sábado, 3 de janeiro de 2009

sobre a imortalidade da alma - Jung

Em 1956, respondendo a um senhor H. J. Barret, dos Estados Unidos, escreve Jung sobre sua crença na imortalidade da alma: Ainda que meu tempo seja escasso e minha idade avançada um fato real, tenho gosto em responder às suas perguntas. Não são fáceis como, por exemplo, a primeira: Se eu acredito numa sobrevivência pessoal após a morte. Não poderia dizer que acredito nela, pois não tenho o dom da fé. Só posso dizer se sei alguma coisa ou não.
1. Sei que a psique possui certas qualidades que transcendemos limites do tempo e do espaço. Em outras palavras, a psique pode tornar elásticas essas categorias, ou seja, 100 milhas podem ser reduzidas a uma jarda, e um ano a poucos segundos.
Isto é um fato do qual temos todas as provas necessárias.
Além disso, há certos fenômenos 'post-mortem' que eu não consigo reduzir a ilusões subjetivas. Por isso, sei que a psique pode funcionar sem o empecilho das categorias de espaço e tempo. Isto não significa que eu tenha qualquer tipo de certeza quanto à natureza transcendental da psique. A psique pode ser qualquer coisa.
2. Não há razão alguma para supor que todos os chamados fenômenos psíquicos sejam efeitos ilusórios de nossos processos mentais.
3. Não acho que todos os relatos dos chamados fenômenos miraculosos (como precognição, telepatia, conhecimento supranormal, etc.) sejam duvidosos. Sei de muitos casos emque não paira a mínima dúvida sobre sua veracidade.
4. Não acho que as chamadas mensagens pessoais dosmortos devam ser rechaçadas in globo como ilusões.
Kant disse certa vez que duvidava de toda história individual sobre fantasmas, etc., mas, se tomadas em conjunto, havia algo nelas...
Eu examino minuciosamente o meu material empírico e devo dizer que, entre muitíssimas suposições arbitrárias, há casos que me fazem titubear. Tomei como regra aplicar a sábia frase de Multatuli: Não existe nada que seja totalmente verdadeiro, nem mesmo esta frase (Jung, 2003,pp. 53-54).
Essa carta não deixa dúvida que Jung estava propenso a ter a imortalidade pessoal como um fato com fortes evidênciasde realidade.
Autor de uma vasta e erudita obra, ele revolucionou os estudos psicológicos, superando o reducionismo que ainda teima a imperar nesse campo de estudo. Mentalidade científica aplicou o método experimental com rigor em suas pesquisas, embora permanecesse sempre aberto ao novo, ao inesperado, ao incomum, sem temer avaliá-lo e aceitá-lo.
(Jung citado por Djalma Motta Argollo)

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