domingo, 31 de outubro de 2010

Ψ no suicídio as esperanças tornaram-se ilusórias...


  DEPRESSÃO E MANIA 
*As experiências que precipitam as depressões representam ou perda de autoestima, ou perda de provisões que, na expectativa do paciente, lhe aumentariam a autoestima.
*Pessoas normais que sofrem experiências como fracassos, perda de prestígio, perda de dinheiro, estado de remorso, decepção amorosa, morte de ente querido, também experimentam a  perda da autoestima.
*Os pacientes que reagem a decepções amorosas com depressões severas são sempre pessoas para as quais a experiência do amor terá significado tanto de gratificação sexual quanto gratificação narcísica; com o amor perdem a própria existência. Temem esta perda e em geral, são muito ciumentas.
*Observa-se que a intensidade do ciúme não corresponde em absoluto à intensidade do amor. Os ciumentos não conseguem amar, mas precisam sentirem-se amados.
*Ao perder encontram sem demora substituto do parceiro perdido, bebendo, por exemplo, ou procurando outro parceiro imediatamente, esta atitude podendo-lhe aumentar-lhes o ciúme projetivamente; o desejo de achar outro parceiro é projetado e o paciente crê que os parceiros é que estão procurando novo objeto.
*Os pacientes tentam fazer com que as pessoas circundantes lhes restituam a autoestima perdida, é frequente tentarem cativar os seus objetos pela forma característica dos masoquistas, exibindo a sua miséria e acusando outros de serem os causadores da desgraça, exigem e até lhes extorquem afeições.
*A atitude propiciatória do neurótico se dirige mais para objetos externos. O paciente deprimido que na aparência, é submisso, na realidade consegue dominar todo o seu ambiente.
*Em uma de suas peças, refere NESTROY (dramaturgo austríaco/ 1801- 1862): "Se não conseguisse aborrecer os outros com a minha melancolia, não a desfrutaria em absoluto".
*Não é nítida a fronteira que separa as depressões neuróticas, com lutas ambivalentes, ligadas às provisões narcísicas, entre os pacientes e os seus objetos, das depressões psicóticas, nas quais o conflito se internalizou.
*Já que as depressões começam com aumento das necessidades narcísicas, com sentimento de que "ninguém me ama", seria de esperar que o paciente sinta que todos o odeiam.
*Embora de fato, ocorram delírios desta ordem, o sentimento de ser universalmente detestado vê-se com mais frequência nos casos de transição para os delírios persecutórios.
*O paciente deprimido não pode amar a si mesmo, como não pode amar o objeto externo, é tão ambivalente para consigo mesmo quanto para os objetos. Relativamente ao seu próprio ego, é o ódio que fala mais alto, tendem a sentir que não são tão odiados quanto deveriam ser enquanto a supervalorização narcísica primária do ego permanece oculta.
*É na análise que se revela o paciente deprimido, muitas vezes, com arrogância considerável, mostrando sua hostilidade em relação aos objetos que o frustram.
 *A auto agressão mostra-se sob forma de sentimento de culpa, de discórdia entre o EGO e o SUPEREGO.
*Foi pelo estudo da depressão que se reconheceu pela primeira vez a existência da instância psíquica que se conhece pelo nome de SUPEREGO.
*A efetividade destes só se faz evidente quando conflita com o EGO, isso ocorre em grau extremo nas depressões.
*É característica da depressão (em especial, da depressão psicótica) a circunstância de que falham as tentativas de restabelecer o equilíbrio narcísico perdido mediante a introjeção dos objetos.
*A introjeção, pela sua índole sádica, é percebida como perigo ou culpa, e as lutas originalmente travadas com o objeto externo prosseguem dentro do "estômago" do paciente, com o objeto introjetado.
*O fato de já estar presente no superego outro objeto introjetado, envolvendo-se na luta, vem complicar o quadro. A pessoa deprimida, após a introjeção do objeto, não experimenta raiva alguma do tipo "Quero matá-lo" (matar-me), e sim, o sentimento "Mereço ser morto".
*Em regra, é o SUPEREGO que se volta contra o EGO com a mesma fúria que este EGO já terá usado em sua luta com o objeto. O EGO, por sua vez, enfrenta este SUPEREGO tal qual já enfrentou o objeto. Daí resulta que a luta SUJEITO versus INTROJETO se complica de dois modos: no primeiro plano, está a luta SUPEREGO versus EGO mais INTROJETO; mas o EGO, na sua ambivalência relativamente ao SUPEREGO, transforma-a em luta de EGO versus SUPEREGO mais INTROJETO.

LUTO E DEPRESSÃO
*FREUD comparou a depressão ao fenômeno de luto, que é normal e afim . 

