sábado, 1 de maio de 2010

Ψ TRANSTORNOS ALIMENTARES 1

... quando a autoimagem fica distorcidaANOREXIA/ BULIMIA
 Segundo SPITZ, (Psicanalista Austríaco - 1887/ 1974), o comportamento da criança frente ao seio da mãe passa por diversas fases:
. No oitavo dia de vida ela responde aos sinais que são inicialmente os de sensibilidade profunda ou do equilíbrio;. Até o início do segundo mês de vida a criança reconhece o sinal do alimento apenas quando tem fome;
. Por volta do fim do segundo mês, ela reage à presença do adulto que se lhe aproxima quando ela chora porque tem fome. Então ela pára de gemer, abre a boca ou avança os lábios. Esta reação já ocorre quando a criança espera a mamada. Ela responde a um estímulo exterior em função apenas de uma percepção interoceptiva nascida de uma pulsão insatisfeita. É importante observar que após este período a criança fixa invariavelmente os olhos no rosto da mãe. O objeto que a satisfaz e a pessoa que dá esta satisfação estão intimamente ligados.

. Por volta do terceiro mês a criança reage à percepção das mamadas por modificações motoras ou por movimentos de sucção.

ANNA FREUD, (Psicanalista, 1895/ 1982), distingue duas satisfações diferentes: A satisfação da fome saciada e a satisfação erótica oral;
. A atividade oral é ao mesmo tempo, uma fonte de satisfação e uma necessidade biológica de nutrição.
. Desde o segundo ano a criança diferenciará entre a mãe e o alimento mas esta relação persistirá no inconsciente.
. O ato de mamar não responde unicamente à satisfação trazida pela alimentação, proporcionando também um prazer em si.
. A criança descobre que a excitação da boca e dos lábios provoca prazer, mesmo sem alimento. Ela suga o polegar que faz funcionar seu
automatismo de sucção a fim de obter prazer na falta do seio materno.
. São numerosos os autores que enfatizam sobre o interesse que se deve atribuir ao tipo de alimentação da criança em sua organização psicológica posterior, já que é admitido que a atividade de sucção desempenha seu papel nas primeiras organizações emocionais e está no foco de suas primeiras fantasias.
. Seria importante saber se a criança tira mais vantagens do aleitamento pelo seio ou pela mamadeira e se seria similar quando a criança é alimentada pelo seio ou mamadeira pela mãe ou por outra pessoa permanentemente. Isto implicaria de fato, problemas sociais: a alimentação pelo seio é uma servidão ou uma necessidade?
O que é certo, é que pode haver no aleitamento artificial todo o ritual e a segurança que comporta o aleitamento pelo seio.
Segundo ANNA FREUD, a noção de desmame também permanece ambígua enquanto não se separa de um lado, a passagem da alimentação pelo seio para a mamadeira e, de outro lado a passagem do aleitamento do seio ou mamadeira para os alimentos sólidos.
. As recusas alimentares quando do desmame brusco ou demasiadamente tardio pode se manifestar pela criança sob
forma de cólera diante da comida, de insatisfação em relação aos novos sabores, de uma falta de espírito de descoberta sob o plano alimentar, de uma falta de prazer na zona oral.
. Por vezes o desmame provoca um resultado oposto, isto é, BULIMIA e
medo de ter fome.
MELANIE KLEIN (1882/ 1960), refere que a experiência do desmame é o objeto amado primitivo que é sentido como perdido e, consequentemente, a angústia depressiva são reforçadas. Todo recém nascido (humano ou animal) possui desde o início da vida os elementos necessários para adquirir o comportamento frente ao alimento. Estes alimentos são de duas ordens, uns instintivos, naturais e não condicionados e outros adquiridos, ligados à educação e condicionados.
. É importante distinguir a FOME
do APETITE. A FOME é um estado somático provocada pela privação do alimento e resolvido após a ingestão do mesmo. Já o APETITE é um estado consciente caracterizado por um desejo de alimentar-se estreitamente condicionado por uma experiência anterior e provocado pelo interesse experimentado por este ou aquele alimento.
OS DISTÚRBIOS OROALIMENTARES NO LACTENTE: A anorexia do segundo semestre no desenvolvimento do bebê é a mais frequente (entre o quinto e o oitavo mês), quando da supressão progressiva do leite e da introdução de um regime diversificado, época em que ocorrem modificações extremamente importantes na vida do lactente.
Pode ocorrer dois tipos de anorexia: ANOREXIA DE INÉRCIA - a criança não se interessa, nem coopera, por vezes nem mesmo deglute, o leite escorre passivamente ou ele vomita o pouco que engoliu.
. ANOREXIA de OPOSIÇÃO: se caracteriza por reação de agitação intensa, recusa, rejeição e vômito. A criança trava uma verdadeira luta com o adulto.
Ao fim de um certo tempo a criança condicionará seus hábitos aos dos pais e esses se deixam tiranizar ou reagem com hostilidade tiranizando-a, a fim de vencer a "luta". 

