quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ψ PSICONEUROIMUNOLOGIA 1

                  
Ψ Psiconeuroimunologia é o estudo das interações entre o comportamento, o cérebro, o sistema endócrino e o sistema imunológico.
Atende a tendência da ciência atual, que preconiza a integração entre a Medicina e as Ciências Humanas. A interdisciplinariedade, na compreensão da etiologia e no tratamento de diversas doenças, veio fortificar a concepção holística do ser humano.
A doença já passa a ser entendida como resultado do colapso das defesas do indivíduo, diante do processo de stress agudo ou contínuo. Já não se fala mais, meramente, na doença, mas no homem que adoeceu. A enfermidade não é mais um acontecimento físico-químico, nem somente biológico, antes de tudo, torna-se um acontecimento pessoal. Fatores psicossociais estressantes, as expectativas sociais da vida urbana, tais como as demandas da vida: sentimento de perda, luto, a angústia o desmoronamento dos projetos de vida, influem na saúde do indivíduo.
A sabedoria antiga desde Aristóteles já tinha forte convicção da integração mente corpo, ou seja, "psique" (alma) e corpo reagem complementariamente um ao outro. Uma mudança no estado da psique produz uma mudança na estrutura de corpo, assim como uma mudança na estrutura de corpo produz uma mudança na estrutura da psique.  
- Solomom, Levine, e Kraft demonstraram que nos primeiros anos de vida da criança o estresse poderia afetar a futura resposta dos anticorpos na vida adulta.
- Nos anos de 1960, algumas observações psicossomáticas foram feitas em relação às alterações emocionais que surgiam no início e durante o curso das doenças autoimunes, principalmente em relação à Artrite Reumatóide, ao Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) e ao mal de Graves, (que é um tipo tireoidite), entre outras patologias. Tentava-se, avaliar a força dos elementos emocionais no desenvolvimento de algumas doenças.

 - Uma das observações mais intrigantes, talvez tenha sido o fato dos parentes saudáveis de pacientes com *Artrite Reumatóide também apresentarem uma sorologia característica de anticorpo dessa doença (o fator reumatóide ou Anti-imunoglobulina G), mas, apesar disso e por possuírem capacidade superior de adaptação psicológica à vida, esses parentes não apresentavam a doença.
- Esse fato sugere que o bem-estar psicológico pode ter uma influência protetora, até mesmo contra uma predisposição genética (Solomon, 1964).
- Em 1985 sai o primeiro trabalho sobre o hipotálamo e a evidência direta da modulação neurológica da imunidade (Guillemim).
- Os neurônios do hipotálamo disparam de maneira seqüencial depois da administração de um antígeno (corpo estranho) ao organismo. E o eixo Hipotálamo-Hipófise-Suprarenal se ativa por esse antígeno e por toxinas elaboradas por células pró-inflamatórias (cito-toxinas), num estado semelhante ao estresse.

 - Também se sabe que órgãos imunes, como é o timo, o baço e a medula óssea, recebem inervação do Sistema Nervoso Autônomo, mais precisamente, de sua porção simpática, havendo sinapses nas uniões entre os terminais nervosos simpáticos e as células imunológicas. Portanto, a imunidade se regula cerebralmente, havendo maior influência do córtex cerebral esquerdo na maturação e na função de Linfócitos T, as células imunológicas por excelência.
- Algumas alterações emocionais podem surgir no início e durante o curso de muitas doenças autoimunes. Essas alterações podem incluir forte tensão, sentimentos de insegurança, retraimento social, dificuldade para expressar sentimentos e sensibilidade afetiva muito aumentada.

 - Psicologicamente, pode haver perda da adaptação ou, melhor dizendo, perda da habilidade para atitudes que antes eram eficazes na adaptação. Solomon (1981) estudou essas alterações particularmente na Artrite Reumatóide, uma doença autoimune. Essas alterações emocionais também já tinham sido observadas em relação a outras doenças auto-imunes, como no Lúpus Eritematoso Sistêmico, por exemplo (Fessel).
- Com respeito às alergias, alguns trabalhos da década de 1990 têm constatado que o estresse, a ansiedade e a depressão, retardam significativamente a atividade dos Linfócitos T, proporcionando hipersensibilidades, dermatites e asma (Paciant, Gil, Djuric).