*Quando uma criança perde um objeto, os desejos libidinais, já não mais ligados àquele, inundam-na e são capazes de criar pânico.
*Na saudade dos mortos, o adulto aprendeu a controlar esta inundação pelo retardamento do processo afrouxador necessário.
*O vínculo com o objeto perdido é representado por centenas de recordações separadas; a dissolução do vínculo para cada uma delas realiza-se separadamente, isso levando tempo. 
*FREUD chamou este processo "trabalho do luto" cuja execução constitui encargo difícil e desagradável, que muita gente tenta retardar apegando-se à ilusão de que o ente perdido ainda vive, prolongando o trabalho necessário. A falta aparente de emoção na pessoa em luto pode resultar de identificação com o morto.
*É frequente observar numa ou noutra particularidade, a semelhança com o objeto perdido. O luto complica-se ainda mais, faz-se até patológico, quando a relação de quem sobrevive é ambivalente, caso em que a introjeção adquire significado sádico; a incorporação nesta ocorrência, representa tentativa tanto de conservar o objeto amado quanto de destruir o objeto odiado.
*Um caso de morte quase sempre mobiliza a ambivalência. A morte desejada de alguém, será percebida como realização destes desejos. A morte de outros pode gerar sentimentos de alegria pelo fato de não nos ter atingido.
*Pessoas narcisicamente orientadas, durante o penoso estado do luto tendem, inconscientemente, a recriminar o morto por lhe ter causado esta situação dolorosa. São reações sentimentos de culpa e remorso, mesmo nos rituais mortuários normais, nunca faltam sintomas de remorso.
*A pessoa muito triste precisa de consolo , ela retira-se dos objetos e faz-se narcisista pela incorporação do objeto que não satisfaz, e depois que o introjeta, continua no nível intrapsíquico a luta pelo restabelecimento da autoestima.
*Em determinadas condições, a necessidade narcísica e os conflitos que giram em volta da introjeção, na pessoa enlutada ou triste, serão mais intensos do que de costume.
*Se o objeto perdido não houver sido amado em nível amadurecido, mas usado como doador de provisões narcísicas (aumento das necessidades narcísicas); ou quando a relação tiver sido ambivalente (acréscimo da ambivalência);
*Portanto, pode-se afirmar que a depressão é uma perda da autoestima; ou colapso completo de toda autoestima, ou colapso parcial, como advertência do colapso total.
*O paciente deprimido queixa-se de que não vale nada e procede como se houvesse perdido o seu ego; concretamente, perdeu um objeto, de modo que ego e objeto são de alguma forma equiparados. O sadismo que, no passado, se referia ao objeto, só terá, voltado contra o ego.

SUICÍDIO
*A forte tendência para o suicídio que se vê no paciente deprimido reflete a intensidade da luta na tentativa de apaziguar o SUPEREGO pela submissão, o EGO calculou errado: O perdão pretendido não se pode obter porque a parte adulada da personalidade se fez, mediante a regressão, desatinadamente cruel, perdeu a capacidade de perdoar.

*Examinando do ponto de vista do superego, o suicídio do paciente deprimido é uma virada do sadismo contra a própria pessoa;
*O suicídio depressivo comprova a tese de que ninguém se mata sem ter pretendido matar outrem, é frequente exprimir a ideia passiva de renúncia a todo combate ativo; a perda da autoestima é tão completa que se abandona qualquer esperança de recuperá-la. "O EGO vê-se abandonado pelo SUPEREGO e deixa-se morrer".
*Desejar viver significa, sentir certa autoestima, sentir-se sustentado pelas forças do protetoras do superego.
*Há outros atos suicidas de caráter muito mais ativo, dando a impressão de tentativas desesperadas no sentido de conseguir, a todo custo, a cassação da pressão do superego.
*São os atos mais extremos de submissão facilitadora ao castigo e à crueldade do superego; ao mesmo tempo, também constituem os atos mais extremos de rebeldia, isto é, o assassinato - o assassinato dos objetos originais, cuja incorporação terá criado o superego.
*Os atos autodestrutivos que ocorrem durante os estados melancólicos e que se praticam como autopunição, como expressão de certos delírios ou sem racionalização alguma, tem sido considerados "suicídios parciais", a expressão é de todo correta na medida em que os mecanismos inconscientes subjacentes sejam idênticos ao do suicídio.
*Há vezes em que, por motivos ignorados, as esperanças do ego parecem não haver sido inteiramente vãs. Uma simples modificação de catexia liberta ao ego das forças terríveis que existem dentro dele mesmo. As esperanças que são ilusórias, no caso do suicídio.

MANIA
*Agora veremos o lado MANÍACO dos fenômenos MANÍACO-DEPRESSIVOS. 