- ANOREXIA NA SEGUNDA INFÂNCIA: Ela se organiza sob forma de oposição frente a rigidez dos pais (exigências quantitativas ou qualitativas, severa ordenação das refeições, obrigação de manter o mesmo rítmo que os adultos).
. A evolução desta anorexia não é comumente grave do ponto de vista fisiológico, embora crie em geral, o modelo do comportamento alimentar posterior.
. De um modo geral, são os pais hiperansiosos e hiperprotetores ou rígidos que organizam (ou desorganizam), por suas condutas frente à alimentação a personalidade de seu filho de um modo frequentemente patológico.

 
- ANOREXIA NA ADOLESCÊNCIA: Foi descrita na segunda metade do séc. XIX por Lasègue e Gull, como ANOREXIA HISTÉRICA. Frequentemente os sintomas aparecem próximo à puberdade. caracteriza-se por redução alimentar por motivos variados, no início eletivas (determinado alimento já não agrada mais) ou quantitativas (se refere a qualquer alimento).
. A anorética minimiza seu problema, ela reconhece que não tem fome e que isto não a impede de se sentir bem. Inicialmente suas atividades continuam preservadas e aumentam gradativamente.
. Com o decorrer do tempo as relações sociais e amorosas vão se tornando superficiais; Posteriormente negam totalmente a realidade dos fatos, quando pressionada a anorética reage por uma dissimulação organizada, cospe os alimentos, mente sobre seu peso, provoca vômito e as restrições alimentares podem se alternar com a bulimia. A família começa a se alarmar, transformando o problema como centro das preocupações familiares, predominando a pressão, o controle e o desespero.

- ASPECTOS PSICODINÂMICOS: Os conceitos psicodinâmicos evoluíram com o tempo, hoje considera-se que algumas garotas desejam emagrecer para se aproximar de um ideal feminino etéreo, romântico seguindo o apelo da mídia.
. Pode tratar-se de uma reação frente a uma certa obesidade adquirida pela mãe no período da menopausa.
. Na anorexia a necessidade fundamental, vital - A FOME - cuja não saciedade provoca um prazer orgânico intenso é levada a seu ápice(orgasmo da fome), como se a seu nível mais profundo, o do instinto, a perversão atuasse, trazendo uma satifação à não satisfação,(masoquismo).
. Segundo Selvini-Palazzoli, "não encontramos nunca entre os anoréticos o desejo consciente ou inconsciente de suicídio e não podemos falar de uma verdadeira depressão. Eles não suprimem completamente os alimentos, eles reduzem de maneira absurda e brincam com a morte como criança que a concebem como um jogo na qual se escondem, comportando com seu corpo de maneira mágica sem contato com a relidade."

- EVOLUÇÃO: A síndrome psíquica acompanha-se de uma síndrome somática caracterizada por emagrecimento considerável, perdendo até a metade do peso, palidez, olheiras,amenorréia, envelhecimento precoce. Os exames de laboratório evidenciam diminuição do metabolismo de base, aumento colesterol, hipoglicemia, aumento da sensibilidade à insulina, anemia com diminuição da taxa de hemoglobina.
- QUANTO AO TRATAMENTO: O ISOLAMENTO - grande número de autores admite que é impossível tratar a anorética no meio familiar; não deve receber visitas; ter acesso a qualquer correspondência durante tempo necessário para que se processe alguma melhora.

- PSICOTERAPIA Psicanalítica ou Cognitivo Comportamental ou outras, inclui familiares; Terapia Medicamentosa Associada.

Ajuriaguerra - Manual de Psiquiatria
 (Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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