domingo, 31 de outubro de 2010

Ψ JOSÉ ANGELO GAIARSA - 1920/ 2010


Ψ CONTATO MESMO? SÓ PELE COM PELE!
 
(...) como já disse, com palavras apenas o contato é mínimo. Com o olhar, ele aumenta bastante. Mas o contato real se faz pele com pele (penso cá comigo: com-tato só pode ser feito pelo tato)


(...) então me dê um abraço de despedida e sinta seu coração bater junto ao meu... só isso, e silêncio. 

- Morreu aos 90 anos com uma longa e produtiva vida. Foi um ícone do pensamento libertário dos anos 60 e 70. Era muito presente na televisão e tornou-se figura conhecida por suas ideias ousadas, abertas em relação à família, ao amor e ao sexo.
- Foi pioneiro na introdução das ideias de Willhen Reich no Brasil. Como se sabe, esse dissidente da psicanálise levou ao limite a reflexão sobre o corpo, o orgasmo, o ser humano como ser sexuado. Não é exagero dizer que morreu jovem. Alguns privilegiados enfrentam o inevitável declínio biológico com frescor de alma. Gaiarsa era desses.
 
- Formado pela Faculdade de Medicina da USP (1946). Em 2006, quando fez 50 anos de atividade profissional, lançou a obra comemorativa Meio século de psicoterapia verbal e corporal, (ágora); publicou ainda: Amores perfeitos; A cartilha da nova mãe; Couraça muscular do caráter; Educação familiar e escolar para o terceiro milênio; O espelho mágico; A família de que se fala e a família de que se sofre; Meio século de psicoterapia verbal e corporal; Minha querida mamãe; Organização das posições e movimentos corporais; Poder e prazer; Sexo, Reich e eu; Sexo: tudo que ninguém fala sobre o tema; Sobre uma escola para o novo homem; Tratado geral sobre a fofoca; As vozes da consciência; O olhar; Formando agentes de transformação social; e Lições de amor.

... Nasci em 1920 e tive a sorte – e o azar! - de viver quase todo o século XX, com sua centena de conflitos armados, suas duas guerras quase mundiais, a maior crise econômica já acontecida (1924-30), suas quatro ditaduras maiores (Hitler, Mussolini, Stalin, Mao-Tsé), três revoluções maiores (nazi-fascismo e os dois comunismos - o russo e o chinês), a explosão populacional, o nascimento do rádio, de Hollywood, da aviação, do automóvel, da teoria (e da bomba) atômica, do motor a jato, do Radar, da Penicilina, da guerra fria, da “janela para o Mundo” (a TV), dos primeiros passos – digo, foguetes – em direção ao espaço sideral, do terrorismo mundial.
- A Psicologia ignora esta verdade central: o que eu menos sei de mim (minha aparência, minhas caras e gestos…) é tudo o que os outros vêm de mim. A imagem que faço de mim em meu íntimo, tem pouco e nada a ver com minhas expressões faciais, corporais, vocais (que o outro está percebendo o tempo todo).
... porque o que eu via nas pessoas não casava bem com o que elas diziam e a convenção universal era que as palavras eram as verdades sinceras e realista (imaginem!) – e que as caras e modos eram impressão minha, impressão falsa, moldadas pelos meu desejos e temores secretos. Isto é, a mentira não estava nas expressões corporais dos outros, mas nos meus enigmáticos desejos e temores inconscientes!

- Cada vez eu compreendia melhor meu medo (minha angústia, minha ansiedade crônica). Eu não conseguia me iludir tão bem quanto a maioria das pessoas (meu olhar não deixava!) e aos poucos ia descobrindo todas as falsidades do mundo próximo e todos os perigos e ameaças reais do grande mundo que era meu ecossistema. Meu medo neurótico era muito mais verdadeiro do que minha sabedoria de pessoa normal, de cidadão bem adaptado - até bem sucedido!

- Na verdade, minha ansiedade neurótica era o medo mais do que justificado sentido pelo meu animal saudável. Ele sentia, bem melhor do que eu, o quanto vivíamos (eu e ele!) em um mundo perigoso, agressivo, explorador e implacável. Sobretudo, um mundo falso...

Fonte: Doutor Gaiarsa
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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