*Pode-se dizer que um acréscimo enorme da autoestima constitui o centro de todos os fenômenos maníacos.
*Há um acréscimo de autoestima e decréscimo da consciência. O paciente está ávido de objetos novos, bloqueios ruíram, os impulsos liberados fluem servindo-se de qualquer descarga disponível.
*A vida, torna-se amável, a onipotência narcísica primária é recuperada e a vida é sentida como incrivelmente intensificada.
*Segundo FREUD, no estado maníaco, cessa a diferença entre o EGO e o SUPEREGO.
*Na melancolia o ego está de todo impotente, onipotente está o superego.
*Na mania, o ânimo folgazão, é visto como sinal de uma poupança do dispêndio psíquico. O ego conseguiu liberar-se da pressão do superego, encerrou o seu conflito com a "sombra" do objeto perdido e "comemora" o acontecimento.
*O paciente maníaco-depressivo é ambivalente em relação ao seu próprio ego. A mania traz à tona o seu extremo autoamor e o triunfo "agora sou novamente poderoso".
*É certo que a pressão depressiva chegou ao final e aparece o caráter triunfante da mania libertando toda a energia até aqui contida.
* Os impulsos são de índole oral visando a incorporação de toda a gente. Aumenta o "metabolismo mental" (Abrahan), o paciente tem fome de objetos novos, mas também os abandona sem remorso algum.
*Todas as sociedades tem seus "festejos", ocasiões em que, se anulam as proibições do superego, onde as tendências represadas à rebeldia sejam "canalizadas", acontece uma descarga dos desejos hostis sem prejuízo ás instituições vigentes. A tragédia é seguida pela sátira ao culto divino sério, (a feira alegre em frente à igreja).
*O exagero das expressões maníacas não dá a impressão de liberdade autêntica e o paciente sofre na mania pelos mesmos complexos por que sofria na depressão.
*Aplica o mecanismo de defesa da negação pela supercompensação. A índole espasmódica que se vê nas manifestações da mania deve-se ao fato de estas serem do tipo da formação reativa, de servirem a fim de negar atitudes opostas.
*Ocorre, que a liberação é fictícia: repetem-se simulações que a criança faz na sua luta contra choques narcísicos, utilizando os mecanismos primitivos de defesa da negação. Utilizam da projeção quando acham que são amados por toda a gente.
*Em uma espécie espasmódica de protesto, descarregam-se impulsos estressantes, sensuais, ternos  "não preciso mais de controle algum", a razão vem abaixo com o superego. Um ego razoável volta a ser esmagado, desta vez, não por um superego que pune, e sim pelo abandono completo da razão que limita;
*Na mania, o que ocorre é o que teme os neuróticos, a sua própria excitação (o colapso da organização do ego), resultando da descarga descontrolada dos impulsos instintivos.
*Os pacientes deprimidos não conseguem amar porque sempre odeiam quando amam.

*A ambivalência é a característica fundamental da vida psíquica dos deprimidos, muito maior do que na neurose obsessiva.
*O sadismo com que o deprimido se ataca nasce do fato de se haver voltado para dentro um sadismo originalmente dirigido para fora. As quantidades de amor e ódio coexistem e se aproximam muito.

*Abraham relatou o fundamento pré-genital desta ambivalência e disse que o paciente é tão ambivalente para consigo quanto para com os outros e o erotismo oral está muito aumentado.
*Freud refere em LUTO e MELANCOLIA que os deprimidos, perdido o objeto amado, procedem como se tivessem perdido o seu ego; os estados depressivos provam a existência de um superego e que lutas entre o superego e o ego, depois da introjeção, substituem as lutas que se travam, originalmente, entre o ego e o seu objeto ambivalente amado.

PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA NOS TRANSTORNOS MANÍACOS-DEPRESSIVOS

*Difere muito dos casos de depressões neuróticas para os de psicose maníaco-depressiva a perspectiva terapêutica da psicanálise.

 *Quanto à depressão neurótica, os casos mais brandos não necessitam tratamento especial; solucionado os conflitos infantis básicos, no decurso da análise da neurose principal, solucionam-se os sentimentos neuróticos da inferioridade, produzindo-se harmonia relativa com o superego.
*Casos mais severos, em que a depressão domina o quadro clínico, apresentam as mesmas dificuldades que as neuroses obsessivas, visto que se baseiam em fixação pré-genital semelhante.
*Quanto mais "internalizados" sejam os processos patogênicos, mais difícil será estabelecer o contato transferencial necessário à análise.

*Nos estados narcísicos, não tem o analista outro recurso senão utilizar os restos não narcísicos da personalidade, tentando (tanto quanto baste, para iniciar o trabalho analítico) aumentar as relações objetais do paciente.
Bibliografia: FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses - Livraria Atheneu - RJ/ SP - 1981

Ψ Fatima Vieira - Psicóloga Clínica

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