas repetitivas. O comportamento compulsivo tem por finalidade prevenir algum evento objetivamente improvável, freqüentemente implicando dano ao sujeito ou causado por ele, que ele teme que possa ocorrer. O transtorno se acompanha quase sempre de ansiedade. Esta ansiedade se agrava quando o sujeito tenta resistir à sua atividade compulsiva.
- Se os pensamentos aflitivos e recorrentes estão relacionados exclusivamente a temores de vir a ter, ou à idéia de já ter uma doença grave, com base na interpretação errônea de sintomas somáticos, então se aplica o diagnóstico de Hipocondria, ao invés de Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Entretanto, se a preocupação acerca de ter uma doença se acompanha de rituais, como abluções excessivas ou comportamento de verificação, relacionados a preocupações com uma doença ou sua transmissão a outras pessoas, então um diagnóstico adicional de Transtorno Obsessivo-Compulsivo pode ser indicado.
- Se a principal preocupação é com contrair uma doença (não com ter uma doença) e não estão envolvidos quaisquer rituais, então uma Fobia Específica de doenças pode ser o diagnóstico mais apropriado.
- Um diagnóstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo deve ser considerado apenas se houver um consumo de tempo considerável ou se decorrer daí um prejuízo ou sofrimento clinicamente significativos.
Obsessões ou compulsões: Obsessões, definidas por (1) pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento,
(2) os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real; (3) a pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação; (4) a pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos ou imagens obsessivas são produto de sua própria mente (não impostos a partir de fora, como na inserção de pensamentos); Compulsões, definidas por (1) e (2), comportamentos repetitivos (por ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (por ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas; (2) os comportamentos ou atos mentais visam a prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos não têm uma conexão realista com o que visam a neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.
. Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconheceu que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais.
- As obsessões ou compulsões causam acentuado sofrimento, consomem tempo (tomam mais de 1 hora por dia) ou interferem significativamente na rotina, funcionamento ocupacional (ou acadêmico), atividades ou relacionamentos sociais do indivíduo.
- Transtorno Dismórfico Corporal; preocupação com drogas na presença de um Transtorno por uso de substâncias; preocupação com ter uma doença grave na presença de Hipocondria; preocupação com anseios ou fantasias sexuais na presença de uma Parafilia; ruminações de culpa na presença de um Transtorno Depressivo Maior;  A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral.
TRATAMENTO: Existe Tratamento eficaz para o TOC?
O diagnóstico é feito por avaliação clínica, não existem exames capazes de detectar a doença. O transtorno obsessivo-compulsivo não tem cura, mas pode ser controlado. Conforme o caso, pode ser necessário manter por toda a vida o tratamento com Psicofármacos e Psicoterapia.
A TERAPIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA é considerada um dos tratamentos de primeira linha, juntamente com os medicamentos. Os Grupos de Auto Ajuda também tem sido uma alternativa de tratamento.
A Terapia Comportamental baseia-se na constatação de que, se o paciente desafia seus medos, por exemplo, expondo-se às situações que evita ou tocando nos objetos que considera contaminados (exposição) e, ao mesmo tempo, deixa de realizar os rituais de descontaminação ou verificações (prevenção da resposta), embora num primeiro momento a aflição aumente, em pouco tempo ela tende a diminuir até desaparecer por completo espontaneamente (habituação). Repetindo tais exercícios os medos de tocar em coisas sujas ou contaminadas, de fazer verificações ou a necessidade de realizar rituais acabam desaparecendo por completo.
Eu suma: Exposição + Prevenção da Resposta; Habituação; Desaparecimento dos sintomas.
BUSCAR AJUDA ESPECIALIZADA EVITA SOFRIMENTO DESNECESSÁRIO.
Referência Bibliográfica:
AJURIAGUERRA, J - Manual de Psiquiatria Infantil
FENICHEL,Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses
DSM-III-R, Diagnostical and Manual of Mental Disorders, 3 ed., revisada, American Psychiatric Association, Washington, 1987. OMS (Organização Mundial de Saúde)/ CID 10 - Código Internacional de Doenças
( Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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