sábado, 23 de abril de 2011

do amor à primeira vista

- É uma hipnose: sou fascinado por uma imagem - sacudido, virado, eletrizado...
- O epsódio hipnótico, precede um estado crepuscular: o sujeito fica de algum modo vazio, disponível, aberto sem saber, para o rapto que irá surpreendê-lo. 
Nunca me apaixono sem antes tê-lo desejado.
- O vácuo que produzo em mim, nada mais é do que o tempo mais ou menos longo, em que procuro com os olhos, ao meu redor, sem parecer fazê-lo, quem amar... 
Entretanto o mito do "amor à primeira vista" é tão forte (a coisa me assalta, me toma de surpresa, sem que eu queira, sem eu ter a menor participação), que ficamos estupefatos se ouvimos alguém decidir-se apaixonar-se.
- No animal a mecânica sexual dá-se não por um indivíduo detalhado mas por uma forma, um fetiche colorido.
- Busco no OUTRO, a voz, a postura dos ombros, a silhueta delgada, o calor da mão, uma pose ligeiramente vulgar, o jeito de sorrir, de mover a massa carnuda dos lábios, de tornar o corpo idiota por um segundo, para esconder o embaraço...
algo que venha ajustar-se ao meu desejo.
- O rastro que me toca (a caça) é o corpo em movimento.
- Presta-se a me seduzir tudo o que me chega através de um contorno, de uma fenda.
- Creio que o fato amoroso é um epsódio dotado de um começo (o amor à primeira vista) e um fim (suicídio, abandono, partida...)
- Enfim não cesso de me espantar por ter tido esta sorte: encontrar o que se encaixa no meu desejo ou por ter corrido este risco enorme: sujeitar-me a uma imagem desconhecida (e toda cena reconstruída opera como a montagem suntuosa de uma ignorância). 
Roland Barthes - Fragmentos de Um Discurso Amoroso
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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