domingo, 17 de outubro de 2010

Ψ Nós os Neuróticos e os Nossos Mecanismos de Defesa

CLASSIFICAÇÃO DAS DEFESAS DO EGO -  *DEFESAS BEM SUCEDIDAS geram cessação daquilo que se rejeita;  e *DEFESAS INEFICAZES que exigem repetição do processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção dos impulsos rejeitados.

*SUBLIMAÇÃO: É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os impulsos libidinais para uma postura socialmente útil e aceitável.

*As defesas bem sucedidas podem colocar-se sob o título de sublimação, vários mecanismos podem usar-se nas defesas bem sucedidas; exemplo: a transformação da passividade em atividade; o rodeio em volta do assunto, a inversão de certo objetivo no objetivo oposto. 


*Caracteriza-se a sublimação por inibição do objetivo; dessexualização; absorção completa de um instinto nas respectivas sequelas; alteração dentro do ego. É possível ver precursores das sublimações em certas brincadeiras infantis, nas quais os desejos sexuais se satisfazem por uma forma “dessexualizada” em seguida a certa distorção da finalidade ou do objeto; e as identificações também são decisivas neste tipo de brincadeiras.

*Varia muito a extensão da divisão do objetivo na sublimação. Há casos em que a diversão se limita a inibição do objetivo; a pessoa que haja feito a sublimação faz, precisamente, aquilo que o seu instinto exige que faça, mas isso depois que o instinto se dessexualize e se subordine à organização do ego.
 

*DEFESAS PATOLÓGICAS: NEGAÇÃO - A tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio sentimento de dor.

*Nas crianças, é muito comum a negação de realidades desagradáveis, negação que realiza desejos e que simplesmente exprime a efetividade do princípio do prazer.

*A capacidade de negar pares desagradáveis da realidade é a contrapartida da “realização alucinatória dos desejos”. 


*Anna Freud chamou este tipo de recusa do reconhecimento do desprazer em geral “pré-estádios da defesa”. 

*FREUD explicou que a negação talvez represente compromisso entre a conscientização dos dados que a percepção fornece e a tendência a negar. Quem diz "felizmente, faz tempo que não tenho dor de cabeça", antes que ela comece, está querendo dizer, "sinto que a dor de cabeça está vindo, mas por enquanto ainda posso negá-la".

 *As experiências dolorosas e as recordações delas, obrigam o organismo a abandonar os processos de realização alucinatória de desejos e a simples negação. Alguma coisa desta "negação na fantasia" subsiste no adulto normal, que, conhecendo uma verdade desagradável é capaz de desfrutar as fantasias ou "sonhos acordados" que negam esta verdade. 

*PROJEÇÃO: Termo utilizado em neurofisiologia e em psicologia para designar a operação pela qual um fato neurológico ou psicológico é deslocado e localizado no exterior, quer passando do centro para a periferia, quer do sujeito para o objeto.

 *No sentido psicanalítico, operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro qualidades, sentimentos, desejos que ele desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma defesa de origem muito arcaica, que vamos encontrar na paranoia, mas também em modos de pensar “normais”, como a superstição.

*O primeiro juízo que o ego faz distingue entre objetos comíveis e não comíveis. A primeira aceitação é engolir, a primeira rejeição é cuspir.


 *A projeção é essencial naquele estádio precoce do desenvolvimento do ego que FREUD denominou o ego prazeroso purificado e em que tudo quanto é prazeroso se experimenta como pertencente ao ego ("uma coisa a engolir-se"), ao passo que tudo que é doloroso se experimenta como sendo não-ego ("uma coisa a cuspir-se").

*As projeções, não se realizam ao acaso, mas se dirigem para algum ponto que lhes corresponde. O paranóico está sensibilizado, para perceber o inconsciente dos outros em todos os casos nos quais esta percepção se pode utilizar na racionalização da sua própria tendência à projeção. Ele sente agudamente o inconsciente de outras pessoas quando por esta forma consegue esquecer o seu próprio inconsciente.


