sábado, 23 de abril de 2011

da sedução

imagem - Veronese

(...)
 
- O sujeito amoroso é "seduzido" - (capturado e encantado) pela imagem do objeto amado.
- Nome popular: amor à primeira vista, nome científico: enamoramento. 
- Há muito estabeleceu-se a equivalência entre o amor e a guerra: nos dois trata-se de conquistar, seduzir, capturar. 
- Cada vez que um sujeito "cai" de amores, retoma um pouco o tempo arcaico em que os homens deviam raptar a mulher (ela sempre passiva); 
- Do modelo primitivo subsiste um vestígio público: o amante - aquele que foi seduzido é sempre "feminizado";
- No mito atual (amor-paixão), dá-se o contrário: o sedutor nada quer, nada faz; é imóvel e o objeto seduzido é o verdadeiro sujeito do rapto. 
- O objeto da captura torna-se o sujeito do amor; o sujeito da conquista passa à categoria do objeto um vestígio público: o amante - aquele que foi seduzido é sempre "feminizado"; 
- O sujeito é sempre aquele que sofre: onde há ferimento há sujeito e quanto mais profunda a ferida, mais o sujeito torna-se o sujeito: pois o sujeito é a intimidade.
 ("a ferida ...  é de uma intimidade medonha!") 
- Assim é o ferimento de amor: um corte radical no centro do corpo (coração), um corte radical que não consegue se fechar, do qual o sujeito escorre. 
Roland Barthes -  Fragmentos de Um Discurso Amoroso
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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