 *QUANTO AO CÂNCER A psiconeuroimunologia do câncer tem sido uma área continuadamente estudada, sempre procurando esclarecer as relações entre as emoções e a vulnerabilidade à essa doença, bem como à ocorrência e agravamento das metástases.
- A agressividade e malignidade entre tipos diversos de câncer é variável, conseqüentemente, varia também a habilidade de Sistema Imunológico em resistir a determinados tipos específicos desses cânceres (Lewis).

 - A imunoterapia está ganhando atenção, particularmente para o tratamento de melanomas, linfomas e câncer da mama.
 - As "toxinas de Cooley" tinham pouca eficácia antes de advento da quimioterapia, agora já são conhecidas como poderosos estimulantes imunológicos.
- O Sistema Imunológico é o responsável pela vigilância do organismo contra a proliferação de células cancerígenas. Algumas células do Sistema Imunológico são destinadas a destruir essas células anômalas que poderiam transformar-se em câncer e que nosso organismo, em seu estado natural, está sujeito à produzir esporadicamente. Entre essas células vigilantes estão as Células NK (Natural Killer).

 - Muitos estudos experimentais e clínicos em humanos e em animais têm mostrado que as Células NK, importantíssimas na vigilância contra as células neoplásicas e na prevenção de metástases de câncer, podem ser sensíveis à influência de fatores estressores e psicossociais.
- Constata-se, cada vez mais, que o estresse pode aumentar substancialmente a extensão e a probabilidade de metástases em câncer de mama em ratas devido à supressão da função das Células NK (Ben-Eliyahu).

 - Um estudo de intervenção psicoterapêutica em pacientes com câncer de pele (melanoma) foi realizado por Fawsy (1993). Comparou-se um grupo pacientes com melanoma maligno e que participaram de um grupo de atenção psiquiátrica durante seis meses, com um grupo controle, composto de pacientes portadores da mesma doença mas sem acompanhamento psicoterápico.
- **Os pacientes com melanoma maligno e participantes do grupo psiquiátrico, mostraram menos dor e maior atividade das Células NK que o grupo controle, de pacientes com esse mesmo quadro mas não participantes do programa de atenção psicoterapêutica. Os pacientes do programa de atenção psicoterapêutica mostraram ainda menos recorrência e metástases, além de uma sobrevida maior que seis anos.


 * IMUNIDADE E DOENÇA MENTAL:  As diferenças individuais no comportamento, nos estilos pessoais de enfrentamento dos conflitos, nos traços de personalidade e psicológicos podem acompanhar diferentes características imunológicas. Amkraut, em 1972, percebeu que ratos dotados de maior comportamento de luta espontânea mostravam maior resistência imunológica à indução de vírus tumorais. Kamen-Siegel constatou em idosos que um estilo pessimista em relação à vida se correlacionava com baixa imunidade.
- De um modo geral, as anormalidades imunológicas que ocorrem junto com transtornos psicoemocionais devem ser dividido em dois grupos; aquelas associadas às desordens afetivas e aquelas associadas à esquizofrenia.

- No caso das desordens afetivas (depressão) a baixa imunidade apareceria como consequência e na Esquizofrenia como comorbidade. De qualquer forma, a constatação da contribuição de processos imunológicos em doenças mentais e vice-versa é muito problemática. Desde a década de 80 tem-se documentado muito bem alguns elementos importantes entre funções imunológicas e depressão (Miller).
Em casos de estados depressivos mais graves, a função dos Linfócitos T declina de uma forma idade-dependente. Isso significa que pessoas jovens e com testes psicológicos sugestivos de depressão não tiveram déficit no funcionamento de células T mas, pessoas mais velhas e com os mesmo resultados nesses testes para depressão, sofrem diminuição significativa da imunidade (idade-dependente).
- A reativação de vírus latentes também pode ocorrer na depressão. Essas experiências forma mais comumente constatadas com o vírus do Herpes Simples.

 - *A depressão não é associada apenas à diminuição ou supressão da imunidade, mas também com sinais de ativação alterada do Sistema Imunológico. Essas alterações são o que ocorre nas doenças chamadas Autoimunes.
- Também se constata que os tratamentos efetivos para a depressão costumam ser acompanhados, gradualmente, do retorno da normalidade imunológica.
Fonte: Ballone J. Psiconeuroimunologia, in. PsiqWeb, Internet, 2001, disponível em http://gballone.sites.uol.com.br/psicossomática/psiconeuroimunologia.html
George F. Solomon - Psiconeuroinmunología: sinopsis de su historia, evidencia y consecuencias - 2001, (Psychoneuroimmunology: synopsis of its history, classes of evidence and their implications), disponível em http://www.psiquiatria.com/interpsiquis2001/

(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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