 *Os doentes paranoicos cuja função de ajuizar a realidade se acha severamente transtornada são os que produzem a falsa interpretação projetiva da realidade mais extrema. O mesmo fazem os neuróticos em grau mais atenuado, quando falsificam a compreensão da realidade para atende às suas necessidades inconscientes.

 *INTROJEÇÃO: Originalmente, a ideia de engolir um objeto exprime afirmação e como tal é o protótipo de satisfação instintiva, e não de defesa contra os instintos. No estádio do ego prazeroso purificado, tudo quanto agrada é introjetado. Em última análise, todos os objetivos sexuais derivam de objetos de incorporação.A incorporação é o objetivo mais arcaico dentre os que se dirigem para um objeto. A identificação realizada através da introjeção, é o tipo mais primitivo de relação com os objetos. 

*REPRESSÃO: É uma operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno: idéia, afeto... o recalque seria uma modalidade especial de repressão.

*O melhor exemplo de padrão repressivo é o caso do simples esquecimento de um nome ou de uma intenção. A análise revela que estes se esquecem quando um motivo reprimido lhes resistiu, em geral, pelo fato de associar-se a certa exigência instintiva censurável ou importuna. O esquecimento tendencioso o indivíduo sabe o que foi esquecido, "está na ponta da língua", embora na verdade não o saiba. Há vezes em que certos fatos são lembrados como tais, mas as conexões respectivas, o significado, o valor emocional, são reprimidos.
 

*FORMAÇÃO REATIVA: Muitas atitudes neuróticas são tentativas evidentes de negar ou reprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um perigo instintivo. São atitudes tolhidas e rígidas, que obstam a expressão de impulsos contrários, os quais,de vez em quando, irrompem por diversos modos. O indivíduo que haja construído formações reativas não desenvolve certos mecanismos de defesa de que se sirva ante a ameaça de perigo instintivo; modificou a estrutura de sua personalidade, como se este perigo estivesse sem cessar presente, de maneira que esteja pronto sempre que ocorra.

*Exemplos: o asseio ou o sentimento de ordem do obsessivo compulsivo, que luta, através destes traços caracterológicos, contra as suas exigências instintivas de sujeira e desleixo. A rigidez de tal asseio e o sentimento de ordem, e as irrupções ocasionais de desasseio e desleixo revelam a qualidade reativa destes traços caracterológicos. 


*Há mecanismos de defesa que representam formas intermediárias entre a simples repressão e a formação reativa: A mãe histérica que inconscientemente odeia o filho é capaz de desenvolver afeição aparentemente extrema por ele, a fim de assegurar a repressão de seu ódio.

*As formações reativas são capazes de usar impulsos cujos objetivos se opõem aos objetivos do impulso original. Podem aumentar a força dos impulsos desta ordem tanto melhor quanto serve para manter o impulso original. Exemplo: um indivíduo reativamente heterossexual para rejeitar a homossexualidade, ou vice-versa; reativamente passivo-receptivo para rejeitar a agressividade.


*Nem sempre se reconhece com clareza, na literatura psicanalítica, a diferença fundamental que separa a formação reativa, capaz de conter um impulso original, e a sublimação, na qual o impulso original encontra descarga. O fato resulta, em parte, da contradição na terminologia.

*É o processo psíquico, por meio do qual um impulso indesejável é mantido inconsciente, por uma forte adesão ao seu contrário. Muitas atitudes neuróticas são tentativas de negar ou reprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um perigo instintivo. São atitudes tolhidas rígidas, que obstam a expressão de impulsos contrários, os quais, de vez em quando, irrompem por diversos modos.


*Nas peculiaridades desta ordem, a psicanálise, psicologia “desmascaradora” que é, consegue provar que a atitude oposta original ainda está presente no inconsciente.

*ANULAÇÃO: A formação reativa relaciona-se com a repressão e a anulação com a formação reativa. A anulação é mecanismo que se pode ver, em certos sintomas obsessivos, os quais se compõem de duas ações, sendo a segunda inversão direta da primeira.

