domingo, 17 de outubro de 2010

Ψ Neuroses Traumáticas


CONCEITO DE TRAUMA: É função básica do aparelho psíquico restabelecer a estabilidade após transtorno produzido por estímulos externos, sempre que falhar a manutenção de um equilíbrio, ocorrerá estado de emergência.

 Fatores de economia mental, relacionados com a constituição e também com as experiências anteriores e com as condições atuais antes e durante o trauma, vão determinar qual é o grau de excitação que sobrecarrega a capacidade do indivíduo.

- Exceder a capacidade de controle: Esta capacidade depende de fatores constitucionais, bem como de todas as experiências anteriores do indivíduo.

 Há estímulos tão esmagadoramente intensos que exercem efeito traumático sobre quem quer que seja; outros parecem inócuos para a maior parte das pessoas, traumáticos porém para certos tipos predispostos a serem traumaticamente esmagados.

- Para uma criança, o desaparecimento de um ente querido pode ser traumatizante pelo fato de que desejos libidinais dirigidos para este ente, ficando sem objetivo, esmagam a criança; os adultos são mais sujeitos a experiências traumáticas quando estão exaustos, doentes.

OS SINTOMAS DAS NEUROSES TRAUMÁTICAS: Bloqueio ou decréscimo de várias funções do ego; Ataques de emoções incontroláveis (ansiedade e cólera; as vezes até ataques convulsivos); Insônia ou transtornos severos do sono, com sonhos típicos nos quais se experimenta repetidamente o trauma; e também repetições mentais, durante o dia, da situação traumática, total ou parcialmente sob a forma de fantasias, pensamentos ou sentimentos;

BLOQUEIOS OU DIMINUIÇÃO DAS FUNÇÕES DO EGO:  Pode-se explicar o bloqueio das funções do ego como sendo a concentração em certa tarefa de toda a energia mental disponível, ocorrendo então, a edificação de contra-energias que controlem a excitação esmagadora inoportuna. A urgência da tarefa diminui relativamente a importância de todas as demais funções do ego, as quais são obrigadas a renunciar às suas energias em favor da tarefa de emergência, esta dominando inteiramente a pessoa.

- Uma das funções que enfraquece ou bloqueia-se, é a sexualidade. Em geral nos neuróticos traumáticos masculinos é frequente a ocorrência de impotência temporária. A energia sexual, tal qual outras energias mentais, é mobilizada para controlar a excitação invasora, deixando de estar à disposição da sexualidade. Do mesmo modo que o interesse sexual costuma diminuir nos doentes, pelo fato de se tornarem narcisistas, assim também a energia sexual perde seu caráter específico após um trauma.

- Há vezes em que os neuróticos traumáticos desenvolvem uma espécie de atitude que demonstra desamparo e dependência passiva. As pessoas desamparadas costumam tender a regredir aos tempos da infância, porque enquanto crianças eram socorridas por adultos "onipotentes".

- O bloqueio do ego que se representa no desmaio como resposta a um trauma é o "mecanismo de defesa" mais arcaico e primitivo. Neste caso, o organismo, esmagado por estímulos excessivamente intensos, barra o influxo de estímulos adicionais; Trata-se de desmaios parciais, já que no desmaio propriamente dito, toda percepção é bloqueada.

ATAQUES EMOCIONAIS: Também os diversos ataques emocionais representam descargas de emergência mais arcaicas e involuntárias. São de todo inespecíficas: quem sofre um trauma pode ficar inquieto, hipercinético, chorar ou gritar...

A qualidade emocional destes ataques é quase sempre sentida como ansiedade ou raiva. Assim é que a ansiedade e a raiva dos neuróticos traumáticos representam descargas de excitações que foram suscitadas na situação traumática, mas que não puderam ser suficientemente descarregadas.

- Há muitos casos, em que se lhes pode explicar a índole específica pelas emoções sentidas (ou suscitadas e não sentidas) durante o trauma. Neste contexto, os ataques emocionais entram na categoria dos "sintomas de repetição" presentes nos neuróticos traumáticos. É provável que a Síndrome Epiléptica Arcaica funcione como descarga de emergência em certos indivíduos constitucionalmente predispostos.

OS LUCROS SECUNDÁRIOS NAS NEUROSES TRAUMÁTICAS - Os lucros secundários desempenham nas neuroses traumáticas, papel ainda mais importante do que nas neuroses em geral; e consistem em certas utilizações da sua doença que o paciente é capaz de tentar e que nada tem a ver com a origem da neurose, chegando, porém, a obter a máxima importância prática.

- Pode acontecer que o paciente está demonstrando o seu desamparo a fim de conseguir ajuda externa, tal qual desfrutava quando criança. Quando a neurose foi precipitada por incidente relativamente de pouca monta, ele próprio é muitas vezes trazido ao primeiro plano pelo doente o qual assim consegue outra vez, reprimir o conflito mental mobilizado por este incidente.

- O desejo de ganhar compensação, além de vantagens racionais, adquire o significado inconsciente de amor, segurança, proteção.

- Todavia, QUEM TIVER COMPREENSÃO PSICANALÍTICA DOS PROCESSOS NEURÓTICOS JAMAIS EQUIPARARÁ NEUROSE A SIMULAÇÃO, NEM RECUSARÁ INTEIRAMENTE A COMPREENSÃO.

CID-10/ DSM - F43.1 - ESTADO DE "STRESS" PÓS-TRAUMÁTICO: Este transtorno constitui uma resposta retardada a uma situação ou evento estressante (de curta ou longa duração), de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, e que provocaria sintomas evidentes de perturbação na maioria dos indivíduos.

- Fatores predisponentes, tais como certos traços de personalidade (por exemplo compulsiva, astênica) ou antecedentes do tipo neurótico, podem diminuir o limiar para a ocorrência da síndrome ou agravar sua evolução; tais fatores, contudo, não são necessários ou suficientes para explicar a ocorrência da síndrome.

- Os sintomas típicos incluem a revivescência repetida do evento traumático sob a forma de lembranças invasivas ("flash back"), de sonhos ou de pesadelos; ocorrem num contexto durável de "anestesia psíquica" e de embotamento emocional, de retraimento com relação aos outros, insensibilidade ao ambiente, anedonia, e de evitação de atividades ou de situações que possam despertar a lembrança do traumatismo.

- Os sintomas precedentes se acompanham habitualmente de uma hiperatividade neurovegetativa, com hipervigilância, estado de alerta e insônia, associadas frequentemente a uma ansiedade, depressão ou ideação suicida.

 O período que separa a ocorrência do traumatismo do transtorno pode variar de algumas semanas a alguns meses. Em uma pequena proporção de casos, o transtorno pode apresentar uma evolução crônica durante numerosos anos e levar a uma alteração duradoura da personalidade (F60.0).
Referência Bibliográfica:
 FENICHEL, Otto - Teoria Psicanalítica das Neuroses - Livraria Atheneu - Rio de Janeiro/
São Paulo 1981.
BALLONE, G. J - Transtorno por Estresse Pós-Traumático - in. PsiqWeb, Internet
(Fatima Vieira - Psicóloga Clínica)

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