 *Assim por exemplo, certo paciente precisa primeiro abrir o registro do gás e depois fechá-lo outra vez. Todos os sintomas que representam expiação incluem-se nesta categoria, visto que ela pela sua índole, anula atos anteriores. A própria ideia de expiação nada mais é do que expressão da crença na possibilidade de anulação mágica. 

*Paradoxalmente, há vezes em que a anulação não consiste em compulsão na fazer o contrário do que se fez antes, mas em compulsão em repetir o mesmíssimo ato.

*O objetivo de repetir (que tem a compulsão) consiste em praticar o mesmo ato, liberto do seu significado inconsciente, ou com o significado inconsciente contrário. Se ocorre por força da efetividade contínua do material reprimido, uma parte do impulso original se insinua outra vez na repetição, a qual visa à expiação, várias repetições talvez sejam necessárias. 

*Um paciente que não tinha religião, que obsessivamente tinha de rezar pela mãe doente veio a criar a compulsão que consistia em bater de leve na boca depois de rezar: era a anulação do sintoma rejeitador, regresso, do desejo rejeitado de que a mãe morresse, significando - "estou tornando a por na boca as palavras da oração"; 

*É frequente falhar a intenção de "anular" porque aquilo que foi rejeitado em certa medida volta nesta mesma medida; "anular" transforma-se em "fazer de novo".

* As falhas do mecanismo de anulação, resultante da invasão da defesa pelos impulsos rejeitados, explica uns tantos fenômenos que são frequentes na neurose obsessiva: o aumento do número de repetições necessárias, porque repetição alguma tranquiliza completamente; algumas formas da compulsão de contar, cuja significação é contar o número de repetições necessárias; a amplitude crescente das seguranças rituais; as dúvidas obsessivas, que por vezes significam dúvida quanto ao êxito da anulação e, por fim, em certos casos a futilidade de todas essas medidas. 

*ISOLAMENTO: Neste caso , o paciente não esqueceu os seus traumas patogênicos, mas perdeu o rastro das respectivas conexões e significado emocional. Há pacientes obsessivos que se distanciam das experiências atemorizadoras de impulsos emocionais para refugiar-se no mundo "isolado"das palavras e conceitos.

* No remoer obsessivo, o material reprimido retorna: ideias filosóficas complicadas, que visam proteger contra impulsos instintivos, passam a ter a mesma considerável importância, sob o ponto de vista emocional, que os impulsos instintivos tem para a pessoa normal. Isolamento que ocorre com muita frequência em nossa cultura é aquele dos componentes sensuais e amorosos da sexualidade. 

*Muitos homens e mulheres não conseguem obter satisfação sexual plena por que só são capazes de gozar e a sensualidade com pessoas pelas quais não sentem amor e até desprezam, "não conseguem desejar quando amam e não conseguem amar quando desejam".
 
*Entre os processos de isolamento, citemos as pausas no decurso do pensamento, fórmulas, rituais, e,de um modo geral, todas as medidas que permitem estabelecer um hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos atos.


*Freud reduz, a tendência para o isolamento a um modo arcaico de defesa contra a pulsão, a interdição de tocar. Nesta perspectiva, o isolamento surge como "… uma supressão da possibilidade de contato, um meio de subtrair uma coisa ao contato; do mesmo modo, quando o neurótico isola uma impressão ou uma atividade por pausa, dá nos simbolicamente a entender que não permitirá que os pensamentos que lhes dizem respeito entrem em contato associativo com outros”.

Referência Bibliográfica: FENICHEL,O., Teoria Psicanalítica das Neuroses.Atheneu.2000
GREENSON,R.R., A Técnica e a Prática da Psicanálise. Imago.RJ. 1981
LAPLANCHE & PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise (2000), Martins Fontes S.P.
CARVALHO, UYRATAN . Psicanálise I . Isbn.RJ.2000
HENRY EY. Manual de Psiquiatria.5º Edição. Masson/Atheneu

Ψ  Fatima Vieira- Psicóloga Clínica

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